29 de junho de 2023

OS ALQUEIRES E AS FANEGAS



 

Dois anos antes da Revolução do 25 de abril, troquei a minha vida profissional de funcionário público pela privada. Passagem de um ano por uma empresa do Sabugal.  Entretanto, foi a anuência a um convite de uma Seguradora, com uma delegação sediada na Covilhã. Gestão administrativa e comercial foram da minha responsabilidade. Então para os distritos de Castelo Branco e da Guarda. Também neste distrito a norte, houve momentos interessantes quão importantes no contacto com muita gente. Eu   que deixara a vida sedentária. Passei a ter cada vez mais gente da minha gente. Nesses tempos iniciais, tudo era muito difícil. Quase como o dia e a noite. Sem novas tecnologias, nem vias de acesso modernas e rápidas, quer de comunicações telefónicas quer de transportes. A necessidade de recorrer ao automóvel próprio ou da empresa. Facilmente compreensível. O tempo em que, para os agricultores, ainda lhes rendiam o cultivo de searas. Para além do trigo, centeio e aveia, também as amendoeiras em Figueira de Castelo Rodrigo.

As searas ainda só se podiam segurar através do seguro de incêndio. Mais tarde surgiu o Seguro de Colheitas, onde se incluíam já, entre outras culturas, as árvores de fruto.

José Fernandes Paixão orientava-me então pelas pequenas propriedades rústicas – as quintas – do concelho da Covilhã.  Pela primeira vez iniciei o preenchimento de uma proposta de incêndio agrícola. Então por aquelas quintas da Olivosa, Polito, Mata Mouros, Amieiro Longo, Grila, Campo de Aviação e outras que se estendiam pelas freguesias do Ferro e Peraboa. As propostas mencionavam o número de quilos de cereal a segurar.

- Quantos quilos semeou?

- Tantos alqueires de centeio, tantos de aveia e tantos de pão.

- Então e de trigo?

- Ao trigo nós chamamos pão.

- Alqueires, alqueires.... Então quantos quilos são?

- Nesta região o alqueire corresponde mais ou menos a 15 ou 16 quilos.

Feitos os cálculos manualmente (ainda sem a utilização da calculadora portátil), havia ainda que adicionar 10% para segurar a palha.

Fiquei habilitado a segurar alqueires de cereais e respetivas palhas para os animais.

Agora, chegava a vez da zona da Guarda, com o José Maria Guerra Caseira, que fora funcionário da Câmara Municipal de Figueira de Castelo Rodrigo, e antigo guarda-redes do Vilar Formoso.  Percorremos freguesias daquele Concelho e do de Almeida. Algodres, Vilar de Amargo, Almofala, Escarigo, Castelo Rodrigo, Reigada, Vilar Torpim. Escalhão, Freixeda do Torrão, Quintã de Pêro Martins, Penha de Águia, Mata de Lobos e Vermiosa.

César Espinho, informou então que tinha semeado tantas fanegas de trigo.

- Fanegas?

- Sim, uma fanega são 50 quilos nesta região.

Deixei de ficar perplexo. Sempre a aprender. E cá no meu pensamento ficou a ideia de um dia escrever sobre estas peripécias da minha vida profissional, e não só.

Mas, nesta de clientes, ficou-me gravada na memória a simpatia geradora de amizade de Trigo Benedito, da Vermiosa. Colocou-me à disposição o seu telefone (ainda não havia telemóveis) para, cerca das 23 horas poder entrar em contacto com a minha esposa, sossegando-a de que chegaria mais tarde à Covilhã.

Embora com as cautelas devidas, lá vinha eu com uns obrigatórios copos bebidos. Ainda não havia controle antidoping...  Preferia deslocar-me pela estrada antiga de Vilar Formoso – Guarda. Ainda não havia ali as autoestradas.  Evitava as perigosas curvas de Pinhel, àquelas horas da noite.

Depois de uma paragem para um chichi, à beira da estrada, ouvia o cantar dos grilos, e um ou outro pássaro que esvoaçava. Lá seguia a caminho da Covilhã. Uma das vezes, com uma lebre que, encandeada, atravessava a estrada quando passava com o carro, na vinda da Vermiosa.

Muito mais poderia contar por entre amigos dessa zona, como o meu antigo camarada de armas, na Guarda, e também funcionário da Câmara de Figueira e Castelo Rodrigo, Francisco Pereira. Ou, então, na Cidade da Guarda, através do amigo colaborador Francisco Vieira, funcionário do Montepio Egitaniense. Algumas vezes pernoitei na Pensão Aliança, com uma visita obrigatória ao proprietário da Loja das Meias. E ao quiosque para adquirir jornais da Guarda.

Tempos que já lá vão.

