12 de dezembro de 2012

OUTONO NA NOSSA CIDADE


Vamos caminhando pelas estações da nossa vida, repartida em quatro estados de alma, conforme podemos, ou nos deixam andar, nesta simbiose de temperamento.

E neste movimento de translação das nossas vidas, entre Equinócios e Solstícios, vai o tempo velozmente passando para o cumprimento das responsabilidades, mas vagarosamente certo, como as longas noites invernosas, na resolução de problemas prementes.

A esperança de um dia permanecer um sorriso de felicidade, proveniente daquela aura de um tempo de juventude das Primaveras da vida, está sendo envolvida por um estado de alma de grande invernia.

E, como nós, viventes do “antes” e do “depois”; de tempos do opressor, trocados pela cavalaria de salvação do nosso País, que temos a dizer, com o nosso estado de alma, por essas memórias passadas da revolução?

Se dantes tínhamos tiranos, hoje existem déspotas mesmo desencapotados, por todo o lado, numa nítida encruzilhada de regresso ao “antes”. Homens sem vergonha, duma desonestidade mental, alguns dos quais deveriam permutar o emblema de Portugal, que possuem na lapela do casaco, por outro concebido em exclusivo com a palavra “mentiroso”.

Mesmo assim, enquanto ex-estadistas, apregoadores da moral e dos bons costumes, continuam a não prescindir de pessoal, gracioso, ao seu serviço privado, mas com a despesa salarial a cargo do País, num verdadeiro mau exemplo; outros, homens e mulheres do trabalho, curvados sob o peso das incertezas dum imaginável futuro, avançam sob o sol escaldante dos verões das suas vidas e, vão labutando, labutando, para que os portões das empresas dos seus ofícios se mantenham abertos.

Do estado de alma de uma esperança, ainda que ténue, da primavera da vida, ressalta um estado de alma penalizado por aquela expressão na sua intimidade – “O que é que eu fiz para não poder ter os méritos de um emprego?” - para, noutro estado de alma, a perseverança ser a grande arma apontada às contrariedades surgidas por um País ocupado.

Outro estado de alma é já o conformismo doloroso de muitos dos pensionistas, abalados pela sagaz ameaça duma tirania financeira, na redução das magras pensões, depois de durante muitas Estações, dos muitos anos, terem descontado percentagens salariais, produto das suas algibeiras, para a garantia duma pensão futura.

E que dizer do verdadeiro estado de alma daquele formigueiro de gente, alguns de cara tapada, ou voltados de costas, ou de lado para a parede, a caminho do Banco Alimentar, Misericórdias, Conferências de S. Vicente de Paulo, Cáritas, Lares e outras instituições de solidariedade social?

E porque já nos encontramos no outono da vida, deu-nos vontade; neste caminhar pelas ruas da cidade universitária, ex-líbris de laneira, que foi; de apreciar as belezas outonais da mesma, no colorido das folhas caídas, mistura de uma apreciação das obras que deram outro rosto à Cidade, e outras formas de estar, mas também (aquilo que dantes não nos era possível observar), todo um conjunto de muitas ruínas que entristecem a Cidade.

Mas, entre tristes e ledas manhãs, tristes e ledas tardes ou madrugadas, vamos assistindo a burburinhos pela Cidade; por vias do que vem no papel-notícia, nos falantes em tertúlias ou no largo do Pelourinho, para já não falar nos cafés da urbe; sobre politiqueiros e politiquices de ocasião, entre arrazoados de uns; e candidatos em espera, de outros.

No meio disto tudo, respiramos dum certo ar de enfado, neste Equinócio do outono, na compreensão de que, efetivamente, o “tacho” é bom, é barato e dá milhões…

E, mais não dizemos, já a caminho do Solstício de dezembro, para evitar confusões…
 
 
In “Notícias da Covilhã” de 12.12.2012; e no “Combatente da Estrela” do mês de dezembro

31 de outubro de 2012

ESTAMOS FEITOS!

