30 de janeiro de 2014

CONSELHO CENTRAL DA GUARDA Conselho de Zona da Covilhã A GRANDE VISIBILIDADE DAS CONFERÊNCIAS

É indubitável que o trabalho das Conferências de São Vicente de Paulo passou a ter um grande protagonismo, alheio a qualquer intenção própria dos vicentinos que, duma forma geral, procuram desempenhar as suas funções de assistência aos necessitados dentro do espírito de Caridade, e, por isso, rejeitando, tanto quanto possível, eventuais aparatos.
Só que, a força das necessidades, cada vez mais prementes; com a redução de bens alimentares, e, principalmente, dos valores do saldo para satisfazer despesas de água, luz, rendas de casa, medicamentos, e outros; face à avalancha de pedidos, muitos deles que já não nos causam estranheza, devido à proveniência de pessoas que outrora tiveram uma vida desafogada; obrigam a um esforço de todos os membros, desdobrando-se na criatividade para arranjar meios de fazer face às despesas, cada vez mais em
crescimento.
São as exposições-venda, os sorteios de rifas de Natal, os peditórios e a participação em espetáculos de solidariedade, para além dos avisos do assistente eclesiástico, nas Eucaristias, assim como a procura de benfeitores, e donativos, que levam ao surgimento de uma onda de solidariedade em várias áreas da Cidade e de algumas zonas da região.
Por via da Comunicação Social, onde a imprensa escrita, com reportagens e notícias, também tem grande impacto, leva ao aparecimento de boas
vontades, então pelo grande impacto que existe na Internet.
Assim, no ano findo de 2013, teve este Conselho de Zona boas ajudas em encontrar soluções para carências específicas de cada necessitado, nomeadamente no que concerne a algum mobiliário e eletrodomésticos, assim como determinados enxovais ou leite infantil.
Evidentemente que o trabalho dos vários vicentinos, das várias Conferências deste Conselho de Zona, desdobrado pelos muitos contactos com a Segurança Social, empresas de água e eletricidade, assim como autarquias e a Câmara Municipal, implicitamente dão lugar à atenção no campo solidário.
Algumas instituições, clubes e associações se têm disponibilizado autonomamente ou em colaboração com as Conferências da Cidade no sentido de ajudarem, mormente com géneros alimentares.
E assim organizaram campanhas a favor de obtenção desses bens, e, mormente por ocasião da época natalícia, também a oferta, nas instalações de alguns, com jantares de Natal para os necessitados e famílias.
Durante o ano pudemos contar com a solidariedade, sempre com peculiar sorriso nas suas mentes, do “Grupo SER – Ser Especialmente Responsável” que tem como lema “ajudar sem esperar nada em troca”, através da Internet, com mais de 300 membros, que, bem depressa se organizaram no pedido de bens específicos.
E daqui nasceu uma grande campanha do leite, com a distribuição de 2000 litros, onde o Grupo de Motards da Covilhã e Fundão tiveram grande ação; assim como várias instituições e empresas que fizeram a sua entrega simbólica do leite, no VI Encontro de Voluntários do Centro Hospitalar Cova da Beira que decorre
u no auditório do Hospital Pêro da Covilhã.
Já depois desta onda solidária surgiram outras partilhas, como da Sala das Tartarugas do Infantário da Santa Casa da Misericórdia – Infantário 2, com alguns cabazes de Natal, desta vez para a Conferência de Nª Sª da Conceição da Covilhã e Banco Alimentar, numa iniciativa da Associação de Pais; também os Lions Cova da Beira, e a A.D.C – Águas da Covilhã, EM, para além dum espetáculo solidário da Claque Leões da Serra, e, como já referimos, a Câmara Municipal da Covilhã e a União de Freguesias da Covilhã e Canhoso, e a empresa Modatex.
Pensamos, contudo, que a nível da maioria dos dadores, quer sejam instituições ou empresas, se deveriam abster da quase obrigatoriedade da sua notoriedade, por via das fotos e notícias inseridas na Comunicação
Social.
Pela parte dos Vicentinos, como não há mãos a medir, todos se desdobram pelas várias tarefas, seja na visita, cada vez maior, aos pobres, na procura de conseguir soluções para resolver casos urgentes, e não só, nas reuniões semanais das Conferências respetivas e, algumas vezes, em colaboração com outras, assim como na recolha e distribuição dos géneros do Banco Alimentar.
O aspeto espiritual de todos os vicentinos também tem estado presente, como foi a recoleção espiritual, que, apesar do muito frio, reuniu alguns elementos num dos salões da Igreja de S. Tiago, onde estiveram também alguns Presidentes das Conferências deste Conselho de Zona.
Também muitos vicentinos do Conselho de Zona da Covilhã se reuniram num Jantar de Natal, onde esteve presente, para além da Direção, também o Presidente do Conselho Nacional, Correia Saraiva, que, ainda nessa noite, teve que se deslocar para Lisboa.
Vamos continuar a trabalhar durante este ano de 2014, na obra da Sociedade de São Vicente de Paulo, em prol dos cada vez mais carenciados.
Assim Deus nos ajude.