 

João de Jesus Nunes

jjnunes6200@gmail.com

 

(In Jornal “A Guarda”, de 29-06-2023)

24 de junho de 2023

OS QUE AINDA ESTAMOS NO MUNDO DOS VIVOS


 

Cada vez mais se vai reduzindo o número dos Antigos Combatentes. N’ O Combatente da Estrela, na página da necrologia, por vezes, surgem surpresas sobre os que terminaram a sua missão neste planeta. Muitos deles, senão todos, foram parte importante de algum tempo passado de confraternização, memorizando os tempos da guerra, mas também outros melhores períodos das nossas vidas, como da infância, juventude, tempo da vida escolar à profissional, as viagens, os de convívio fazedores de amizades, não esquecendo os familiares. Já não são só os filhos, mas também os netos.  Até que o prazo de validade humana termina mais cedo ou permanece mais tardio para outros Camaradas.

É a lei insofismável da vida. Esse diafragma que nos suporta mais ou menos tempo. O equador das nossas vivências. Aquele que divide os dois “hemisférios” do nosso corpo humano, embora não sendo esférico. Por um lado, o das memórias e do pensamento que nos direciona para decisões em prol do companheirismo. Por outro, aquele que nos traz o desconforto, o imprevisto, o fazedor de maleitas incontornáveis que se vão agudizando. Muitas vezes parece que nos colocam repentinamente em órbitra, e o nosso “corpo-planeta” perde o caminho a percorrer e vai-se desvanecendo.

Desde a existência do homem na Terra, sempre houve guerras. Ainda umas não acabaram já outras foram emergindo pelo território planetário.

Na última revista “O Combatente”, edição 403, de março de 2023, o diretor, Joaquim Chito Rodrigues, Tenente-General e Presidente da Liga dos Combatentes, no seu editorial, fala num “tema controverso e fraturante sobre o conflito armado que opôs Portugal aos chamados Movimentos que em Angola, Moçambique e Guiné lutaram pela independência!”. Colocou o título – “Guerra Colonial, Guerra do Ultramar, Guerra de África (1961-1975) ... ou Guerra de Libertação?” E desenvolveu o seu artigo dizendo que “Vai-se ao ponto de se considerar que quem utiliza o termo guerra do ultramar é politicamente de direita, quem utiliza o termo guerra colonial é de esquerda! Alguns historiadores tentam mesmo encostar os combatentes do ultramar politicamente, à extrema-direita”. Importante assinalar que a designação oficial de Províncias Ultramarinas durou legal e constitucionalmente 102 anos (de 1838 a 1920 e de 1951 a 1974); e a designação de colónias e de império colonial durou apenas 31 anos (de 1920 a 1951, dez anos antes da guerra do ultramar, embora houvesse Ministro das Colónias depois de 1911).

Na Liga dos Combatentes usamos genericamente a terminologia ultramar e guerra do ultramar e por vezes face à análise do universo envolvente acrescentamos ou guerra colonial se assim lhe quiserem chamar!... “Somos inclusivos – diz Chito Rodrigues. Hoje mantemos relações institucionais com as Associações de Combatentes dos países que fizeram as guerras que denominam ‘Guerras de Libertação’”.

No dia 1 de abril, realizou-se o “Dia do Combatente” e o 105º Aniversário da Batalha de La Lys.

Sobre a secretária do meu escritório, fui encontrar o livrinho de 84 páginas, ano 2012, numa 4ª edição, de Jaime Froufe Andrade, da Coleção Memória Perecível, da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto.  O seu título: “Não Sabes Como Vais Morrer”. São 7 mais 1 histórias de guerra deste autor, e regresso atribulado no Vera Cruz.  Da página 67, transcrevo parte da narração do alferes miliciano Dinis Martins: “Depois da noite em claro, fui até ao bar dos oficiais. Encontrei-o vazio. Não tardou a entrar lá um homem alto, magro, vestido de branco. Era o Comandante do Vera Cruz. Ofereci-lhe a minha mesa e falei-lhe do susto. Lembro-me de ele comentar que poderia ter sido a maior tragédia desde que Portugal se lançou nos Descobrimentos. Comentou ainda que, se tivesse surgido uma terceira vaga, a proa não conseguiria recuperar, e o Vera Cruz mergulharia no oceano para sempre. Dito isto caímos os dois em silêncio”.

Não será demais recordar a primeira parte de um artigo do politólogo, Raul de Almeida, inserido no Jornal Económico, de 07-04-2021, sobre Os Combatentes do Ultramar:

Por todo o mundo, e por muitos pontos de Portugal, há monumentos e toponímia em homenagem aos diferentes combatentes, que em diferentes guerras deram o melhor de si pela pátria, tantas vezes a própria vida. O fenómeno da guerra defensiva liga-se ao longo dos tempos a uma forte ideia de patriotismo. O soldado é por natureza alguém pronto a lutar e morrer pela pátria. Tal condição, independente de ser ou não voluntário, é premissa de coragem e heroicidade.

Os Combatentes portugueses da Guerra do Ultramar, nas suas diferentes frentes, foram homens de enorme coragem e heroicidade. Com risco da vida, a maior parte das vezes distantes das suas famílias, enfrentaram anos da sua vida à defesa de Portugal, que à altura era do Minho a Timor. Aos combatentes não cabe a decisão da guerra ou das fronteiras da nação, apenas o cumprimento da missão que esta implica.