Por mais que não desejemos, não nos livramos do tédio de temas, quase rituais, dos dias de hoje, onde a dona austeridade assentou trono real.
A vassalagem à mesma é de tal forma imposta pelos cavaleiros da triste figura que este povo, que foi e é de homens livres, quase que se sente de escravos, no purgatório dum rectangulozinho do Planeta, à beira-mar plantado. Povo que mais não terá que rebentar as correias férreas que a todos prende.
Mas não são precisas mais revoluções porque o povo, afinal, ele é já a própria revolução!
Então como se compreende que, após aquele “enorme” acontecimento que floriu, de cravos vermelhos, nas vestes dos nossos contentamentos; há quase quatro décadas, libertados de uma outra escravidão, de quase meio século; venha a surgir, entre sonhos e a realidade, um outro “enorme” evento, com o anúncio de sacrifícios e impostos, num cadeado duma configurada escravatura?
Os conhecimentos e as informações que nos chegam, nos dias de hoje, através das várias formas e meios de comunicação, não deixa de nos trazer perplexidades na forma de agir, para muitos; de trabalhar, para vários; na forma de como retaliar, para tantos; e, para outros, como fazer parar.
Agir contra as “enormes” pensões, salários, benesses e outros “direitos adquiridos” duma caterva de figurões: governantes, ex-governantes, banqueiros e ex-banqueiros, e muitos dos bem-falantes das televisões, incluindo jornalistas, que se deviam envergonhar de falar no povo e pelo povo, esse mesmo que ajudaram a amordaçar. Porque não impor um teto salarial, como na Suíça, e converter em impostos o remanescente?
Trabalhar com dignidade e apego sabendo que, na repartição de sacrifícios há, de facto, equidade.
Retaliar contra todos os que usam e abusam de subterfúgios para provocar fugas à justiça, morosidade nos julgamentos, mentiras com sucesso na vida política ou profissional.
Fazer parar esta onda de incompetentes, corruptos e novos-ricos. É assim tão difícil? Não se pára esta avalanche porque todos, ou quase todos, têm telhados de vidro.
E, quando já estão retirados da vida política ou das páginas dos jornais, lá surgem, de quando em vez, nas memórias, de que um dia foram reconhecidos como homens da corrupção encapotada, das fugas à justiça, do safarem-se, vivendo no firmamento.
Nesta pobre democracia, é altura de parar para pensar. No estado a que as coisas chegaram, certamente não irá haver outra oportunidade, ainda que pateticamente o Cardeal Patriarca de Lisboa diga que “não se resolve nada com grandes manifestações nem vindo para a rua a protestar”. Lembre-se, D. José Policarpo, que o Padre Américo, de quem se comemoram 125 anos do seu nascimento, dizia que não é possível pregar o Evangelho a barrigas vazias.
Neste país deprimido e com medo, numa autêntica guerra-fria de bancarrota, porque não levar à justiça, mas duma forma célere, todos quantos não souberam governar e nos trouxeram estas situações mórbidas, e dos inevitáveis sacrifícios, deste jaez? Desde Cavaco Silva, um dos culpados, a Durão Barroso (o fugitivo), Santana Lopes, Sócrates, Passos e Portas, entre outros! E não deixar escapar os turistas da política que, mesmo assim, por aí vagueiam, como é o caso peculiar de Dias Loureiro, para não falar de outros tantos, do domínio público.
Como é possível consentirmos em tanto descaramento? Somos, de facto, um País de brandos costumes, até quando? Sim, porque quando “o melhor povo do mundo” chama “gatuno” ao autor daquelas palavras, talvez seja mesmo melhor pensar duas ou três vezes.
Se seguíssemos o exemplo do General Ramalho Eanes que rejeitou vários privilégios a que tinha direito, certamente este País hoje falaria de outra maneira, mais feliz. E também não é o homem que muitos aplaudiram de “Soares é fixe” que tem méritos de exemplaridade.
Começamos a ser pobres em tudo, mesmo em opções na hora de eleger. Até fomos buscar uma equipa governativa da segunda divisão, treinada por um “mister” dos regionais!... Com um árbitro da troika a mostrar cartões amarelos e encarnados a torto e a direito. Assim, não vamos lá! Depois do “monstro” surgiu o “pântano”, daí um outro estigma – “a tanga”, e, agora “estamos tesos”, entre umas badaladas de “cigarras” e “formigas”. Contra uma equipa europeia para onde foram transferidos homens que ganhavam cá mais que os seus congéneres americanos; e, como reguladores, estiveram como o ceguinho; foi o descalabro bancário, sobejamente conhecido. Lá, numa porção desta Europa, de países do norte contra os do sul, são uns dos maiores da competência financeira. Até onde vamos?!
Precisamos de um “governo de salvação nacional de iniciativa presidencial”.
Mas, uma notícia poderá ser a esperança dos portugueses. O índice de produção do tomate em Portugal, por hectare, é o segundo melhor do Mundo, superado apenas pelo Estado norte-americano da Califórnia. A indústria transformadora de tomate exporta para 42 países e Portugal é, segundo a Associação de Industriais, o quinto maior exportador mundial, num setor que será responsável por 6500 postos de trabalho, diretos e indiretos. É caso para dizer: Senhores dos Governos de Portugal e da União Europeia, nós ainda temos tomates! 
 
(In Notícias da Covilhã, de 31 de Outubro de 2012)