João de Jesus Nunes

(In "Boletim Português da Sociedade de São Vicente de Paulo - Ano 108 - N.º 1  -  janeiro 2014)

29 de janeiro de 2014

DOS TEMPOS DA PRIMÁRIA, NA ESCOLA DO ASILO, COM NUNO DA CÂMARA PEREIRA

Fiz a minha instrução primária na Escola do “Asilo – Associação Protetora da Infância Desvalida”, como se designava, sita numa zona estreita da Rua Combatentes da Grande Guerra, na Covilhã, na década de cinquenta.
Escola só para o sexo masculino e, como eu, também havia muitos meninos com aquelas malas de cartão, com fecho e uma tira para as costas, como se usavam na altura.
Na sua maioria, rapaziada de fracos recursos financeiros (um chegou a andar descalço!),mas com mistura de uns quantos bem remediados, alguns os considerávamos “os meninos ricos”.
Quase todos almoçávamos na cantina da Escola que se situava na sala onde estava instalada a Biblioteca Heitor Pinto, em frente da minha sala de aula, com janelas para a rua de acesso à escola. Na 2ª classe tive três professoras que se iam revezando, para substituir o Professor Raúl, que entrara de baixa (o tal que dava reguadas no rabo, com os rapazes de joelhos e mãos no chão, até que saiu da escola); depois, o professor Gadanho e, por último, o professor Tendeiro, então na 4ª classe.
Na outra sala, ao lado, nas traseiras, exerceu a sua missão, durante vários anos ininterruptos, o professor Manuel Poeta.
Esta Associação foi criada no reinado de D. Luís por volta de 1870. Destinava-se à criação de um asilo, chegando a ser inaugurado em 25 de julho de 1871,mas a falta de utentes levou a ser substituído por uma escola destinada à instrução primária, e uma biblioteca.
A escola funcionou durante quase um século, sendo extinta em 1968, tendo passado a Atividades de Tempos Livres até que encerrou definitivamente.
A biblioteca – Biblioteca Heitor Pinto – com fundo documental estimado em cerca de 3,383 monografias, foi transferida para a Biblioteca Municipal da Covilhã.
O principal fundador desta Associação foi o Visconde da Coriscada, Francisco Joaquim da Silva Campos Melo, vários industriais e também o fundador da Escola Industrial, José Maria Veiga da Silva Campos Melo.
Muitas foram as dedicações pela causa da instituição, não esquecendo o carinho com que a família Campos Melo por ela teve.
De facto, no meu tempo, o então diretor da Escola Industrial e Comercial Campos Melo, Engº. Ernesto de Melo e Castro, era a alma e o líder daquela instituição, surgindo sempre com sorriso para com a rapaziada do Asilo, assim como a sua esposa, D. Gonzaga.
Antes do Natal, o colaborador do Asilo, a tempo parcial, Sr. Belmiro, funcionário da Subdelegação de Saúde, que se situava na Rua Capitão Alves Roçadas, onde existiu um estabelecimento de fazendas, perto da Igreja de S. Tiago, passava uma revista por todos os alunos do Asilo mais pobres, para, depois, irem em grupos, a determinado sapateiro tirar as medidas para lhes fazer as botas, oferecidas pelo Natal. Outros, recebiam camisolas.
Para além da aprendizagem dos programas da instrução primária (programas únicos, durante anos, na altura do Estado Novo), aos sábados, na primeira hora da manhã havia uma aula de Religião dada por uma freira, ou pelo pároco de S. Francisco, Padre José Andrade. A seguir, ainda de manhã, havia instrução da Mocidade Portuguesa (MP), umas vezes por um sargento do então Batalhão de Caçadores 2, ainda em funcionamento, outras vezes por alguns graduados da MP da Escola Industrial, como o Machado, do Teixoso, já falecido.
No 1º de dezembro, e nas Procissões dos Passos e do Enterro do Senhor, havia um desfile pela cidade, e a participação nas procissões, fardados, conjuntamente com os estudantes da Escola Industrial e do Liceu.
Pois bem, a propósito das memórias desta Escola Primária – o “Asilo” – como sempre foi conhecida, o antigo aluno José Alberto de Jesus Almeida convidou o seu antigo colega de carteira, o fadista Nuno da Câmara Pereira, para um almoço de memórias, com quantos se queiram juntar neste evento, seguido de uma visita ao Asilo, no dia 19 de abril (sábado).
Nuno da Câmara Pereira, que viveu na Covilhã um ou dois anos, ficou sensibilizado com o convite, recordando que, no “Asilo”, havia muitos colegas pobres e era uma instituição de cariz solidário, propôs-se também, por sugestão do José Alberto Almeida, atuar graciosamente, com seu irmão Gonçalo da Câmara Pereira, às 21 horas, no Teatro Municipal, a favor da Associação Portuguesa de Deficientes – Delegação Distrital de Castelo Branco, numa ação designada “abril Solidário”, com o apoio logístico da Câmara Municipal da Covilhã.
Sabe-se que estes dois eventos, que são isolados nas suas intenções, estão a ter uma aderência muito interessante.
Assim, para que se possam organizar convenientemente os dois eventos, solicita-se que os interessados em estar presentes façam desde já as suas reservas para o José Alberto Almeida, pelo telemóvel 912650058.
O almoço, com a presença do fadista Nuno da Câmara Pereira, é só destinado aos antigos alunos e professores do Asilo.

Vamos recordar os antigos tempos da Primária, desta antiga escola secular!