Portugal tem uma dívida de gratidão com todos os combatentes na sua longa história. De Ourique ao Ultramar, a História e as diferentes dimensões de Portugal foram sempre garantidas por combatentes valorosos. As diferentes mudanças territoriais, as poucas derrotas, foram sempre fruto de decisões políticas, nunca podendo ser imputada ao soldado português.

João de Jesus Nunes

jjnunes6200@gmail.com

 

(In “O Combatente da Estrela”, nº 131-JUL/2023)

23 de junho de 2023

CONTE-NOS A SUA HISTÓRIA JOSÉ MANUEL BRITO

 
Este antigo Combatente na Guiné é uma figura sobejamente conhecida na Cidade, tendo trabalhado num único espaço comercial – a Casa Dinis, sempre muito atencioso e de reconhecida simpatia pelos clientes. Aqui se iniciou aos 13 anos, após concluir a Instrução Primária. Até à sua aposentação completou neste estabelecimento comercial 52 anos de trabalho consecutivo, só interrompido pelo serviço militar.

Nasceu em 2 de novembro de 1941 na freguesia de Santa Maria, do concelho da Covilhã.

Vindo a propósito, memorizamos um extrato dum texto que inserimos no “Notícias da Covilhã”, de 11-04-2003, sob o título “Crónicas da Rua Direita”, como segue:

“De facto, o mais antigo empregado duma casa comercial sediada nesta rua, ainda no ativo, dá pelo nome de José Manuel Brito. Sempre na Casa Dinis, onde entrou com 13 anos, e acabaria por casar com uma sua colega, Helena Almeida. Este veterano já vai em quase meio século de trabalhador por conta de outrem, e, nos seus 48 anos de ligação aquela casa comercial, está como o Vinho do Porto, cada vez mais ativo a trabalhar. Isto contrasta com outros mais novos, que, fruto de reformas antecipadas, passeiam nessa condição, pela Rua Direita, quando há tanto trabalho a desenvolver, ainda que gratuito, no meio associativo e até da solidariedade social, cada vez mais necessária nos dias de hoje. Pois, o José Manuel, como é conhecido, além da sua “enxada” quotidiana, ainda se dedica ao associativismo, tendo pertencido a vários elencos, já lá vão 40 anos, no GIR do Rodrigo, sendo o seu esforço inegável na colaboração que tem prestado em várias atividades desenvolvidas por esta coletividade de prestígio. E como não sabe dizer não a quem dele se abeira, também participou no trabalho de colaboração nas profundas obras de melhoramento na Capela do Bairro do Rodrigo. Tem três filhos que se orgulham do pai – um exemplo de trabalhador”.

Em fevereiro de 1962 foi chamado para iniciar o serviço militar obrigatório, no CICA3, em Elvas, onde fez a recruta e a especialidade de condução autorrodas, fazendo depois exame no Porto, no Cavalaria 6. Seguiu ainda para Espinho e daqui para o BC6 em Castelo Branco, onde foi mobilizado para a Guiné. Nesta colónia esteve durante dois anos, regressando à Metrópole em junho de 1964, no navio Índia.

Ao desembarcar em Bissau no navio Ana Mafalda, seguiu para Bafatá, onde permaneceu todo o tempo.

Como condutor auto participou em várias operações no mato, onde lhe surgiram algumas emboscadas do inimigo (IN), que, embora não o tivessem felizmente atingido, ainda viu morrer em combate três camaradas, soldados do seu pelotão. Todos eles eram do Norte. Ainda passou a poucos metros de uma mina, mas foi avisado a tempo por um seu camarada, pelo que não chegou a pisá-la, o que provocaria o seu rebentamento, que seria trágico e de consequências imprevisíveis. É que, entretanto, no Esquadrão de Cavalaria de que fazia parte, houve muitos feridos nas várias ações de combate.

Veio a ser chamado para trabalhar na messe de sargentos, para servir o pessoal, sem abandonar a condução auto.

De Bafatá foi ainda para Bamadinga, onde, para aqui chegar, tiveram de atravessar o rio Geba, a pé, e, noutros locais, em canoas, sem nunca existirem problemas apesar de haver crocodilos. Chegaram mesmo a apanhar um crocodilo pequeno que levaram para o quartel e o alimentaram, metendo-o num poço. Também muitos macacos foram apanhados, sendo alguns levados para o quartel, a fim de serem domesticados. Alguns camaradas trouxeram-nos de regresso mas acabaram por morrer devido ao clima na Metrópole.

Mesmo assim, um dos sustos que teve foi quando, estando de serviço, encontrou uma jiboia “surucucu” a qual se encontrava num patamar com arame farpado, numa altura em que faziam      uma ronda, com holofote fixo para ver se viam o IN. Era de noite e foi morta pelo sargento.