20 de outubro de 2012

VERDADES INSOFISMÁVEIS

Pertenço a um pequeno número de vivos que integrou as fileiras da Conferência de S. Vicente de Paulo, pela mão de meu pai, conjuntamente com um irmão mais novo, na paróquia de S. Pedro da Covilhã, nos finais da década de cinquenta do século passado.
Sairia com a chamada para o serviço militar, então nos finais da década seguinte. Mas as atividades profissionais, o casamento e os filhos, para além de ter ido residir para outro concelho, e as dificuldades próprias duma vida stressante, levaram-me a um longo interregno fora desta vida de grande solidariedade; quiçá de alguma passividade com o mundo de dificuldades do meu próximo. Voltei há uns anos a esta instituição de grandiosíssimo mérito, por influência de confrades amigos, agora na paróquia da Conceição, da cidade da Covilhã; desta vez com minha mulher e por onde também já passou o meu filho e a nora.
O preâmbulo deste meu texto serve tão só para memorizar quão longos têm sido os caminhos das necessidades básicas de muita gente, cada vez mais com o sofrimento a trazer novidades, entre as quais a pobreza envergonhada, e não só, vertentes desta mesma pobreza que outrora não se verificavam.
Não é estranho para ninguém o que escrevo, pois de casos mais inverosímeis está o País cheio, onde, não fossem as ações das instituições privadas de solidariedade, como são as Conferências Vicentinas e o Banco Alimentar, esta Terra de Cristo já pertenceria a um terceiro mundo.
Num verdadeiro humanismo – aquilo que tantas vezes falta aos nossos governantes -  alguns dos Homens e Mulheres da solidariedade lançam-se num verdadeiro “Grito do Ipiranga”, na tentativa de encontrar soluções mínimas para resolver casos graves de saúde e emprego para uma figura que se chama “Ser Humano”, e, para quem escrevo, não é estranho o que, de formas heróicas, muitos se envolvem, pondo em risco a sua própria saúde e a dos seus que o rodeiam.
Dois casos verídicos se passaram, na exemplaridade de muitos outros, de forte vontade em ajudar o seu semelhante, numa das Conferências de S. Vicente de Paulo desta Cidade da Covilhã.
Para que um trabalhador precário se conseguisse deslocar para fora da cidade, na apanha de fruta, um destes homens de boa vontade, durante vários dias se deslocava ao Pelourinho, às cinco horas da manhã, para levar o trabalhador, graciosamente, para o local onde pudesse minimizar as suas frágeis economias familiares.
Outro dos homens de boa vontade, e sua esposa, conhecedores de um reformado, ainda não idoso, que vivia sozinho, abandonado, entregue à sua sorte, conseguiram ir a sua casa dar-lhe as refeições, de conta dos mesmos, o qual, muito fragilizado, já quase não engolia. Levaram-no a consultas hospitalares, no carro do casal, e a uma última na qual foi detetado encontrar-se gravemente doente, doença de morte, que viria a surgir. O homem de boa vontade, triste pelo acontecido a um ser humano mas paradoxalmente ledo pela sua caridade, intrinsecamente sentida, quando se dirige para o seu automóvel, à porta do hospital, toca o telemóvel, com o aviso do interior do hospital para que se dirigisse ao Centro Médico no sentido de ir fazer uma despistagem, pois o doente, que entretanto falecera, estava tuberculoso.
Anda agora este amigo do próximo envolto em preocupações, e seus familiares, até que todos os sintomas sejam debelados.
Destes atos de coragem, de verdadeiro amor e dedicação extrema a quem sofre, no corpo e no espírito, passam ao lado das preocupações dos nossos governantes.
Estes, são muitos dos heróis desconhecidos dos nossos tempos.
 
(In Notícias da Covilhã de 17.10.2012 e no Jornal Olhanense de 15.10.2012)

19 de setembro de 2012

Maria Ivone Vairinho – Uma Mulher multifacetada



 A notícia arrasadora chegou. A jovem iluminada, desde os já longos anos 50 do século passado, que a Covilhã conheceu como uma das suas filhas notáveis, terminava a sua missão nesta Terra de Camões. Junto ao seu túmulo, ensinou e participou com a sua eloquente poesia.

Com um currículo muito rico, Maria Ivone, duma grande cultura, sem favores, tinha uma grande capacidade na aquisição do saber, e no fervor perene da sua transmissão.

Autodidata. A sua ação cultural fortificou-se, duma forma galopante, por toda a sua vida.

Escrevo estas palavras, homenageando uma grande Amiga, na expressão viva de quem a conheceu, desde menina e moça, não obstante diferença de idades. Morámos na mesma rua, junto à Escola Industrial e Comercial Campos Melo. Não chegámos a ser colegas. Foi nesta instituição que tivemos o trampolim para o mundo do trabalho e do conhecimento.

Os dotes desta covilhanense de eleição nunca foram reconhecidos pelos poderes públicos locais.

Após o casamento, passou a viver em Lisboa, sem nunca esquecer, e se referir na sua poesia, à sua terra natal – a sua querida Covilhã, onde as suas cinzas passaram a repousar, junto aos seus familiares, nomeadamente seu irmão, Francisco Manteigueiro, que foi velha glória do Sporting da Covilhã. Foi no dia 13 de setembro, depois do seu falecimento no dia 7 do mesmo mês, em Lisboa, onde foi cremada, e o velório na capela de Santa Maria, do Mosteiro dos Jerónimos, que tanto amava. Centenas dos seus amigos, ali lhe prestaram a derradeira homenagem.

Desde os seus 13 anos começou a escrever peças de teatro e autos de Natal, nos teatrinhos do Salão Paroquial da freguesia de S. Pedro da Covilhã, então nos finais da década de 40 do século passado, também representados na Escola Campos Melo, onde sempre foi a aluna mais distinta.

Chegou a participar num filme – Dois Caminhos – em colaboração com o saudoso Padre José Domingues Carreto, ela então nas fileiras da JOCF (Juventude Operária Católica Feminina).

Na inauguração do Teatro-Cine da Covilhã, em 1954, representou um monólogo de Alice Ogando, na presença da Companhia de Teatro Nacional Amélia Rey Colaço – Robles Monteiro, tendo-lhe sido abertas as portas para o Teatro Nacional, oportunidade que não pôde concretizar.

Completou os cursos do Instituto Britânico e Alliance Française e foi diplomada pela Escola Pittea em estenografia portuguesa, francesa e inglesa.

Na sua atividade profissional, passou por Secretária do Conselho de Administração da Petrogal, tendo frequentado cursos de âmbito internacional.

 
Na sua adolescência e juventude, prolongando-se pela sua vida fora, colaborou e escreveu textos, contos e poemas, publicados em diversos jornais e revistas. Traduziu muitos livros de espanhol, francês e inglês, com perto de 250 títulos registados na Base de Dados Bibliográficos da Biblioteca Nacional. Ganhou vários prémios.

Publicou romances e livros de poesia – a sua grande paixão. Foi colaboradora da “Crónica Feminina” e do jornal “Poetas & Trovadores”, tendo participado em 12 Antologias da Associação Portuguesa de Poetas, da qual chegou a ser Presidente da Direção e Diretora do seu Boletim. Proferiu diversas palestras e conferências, em vários auditórios.

