A televisão tinha surgido em Portugal somente há três anos.
A preto branco e de um só canal.
Estudava na então Escola Industrial e Comercial Campos Melo.
No seu campo triangular… e de alcatrão com areia (já inexistente),lá íamos
gastando as solas dos sapatos com uma bola de borracha, que, quantas vezes,
saltava para aqueles chorões plantados nos muros de suporte.
Tínhamos os nossos ídolos do futebol, já que a Covilhã
militava entre os do futebol de primeira. Nos intervalos das aulas,
principalmente às segundas-feiras, dia imediato aos jogos de domingo, o tema
era o futebol e as suas vedetas de então.
Corria o mês de dezembro de 1960 e encontrava-me com alguns
colegas junto ao portão da Escola, no local do ferrador, Sr. Joaquim Valente,
onde presenciávamos a reparação das rodas dos carros de bois com os aros a
saírem em brasa da fogueira acesa, no reduto da sua casa.
Foi então que ouvi a primeira vez dizer que para o Benfica
tinha vindo um jovem jogador de Moçambique que ia dar cartas, de seu nome
Eusébio.
Entretanto, chegou o domingo 18 de dezembro daquele ano e o
Sporting Clube da Covilhã (SCC) recebia entusiasticamente o Benfica (SLB), com
“dia do clube”, para a 12ª jornada do Campeonato Nacional da I Divisão, que
viria a ganhar aos Leões da Serra por 3-1, golos de Martinho (SCC) logo aos 5
minutos, e, depois, Águas (SLB), com dois golos, e Santana (SLB).
No Santos Pinto, e por toda a cidade, estava um frio de
rachar. Nas bancadas vê-se um jovem africano agarrado a um sobretudo. Era o
novo craque do Benfica – Eusébio, que, mais tarde, veio informar na RTP que o
sobretudo lhe foi emprestado pelo seu amigo e padrinho, Coluna, que, no pelado
do Santos Pinto defrontava o SCC (“Gala Eusébio”, transmitida do Coliseu, no
dia 25 de janeiro de 2011, com os apresentadores Tânia Ribas e José Carlos
Malato). Na segunda volta (25ª jornada), o SCC seria goleado na Luz, por 8-0,
ainda sem a presença de Eusébio. O SCC classificou-se em 9.º lugar e manteve-se
na I Divisão.
Entretanto, Eusébio, que se havia estreado num jogo
particular com o Atlético, em 23 de maio de 1961, marcando 3 dos 4 golos com
que o Benfica ganhou, viria a participar na 2.ª mão da Taça de Portugal, em
Setúbal, numa equipa B, perdendo o encontro por 4-1, em 1 de junho de 1961. De
notar que essa equipa “B” do Benfica integrava os atletas Ramalho, Nartanga e
Espírito Santo que, na época 1962/63 foram cedidos ao SCC, então na II Divisão,
na negociação com a transferência do guardião Rita para o SLB. Vieram também do
SLB o Nogueira, Maçarico e Batista.
Entretanto, o SLB mantinha-se com interesse em bisar na
conquista da Taça dos Campeões Europeus, já com Eusébio, o que veio a acontecer
contra o Real Madrid, naquela 4.ª feira de 2 de maio de 1962, em que ganhou por
5-3, depois de estar a perder por 2-0, com golos de Puskas, que ainda haveria
de marcar o 3.º. Os dois últimos golos do SLB, quando se encontrava empatado a
3-3 foram da autoria de Eusébio. Vi este jogo, juntamente com colegas da Escola
Industrial, do Liceu e do Colégio Moderno, na Casa da Mocidade Portuguesa, ao
fundo da Rua António Pedroso dos Santos, na esquina para a UBI, que se
encontrava repleta. Foi um delírio.
Entretanto, o Benfica acabaria por ficar em 3.º lugar no
final do Campeonato, tendo contribuído, em parte, o SCC, que foi empatar à Luz
1-1, à 4.ª jornada, na noite de 15 de outubro de 1961, com Eusébio, sendo os
golos marcados na primeira parte, logo no 1º minuto, por Couceiro (SCC), na
própria baliza, e aos 9 minutos, por Adventino (SCC).
Também com Eusébio na equipa benfiquista, a equipa serrana
haveria de vencer o Benfica, na Covilhã, no dia 18 de fevereiro de 1962, à 17ª
jornada, com golos de José Augusto (SLB, 39m), Amilcar (SCC, 52m) e Chacho
(SCC, 78m). Eu lembro-me de ter apanhado uma arrelia pelo facto de não poder
assistir a este encontro já que tive um batizado de um primo, na Aldeia do
Carvalho, tendo o pároco Padre Nabais, entusiasta pelo futebol, pedido para a
cerimónia ser mais cedo a fim de ainda poder chegar a tempo do jogo. Tive que
me contentar ouvindo o relato do jogo através da rádio.
O SCC acabaria por descer de divisão juntamente com o
Salgueiros e o Beira Mar, e já vinha de grandes convulsões com arbitragens,
como o célebre encontro Leixões –SCC, realizado em 11 de janeiro de 1962, com o
árbitro aveirense, Porfírio da Silva, em que foram castigados, com três jogos,
cinco jogadores do clube serrano.
Mas o auge de Eusébio haveria de se verificar como
“magriço”, no Mundial de 1966, no qual foi apelidado de “Pantera Negra”. O jogo
Portugal-Coreia teve a equipa portuguesa a perder 3-0 e depois recuperou, vindo
a vencer o grande encontro por 5-3, com quatro golos de Eusébio. Lembro-me de,
naquela tarde daquele sábado de 23 de julho de 1966, ver o encontro na
esplanada do Café Primor, na Covilhã, com os meus colegas da Escola Industrial,
Manuel José Torrão e Tomé, de Abrantes, que havíamos terminado os exames.
Mais tarde, com a camisola do União de Tomar, Eusébio veio
jogar à Covilhã, juntamente com o seu colega do Benfica, Simões, para o
campeonato da II Divisão, em 15 de janeiro de 1978, eles já sem o fulgor de
outros tempos, tendo o resultado sido de 0-0, com a neve em redor do campo.
Muito haveria a falar deste “monstro sagrado, como também
foi apelidado. É opinião quase unânime que Eusébio foi o maior futebolista
português de todos os tempos.
(In "fórum Covilhã", de 21.01.2014 e "Notícias da Covilhã" de 23.01.2014)
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