Pensava eu que este monumento, que perpetua sentimento de
homenagem aos Mortos na Grande Guerra e no Ultramar, como também é conhecido,
de naturais do Concelho da Covilhã, era propriedade municipal.
Por informação do Presidente da Direção da Liga dos
Combatentes do Núcleo da Covilhã, vim a saber que o mesmo é património da Liga
dos Combatentes.
E isto a propósito de mais uma vez ter sido objeto de
vandalismo, no mês de março, com danificação de uma das placas retangulares, em
mármore, onde se encontram inseridos os nomes de falecidos em combate, de militares
do Concelho da Covilhã; e também do furto de uma das duas esferas armilares, em
mármore, que encimavam as extremidades do monumento.
Estes atos são geralmente praticados, sob efeito do álcool,
por uma juventude que deveria ser exemplo por força de se encontrarem na cidade
empenhados na formação académica para um futuro melhor mas que,
lamentavelmente, a ocultas das autoridades, que quantas das vezes não estão no
local certo à hora exata, danificam património. São uns quantos que, mais
tarde, já sob a responsabilidade de lideranças em instituições, vêm a ser, eles
próprios, a condenar tais atos.
Os excessos de práticas que nada condizem com os bons
costumes, e certamente com a educação que trouxeram de suas famílias, deveriam
ser, sem apelo nem agravo, condenados com sanções que fossem exemplares, logo
que detetados.
Este monumento esteve inicialmente colocado no Largo 5 de
outubro, aquando da sua inauguração em 15 de junho de 1930, pelo então
Presidente da República, General Óscar Carmona.
Nos finais da década de 50 do século passado foi mudado para
junto do Jardim Municipal, na Avenida Frei Heitor Pinto.
Estas habituais danificações nas partes mais sensíveis do
monumento situam-se na parte em mármore que foi acrescentada e inaugurada em 23
de outubro de 1999 pelo Presidente da Liga dos Combatentes, General Baltazar
Barroco e pelo Presidente do Município Covilhanense de então, Carlos Pinto.
Este monumento teve origem nos atos de bravura desempenhados
pelos militares do então Regimento de Infantaria 21, sediado na Covilhã, na
linha da frente, na Batalha de La Lys, na Flandres, durante a Primeira Grande
Guerra, e também em Moçambique.
Logo que terminou a Grande Guerra, decidiram memorizar os
combatentes do Concelho da Covilhã, que na mesma lutaram com coragem e
valentia, e construir um monumento em memória dos soldados que nela faleceram,
e dos que nunca se conheceu a nacionalidade ou família, a que se designou
“Soldado Desconhecido”.
Este vandalismo sobre o monumento ao Soldado Desconhecido
não é só de agora. Recordo que já em 15 de janeiro de 1965, já lá vai quase
meio século, publiquei no “Notícias da Covilhã” uma gazetilha alusiva a um
pequeno ato de vandalismo que consistiu na quebra da baioneta da espingarda do
Soldado Desconhecido, a qual, depois de novamente colocada, continuou a ser
alvo, por várias ocasiões, da sua danificação.
E assim me expressei:
O SOLDADO DESCONHECIDO
Passeava p’lo jardim,
Ao cheiro do alecrim,
Entoando canções não
alheias,
Um garoto das nossas
aldeias.
Vê em pedra uma
figura!
Com uma tal estatura,
Olha em frente,
Depois ri e diz p’ra
gente,
Com uma tal
gargalhada:
“Partiram o cano à
espingarda…”
Já outros o terão
contemplado,
Pois isto há tempos
foi passado,
Mas ainda agora,
O Soldado espera a
hora
P’ra que seja tratado…
Terá ou não razão,
O rapazito em questão?
J.J.
Nunes
(In "O Combatente da Estrela", n.º 95, Janeiro a Maio de 2014)
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