No mundo artístico, depois do contacto com o palco, pertenceu a grupos cénicos, tendo, várias vezes, representado autos de Gil Vicente e peças de teatro de Almeida Garrett e outros.

Foi “Maria” no “Natal Beirão” e “Covilhã” na apresentação do folclore beirão nos espetáculos do Orfeão que acompanhou nas suas deslocações.

Colaborou em concertos da “Pró-Arte”, dizendo poemas ilustrativos de diversos andamentos da Sinfonia de Beethoven, e deu muitos recitais de poesia.

Com o pseudónimo de Ivone Beirão, em 1959 pertenceu ao Centro de Preparação de Artistas da Rádio e gravou programas nos estúdios da Emissora Nacional, tendo-se estreado num Serão para Trabalhadores no Pavilhão dos Desportos no Parque Eduardo VII.

Desde 2001 que dava aulas de “Ler… e Dizer – Oito Séculos de Literatura Portuguesa/Poesia” na Universidade Sénior de Oeiras.

Maria Ivone tinha comigo uma particular amizade. Sabia que eu tinha um enorme gosto pela cultura e por tudo o que à Covilhã dizia respeito, envolvendo-me também no jornalismo. A sua humildade era demasiada, sustentando a compreensão da injustiça que caía sobre a sua pessoa. Várias vezes falei sobre ela na comunicação social. Participou na apresentação de um dos meus livros e eu tive o prazer de estar na apresentação dum dos seus últimos livros de poesia, na Câmara Municipal da Covilhã.

E foi com a voz embargada que proferi umas palavras muito sentidas, no depósito das suas cinzas, na sepultura onde passou a repousar, como, aliás, já havia surgido, há uns anos atrás, no cemitério de Aranhas (Penamacor) na sepultura do Padre José Domingues Carreto. Memórias!

(In Jornal Notícias da Covilhã, de 19.09.2012)

12 de setembro de 2012

INDIFERENTES, PELA CIDADE VAMOS ANDANDO


Várias vezes nos acontece, algo de inesperado, um furo num pneu da nossa viatura, ainda que seja um coche novo ou uma bomba de pneus largos e pujantes.

E, vai daí, não nos apercebemos do motivo porque furou, um furinho impercetível, e sempre do lado direito…

Aconteceu-me há poucos meses, a uma velocidade não aconselhável, no Algarve, na autoestrada.

Mas, penso eu de que… se deve também ao desgaste devido a algumas anomalias originadas pela irregularidade dos pisos das calçadas ou junto às bermas das nossas ruas, que, depois, mais tarde, se vai refletir no atrás referido.

Vejamos, por exemplo, a posição em que se encontram alguns paralelepípedos do piso da Avenida 25 de Abril, a seguir à curva junto à Escola Frei Heitor Pinto, em sentido descendente, obviamente que do lado direito. Tive o cuidado de, numa das minhas pequenas caminhadas, avenida acima, verificar in loco o estado do piso. Puxo pelo meu telemóvel e, bumba! – Uma foto!


Estão alguns paralelepípedos em bico, originando danificação dos pneus. Circulando por ali diariamente, bem tento desviar-me…

Convidava os responsáveis pela edilidade a fazerem umas rondas pela cidade, a fim de se aperceberem de pequenos pormenores que se passam, ou existem na via pública, em muros ou edifícios, e que podem pôr em causa o prejuízo de pessoas e bens.

E, outro aspeto, o do inestético, e da perigosidade, como é o caso de alguns recantos de casas demolidas ou a cair, cheias de arbustos e ervas altas, secas, propícias para incêndios, basta uma ponta de cigarro acesa. Para já não falarmos de quintais particulares, devolutos, e não só. Basta tão só subir a Rua Mateus Fernandes!...


E, já agora, seria também de bom tom, que, para além de se poder tropeçar nas ruas, passeios ou estradas, também se evitasse tropeçar no que para aí vemos escrito, nalguns casos, como os dois que apresento, dentre de vários, em que a língua de Camões está muito mal tratada (não se trata de acordo ortográfico, não!), principalmente na nossa Terra que é uma cidade universitária.

Vejam só a placa que identifica o Parque Infantil do Rodrigo, da Comissão de Moradores –  “Sobe a égide”, em vez de “Sob a égide” – ou, então, a placa de saudação a quem visita as Penhas da Saúde, da freguesia das Cortes do Meio – “Benvindo”, em vez de “Bem-vindo”.

Por hoje fico por aqui, antes que apanhe algum tropeção…

(In Notícias da Covilhã, de 12.09.2012)

30 de agosto de 2012

A “Volta” que nos dá a volta


Dois nomes célebres mundialmente, homónimos em Armstrong, ambos norte-americanos, tiveram neste últimos dias destinos diferentes. Lance Armstrong foi erradicado do ciclismo e desapossado das suas sete vitórias na Volta à França, devido a problemas de dopagem. Neil Armstrong, um astronauta que pisou a Lua pela primeira vez, realizando o sonho de muitas gerações, morreu em 25 de agosto, a um sábado. Mas foi num domingo, perto das 20 horas portuguesas, a 20 de julho de 1969, que o módulo lunar lá chegou e Neil afirma, já em solo lunar: “É um pequeno passo para um homem, um salto gigantesco para a Humanidade”.Recordo-me deste dia, pois fui acompanhando os acontecimentos, como milhares de portugueses. Seguia viagem de autocarro, com outros militares, de regresso de fim de semana ao Regimento de Artilharia Ligeira n.º 4, em Leiria, onde prestava serviço militar.