Como foi referido, andou no mato sempre como condutor, tendo-se sentido feliz por nenhum dos que o acompanhavam terem tido qualquer problema, assim como na sua pessoa, mas, paradoxalmente, sente-se triste ao ter visto morrerem outros camaradas, um deles quando lhe faltava pouco tempo para terminar o serviço e regressar à Metrópole.

Sentiu sempre saudades da família.

Terminado o tempo de serviço, embarcou para a Metrópole e retomou a sua vida profissional na Casa Dinis.

Aos 81 anos, doente, faz a sua vida calma, sempre muito acarinhado pela esposa, que lhe dá todo o apoio de que necessita.

(In “O Combatente da Estrela”, nº. 131-JUL/2023)


22 de junho de 2023

DIA DE PORTUGAL, DE CAMÕES E DAS COMUNIDADES PORTUGUESAS


Quando esta crónica sair já se realizaram as comemorações do “Dia 10 de Junho”, como são mais conhecidas, as quais já tiveram várias designações ao longo dos tempos.

Referi-me a última vez sobre este assunto para as páginas dum semanário, em 16-06-2011, então sob o título “O 10 de Junho e a alma de um Povo”. Foi num período conturbado da nossa história democrática, em que, pela primeira vez em Portugal, no dia 10 de junho de 2011, na sessão solene de Estado, em Castelo Branco, reuniu dois primeiros-ministros: o do ainda Governo de gestão, José Sócrates, e o eleito nas urnas há menos de uma semana, Passos Coelho. Cavaco Silva, o então presidente da República, falou sobre o momento delicado que se vivia e parafraseou o médico albicastrense, do século XVI – Amato Lusitano: “Não há cura para aquele que não quer ser curado”.

Antes de passarmos ao presente, por curiosidade, recordo que houve várias datas de algum relevo, nos dias 10 de junho, sendo que, no ano 1943 foi patenteada a caneta esferográfica, substituindo a caneta-tinteiro, invenção do jornalista húngaro Lászio Biró.

Para além do falecimento de Luís Vaz de Camões, em 10 de junho de 1580, também houve o falecimento de Alexandre III da Macedónia, o Grande ou Magno, em 10 de junho de 323 a.C., na Babilónia, com 32 anos; foi em 10 de junho de 1940  que o líder italiano, Mussolini, declarou guerra à França e à Grã-Bretanha, e, nesse mesmo dia, o Canadá declarava guerra à Itália. Mas também, no dia 10 de junho de 1967, foi o fim da Guerra dos Seis Dias, ganha por Israel; foi ainda o acordo no Conflito do Kosovo, em 10 de junho de 1999, com a Jugoslávia a assinar o mesmo para encerrar o conflito.

Este ano de 2023, as Comemorações do 10 de Junho realizaram-se na África do Sul, com a comunidade portuguesa, e no Peso da Régua, no Douro.

A primeira referência ao caráter festivo do dia 10 de Junho é no ano 1880, por um decreto real de D. Luís I que declara “Dia de Festa Nacional e de Grande Gala” para comemorar apenas nesse   ano os 300 anos da morte de Luís Vaz de Camões.

Até ao dia 25 de Abril de 1974, o 10 de Junho era conhecido como o Dia de Camões, de Portugal e da Raça, este último epíteto criado por Salazar. A partir de 1963, o 10 de Junho tornou-se uma homenagem às Forças Armadas Portuguesas. Com uma filosofia diferente, a Terceira República, converteu-o no Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, em 1978.

A Covilhã já foi palco da celebração desta data, em 1988, era então presidente da República, Mário Soares.

Pouco se sabe com certeza da vida de Luís de Camões. Frequentou a corte de D. João III e iniciou a sua carreira como poeta lírico envolvendo-se, como narra a tradição, em amores com damas da nobreza e possivelmente plebeias. Levou ainda uma vida boémia e turbulenta. Foi preso várias vezes, combateu ao lado das forças portuguesas, onde perdeu o olho direito. Escreveu a sua obra mais conhecida, a epopeia nacionalista Os Lusíadas. Recebeu uma pequena pensão de D. Sebastião pelos serviços prestados à Corte. A sua obra lírica foi reunida na coletânea Rimas, tendo deixado também três obras de teatro cómico. Enquanto viveu queixou-se várias vezes de alegadas injustiças que sofrera e da escassa atenção que a sua obra recebia. Boa parte das informações sobre a biografia de Camões suscita dúvidas. Viveu seus anos finais num quarto de uma casa próxima da Igreja de Santa Ana, num estado, segundo foi narrado, da mais indigna pobreza. Manteve mesmo assim o escravo Jau que trouxe do Oriente. Depois viu-se amargurado pela derrota portuguesa na Batalha de Alcácer-Quibir, onde desapareceu D. Sebastião, levando Portugal a perder a independência para Espanha. Consta que Camões acabou por adoecer e vir a falecer de peste. Segundo Faria de Sousa, foi enterrado numa campa rasa na Igreja de Santa Ana, ou no cemitério dos pobres do mesmo hospital, segundo Teófilo Braga. A sua mãe, tendo-lhe sobrevivido, passou a receber a sua pensão em herança. Depois do terramoto de 1755 que destruiu a maior parte de Lisboa, foram feitas tentativas para se encontrar os despojos de Camões, todas frustradas. A ossada que foi depositada em 1880 numa tumba do Mosteiro dos Jerónimos é, com toda a probabilidade, de outra pessoa.

