7 de junho de 2023

GERAÇÕES

Há 17 anos escrevi um artigo num semanário covilhanense, sob o título “A Geração dos 60” (07-09-2006). Exatamente quando eu tinha essa idade.

 

Recordo hoje, com base no mesmo, os meus tempos de menino e moço. Antes do Concílio Vaticano II, as missas eram celebradas em latim. Havia alguns meninos do coro (na Covilhã só os via na igreja dos jesuítas, em São Tiago). O sacristão tinha de acompanhar, respondendo em latim. Agora há os acólitos. Na igreja de S. Tiago, como é mais conhecida, mas que tem o nome de Sagrado Coração de Jesus, havia, da mesma Ordem, “os Irmãos”. O último foi o irmão Gaspar, que ali esteve muitos anos, até ao seu falecimento. O celebrante, durante a maior parte do ato litúrgico, estava de costas voltadas para os fiéis. Tal qual como o iniciava. Voltava-se, breves segundos, como que para quebrar um longo silêncio, na pacificidade dos fiéis, com uma voz, por vezes vibrante: Dominus Vobiscum. Talvez acordaria um ou outro sonolento. Alguns fiéis acompanhavam a missa com as orações inseridas nos seus missais. O padre, de frente para os fiéis, só durante a homilia. E, obviamente, durante a Comunhão. Os homens ficavam separados das mulheres. Estas cobriam a cabeça com um véu. No templo, elas não usavam calças nem os vestidos eram de mangas cavadas, ou atrevidos, como vai acontecendo nos dias de hoje.

Havia o conluio Salazar/Cardeal Cerejeira que procurava manter o povo contente com a trilogia:  “Fado, Futebol e Fátima”.

 

O carteiro distribuía as cartas, com mais atenção que nos tempos que correm. Já quase não se escrevem. As oficiais ou que queriam incutir uma certa deferência, terminavam com a sacrossanta expressão: “De V. Exª., atento, venerador e obrigado”, e os ofícios: “A Bem da Nação”. Os funcionários públicos, eram obrigados a assinar um documento, com assinatura reconhecida notarialmente, onde declaravam: “Declaro, por minha honra, que estou integrado na ordem social estabelecida pela Constituição Política de 1933, com ativo repúdio do comunismo e de todas as ideias subversivas”

Foi nesta geração que a juventude, em Portugal, ameaçou o regime fascista e hoje, felizmente, tudo mudou. Mas muitos portugueses ainda abusam do poder, descontextualizando o sentido da liberdade, colocando fortes nódoas na democracia. Afinal, para que foi feito o 25 de Abril?

Estivemos então na geração baby boomer, ou seja, aquela época de aumento brutal da natalidade, que se seguiu à Segunda Guerra Mundial, entre 1946 e o final dos anos 1960. Outras se lhe seguiram:

Geração X – Aquelas pessoas que nasceram sensivelmente entre o final dos anos 1960 e o início dos anos 1980.

Geração YAs que nasceram sensivelmente entre o início dos anos 1980 e o final dos anos 1990.

Geração Z Aquelas que nasceram sensivelmente entre o final dos anos 1990 e a década de 2010.

Segundo Mariana Durães, in Público, de 23 de maio 2023, “o mundo dos encontros ‘é mais saudável’ para os que têm hoje entre 18 e 25 anos”. Na Geração Z estão determinados a ser “mais honestos, mais abertos e mais focados em dar prioridade à saúde mental”. Mas já Sara Vale, do mesmo diário, de 15-09-2021 referia: “A necessidade de ligação a alguém é uma das mais básicas do ser humano, tão natural como respirar. Começa ainda na barriga da nossa mãe e nunca mais termina até a vida acabar. Ao longo das nossas vidas temos vários tipos de relações, da família aos amigos, dos amantes aos conhecidos, e todas as outras no meio. Umas mais intensas, outras mais leves, umas mais longas, outras mais curtas, mas sempre com um denominador comum: o desejo de nos conectarmos e sermos aceites pelo outro. Como tudo na vida, as relações começam, desenvolvem e acabam”.  

Geração à Rasca Foi uma expressão usada pelo jornalista Vicente Jorge Silva em 1994 num editorial do jornal Público aquando das manifestações estudantis contra a então ministra da educação Manuela Ferreira Leite. Em 2011, a expressão foi reeditada, tendo sido ajustada como mote à manifestação de 12 de março Geração à rasca. As reivindicações eram na melhoria das condições de trabalho e o fim da precaridade.

E então diziam: “Em 1994, vínhamos ao mundo, em 2011 andávamos na faculdade com todas as limitações adjacentes ao facto de estarmos em recessão económica, e agora em 2020 quando finalmente víamos prosperidade na nossa vida, estamos órfãos de pensar e sonhar o nosso futuro, desta vez com aquilo que vimos e estamos a viver de mais próximo de uma guerra”.

 Estavam, então, à rasca aqueles com menos de 30 anos que, após 2011, terminaram a licenciatura e, como esta não dava para ingressar no mercado de trabalho, foram tirar mestrado. Começaram a trabalhar mais tarde e agora estavam à rasca pois eram os primeiros a ser dispensados das empresas onde trabalhavam.

Estavam ainda à rasca, aqueles que após concluírem os seus estudos foram para fora do país em busca de uma vida melhor e agora viam-se em quarentena forçada fora de casa, muitos a milhares de quilómetros de distância, pois não conseguiam voltar.

Estavam também à rasca aqueles que, após concluir os estudos, trabalharam e como tinham ambição constituíram a sua empresa, e, de um momento para o outro ficaram à rasca para pagar contas, e, sendo sócios-gerentes da sua empresa, nem direito a lay-off tiveram.

Geração “nem-nem” Número de jovens que nem estudam, nem trabalham. Segundo Rafaela Burd Relvas, in Público, de 26-05-2023, em 2022, Portugal conseguiu, pela primeira vez, superar a meta estabelecida pela União Europeia para 2030, apresentando uma taxa de jovens que não estudam nem trabalham abaixo dos 9%. O número de jovens entre os 15 e os 29 anos que não estudam nem trabalham (os chamados “nem-nem”) está a diminuir na União Europeia. Portugal está entre os que têm das mais baixas taxas de jovens “nem-nem”. Os dados são divulgados pelo Eurostat, que dá conta de que, em 2022, 11,7% dos jovens entre os 15 e os 29 anos na União Europeia eram “nem-nem”, o mesmo que dizer que mais do que um em cada dez jovens não trabalhavam nem frequentavam qualquer tipo de educação ou formação.

Portugal é o sexto país da União Europeia com a taxa mais baixa de jovens “nem-nem”, enquanto consegue superar a meta europeia de uma taxa abaixo de 9% até 2030.

Segundo a SIC notícias, da mesma data, estima-se que em Portugal existem mais de 190 mil nesta situação (8%), mas os números oficiais esclarecem que o país é um dos Estados-membros com melhor desempenho neste âmbito.

 

                            João de Jesus Nunes                                                                             


                                                                                         
   jjunes6200@gmail.com

(In “Jornal Fórum Covilhã”, de 07-06-2023)

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