Voltando-me agora para a nossa Volta a Portugal em Bicicleta – “A Volta” – desejo recordar que foi na minha adolescência que se deu um facto algo importante com o entusiasmo dos ciclistas, de passagem pela Covilhã a caminho da meta, então nas Penhas da Saúde.

Nesse dia 12 de julho de 1962, a um domingo, resolvi, pela primeira vez, caminhar pelos atalhos da Serra, conjuntamente com meu irmão, mais novo, e outros covilhanenses, até às Penhas da Saúde, sem autorização dos pais. Viviam-se outros tempos.

Pelo caminho, o entusiasmo que a “Volta” originava, estrada acima, com formigueiros de gente  pelas bermas e atalhos; a passagem das caravanas, a distribuição de bonés e t-shirts, publicidade e alguns brindes; e também muita gente em pontos estratégicos para verem os ciclistas, com as suas merendas. E um sol abrasador. O entusiasmo e o frenesim pelos heróis da estrada, mais conhecidos: José Pacheco, Mário Silva, Sousa Cardoso, Carlos Carvalho, João Roque, pois que Alves Barbosa penso que já não corria, até que, na estrada, bastante distanciado, surge um corredor, como nunca se viu com uma enorme diferença de tempo em relação aos outros ciclistas – mais de 20 minutos –, esse homem era João Centeio, creio que do Águias de Alpiarça.

Este vencedor da etapa das Penhas da Saúde já faleceu. Só a partir de 1971 surgiram as metas na Torre, sendo o primeiro a vencer a etapa, em 1971, o também malogrado Joaquim Agostinho, do Sporting.

Os portugueses é que dominavam, até que, com tantas tentativas, o belga Houbrechts, da Flandria, dá a volta à nossa “Volta” e ganha a mesma em 1967.

Seguem-se cinco anos, na era de Joaquim Agostinho, de novo com vencedores portugueses, para, em 1973, o espanhol Manzaneque, da Messias, estragar a festa dos portugueses… Surge uma dúzia de anos sem a “intromissão” de estrangeiros, agora na era de Marco Chagas e Venceslau Fernandes, até que começa a surgir também a concorrência estrangeira e, então, assistimos este ano a mais um vencedor da estranja – o espanhol David Blanco – que acaba por liderar, no nosso país, o maior número de “Voltas” ganhas – cinco.

A Volta a Portugal em Bicicleta dos últimos anos tem assistido a um entusiasmo acrescido da Liberty Seguros na sua participação muito ativa, onde já teve uma equipa representada. Este ano foi a patrocinadora principal da “Volta” e, por todo o lado, foi a vivacidade das suas gentes que fizeram vibrar mais os portugueses, num grande entusiasmo pelas suas cores, neste país fortemente abatido pelas crises, para as quais os nossos governantes não conseguem encontrar antídoto para os maleitas que a todos os portugueses afetam, melhor dizendo, uma situação mórbida que permanece quase ad aeternum. Enganei-me: alguns portugueses, que devem julgar-se “de primeira”, nunca souberam o que era crise, e eles são sobejamente conhecidos de todos os portugueses. 

Tem sido duma forma salutar que esta multinacional americana tem dado o exemplo de como há ainda muitos portugueses (alguns vindos de empresas do estrangeiro) que sabem incutir formas de trabalhar, onde a gestão de excelência e o trato familiar com todos os seus obreiros são a única forma de andar em contraciclo às crises, arrastando e conseguindo a aderência de multidões, nas várias vertentes de atuação.
E a Volta a Portugal em Bicicleta tem sido um desses grandes exemplos de forte popularidade, notoriedade e entusiasmo por todo o seu mundo de trabalho. Haverá mais explicações para o sucesso?

(In Notícia da Covilhã, de 30.08.2012)

31 de julho de 2012

PORQUE…


No pouco tempo que ando a pé, lamentando tal comodismo, observo, refletindo sobre algo que vejo na minha cidade, umas coisas do meu agrado, outras de torcer o nariz…

Dou graças por ver dois dos meus antigos professores inseridos em placas toponímicas da minha Covilhã.

Manuel de Castro Martins foi um daqueles professores que me incutiu o gosto pela escrita, desde o Ciclo Preparatório, nos finais da década de cinquenta; já sua extremosa esposa, Edite Castro Martins, sem papas na língua, reconheceu que eu sabia mais francês que o Petit que brilhava nas orais…

Porque isto eram outros tempos, do rigor e de quem só passava de ano quem sabia, e se sabia…

Manuel João Calais, arquiteto, outro dos meus professores de outrora, também com direito a uma placa toponímica. É o reconhecimento da cidade a quem à mesma tanto deu do seu saber, da sua vida profissional, e dos estudos feitos sobre monumentos da região.

Duarte Simões, outro dos meus professores, ainda que efemeramente, teve jus a ser inserido em toponímia covilhanense, ele, o responsável pelo ensino superior na cidade.

Já outros nomes me deixam alguma reflexão do porquê de se encontrarem com direito a esta “veneração”. Eu que sou contra o excesso de bairrismo que leva à mentira declarada. Em muitos casos das minhas pesquisas deparei-me com falsidades no que haviam escrito, enfim, era o tempo em que as pessoas se podiam iludir.