Camões viveu na fase final do Renascimento europeu, um período marcado por muitas mudanças na cultura e sociedade, que assinalam o final da Idade Média, o início da Idade Moderna e a transição do feudalismo para o capitalismo.

A produção de Camões divide-se em três géneros: o lírico, o épico e o teatral. A sua obra lírica foi desde logo apreciada como uma alta conquista. “A sua produção épica está sintetizada N’Os Lusíadas, uma atentada glorificação dos feitos dos portugueses, não apenas das suas vitórias militares, mas também a conquista sobre os elementos do espaço físico, com recorrente uso de alegorias clássicas”.

O amor e a mulher – Dos temas mais presentes na lírica camoniana, o do amor é central e ocorre de modo notável também n’Os Lusíadas.

Muito haveria a desenvolver dos vários Cantos que constituem esta belíssima obra. Apraz-me, nestas Comemorações, deixar este soneto, em Rimas, muito conhecido:

“Amor é fogo que arde sem se ver;/É ferida que dói e não se sente;/É um contentamento descontente/E dor que desatina sem doer: /É um querer mais que bem querer;/É solitário andar por entre a gente;/É nunca contentar-se de contente;/É cuidar que se ganha em se perder;/É querer estar preso por vontade;/É servir a quem vence, o vencedor;/É ter com quem nos mata lealdade./Mas como causar pode seu favor/Nos corações humanos amizade,/Se tão contrário a ai é o mesmo amor?”

Camões e a sua obra principal, Os Lusíadas, são os símbolos da nação portuguesa, e esta obra parece datar, como acredita Vanda Anastácio, do início da monarquia dual de Filipe II de Espanha, I de Portugal, que entendeu seria de interesse prestigiá-los como parte da sua política para assegurar a legitimidade do seu reinado sobre os portugueses.

Três anos depois da Revolução de abril de 1974 Camões foi associado publicamente às comunidades portuguesas de além-mar, tornando-se a data da sua morte o “Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas”, no intuito de dissolver a imagem de Portugal como um país colonizador e se criar um novo senso de identidade nacional que englobasse os muitos emigrantes portugueses espalhados pelo mundo.

João de Jesus Nunes

jjnunes6200@gmail.com

(In “O Olhanense”, de 15-06-2023)

 


 

7 de junho de 2023

GERAÇÕES

Há 17 anos escrevi um artigo num semanário covilhanense, sob o título “A Geração dos 60” (07-09-2006). Exatamente quando eu tinha essa idade.

 

Recordo hoje, com base no mesmo, os meus tempos de menino e moço. Antes do Concílio Vaticano II, as missas eram celebradas em latim. Havia alguns meninos do coro (na Covilhã só os via na igreja dos jesuítas, em São Tiago). O sacristão tinha de acompanhar, respondendo em latim. Agora há os acólitos. Na igreja de S. Tiago, como é mais conhecida, mas que tem o nome de Sagrado Coração de Jesus, havia, da mesma Ordem, “os Irmãos”. O último foi o irmão Gaspar, que ali esteve muitos anos, até ao seu falecimento. O celebrante, durante a maior parte do ato litúrgico, estava de costas voltadas para os fiéis. Tal qual como o iniciava. Voltava-se, breves segundos, como que para quebrar um longo silêncio, na pacificidade dos fiéis, com uma voz, por vezes vibrante: Dominus Vobiscum. Talvez acordaria um ou outro sonolento. Alguns fiéis acompanhavam a missa com as orações inseridas nos seus missais. O padre, de frente para os fiéis, só durante a homilia. E, obviamente, durante a Comunhão. Os homens ficavam separados das mulheres. Estas cobriam a cabeça com um véu. No templo, elas não usavam calças nem os vestidos eram de mangas cavadas, ou atrevidos, como vai acontecendo nos dias de hoje.

Havia o conluio Salazar/Cardeal Cerejeira que procurava manter o povo contente com a trilogia:  “Fado, Futebol e Fátima”.

 

O carteiro distribuía as cartas, com mais atenção que nos tempos que correm. Já quase não se escrevem. As oficiais ou que queriam incutir uma certa deferência, terminavam com a sacrossanta expressão: “De V. Exª., atento, venerador e obrigado”, e os ofícios: “A Bem da Nação”. Os funcionários públicos, eram obrigados a assinar um documento, com assinatura reconhecida notarialmente, onde declaravam: “Declaro, por minha honra, que estou integrado na ordem social estabelecida pela Constituição Política de 1933, com ativo repúdio do comunismo e de todas as ideias subversivas”

Foi nesta geração que a juventude, em Portugal, ameaçou o regime fascista e hoje, felizmente, tudo mudou. Mas muitos portugueses ainda abusam do poder, descontextualizando o sentido da liberdade, colocando fortes nódoas na democracia. Afinal, para que foi feito o 25 de Abril?

