Esta história da mitologia grega é talvez a mais
perturbadora. Este mito diz-nos que numa caixa foram fechados todos os males da
humanidade, tais como os desentendimentos, as guerras, a violência, as doenças,
a discórdia e a injustiça. E é assim que se relata que Pandora foi enviada por
Zeus ao reino dos titãs, proibida que foi de abrir uma caixa, que até era mais
um jarro, prenda de casamento para seu marido Epimeteu. Não resistiu e, vai
daí, abre-a e liberta todos os males. No entanto apressou-se a fechá-la antes
que todos fugissem mas só a esperança conseguiu permanecer. É estranho que,
neste rol, se encontra a esperança como um dos males do mundo.
Desde então a história da Pandora está associada com fazer o
mal que não pode ser desfeito.
Dentre várias interpretações, a esperança está guardada
sendo, por isso, bom; duma forma mais pessimista, a esperança está guardada
dentro da caixa e a humanidade está sem esperança.
Outra versão,
Friedrich Nietzche diz que “Zeus quis que os homens, por mais torturados que
fossem pelos outros males, não rejeitassem a vida, mas continuassem a deixar-se
torturar. Para isso lhes deu a esperança: ela é na verdade o pior dos males,
pois prolonga o suplício dos homens”.
Ora bem, vindo a propósito a esperança, o Governo criou um
“Grupo de Trabalho” para recomendar os investimentos em transportes –
ferroviário e rodoviário – até ao ano 2020, gerando no País uma lista de
prioridades com custos que ascendem a cinco mil milhões de euros.
E é aqui que se abre uma “caixa de Pandora”, sabido de
antemão que não terá aquele valor para investir nas redes de ferrovia, rodovia,
portos e aeroportos.
Como é óbvio nestas circunstâncias, terá que haver um forte
rigor, é também boa norma de conduta que esse rigor seja visto duma forma
humana e não de favorecer mais esta ou aquela região, pois todos são filhos de
Deus e respiram o mesmo ar.
É preciso que sobre o Interior, o mais desfavorecido em
relação ao litoral, exista uma coesão nacional e, numa vertente de combate às
desigualdades do País, haja uma visão dum propósito da democracia, neste grande
evento que ainda comemoramos das quatro décadas da esperança de abril.
Mas, o que é certo é que Pandora não conseguiu recuperar
para a sua caixa alguns males que afetam esta região da Cova da Beira, e, não
obstante “Caixa de Pandora” ter as mesmas iniciais de PPC (Pedro Passos
Coelho), ainda que alteradas, continuam em liberdade os males saídos da
“caixa”, como tal desentendimentos, injustiça e discórdia, não obstante
violências verbais, guerras de bastidores e clima mórbido nas conversações
porque não passam de promessas não cumpridas.
Razão tinha um antigo presidente do Vitória de Guimarães que
disse: “O que hoje é verdade, amanhã é
mentira”.
A ligação rodoviária da Covilhã a Coimbra é uma via de
coesão nacional, que poderá ajudar a desenvolver a região, segundo as palavras
do presidente da edilidade covilhanense, e reclama, como todos os
covilhanenses, de raiz ou de coração, todos quantos na região covilhanense se
encontram radicados, IC6 para Coimbra, uma via de coesão “prioritária” e
“fundamental” ao desenvolvimento da região.
A construção do IC6 é uma necessidade tão premente, fazendo
a ligação da Covilhã a Coimbra, “como de pão para a boca”, ainda nas palavras
do presidente da Câmara da Covilhã.
Só é estranho, ou talvez não por ser do partido do governo,
que um deputado municipal ainda mantenha reservas sobre esta necessidade,
necessidade que é do tamanho da Serra da Estrela. É preferível continuarmos a
falar na estrada das Pedras Lavradas, há tantos anos?
Outro assunto de não somenos importância é a arreliadora
ligação ferroviária da Covilhã à Guarda, há anos parada, e que não há maneira
de o único “mal” recolhido da “Caixa de Pandora” – a esperança – se transformar
numa realidade, para grande benefício de que carece também a Covilhã, a Guarda
e suas regiões; e não venha a ser uma falsa esperança, como já estamos
habituados, e cansados.
(In "Notícias da Covilhã", de 15.05.2014)
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