Mas um dos meus porquês, é o facto de não reconhecer porque é que a edilidade, teimosa, não confere dignidade de inserção numa das placas toponímicas da cidade, a um Homem insigne e respeitador que deu pelo nome de Padre José Domingues Carreto, devendo o Largo Manuel Pais de Oliveira (quem foi esta figura?), ali mesmo junto ao local onde foi o seu múnus, ser substituído pelo nome do sacerdote que a cidade muito lhe deveu.

Transportando estas minhas observações do setor das ruas da cidade, agora para outros horizontes, vai uma reflexão para o dia em que, na celebração do chamado ferido municipal, se reconhecem, homenageando, determinadas figuras ou instituições citadinas.

Se algumas são, de facto, merecedoras indiscutíveis desse reconhecimento, outras deixam a população a assobiar para o lado quando têm conhecimento dessas decisões camarárias…

Porque até mesmo não fica bem á edilidade anunciar precocemente quem vai homenagear, como tem feito por várias vezes, retirando aos homenageados e à população, aquele pendor de surpresa.

E porque isto de surpresas, neste país desmazelado, já deixam de o ser, tal o hábito a que nos acomodaram nestes brandos costumes; e já que as notícias por antecipação são também como que uma tradição, sou tão só a sugerir o meu ponto de vista, na homenagem que urge seja feita a pessoas e instituições que, certamente nem gostarão de aqui se ver referenciadas, tal a sua humildade, mas cuja missão é credora desse reconhecimento, nomeadamente:

- As Conferências de S. Vicente de Paulo da Cidade, representadas pelo seu Conselho de Zona, que tanto têm trabalhado e solucionado inúmeros problemas a centenas de carenciados, muito deles da pobreza envergonhada;

- O digno arcipreste da cidade, Padre Fernando Brito dos Santos, duma humildade sem precedentes e que na doença não vê obstáculo para um trabalho fecundo em prol de toda a cidade, ele que já deveria ter tido o reconhecido do prelado com a sua nomeação de cónego. Se for necessário levanta-se um mar de jovens de outrora, adultos-jovens de hoje, e também a juventude atual para recordar tudo o que lhe devem, mesmo nos tempos em que o silenciamento era lei.

- José Manuel Amarelo Correia – um homem de envergadura no apoio aos que enveredaram pelo alcoolismo e outros males da sociedade de hoje, num entusiasmo sem precedentes, fundando instituições para o apoio aos mesmos.

Muito haveria que dizer, mas fico por aqui porque o espaço o não permite, deixando contudo ainda muitos porquês por contestar.

(In “O Olhanense” e “Notícias da Covilhã”, de 31.07.2012)

18 de julho de 2012

CONTENTAMENTO DESCONTENTE


Último dia do mês de junho do ano da graça de 2012 - o da "era continuada das crises". 

O autocarro foi a caminho do Estádio do Inatel, em Lisboa, para um encontro com centenas de colegas, suas famílias e amigos, no centenário da multinacional que a todos envolveu.

Alegria, amizade, dinâmica, solidariedade. No final, os motoristas dos autocarros de  Castelo Branco e da Guarda informam, depois de receberem reclamações pela sua ausência, que só podiam circular com as viaturas uma hora mais tarde, e, ao frio, com crianças, lá fomos vendo partir os colegas e sua comitiva para os outros ponto do País. Responsabilidades da "Cosmos", com o regresso, tardio, à uma hora e vinte da manhã.

Na ida, aproveito alguma leitura dos cadernos e revistas do Expresso, que o colega de viagem acabara de comprar na área de serviço de Abrantes. Para além dum texto de Pedro Mexia, delicio-me com a clarividência da escrita desenvolta de Clara Ferreira Alves. E, neste contentamento pelo orgulho e amor-próprio nacional face ao êxito dos homens da redondinha, no Europeu, sem descurar o "nosso" craque, salvador da pátria futebolística, uma “descontente” forma de sentir a glória de um rapaz, na comparação com a desgraça de milhares de seus compatriotas.

E a cronista diz: "Conheço uma rapariga que todos os dias faz quatro horas de transportes públicos para acumular dois salários mínimos. Conheço brilhantes médicos em hospitais públicos quando podiam ter escolhido brilhantes carreiras em hospitais privados. Conheço cientistas e militares com sentido de missão que ganham menos de dois mil euros por mês. Conheço estudantes pobres que não desistem das notas. Conheço estudantes ricos que não desistem de trabalhar como se fossem pobres. Conheço jovens atletas que treinam fora das horas de estudo e trabalho por uma medalha. Sei de jovens idealistas em balcões e call-centers, velhos dignos que comem uma vez por dia, imigrantes explorados que trabalham sete dias por semana para poderem ganhar mais. Sei de gente doente que todos os dias vai a luta e de gente sã que não desiste da gente doente. Sei de gente que sofre em silêncio e de gente que silencia o sofrimento dos outros aliviando-o".

E, ainda: " A proeza física do grande entretenimento que é o futebol ainda é mais admirada do que o Prémio Nobel da Medicina ou da Literatura".

Para terminar: "Vemos o nosso deus, o nosso herói, o nosso Hércules, o nosso Aquiles, o nosso Alexandre, enfiar bolas numa baliza e ensaiar uns passos de dança mitológica". "(...) O que ninguém quer saber é dos pequenos heróis do quotidiano quando ali, naquele instante de glória coletiva, o nosso Ronaldo marca um golinho, E assim, um rapaz de vinte anos, com umas pernas dotadas e um cabelo descampado, tornou-se o carregador oficial da bandeira e do amor-próprio de um país desesperado e humilhado. Faz sentido? Na verdade, o talento do rapaz é dele, mas foi apurado nas melhores equipas estrangeiras em países estrangeiros que lhe pagam o suficiente para ele poder estoirar Ferraris e top models, comprar filhos na América, comprar uns amigos que atiram pessoas ao Tejo quando estão chateados, fazer casas com o Souto Moura e, de um modo geral, ganhar o dinheirinho do BES e viver como um princepezinho".