Estivemos então na geração baby boomer, ou seja, aquela época de aumento brutal da natalidade, que se seguiu à Segunda Guerra Mundial, entre 1946 e o final dos anos 1960. Outras se lhe seguiram:

Geração X – Aquelas pessoas que nasceram sensivelmente entre o final dos anos 1960 e o início dos anos 1980.

Geração YAs que nasceram sensivelmente entre o início dos anos 1980 e o final dos anos 1990.

Geração Z Aquelas que nasceram sensivelmente entre o final dos anos 1990 e a década de 2010.

Segundo Mariana Durães, in Público, de 23 de maio 2023, “o mundo dos encontros ‘é mais saudável’ para os que têm hoje entre 18 e 25 anos”. Na Geração Z estão determinados a ser “mais honestos, mais abertos e mais focados em dar prioridade à saúde mental”. Mas já Sara Vale, do mesmo diário, de 15-09-2021 referia: “A necessidade de ligação a alguém é uma das mais básicas do ser humano, tão natural como respirar. Começa ainda na barriga da nossa mãe e nunca mais termina até a vida acabar. Ao longo das nossas vidas temos vários tipos de relações, da família aos amigos, dos amantes aos conhecidos, e todas as outras no meio. Umas mais intensas, outras mais leves, umas mais longas, outras mais curtas, mas sempre com um denominador comum: o desejo de nos conectarmos e sermos aceites pelo outro. Como tudo na vida, as relações começam, desenvolvem e acabam”.  

Geração à Rasca Foi uma expressão usada pelo jornalista Vicente Jorge Silva em 1994 num editorial do jornal Público aquando das manifestações estudantis contra a então ministra da educação Manuela Ferreira Leite. Em 2011, a expressão foi reeditada, tendo sido ajustada como mote à manifestação de 12 de março Geração à rasca. As reivindicações eram na melhoria das condições de trabalho e o fim da precaridade.

E então diziam: “Em 1994, vínhamos ao mundo, em 2011 andávamos na faculdade com todas as limitações adjacentes ao facto de estarmos em recessão económica, e agora em 2020 quando finalmente víamos prosperidade na nossa vida, estamos órfãos de pensar e sonhar o nosso futuro, desta vez com aquilo que vimos e estamos a viver de mais próximo de uma guerra”.

 Estavam, então, à rasca aqueles com menos de 30 anos que, após 2011, terminaram a licenciatura e, como esta não dava para ingressar no mercado de trabalho, foram tirar mestrado. Começaram a trabalhar mais tarde e agora estavam à rasca pois eram os primeiros a ser dispensados das empresas onde trabalhavam.

Estavam ainda à rasca, aqueles que após concluírem os seus estudos foram para fora do país em busca de uma vida melhor e agora viam-se em quarentena forçada fora de casa, muitos a milhares de quilómetros de distância, pois não conseguiam voltar.

Estavam também à rasca aqueles que, após concluir os estudos, trabalharam e como tinham ambição constituíram a sua empresa, e, de um momento para o outro ficaram à rasca para pagar contas, e, sendo sócios-gerentes da sua empresa, nem direito a lay-off tiveram.

Geração “nem-nem” Número de jovens que nem estudam, nem trabalham. Segundo Rafaela Burd Relvas, in Público, de 26-05-2023, em 2022, Portugal conseguiu, pela primeira vez, superar a meta estabelecida pela União Europeia para 2030, apresentando uma taxa de jovens que não estudam nem trabalham abaixo dos 9%. O número de jovens entre os 15 e os 29 anos que não estudam nem trabalham (os chamados “nem-nem”) está a diminuir na União Europeia. Portugal está entre os que têm das mais baixas taxas de jovens “nem-nem”. Os dados são divulgados pelo Eurostat, que dá conta de que, em 2022, 11,7% dos jovens entre os 15 e os 29 anos na União Europeia eram “nem-nem”, o mesmo que dizer que mais do que um em cada dez jovens não trabalhavam nem frequentavam qualquer tipo de educação ou formação.

Portugal é o sexto país da União Europeia com a taxa mais baixa de jovens “nem-nem”, enquanto consegue superar a meta europeia de uma taxa abaixo de 9% até 2030.

Segundo a SIC notícias, da mesma data, estima-se que em Portugal existem mais de 190 mil nesta situação (8%), mas os números oficiais esclarecem que o país é um dos Estados-membros com melhor desempenho neste âmbito.

 

                            João de Jesus Nunes                                                                             


                                                                                         
   jjunes6200@gmail.com

(In “Jornal Fórum Covilhã”, de 07-06-2023)

5 de junho de 2023

BILDERBERG – OS PODEROSOS

 

O que é afinal o Clube de Bilderberg? Segundo várias fontes, também é designado por Grupo Bilderberg, Conferência de Bilderberg ou Reuniões de Bilderberg. É uma conferência anual privada estabelecida em 1954 para cerca de 150 especialistas em indústria, finanças, educação e meios de comunicação que fazem parte da elite política e económica da Europa e da América.

