14 de maio de 2014

CAIXA DE PANDORA

Esta história da mitologia grega é talvez a mais perturbadora. Este mito diz-nos que numa caixa foram fechados todos os males da humanidade, tais como os desentendimentos, as guerras, a violência, as doenças, a discórdia e a injustiça. E é assim que se relata que Pandora foi enviada por Zeus ao reino dos titãs, proibida que foi de abrir uma caixa, que até era mais um jarro, prenda de casamento para seu marido Epimeteu. Não resistiu e, vai daí, abre-a e liberta todos os males. No entanto apressou-se a fechá-la antes que todos fugissem mas só a esperança conseguiu permanecer. É estranho que, neste rol, se encontra a esperança como um dos males do mundo.
Desde então a história da Pandora está associada com fazer o mal que não pode ser desfeito.
Dentre várias interpretações, a esperança está guardada sendo, por isso, bom; duma forma mais pessimista, a esperança está guardada dentro da caixa e a humanidade está sem esperança.
 Outra versão, Friedrich Nietzche diz que “Zeus quis que os homens, por mais torturados que fossem pelos outros males, não rejeitassem a vida, mas continuassem a deixar-se torturar. Para isso lhes deu a esperança: ela é na verdade o pior dos males, pois prolonga o suplício dos homens”.
Ora bem, vindo a propósito a esperança, o Governo criou um “Grupo de Trabalho” para recomendar os investimentos em transportes – ferroviário e rodoviário – até ao ano 2020, gerando no País uma lista de prioridades com custos que ascendem a cinco mil milhões de euros.
E é aqui que se abre uma “caixa de Pandora”, sabido de antemão que não terá aquele valor para investir nas redes de ferrovia, rodovia, portos e aeroportos.
Como é óbvio nestas circunstâncias, terá que haver um forte rigor, é também boa norma de conduta que esse rigor seja visto duma forma humana e não de favorecer mais esta ou aquela região, pois todos são filhos de Deus e respiram o mesmo ar.
É preciso que sobre o Interior, o mais desfavorecido em relação ao litoral, exista uma coesão nacional e, numa vertente de combate às desigualdades do País, haja uma visão dum propósito da democracia, neste grande evento que ainda comemoramos das quatro décadas da esperança de abril.
Mas, o que é certo é que Pandora não conseguiu recuperar para a sua caixa alguns males que afetam esta região da Cova da Beira, e, não obstante “Caixa de Pandora” ter as mesmas iniciais de PPC (Pedro Passos Coelho), ainda que alteradas, continuam em liberdade os males saídos da “caixa”, como tal desentendimentos, injustiça e discórdia, não obstante violências verbais, guerras de bastidores e clima mórbido nas conversações porque não passam de promessas não cumpridas.
Razão tinha um antigo presidente do Vitória de Guimarães que disse: “O que hoje é verdade, amanhã é mentira”.
A ligação rodoviária da Covilhã a Coimbra é uma via de coesão nacional, que poderá ajudar a desenvolver a região, segundo as palavras do presidente da edilidade covilhanense, e reclama, como todos os covilhanenses, de raiz ou de coração, todos quantos na região covilhanense se encontram radicados, IC6 para Coimbra, uma via de coesão “prioritária” e “fundamental” ao desenvolvimento da região.
A construção do IC6 é uma necessidade tão premente, fazendo a ligação da Covilhã a Coimbra, “como de pão para a boca”, ainda nas palavras do presidente da Câmara da Covilhã.
Só é estranho, ou talvez não por ser do partido do governo, que um deputado municipal ainda mantenha reservas sobre esta necessidade, necessidade que é do tamanho da Serra da Estrela. É preferível continuarmos a falar na estrada das Pedras Lavradas, há tantos anos?

Outro assunto de não somenos importância é a arreliadora ligação ferroviária da Covilhã à Guarda, há anos parada, e que não há maneira de o único “mal” recolhido da “Caixa de Pandora” – a esperança – se transformar numa realidade, para grande benefício de que carece também a Covilhã, a Guarda e suas regiões; e não venha a ser uma falsa esperança, como já estamos habituados, e cansados.

(In "Notícias da Covilhã", de 15.05.2014)

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