(In "fórum Covilhã", de 28.01.2014, e "Notícias da Covilhã", de 30.01.2014)

22 de janeiro de 2014

EUSÉBIO DO MEU TEMPO E DO SPORTING DA COVILHÃ

A televisão tinha surgido em Portugal somente há três anos. A preto branco e de um só canal.
Estudava na então Escola Industrial e Comercial Campos Melo. No seu campo triangular… e de alcatrão com areia (já inexistente),lá íamos gastando as solas dos sapatos com uma bola de borracha, que, quantas vezes, saltava para aqueles chorões plantados nos muros de suporte.
Tínhamos os nossos ídolos do futebol, já que a Covilhã militava entre os do futebol de primeira. Nos intervalos das aulas, principalmente às segundas-feiras, dia imediato aos jogos de domingo, o tema era o futebol e as suas vedetas de então.
Corria o mês de dezembro de 1960 e encontrava-me com alguns colegas junto ao portão da Escola, no local do ferrador, Sr. Joaquim Valente, onde presenciávamos a reparação das rodas dos carros de bois com os aros a saírem em brasa da fogueira acesa, no reduto da sua casa.
Foi então que ouvi a primeira vez dizer que para o Benfica tinha vindo um jovem jogador de Moçambique que ia dar cartas, de seu nome Eusébio.
Entretanto, chegou o domingo 18 de dezembro daquele ano e o Sporting Clube da Covilhã (SCC) recebia entusiasticamente o Benfica (SLB), com “dia do clube”, para a 12ª jornada do Campeonato Nacional da I Divisão, que viria a ganhar aos Leões da Serra por 3-1, golos de Martinho (SCC) logo aos 5 minutos, e, depois, Águas (SLB), com dois golos, e Santana (SLB).
No Santos Pinto, e por toda a cidade, estava um frio de rachar. Nas bancadas vê-se um jovem africano agarrado a um sobretudo. Era o novo craque do Benfica – Eusébio, que, mais tarde, veio informar na RTP que o sobretudo lhe foi emprestado pelo seu amigo e padrinho, Coluna, que, no pelado do Santos Pinto defrontava o SCC (“Gala Eusébio”, transmitida do Coliseu, no dia 25 de janeiro de 2011, com os apresentadores Tânia Ribas e José Carlos Malato). Na segunda volta (25ª jornada), o SCC seria goleado na Luz, por 8-0, ainda sem a presença de Eusébio. O SCC classificou-se em 9.º lugar e manteve-se na I Divisão.
Entretanto, Eusébio, que se havia estreado num jogo particular com o Atlético, em 23 de maio de 1961, marcando 3 dos 4 golos com que o Benfica ganhou, viria a participar na 2.ª mão da Taça de Portugal, em Setúbal, numa equipa B, perdendo o encontro por 4-1, em 1 de junho de 1961. De notar que essa equipa “B” do Benfica integrava os atletas Ramalho, Nartanga e Espírito Santo que, na época 1962/63 foram cedidos ao SCC, então na II Divisão, na negociação com a transferência do guardião Rita para o SLB. Vieram também do SLB o Nogueira, Maçarico e Batista.
Entretanto, o SLB mantinha-se com interesse em bisar na conquista da Taça dos Campeões Europeus, já com Eusébio, o que veio a acontecer contra o Real Madrid, naquela 4.ª feira de 2 de maio de 1962, em que ganhou por 5-3, depois de estar a perder por 2-0, com golos de Puskas, que ainda haveria de marcar o 3.º. Os dois últimos golos do SLB, quando se encontrava empatado a 3-3 foram da autoria de Eusébio. Vi este jogo, juntamente com colegas da Escola Industrial, do Liceu e do Colégio Moderno, na Casa da Mocidade Portuguesa, ao fundo da Rua António Pedroso dos Santos, na esquina para a UBI, que se encontrava repleta. Foi um delírio.
Entretanto, o Benfica acabaria por ficar em 3.º lugar no final do Campeonato, tendo contribuído, em parte, o SCC, que foi empatar à Luz 1-1, à 4.ª jornada, na noite de 15 de outubro de 1961, com Eusébio, sendo os golos marcados na primeira parte, logo no 1º minuto, por Couceiro (SCC), na própria baliza, e aos 9 minutos, por Adventino (SCC).
Também com Eusébio na equipa benfiquista, a equipa serrana haveria de vencer o Benfica, na Covilhã, no dia 18 de fevereiro de 1962, à 17ª jornada, com golos de José Augusto (SLB, 39m), Amilcar (SCC, 52m) e Chacho (SCC, 78m). Eu lembro-me de ter apanhado uma arrelia pelo facto de não poder assistir a este encontro já que tive um batizado de um primo, na Aldeia do Carvalho, tendo o pároco Padre Nabais, entusiasta pelo futebol, pedido para a cerimónia ser mais cedo a fim de ainda poder chegar a tempo do jogo. Tive que me contentar ouvindo o relato do jogo através da rádio.
O SCC acabaria por descer de divisão juntamente com o Salgueiros e o Beira Mar, e já vinha de grandes convulsões com arbitragens, como o célebre encontro Leixões –SCC, realizado em 11 de janeiro de 1962, com o árbitro aveirense, Porfírio da Silva, em que foram castigados, com três jogos, cinco jogadores do clube serrano.
Mas o auge de Eusébio haveria de se verificar como “magriço”, no Mundial de 1966, no qual foi apelidado de “Pantera Negra”. O jogo Portugal-Coreia teve a equipa portuguesa a perder 3-0 e depois recuperou, vindo a vencer o grande encontro por 5-3, com quatro golos de Eusébio. Lembro-me de, naquela tarde daquele sábado de 23 de julho de 1966, ver o encontro na esplanada do Café Primor, na Covilhã, com os meus colegas da Escola Industrial, Manuel José Torrão e Tomé, de Abrantes, que havíamos terminado os exames.
Mais tarde, com a camisola do União de Tomar, Eusébio veio jogar à Covilhã, juntamente com o seu colega do Benfica, Simões, para o campeonato da II Divisão, em 15 de janeiro de 1978, eles já sem o fulgor de outros tempos, tendo o resultado sido de 0-0, com a neve em redor do campo.

