Nasceu em 2 de novembro de 1941
na freguesia de Santa Maria, do concelho da Covilhã.
Vindo a propósito, memorizamos um
extrato dum texto que inserimos no “Notícias da Covilhã”, de 11-04-2003, sob o
título “Crónicas da Rua Direita”, como segue:
“De facto, o mais antigo
empregado duma casa comercial sediada nesta rua, ainda no ativo, dá pelo nome
de José Manuel Brito. Sempre na Casa Dinis, onde entrou com 13 anos, e acabaria
por casar com uma sua colega, Helena Almeida. Este veterano já vai em quase
meio século de trabalhador por conta de outrem, e, nos seus 48 anos de ligação
aquela casa comercial, está como o Vinho do Porto, cada vez mais ativo a
trabalhar. Isto contrasta com outros mais novos, que, fruto de reformas
antecipadas, passeiam nessa condição, pela Rua Direita, quando há tanto
trabalho a desenvolver, ainda que gratuito, no meio associativo e até da
solidariedade social, cada vez mais necessária nos dias de hoje. Pois, o José
Manuel, como é conhecido, além da sua “enxada” quotidiana, ainda se dedica ao
associativismo, tendo pertencido a vários elencos, já lá vão 40 anos, no GIR do
Rodrigo, sendo o seu esforço inegável na colaboração que tem prestado em várias
atividades desenvolvidas por esta coletividade de prestígio. E como não sabe
dizer não a quem dele se abeira, também participou no trabalho de colaboração
nas profundas obras de melhoramento na Capela do Bairro do Rodrigo. Tem três
filhos que se orgulham do pai – um exemplo de trabalhador”.
Em fevereiro de 1962 foi chamado
para iniciar o serviço militar obrigatório, no CICA3, em Elvas, onde fez a recruta
e a especialidade de condução autorrodas, fazendo depois exame no Porto, no
Cavalaria 6. Seguiu ainda para Espinho e daqui para o BC6 em Castelo Branco,
onde foi mobilizado para a Guiné. Nesta colónia esteve durante dois anos,
regressando à Metrópole em junho de 1964, no navio Índia.
Ao desembarcar em Bissau no navio
Ana Mafalda, seguiu para Bafatá, onde permaneceu todo o tempo.
Como condutor auto participou em
várias operações no mato, onde lhe surgiram algumas emboscadas do inimigo (IN),
que, embora não o tivessem felizmente atingido, ainda viu morrer em combate
três camaradas, soldados do seu pelotão. Todos eles eram do Norte. Ainda passou
a poucos metros de uma mina, mas foi avisado a tempo por um seu camarada, pelo
que não chegou a pisá-la, o que provocaria o seu rebentamento, que seria
trágico e de consequências imprevisíveis. É que, entretanto, no Esquadrão de
Cavalaria de que fazia parte, houve muitos feridos nas várias ações de combate.
Veio a ser chamado para trabalhar
na messe de sargentos, para servir o pessoal, sem abandonar a condução auto.
De Bafatá foi ainda para
Bamadinga, onde, para aqui chegar, tiveram de atravessar o rio Geba, a pé, e,
noutros locais, em canoas, sem nunca existirem problemas apesar de haver
crocodilos. Chegaram mesmo a apanhar um crocodilo pequeno que levaram para o
quartel e o alimentaram, metendo-o num poço. Também muitos macacos foram
apanhados, sendo alguns levados para o quartel, a fim de serem domesticados.
Alguns camaradas trouxeram-nos de regresso mas acabaram por morrer devido ao
clima na Metrópole.
Mesmo assim, um dos sustos que
teve foi quando, estando de serviço, encontrou uma jiboia “surucucu” a qual se
encontrava num patamar com arame farpado, numa altura em que faziam uma ronda, com holofote fixo para ver se
viam o IN. Era de noite e foi morta pelo sargento.
Como foi referido, andou no mato
sempre como condutor, tendo-se sentido feliz por nenhum dos que o acompanhavam
terem tido qualquer problema, assim como na sua pessoa, mas, paradoxalmente,
sente-se triste ao ter visto morrerem outros camaradas, um deles quando lhe
faltava pouco tempo para terminar o serviço e regressar à Metrópole.
Sentiu sempre saudades da
família.
Terminado o tempo de serviço,
embarcou para a Metrópole e retomou a sua vida profissional na Casa Dinis.
Aos 81 anos, doente, faz a sua
vida calma, sempre muito acarinhado pela esposa, que lhe dá todo o apoio de que
necessita.
(In “O Combatente da Estrela”, nº.
131-JUL/2023)
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