Os gregos, com um papel importante na história e na cultura do mundo, esvasiaram-se do seu contentamento e, nalgumas mentes de hoje, talvez lhes tenham surgido o pensamento de uma "ressurreição". Se se pudessem levantar dos seus túmulos os filósofos Sócrates (nada de confusões...), Platão, Aristóteles, Ptolomeu, Diógenes, para poderem, duma forma eloquente, dizer à senhora Merkel que a  pujança da Alemanha é humilhante para o resto da Europa que está arruinada, cada vez mais em cada dia que passa, seria um grande lenitivo para as gentes gregas, e não só! Não queremos uma ditadura europeia.

No descontentamento dos cortes das pensões e dos salários na função pública, veio agora a satisfação pela decisão do Tribunal Constitucional, já que Cavaco Silva, como já nos habituou, não passa tão só duma cabecinha pensadora,  e, então, encolhe os ombros nas decisões que devria tomar em tempo oportuno.

No contentamento dos “novos oportunismos” de licenciaturas, mais um caso para ver como vai o Parlamento, o Governo, o País, cheio de doutores da mula ruça. Outrora, orgulhosamento líamos nos livros da instrução primária: Portugal é um país de escritores, de cientistas, de sábios e de santos. Hoje, é um Portugal de muitos chicos-espertos, de oportunistas, de mentirosos e de corrompidos. Vale a pena meditar!

( In jornal Olhanense, de 15.05.2012 e Notícias da Covilhã, de 18.07.2012)

27 de junho de 2012

SEGUNDO ENCONTRO DE AMIGAS DA TRAVESSA DO VIRIATO

Volvidos dois anos do primeiro encontro, em Abrantes, as organizadoras, desta vez, optaram pela Covilhã como palco do segundo encontro, com a receção e posterior passagem, em pormenor, pelos locais de vivência d’outrora, mais de meio século de recordações, ali mesmo, para as bandas da Travessa do Viriato.


O frenesi começou bem cedo, e, junto à Igreja de S. João de Malta, já aguardava a primeira amiga – Manuela e o marido – quando chega a Odete e marido.

Desta vez, com o grupo dilatado, e somente com a ausência da Deolinda, impossibilitada, em Leiria, aumentava este segundo encontro, de mais emoções e enorme entusiasmo.

Beijos e abraços à medida que o grupo se reunia, e elas compareciam de vários pontos deste Portugal: Carmita (Lisboa), Néné (Vila Franca de Xira), Lenita (Abrantes), Cyla (Belmonte), às quais se juntavam a Tiz, Fernanda, Zizi e a Nelita.

Após a receção, foi uma visita à Igreja de S. João de Malta, onde se recordaram “os tempos de catequese, de catequistas, do côro, dos teatros no salão paroquial, das festas de S. Pedro e de Santa Luzia, e também do Padre Carreto” (e eu acrescento, do tempo em que a Eucaristia era celebrada em latim, com as mulheres de obrigatório véu na cabeça, e a separação, nas igrejas, de homens para um lado (ao cimo) e mulheres para outro (na retaguarda)… assim como o celebrante, na cerimónia eucarística, de costas voltadas para o povo…).

Nesse tempo, de mais silêncio e ouvir que de intervenção, quase que dava o sono no decorrer do ato litúrgico, porque era quase só a voz do padre, em latim, lá vindo algum despertar quando o mesmo exclamava: “Dominus vobiscum!”; e os fiéis respondiam: “Et cum spiritu tuo!”.

E o velho sacristão, Ti Domingos, lá ia respondendo em latim, no início da missa, e sempre que necessário, como era uso nos tempos de então.


No pequeno ato de agradecimento, junto ao altar, o padre Hermínio fez notar aos presentes do quão são importantes este atos, em que o denominador comum é a amizade, com o incentivo e estima por estes gestos, nos tempos que correm.

Mas, para além da amizade que perdura ao longo de tantos anos, havia uma grande dose de respeitabilidade entre os jovens – rapazes e raparigas – que, nos tempos que correm, muito deixa a desejar…

No seio destas grandes amizades, de longa data, também se partilhou a alegria dum pequeno ato simbólico das pequenas coisas de outros tempos… quando a dinâmica organizadora deste evento, Minita, convidou todas as suas amigas a aceitarem a oferta de uma jarrinha de vidro, para, numa hilariante ida à Fonte das Galinhas, recordarem peripécias dos seus tempos de adolescência e juventude.

E tudo correu num entusiasmo transbordante, pela tarde fora, a caminho do local do repasto, num restaurante da região, com uma vontade indómita para prosseguir.

Nos tempos que correm, os convívios, ainda que de pequenos grupos como este, mas bastante significativos para a vida das pessoas, são como que um despertar para alívio destes momentos difíceis da conjuntura em que vivemos.

E, de várias pessoas presentes, com problemas de saúde, foi um lenitivo que fez esquecer as dificuldades de cada um.

É para continuar!