A primeira conferência foi realizada no Hotel de Bilderberg, em Oosterbeek, Países Baixos, de 29 a 31 de maio de 1954. O encontro foi iniciado por várias pessoas, entre elas o político polaco exilado, Józef Retinger. Este estava preocupado com o crescimento do antiamericanismo na Europa Ocidental. Propôs então uma conferência internacional em que líderes de países europeus e dos Estados Unidos se reuniriam com o objetivo de promover o atlantismo, bem como a cooperação entre as culturas norte-americana e europeia em matéria de política, economia e questões de defesa.

Pois bem, a lista de convidados para estas conferências ou reuniões teria de ser formada através do convite de dois participantes de cada nação. Cada um representaria os pontos de vista “conservador” e “liberal”.

Logo na primeira Conferência de Bilderberg participaram cinquenta delegados de onze países da Europa Ocidental além de onze dos Estados Unidos. O sucesso do encontro fez com que os organizadores criassem uma conferência anual. Retinger foi então nomeado secretário permanente. Na organização da conferência, o comité diretivo manteve um registo dos nomes dos participantes e detalhes de contacto. Pretendeu-se assim criar uma rede informal de indivíduos que se poderiam comunicar de maneira privada. As conferências foram então realizadas na França, Alemanha e Dinamarca, nos três primeiros anos, e, em 1957, nos Estados Unidos.

A meta original do grupo era a de promover o atlantismo, como já foi referido, de reforçar as relações entre os Estados Unidos e a Europa e prevenir que outra guerra mundial acontecesse.

Em 2001, Denis Healey, um dos fundadores do grupo dizia: “Nós no Bilderberg sentimos que não poderíamos continuar a estabelecer conflitos uns contra os outros por nada, ao matar pessoas e criar milhões de desabrigados”. Já em 2011, o ex-presidente Étienne Davignon referia que “uma grande atração das reuniões do grupo de Bilderberg é que elas fornecem uma oportunidade para que os participantes falem e debatam abertamente e descubram o que as principais figuras mundiais realmente acham sem o risco de que comentários descontextualizados sejam usados pela mídia para a criação de controvérsias”.

Bom, mas o grupo não deixa de ser envolvido em críticas. Em parte por causa dos seus métodos de trabalho para garantir a estrita privacidade. Tem sido criticado “por falta de transparência e prestação de contas. Alguns da esquerda acusam o grupo de Bilderberg de conspirar para impor a dominação capitalista. Entretanto, alguns à direita acusam o grupo de conspirar para impor um governo mundial e uma economia planificada”.

O encontro exclusivo de Bilderberg começou este ano no dia 18 de maio em Lisboa. Entre os participantes, segundo a Lusa, esteve o secretário-geral da NATO, a presidente do Parlamento Europeu e os chefes da diplomacia ucraniana e europeia. Decorreu à porta fechada e sem cobertura jornalística, num local não especificado pelos organizadores.

Na altura em que escrevo estas linhas, existe a informação de que Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa vão marcar presença na reunião. Será, inclusive, oferecido um jantar pelo presidente da República aos 130 membros que este ano se reunirão no 69º encontro desde a fundação do grupo, como já vimos, em 1954, proveniente de 23 países, incluindo Portugal.  Prevista uma homenagem especial a Henry Kissinger, ex-secretário de Estado americano que faz neste mês de maio 100 anos e que estará presente no encontro.

Entre os temas em debate constam as ameaças transacionais, a Ucrânia, a Rússia, a China, a Europa, a Índia e a liderança dos Estados Unidos. A Inteligência Artificial, a transição energética, a política industrial e comércio, os desafios fiscais e o sistema bancário são outros dos tópicos da agenda do encontro.

Na lista dos participantes divulgada pelo clube Bilderberg constam alguns nomes portugueses, incluindo José Manuel Durão Barroso e Francisco Pinto Balsemão.

Ao longo dos anos, vários portugueses passaram por estes encontros: além dos já referidos, também António Coata, Jorge Sampaio, Vítor Constâncio, António Guterres, Pedro Santana Lopes, José Sócrates, António José Seguro, Paulo Portas, Fernando Medina ou Maria Luís Albuquerque.

Em junho de 1999, Sintra recebeu uma reunião do Grupo Bilderberg. A última edição desta reunião decorreu em Washington em junho passado.

Bilderberg é o encontro mais secreto do mundo e muitas vezes é associado a teorias da conspiração, o grupo, como vimos, reúne algumas das pessoas mais influentes do mundo para debater temas relacionados com a política e a economia mundial. Para 2023, esses nomes graúdos cá surgiram, de jato e em voos comerciais. Eles são empresários, governantes, lobistas e outros artistas, juntando-se de 19 a 21, no hotel Pestana Palace, no discreto Alto de Santo Amaro, em Alcântara, segundo informação do Tal & Qual. Regista-se, no entanto que estiveram a ser preparadas manifestações junto ao hotel e na zona de Belém por ativistas que criticam a falta de transparência destes encontros, cujas decisões, diz-se, influenciam os destinos mundiais da política e da finança.