Muito haveria a falar deste “monstro sagrado, como também foi apelidado. É opinião quase unânime que Eusébio foi o maior futebolista português de todos os tempos.

(In "fórum Covilhã", de 21.01.2014 e "Notícias da Covilhã" de 23.01.2014)

15 de janeiro de 2014

NADA NÃO

Esta é a minha primeira crónica de 2014, depois de ter havido, na época natalícia, uma altura propícia para acertar conversas entre familiares e amigos, e, assim, veio, a talhe de foice de uma delas, o recordar um hábito de linguagem errónea, de alguns estudantes do meu tempo:
- Fulano – perguntava o professor –, você sabe o que é o “Anel do Fogo do Pacífico?”
- “Nada não, Stôr!” – Respondia o aluno.
De tanta vez que esta resposta negativa surgia, certo dia, um professor portuense, estranho com a resposta, já depois de ter feito reparo pela estranheza da expressão, e pedido para corrigir, acabou por dizer – “Nada não?!” Que é isso? Ora bem, “nada não é sim…”
E não é que, embora nunca tenha pertencido ao léxico português, tal expressão, nos dias de hoje, vem de encontro às contradições e incoerências nas pessoas em quem devíamos confiar.
Vejamos algumas, sem qualquer intuito de alinhamento cronológico:
- Nada não! – O ano de 1993 estendeu-se pelo resto da década por ter sido o começo de um período de disparates. A situação política estava estabilizada. Cavaco Silva, a liderar o segundo governo, com os dinheiros da CEE pensava que era então um maná. Dos muitos disparates, que não cabem neste apontamento, desde a demasiada facilidade na aquisição de casa própria ao grande aumento do número de funcionários públicos, contribuiu muito para a situação em que hoje nos encontramos. “Cavaco, abençoado seja, é um grande e inesgotável tema de comentário. Mas apresenta dificuldades: manter um registo publicável num jornal e atualizada a lista de todas as suas piruetas, contradições, sonsices e patifarias” – in DN de 3.1.2014, por Fernanda Câncio.
- Nada não! E que dizer dos “120 mil novos empregos “ de Passos Coelho quando foram apenas 22 mil? Pois é, esta cabecinha pensadora apontou a criação destes novos postos de trabalho em 2013 como sinal de sucesso, mas desde janeiro surgiram muitos menos!
- Nada não! Ainda este Passos Coelho, acusado de mentir na mensagem de Natal, com o conluio do Presidente da República, que acabou 2013 com uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma, qual é a legitimidade do governo e deste primeiro-ministro que continua a praticar políticas e a aplicar medidas que não sufragou democraticamente?
- Nada não! O candidato beijoqueiro das feiras e mercados “assume uma atitude de grande responsabilidade” com a sua demissão irrevogável do governo. Nos vários dicionários que consultei não consegui encontrar o significado desta palavra, harmonizada com a atitude de Paulo Portas. E este “nada não” transformou-se de facto, naquele sentido do professor portuense, “nada não é sim”. Um sim que valeu oiro com a sua promoção a vice!
- Nada não! Já Vasco Pulido Valente escrevia no Público uma crónica com o título “Quem nos toma a sério?” quando antes, no Correia da Manhã, surgiu um texto que se intitulava “Será que Durão Barroso também é cigano?”. Nem as instituições internacionais tratam o nosso país com algum respeito. Durão Barroso, ainda presidente da Comissão Europeia, deveria ser o primeiro a pôr na ordem alguns centros universitários em Bruxelas que insistem em qualificar-nos como fazendo parte dos “Porcos”. Mas um centro de estudos na Bélgica incluiu agora Portugal no grupo dos “Ciganos”. Primeiro, fazíamos parte dos chamados “PIGS” (significado de “porcos” em inglês), com as designações das iniciais dos países “Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha (Spain em inglês)”. Estes animais foram usados em caricaturas para ilustrar as misérias económicas dos países. Apareceu agora a denominação de ciganos, ou “GIPSY”, em inglês, em que os cinco países do costume são incluídos. Será que Durão Barroso não consegue banir estes ultrajes?
- Nada não! E para colocar ponto final nesta crónica primeira do ano 2014, uma referência às palavras do antigo jornalista e atual escritor e comentador político, Miguel Sousa Tavares, na sua coluna de opinião, no semanário Expresso“2013 foi um ano inútil” e “o objetivo político da maioria governamental para a primeira metade do ano que entra é apenas o de prolongar o estado vegetativo que vivemos em 2013”.