(In Noticias da Covilhã)

13 de junho de 2012

O REINO DAS MULHERES

Sou um republicano convicto. Vejo na monarquia como que um conto de fadas. Reis e rainhas, príncipes e princesas fazem histórias muito bonitas para contar à miudagem, principalmente quando precisam de dormir.
Mas, pelo mundo fora, e na nossa Europa, ainda se delira com as rainhas e as princesas… mesmo que se gastem rios de dinheiro nas extravagâncias de um evento, como o cerimonial de um casamento. Para isto não há troika que resista.
Irritava-me ter que gramar, na monarquia, a descendência de uma família real. Exemplificando: Na linha de sucessão, ao Rei D. Mateus I vai suceder-lhe o alucinado filho varão, príncipe Tomás, Conde de Bogalhos de Baixo.
Vejam lá se isto sucedia com o Sultão da Madeira… Alberto João I, Rei e Senhor dos Jardins de Melgaço, Boidobra da Beira Baixa, Fundada dos Pinhais de Vila de Rei, Arronches do Alto Alentejo, Troia e dos mares do Machico e Ribeira Grande…
Bom, mas Portugal já teve grandes monarcas, na maioria com filhos de outras vergonhas que não incomodaram este país de marinheiros. Nem a nossa Rainha Santa Isabel de Aragão se furtou às escapadelas do marido, D. Dinis, de sua graça, de quem pariu somente dois filhos.
Isto que, de Marias, a nossa primeira rainha, de seu nome, teve uma fobia e enlouqueceu a governar pelas mãos dos outros. Foge, que vêm aí o Napoleão! E, a caminho do Brasil, a sua nora e rainha consorte do reino unido de Portugal, Brasil e Algarves, na precipitação até deixou o marido e nosso D. João VI, levar a casaca cheia de nódoas.
Parecendo estar num dia aziago e ver toda a monarquia pela negativa, afinal, tenho dó daquela rainha Sofia, de Espanha, sempre triste com as saídas furtivas de D. Juan Carlos, em serviço pelos safáris…
E que Deus tenha em paz a linda princesa Diana, já que o enfadado Carlos, príncipe de Gales, preferiu os traços da Camilla.
O que é certo e verdade é que, neste reino das mulheres, uma se salienta pela sua longevidade – a segunda mais velha a manter-se na monarquia britânica – a Rainha Isabel II, de Inglaterra, ao completar 60 anos no trono britânico – o jubileu de diamante da rainha.
Isabel II (ou Elizabeth II) nasceu em 21 de abril de 1926 e tem agora precisamente 86 anos. Reina após a morte de seu pai, o rei Jorge VI, desde 6 de fevereiro de 1952, sendo atualmente a Chefe de Estado que está no poder há mais tempo em quatro continentes, e, portanto, a segunda no planeta, já que o detentor do “troféu” da longevidade no poder é o rei da Tailândia (Rama IX).
É atualmente a mais velha rainha britânica de sempre. A sua trisavó, Vitória, consegiu bater o recorde mais longo dum reinado, pelo que, para o bater, a rainha Isabel II terá que se manter no poder até 9 de setembro de 2015.
Esta mulher é ainda chefe de Estado dum conjunto de 125 milhões de pessoas, vivendo em 16 países que vão desde o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, passando pela Austrália, Canadá, Jamaica, Nova Zelândia até às Ilhas Salomão.
A rainha Isabel II – uma das mulheres mais ricas do mundo – exige sempre vestuário que a saliente e só em 26 de novembro de 1992, o então primeiro-ministro John Major anunciou no Parlamento que a Rainha estava disposta para, a partir do ano seguinte, pagar impostos sobre os seus rendimentos… Entendam bem este espírito de voluntariado, caritativo e de abnegação…
A Rainha Isabel II foi coroada em 2 de junho de 1953 mas subiu ao trono em fevereiro de 1952. Na data da coroação, antes do cortejo em Westminster, disse às virgens que lhe seguravam o manto: “Prontas, meninas?”. Ela estava coberta de pesados adereços. O cetro é de 1661 e como a monarquia sempre gostou dele, em 1907 juntou o diamante Cullinan II, o segundo maior do mundo, com 530 quilates. As pulseiras, em ouro, foram-lhe oferecidas pelos oito países de que se tornou Chefe de Estado com a coroação. O vestido foi desenhado por Norman Hartnell e bordado com as flores de todos os países da Commonwealth. A coroa imperial de Estado tem 2.868 diamantes e é uma cópia da que foi feita para a Rainha Vitória. O colar e brincos foram feitos para a Rainha Vitória em 1858 com diamantes antigos. O Lahore tem 22 quilates. O manto, de veludo e pele de arminho, tinha 5,5 metros e era levado por seis jovens virgens da nobreza britânica.
Quando a rainha falecer, para que lhe serve tanta riqueza?
Recordo-me da sua vinda a Portugal, no mês de fevereiro do ano de 1957, quando a televisão surgiu em Portugal, a preto e branco, tendo sido esta visita a primeira grande reportagem da radiotelevisão portuguesa.
Era então uma jovem rainha, de 31 anos, acompanhada pelo marido, príncipe Filipe, e pelos seus dois filhos, príncipes Carlos, de nove anos; e Ana, de sete anos. Mais tarde viriam a nascer os príncipes André e Eduardo.
Eu, que não tinha ainda televisão, e, na minha adolescência, frequentava a antiga Biblioteca Municipal, ao jardim, para onde ia estudar, aí me recordo de ver na revista Flama, e nos jornais, as notícias e imagens da visita da Rainha Isabel II a Portugal, com a sua família, ao lado do Presidente da República General Craveiro Lopes e do Presidente do Conselho, Oliveira Salazar.

(In Notícias da Covilhã de 13.06.2012 e Kaminhos e Jornal Olhanense)