João de Jesus Nunes

jjnunes6200@gmail.com

(In “O Olhanense”, de 01-06-2023)

 


1 de junho de 2023

VOZ DO DOZE


 

Dia 20 de julho do ano da graça de 1971. Finalmente, passava à história para mim o serviço militar obrigatório no RI 12, na Guarda. Ainda cheguei a escrever no seu jornal “Fronteiros da Beira”. Amigos, não foram só antigos camaradas. Outros se juntaram.  Com eles confraternizava fora dos muros daquela Unidade. Nos vários cafés, como “A Madrilena” (onde se encontrava empregado  o Vitor, então guarda-redes da Desportiva da Guarda), no “Caçador”, perto do quartel (que em 25 de julho de 1985 se transformou em restaurante marisqueira), no “Café Estrela do Bonfim” (onde uma vez fui ver o Festival Eurovisão da Canção, a preto e branco...), n’”O Monteneve” (conhecido como café dos doutores), n’“A Cristal”, ou nos mais populares para além da já referida “A Madrilena”, como “O Mondego”. E em encontros nas ruas da Cidade. E no velho Cinema.

No RI 12 ainda tentei integrar-me na Voz do Doze. Entretanto, tinha casado. Pretendia, assim, sempre que possível, ir para a Covilhã.  Deslocava-me algumas vezes de boleia porquanto o autocarro que fazia o transporte diário Guarda - Covilhã, partia cedo em relação às horas de saída do quartel.  Era a JOALTO – José de Almeida Tonico.

A “VOZ DO DOZE” era um programa radiofónico, militar, bissemanal, do Regimento de Infantaria nº. 12, produzido pelo Centro Informativo. “Pretendia ser ligação de amizade entre militares e civis e levar uma Mensagem de Confiança e União, baseado sempre no seu lema ‘FIRMES COMO ROCHAS’”. “A VOZ DO DOZE” orgulhava-se de ter sido o 2º. Programa Militar difundido então na Metrópole (ainda não tinha surgido o 25 de Abril). O primeiro era o da Escola Prática de Cavalaria, transmitido pela Rádio Ribatejo, segundo foi afirmado no “Fronteiros da Beira”, nº 8, de junho de 1971.

Ainda que não contestando esta asserção, o que é certo e verdade é que em 1968, em Tavira, no CISMI, existia a “RÁDIO CISMI”. Talvez tivesse sido emanada exclusivamente dentro daquela Unidade Militar. Recordo-me ter ali ouvido, já sem grande surpresa, a morte do senador dos Estados Unidos, Robert F. Kennedy. Foi assassinado no dia 5 de junho de 1968.

Voltando à VOZ DO DOZE”, ia para o ar, todas as 4ªs. feiras, pelas 18 horas; e sábados pelas 11,30 h. Gentileza da RÁDIO ALTITUDE. Com agrado dos militares e da população civil, para além da egitaniense. Dava-se relevo à vida da altura, antes da independência das colónias portuguesas. E também assuntos relacionados com as cerimónias na vertente da História de Portugal e vida da Unidade. Musicalmente, tinham sempre preocupação em apresentar as últimas novidades musicais nacionais e estrangeiras. Equipa responsável pelo programa: Comandante Interino, Major de Infantaria Casimiro Dias Morgado, Tenente Miliciano João Manuel Pais Trabulo (hoje Coronel na reserva), Alferes Miliciano António Manuel Pereira, entretanto já falecido e que era um dos meus amigos, e o 1º Cabo dos Serviços Religiosos, Leitão, de Manteigas, um outro amigo. Maria José era quem fazia a locução deste programa e Emílio Aragonez, responsável musical, na Rádio Altitude.

Entre os camaradas daquele final dos anos sessenta e início dos anos setenta, do século passado: várias vedetas do futebol covilhanense, Eduardo Prata e António Fazenda. E outros que a memória já rejeitou. Um deles, o Virgílio (já falecido) e o Feliciano, que da Desportiva da Guarda depois saltaram para o Gouveia e a Riopele, respetivamente, que chegou a militar a I Divisão Nacional.

Com o camarada e antigo colega na Escola Industrial e Comercial Campos Melo da Covilhã, António José Bicho Nogueira (radicado no Canadá), todos os dias rumávamos para a Covilhã no seu FIAT 600, juntamente com o Eduardo Prata e o Nuno Rato, do Teixoso.

Para terminar: Os meus parabéns ao semanário mais antigo da região – o Jornal “A GUARDA”, pelos seus 119 anos celebrados em maio de 2023. Só passados 42 anos eu veria a luz do dia e volvidos 67 saía o extinto boletim a que me refiro nesta crónica.

João de Jesus Nunes                                                                               jjnunes6200@gmail.com

(In Semanário “A GUARDA”, de 01-06-2023)