(In "Notícias da Covilhã", de 16.01.2014)

NADA NÃO

Comecei a escrever esta crónica no primeiro dia do Novo Ano, altura habitual da publicação de poucos jornais, não só em Portugal, onde surgiu nas bancas somente o Jornal de Notícias, como também pelo Planeta fora, exceção feita ao continente americano, pleno de imprensa escrita.
Na Ásia também a míngua se fez sentir no jornal em papel, no dia 1 de janeiro, com o The Japan Times, The Himalayan (Nepal), The Telegraph e The Nation (Índia), como também na Europa, paupérrima de comunicação social escrita, em meia dúzia de países (o Braunschweiger Zeitung (Alemanha), The Guardian (Reino Unido), Diário de Sevilha… e poucos mais.
No continente africano e na Oceânia nem pelos dedos de uma só mão se contavam os jornais deste primeiro dia do ano, destacando-se tão só o The Post, da Zâmbia.
Os brasileiros deram ênfase ao “Réveillon 2014 – um ano de fortes emoções”, no jornal O Globo. E, já agora, o “El Universo”, do Equador, surgiu na capa com a foto de uma menina desenhando, na areia molhada da praia, os anos 2013 (já parcialmente encoberto pelas ondas) e 2014, bem destacado.
De notar, sem qualquer admiração, que quase todos tinham as suas primeiras páginas alusivas ao Novo Ano 2014 – Happy New Year 2014 – enquanto poucos primaram, na mesma página, por chamar a atenção dos principais eventos do ano findo – 2013 in review.
Também altura propícia para acertar conversas entre familiares e amigos, veio, a talhe de foice de uma delas, o recordar um hábito de linguagem errónea, de alguns estudantes do meu tempo:
- Fulano – perguntava o professor –, você sabe o que é o “Anel do Fogo do Pacífico?”
- “Nada não, Stôr!” – respondia o aluno.
De tanta vez que esta resposta negativa surgia, certo dia, um professor portuense, estranho com a resposta, já depois de ter feito reparo pela estranheza da expressão, e pedido para corrigir, acabou por dizer – “Nada não?!” Que é isso? Ora bem, “nada não é sim…”
E não é que, embora nunca tenha pertencido ao léxico português, tal expressão, nos dias de hoje, vem de encontro às contradições e incoerências nas pessoas em quem devíamos confiar.
Vejamos algumas, sem qualquer intuito de alinhamento cronológico.
- Nada não! – A primeira mulher a ser segunda figura em Portugal – aquela simpática loira magrinha – na sua primeira intervenção inesquecível, enquanto presidente da Assembleia da República, quando estava há seis meses no cargo, em dezembro de 2011, queixou-se de cansaço. A revista 2, do Público, referia que “pode crescer o desemprego, faltarem os alimentos, pode haver austeridade em todo o lado menos nas comparações que envolvem Assunção Esteves”. As pessoas logo falaram: “Mas estás cansada como, se te reformaste aos 42 anos?... E não será ela a velhinha reformada mais nova de Portugal? E talvez a que ganhe mais? Como é que apela ao esforço e sacrifício de todos os portugueses quando escolheu a reforma vitalícia do Tribunal Constitucional? (7255 euros mensais, por dez anos de serviço da primeira mulher juíza conselheira do TC, mais 2133 euros de ajudas de custo, motorista, etc., em vez do salário da segunda figura do Estado, que paga menos)”.
- Nada não! – O ano de 1993 estendeu-se pelo resto da década por ter sido o começo de um período de disparates. A situação política estava estabilizada. Cavaco Silva, a liderar o segundo governo, com os dinheiros da CEE pensava que era então um maná. Dos muitos disparates, que não cabem neste apontamento, desde a demasiada facilidade na aquisição de casa própria ao grande aumento do número de funcionários públicos, contribuiu muito para a situação em que hoje nos encontramos. “Cavaco, abençoado seja, é um grande e inesgotável tema de comentário. Mas apresenta dificuldades: manter um registo publicável num jornal e atualizada a lista de todas as suas piruetas, contradições, sonsices e patifarias” – in DN de 3.1.2014, por Fernanda Câncio.
- Nada não! E que dizer dos “120 mil novos empregos “ de Passos Coelho quando foram apenas 22 mil? Pois é, esta cabecinha pensadora apontou a criação destes novos postos de trabalho em 2013 como sinal de sucesso, mas desde janeiro surgiram muitos menos!
- Nada não! Ainda este Passos Coelho, acusado de mentir na mensagem de Natal, com o conluio do Presidente da República, que acabou 2013 com uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma, qual é a legitimidade do governo e deste primeiro-ministro que continua a praticar políticas e a aplicar medidas que não sufragou democraticamente?
- Nada não! O candidato beijoqueiro das feiras e mercados “assume uma atitude de grande responsabilidade” com a sua demissão irrevogável do governo. Nos vários dicionários que consultei não consegui encontrar o significado desta palavra, harmonizada com a atitude de Paulo Portas. E este “nada não” transformou-se de facto, naquele sentido do professor portuense, “nada não é sim”. Um sim que valeu oiro com a sua promoção a vice!
- Nada não! Já Vasco Pulido Valente escrevia no Público uma crónica com o título “Quem nos toma a sério?” quando antes, no Correia da Manhã, surgiu um texto que se intitulava “Será que  Durão Barroso também é cigano?”. Nem as instituições internacionais tratam o nosso país com algum respeito. Durão Barroso, ainda presidente da Comissão Europeia, deveria ser o primeiro a pôr na ordem alguns centros universitários em Bruxelas que insistem em qualificar-nos como fazendo parte dos “Porcos”. Mas um centro de estudos na Bélgica incluiu agora Portugal no grupo dos “Ciganos”. Primeiro, fazíamos parte dos chamados “PIGS” (significado de “porcos” em inglês), com as designações das iniciais dos países “Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha (Spain em inglês)”. Estes animais foram usados em caricaturas para ilustrar as misérias económicas dos países. Apareceu agora a denominação de ciganos, ou “GIPSY”, em inglês, em que os cinco países do costume são incluídos. Será que Durão Barroso não consegue banir estes ultrajes?

