29 de janeiro de 2014

DOS TEMPOS DA PRIMÁRIA, NA ESCOLA DO ASILO, COM NUNO DA CÂMARA PEREIRA

Fiz a minha instrução primária na Escola do “Asilo – Associação Protetora da Infância Desvalida”, como se designava, sita numa zona estreita da Rua Combatentes da Grande Guerra, na Covilhã, na década de cinquenta.
Escola só para o sexo masculino e, como eu, também havia muitos meninos com aquelas malas de cartão, com fecho e uma tira para as costas, como se usavam na altura.
Na sua maioria, rapaziada de fracos recursos financeiros (um chegou a andar descalço!),mas com mistura de uns quantos bem remediados, alguns os considerávamos “os meninos ricos”.
Quase todos almoçávamos na cantina da Escola que se situava na sala onde estava instalada a Biblioteca Heitor Pinto, em frente da minha sala de aula, com janelas para a rua de acesso à escola. Na 2ª classe tive três professoras que se iam revezando, para substituir o Professor Raúl, que entrara de baixa (o tal que dava reguadas no rabo, com os rapazes de joelhos e mãos no chão, até que saiu da escola); depois, o professor Gadanho e, por último, o professor Tendeiro, então na 4ª classe.
Na outra sala, ao lado, nas traseiras, exerceu a sua missão, durante vários anos ininterruptos, o professor Manuel Poeta.
Esta Associação foi criada no reinado de D. Luís por volta de 1870. Destinava-se à criação de um asilo, chegando a ser inaugurado em 25 de julho de 1871,mas a falta de utentes levou a ser substituído por uma escola destinada à instrução primária, e uma biblioteca.
A escola funcionou durante quase um século, sendo extinta em 1968, tendo passado a Atividades de Tempos Livres até que encerrou definitivamente.
A biblioteca – Biblioteca Heitor Pinto – com fundo documental estimado em cerca de 3,383 monografias, foi transferida para a Biblioteca Municipal da Covilhã.
O principal fundador desta Associação foi o Visconde da Coriscada, Francisco Joaquim da Silva Campos Melo, vários industriais e também o fundador da Escola Industrial, José Maria Veiga da Silva Campos Melo.
Muitas foram as dedicações pela causa da instituição, não esquecendo o carinho com que a família Campos Melo por ela teve.
De facto, no meu tempo, o então diretor da Escola Industrial e Comercial Campos Melo, Engº. Ernesto de Melo e Castro, era a alma e o líder daquela instituição, surgindo sempre com sorriso para com a rapaziada do Asilo, assim como a sua esposa, D. Gonzaga.
Antes do Natal, o colaborador do Asilo, a tempo parcial, Sr. Belmiro, funcionário da Subdelegação de Saúde, que se situava na Rua Capitão Alves Roçadas, onde existiu um estabelecimento de fazendas, perto da Igreja de S. Tiago, passava uma revista por todos os alunos do Asilo mais pobres, para, depois, irem em grupos, a determinado sapateiro tirar as medidas para lhes fazer as botas, oferecidas pelo Natal. Outros, recebiam camisolas.
Para além da aprendizagem dos programas da instrução primária (programas únicos, durante anos, na altura do Estado Novo), aos sábados, na primeira hora da manhã havia uma aula de Religião dada por uma freira, ou pelo pároco de S. Francisco, Padre José Andrade. A seguir, ainda de manhã, havia instrução da Mocidade Portuguesa (MP), umas vezes por um sargento do então Batalhão de Caçadores 2, ainda em funcionamento, outras vezes por alguns graduados da MP da Escola Industrial, como o Machado, do Teixoso, já falecido.
No 1º de dezembro, e nas Procissões dos Passos e do Enterro do Senhor, havia um desfile pela cidade, e a participação nas procissões, fardados, conjuntamente com os estudantes da Escola Industrial e do Liceu.
Pois bem, a propósito das memórias desta Escola Primária – o “Asilo” – como sempre foi conhecida, o antigo aluno José Alberto de Jesus Almeida convidou o seu antigo colega de carteira, o fadista Nuno da Câmara Pereira, para um almoço de memórias, com quantos se queiram juntar neste evento, seguido de uma visita ao Asilo, no dia 19 de abril (sábado).
Nuno da Câmara Pereira, que viveu na Covilhã um ou dois anos, ficou sensibilizado com o convite, recordando que, no “Asilo”, havia muitos colegas pobres e era uma instituição de cariz solidário, propôs-se também, por sugestão do José Alberto Almeida, atuar graciosamente, com seu irmão Gonçalo da Câmara Pereira, às 21 horas, no Teatro Municipal, a favor da Associação Portuguesa de Deficientes – Delegação Distrital de Castelo Branco, numa ação designada “abril Solidário”, com o apoio logístico da Câmara Municipal da Covilhã.
Sabe-se que estes dois eventos, que são isolados nas suas intenções, estão a ter uma aderência muito interessante.
Assim, para que se possam organizar convenientemente os dois eventos, solicita-se que os interessados em estar presentes façam desde já as suas reservas para o José Alberto Almeida, pelo telemóvel 912650058.
O almoço, com a presença do fadista Nuno da Câmara Pereira, é só destinado aos antigos alunos e professores do Asilo.

Vamos recordar os antigos tempos da Primária, desta antiga escola secular!

(In "fórum Covilhã", de 28.01.2014, e "Notícias da Covilhã", de 30.01.2014)

3 comentários:

Jorge Correia disse...

Bonita homenagem a uma Escola da Covilhã.Eu,embora sendo daqui natural-S.Pedro já que nasci na casa dos meus avós maternos na Rua Direita nº67,fiz os 3 primeiros anos escolares em Lisboa,onde os meus pais residiam,na altura.Fiz,no entanto o exame da 3ª clase já na Escola Central,com o professor Alexandre.Depois a 4ª classe na Escola dos Penedos Altos,com a professora Dª Delfina Xavier.

João de Jesus Nunes disse...

Obrigado pelo seu comentário. Um abraço.

Unknown disse...

Descrição perfeita do "Asilo", onde eu também estudei durante 4 anos, o Professor Poeta, ainda foi do meu tempo. O meu primeiro professor foi o Prof Alexandre, na 2ª classe uma professora que não recordo o nome, e nas 3ª e 4ª classe o professor Joaquim, marido da minha antiga professora, e quer a régua, quer a varinha na parte de trás dos joelhos, quando íamos de calções, era a sua grande especialidade. Parabéns pela iniciativa.