- Nada não! E para colocar ponto final nesta crónica primeira do ano 2014, uma referência às palavras do antigo jornalista e atual escritor e comentador político, Miguel Sousa Tavares, na sua coluna de opinião, no semanário Expresso“2013 foi um ano inútil” e “o objetivo político da maioria governamental para a primeira metade do ano que entra é apenas o de prolongar o estado vegetativo que vivemos em 2013”.

(Texto completo, a publicar no jornal "O Olhanense")

14 de janeiro de 2014

HÁ QUATRO DÉCADAS NA ESPERANÇA

Neste início de um novo ano vamos esperar que haja algum lenitivo no que concerne aos sacrifícios suportados pelos portugueses no ano findo, mas estamos um pouco céticos em relação a isso.
O atual governo, adornado de alguns betinhos, que, da vida desconhecem as dificuldades, integram o rol de dirigentes deste País, no ano em que se comemoram 40 anos da Revolução de abril de 1974.
Enquanto a “gaivota voava, voava”, a tranquilidade de espírito e bem-estar social iam sofrendo convulsões, ao mesmo tempo que “uma papoila crescia, crescia”, acabando por ir murchando por não suportar os ventos do exterior, nas suas intenções ditas reformadoras.
Num olhar para o passado, as crises internacionais que interrompiam ciclos de crescimento económico podiam ser menos violentas se este nosso Portugal não tivesse; principalmente nas últimas décadas, para além da incompetência de artífices da ladroagem; a aquiescência dos líderes da governação.
Segundo a Pordata, entre 1961 e 1973, o PIB per capita aumentou fortemente e Portugal foi deixando de ser uma economia com predominância rural. Houve um crescimento da indústria  transformadora e da produção dos serviços públicos, como o fornecimento de eletricidade, gás e água. Por exemplo, na Covilhã, no auge da sua indústria rainha, de então – os lanifícios -, com centenas de empresas a proporcionar emprego para muita gentinha a caminho das fábricas, havia os Serviços Municipalizados que se encarregavam da eletricidade, água e saneamento.
O forte incremento da emigração, com as suas remessas para Portugal, manteve a balança com o exterior sem se agravar, mas é obra que entre 1966 e 1973 saíram do país quase 2% da população em cada ano, registando uma taxa de crescimento anual média de 7%.
Sou testemunha do fluxo de emigrantes que diariamente se dirigiam à Câmara Municipal da Covilhã para tratarem da sua documentação, com as cartas de chamada, a fim de rumarem a França, principalmente, e Alemanha, mas também para outros países europeus, ainda com a “cortina de ferro” a perdurar nessa Europa então dividida politicamente, sob o domínio soviético.
Enquanto as funcionárias municipais se arregalavam no atendimento dos munícipes que pretendiam emigrar, sim, porque eram fortemente recompensadas, para além de dinheirinho vivo em mão fechada, ou envelope sorrateiro, também uns cabazes confiados ao porteiro, tinham assim mais um “complemento do seu trabalho”, já que as mesmas funcionárias faziam brilhar aqueles rostos rudes, de uma vida rural em que, nas suas terras, muitos comiam o pão que o diabo amassou. Mas eles sabiam que se iam tornar uns “novos-ricos”, regressando depois, temporariamente, com as expressões meio afrancesadas.
E, assim, no regresso de férias, até já podiam ir, numa de sobranceria, ao Café Montalto, onde só viam entrar os seus patrões, e pedir uma bière fraiche.
Até o porteiro, guarda-portão em termos oficiais, conseguiu que lhe fosse conseguida autorização para ir a França “tratar dumas heranças familiares” (na altura os funcionários públicos viam-se obrigado a pedir uma autorização para sair do País). O passaporte de turista lá foi conseguido mas o porteiro acabou por ficar e arranjar trabalho em França, fintando os seus chefes, deixando os velhos Matias e Lança a expelirem impropérios pela astúcia do “malfeitor”, enquanto o Duarte Branco, o José Américo e a Suzete Figueiredo se riam…
Mas há 40 anos, logo em 1973, surgiram sintomas de fim de ciclo económico. A Organização dos Países Exportadores de Petróleo iniciaram um embargo com cortes na produção de crude, originando no Planeta a mais grave crise petrolífera de sempre.
Recordo-me de, em Portugal, haver um tempo em que não se podiam abastecer as viaturas de combustível aos sábados e domingos, ainda no tempo de Marcelo Caetano, face à crise do petróleo.
Avançando no tempo, Cavaco Silva, com duas maiorias absolutas contava convictamente com um forte desempenho económico positivo, com taxas de desemprego próximas de 4%, mas, entretanto, em 1993 verificou-se que tal não foi possível. Entretanto a economia europeia entrou em recessão e Portugal foi um dos países mais afetados, pois o PIB viria a cair 2% em 1993. Cavaco Silva perde popularidade e surge a vitória do Partido Socialista nas eleições legislativas de 1995.
Em 2011, em troca dos empréstimos dos parceiros europeus e do FMI, Portugal comprometeu-se com uma política de forte austeridade com impacto muito negativo na atividade económica. Atingiu-se o terceiro ano consecutivo com uma contração do PIB, com 4,8 pontos percentuais do mesmo, o pior resultado registado em Portugal nos últimos 60 anos.
Com o surgimento das novas tecnologias, começando a Internet em 1993, a entrada em vigor do espaço Shengen em 1995, e a adoção do euro em 2002, o país forçosamente teve que mudar.
Com a globalização da economia, as indústrias tradicionais, como na Covilhã o têxtil e de lanifícios, sofreram com isso.
Até 2013 Portugal não conseguiu ainda respirar com tranquilidade, sendo o país mais envelhecido da Europa.

As universidades abriram com o 25 de abril e em 2012 a taxa bruta de escolaridade no nível superior era de 54,6%. A educação avançou assim a um ritmo diferente da economia. Portugal não está a conseguir manter a mão-de-obra qualificada, partindo, mais de metade para outros países, aproveitando assim os cérebros portugueses, ao contrário do que se havia verificado na década de sessenta. E, assim, em Portugal não se pode sonhar!

(In "fórum Covilhã", de 14.01.2014)

A ESPERANÇA JÁ VEM DE HÁ QUATRO DÉCADAS

Neste início de um novo ano vamos esperar que haja algum lenitivo no que concerne aos sacrifícios suportados pelos portugueses no ano findo, mas estamos um pouco céticos em relação a isso.
Que as contrariedades e as inverdades dos nossos governantes se dissipem de vez!
Nos fracassos surge a justificação da culpabilidade dos governos anteriores. É sempre a mesma lábia. Mas, na realidade, quase nenhum governante escapa.
E, o atual governo, adornado de alguns betinhos, que, da vida desconhecem as dificuldades, nada sabem, integram o rol de dirigentes deste País, no ano em que se comemoram 40 anos da Revolução de abril de 1974.
Vejamos o quanto tantos iluminados da governação, nestas quatro décadas, nos trouxeram de esperança, com todos nós a vê-la sempre adiada.
Enquanto a “gaivota voava, voava”, a tranquilidade de espírito e bem-estar social iam sofrendo convulsões, ao mesmo tempo que “uma papoila crescia, crescia”, acabando por ir murchando por não suportar os ventos do exterior, nas suas intenções reformadoras.
Num olhar para o passado, as crises internacionais que interrompiam ciclos de crescimento económico podiam ser menos violentas se este nosso Portugal não tivesse; principalmente nas últimas décadas, para além da incompetência de artífices da ladroagem, esses gatunos profissionais; a aquiescência dos líderes da governação, quantas vezes num camuflado conluio.
Segundo a Pordata, entre 1961 e 1973 o PIB per capita aumentou fortemente e Portugal foi deixando de ser uma economia com predominância rural. Houve um crescimento da indústria  transformadora e da produção dos serviços públicos, como o fornecimento de eletricidade, gás e água. Por exemplo, na Covilhã, no auge da sua indústria rainha, de então – os lanifícios -, com centenas de empresas a proporcionar emprego para formigueiros humanos a caminho das fábricas, havia os Serviços Municipalizados que se encarregavam da eletricidade, água e saneamento.
O forte incremento da emigração, com as suas remessas para Portugal, manteve a balança com o exterior sem se agravar, mas é obra que entre 1966 e 1973 saíram do país quase 2% da população em cada ano, registando uma taxa de crescimento anual média de 7%.
Sou testemunha do fluxo de emigrantes que diariamente se dirigiam à Câmara Municipal da Covilhã para tratarem da sua documentação, com as cartas de chamada, a fim de rumarem a França, principalmente, e Alemanha, mas também para outros países europeus, ainda com a “cortina de ferro” a perdurar nessa Europa então dividida politicamente, sob o domínio soviético.
Enquanto as funcionárias municipais se arregalavam no atendimento dos munícipes que pretendiam emigrar, sim, porque eram fortemente recompensadas, para além de dinheirinho vivo em mão fechada, ou envelope sorrateiro, também uns cabazes confiados ao porteiro, tinham assim mais um complemento do trabalho que as mesmas funcionárias faziam brilhar àqueles rostos rudes, de uma vida rural em que, nas suas terras, muitos comiam o pão que o diabo amassou. Sabiam que iam tornar-se uns “novos-ricos”, regressando depois, temporariamente, com as expressões meio afrancesadas misturadas com um mau português.
E, assim, no regresso de férias, até já podiam ir, numa de sobranceria, ao Café Montalto, onde só viam entrar os seus patrões, e pedir uma bière fraiche.
Até o porteiro, guarda-portão em termos oficiais, conseguiu que lhe fosse conseguida autorização para ir a França “tratar dumas heranças familiares” (na altura os funcionários públicos viam-se obrigado a pedir uma autorização para sair do País). O passaporte de turista lá foi conseguido mas o porteiro acabou por ficar e arranjar trabalho em França, fintando os seus chefes, deixando os velhos Matias e Lança a expelirem impropérios pela astúcia do “malfeitor”…
Mas há 40 anos, logo em 1973, surgiram sintomas de fim de ciclo económico. A Organização dos Países Exportadores de Petróleo iniciaram um embargo com cortes na produção de crude, originando no Planeta a mais grave crise petrolífera de sempre.
Recordo-me de, em Portugal, haver um tempo em que não se podiam abastecer as viaturas de combustível aos sábados e domingos, ainda no tempo de Marcelo Caetano, e já por alturas de 1974. E, outras vezes, eram filas que se formavam num ápice, logo que era anunciado um aumento nos combustíveis.
Mas os efeitos negativos desta crise em Portugal, entre os anos 1973 e 1974 acabaram por se confundir com os problemas de intranquilidade surgidos na política emanada da Revolução do 25 de abril. Em 1975 o PIB viria a cair 4,3%, segundo a Pordata, que não viria a ser superado. Mas, em 1993, Portugal vê-se sair dum período com taxas de crescimento do PIB superiores a 3%. A economia tinha estabilizado depois do princípio dos anos 80 e da intervenção do FMI. É aqui que, com a adesão à Comunidade Económica Europeia em 1986, e a entrada dos fundos europeus, se vê a economia aberta ao exterior e a apetência de mais investimento estrangeiro.
Mas Cavaco Silva, com duas maiorias absolutas contava convictamente com um forte desempenho económico positivo, com taxas de desemprego próximas de 4%, mas, entretanto, em 1993 verificou-se que tal não foi possível. Entretanto a economia europeia entrou em recessão e Portugal foi um dos países mais afetados, pois o PIB viria a cair 2% em 1993. Cavaco Silva perde popularidade e surge a vitória do Partido Socialista nas eleições legislativas de 1995.
Em 2011, em troca dos empréstimos dos parceiros europeus e do FMI, Portugal comprometeu-se com uma política de forte austeridade com impacto muito negativo na atividade económica. Atingiu-se o terceiro ano consecutivo com uma contração do PIB, com 4,8 pontos percentuais do mesmo, o pior resultado registado em Portugal nos últimos 60 anos.
Ainda em 1973, havia uma média de três filhos por cada mãe, ou seja, nasciam o dobro das crianças de hoje. No entanto, a mortalidade infantil era a mais elevada da Europa. Numa centena de casamentos, poder-se-ia verificar apenas um divórcio. E hoje? Quase que não há casamentos. O número de emigrantes ultrapassava, em grande número, o de imigrantes. Levou assim ao despovoamento de muitas zonas do interior do país. Também o país estava ainda em guerra, desde 1961. Entre 1960 e 1974, a economia crescia a bom ritmo (com uma taxa anual de 6,5%), jamais se vendo o PIB crescer desta maneira. O desemprego era quase inexistente, mas poucos tinham as condições de habitabilidade, como água canalizada, eletricidade e saneamento básico.
Ainda me recordo de, na escola do meu tempo, durante a instrução primária, ver um ou outro aluno ir descalço para a sala de aula, contra a vontade do professor.
E essa massa de gente que emigrava, na sua maioria, e muitos outros que por cá ficavam, eram analfabetos, pois em 1973 havia, nessa situação, 35%, com Portugal, nesta altura, a ser o país mais atrasado da Europa, e, lamentavelmente, ainda o é da União Europeia a 27.
De 1974 a 1998, o PIB cresceu lentamente, 3,3% ao ano, segundo a Pordata, tendo, no entanto, as despesas com as funções sociais do Estado aumentado assustadoramente. A agricultura e as pescas deixaram de empregar maioritariamente a população.
No ano 1993 começaram a regressar definitivamente muitos emigrantes, até 2008. E já o Sistema Nacional de Saúde havia sido criado em 1979 e a Lei de Bases da Segurança Social em 1984. Recordo-me que os funcionários públicos, durante anos, não tinham direito a assistência médica, o que criou, quantas vezes, situações aflitivas, nalguns casos a terem que ser tratados com o selo de indigentes.
Com o surgimento das novas tecnologias, começando a Internet em 1993, a entrada em vigor do espaço Shengen em 1995, e a adoção do euro em 2002, o país forçosamente teve que mudar.
Com a globalização da economia, as indústrias tradicionais, como na Covilhã o têxtil e de lanifícios, sofreram com isso.
Até 2013 Portugal não conseguiu ainda respirar com tranquilidade e é, vergonhosamente, o país mais envelhecido da Europa, chegando, no ano 2000, o número de idosos a ultrapassar o de jovens. E onde há mais idosos a trabalhar, em relação aos países da UE.
Nos últimos 40 anos, apesar de Portugal ter mudado muito rapidamente, face ao seu enorme atraso, não conseguiu, até aos dias de hoje, viver afastado das crises e nelas se mergulhou fortemente. Desde 2012, Portugal entrou num ciclo de dependência externa prejudicando a sua reputação internacional, provocou uma depressão económica e o desemprego em larga escala.
É que, a crise ainda não acabou mesmo na Europa, e Portugal, nesta altura, é um país a esvaziar-se, como o era em 1973 ou em 1993, ainda que, há vinte anos, não parecesse face à vinda de muitos imigrantes.

As universidades abriram com o 25 de abril e em 2012 a taxa bruta de escolaridade no nível superior era de 54,6%. A educação avançou assim a um ritmo diferente da economia. Portugal não está a conseguir manter a mão-de-obra qualificada, partindo, mais de metade para outros países, aproveitando assim os cérebros portugueses, ao contrário do que se havia verificado na década de sessenta. E, assim, em Portugal não se pode sonhar!

(Texto completo, a publicar no jornal "O Olhanense")