Há 17 anos escrevi um artigo num
semanário covilhanense, sob o título “A Geração dos 60” (07-09-2006). Exatamente
quando eu tinha essa idade.
Recordo hoje, com base no
mesmo, os meus tempos de menino e moço. Antes do Concílio Vaticano II, as
missas eram celebradas em latim. Havia alguns meninos do coro (na Covilhã só os
via na igreja dos jesuítas, em São Tiago). O sacristão tinha de acompanhar,
respondendo em latim. Agora há os acólitos. Na igreja de S. Tiago, como é mais
conhecida, mas que tem o nome de Sagrado Coração de Jesus, havia, da mesma Ordem,
“os Irmãos”. O último foi o irmão Gaspar, que ali esteve muitos anos, até ao
seu falecimento. O celebrante, durante a maior parte do ato litúrgico, estava de
costas voltadas para os fiéis. Tal qual como o iniciava. Voltava-se, breves
segundos, como que para quebrar um longo silêncio, na pacificidade dos fiéis,
com uma voz, por vezes vibrante: Dominus Vobiscum. Talvez acordaria um
ou outro sonolento. Alguns fiéis acompanhavam a missa com as orações inseridas
nos seus missais. O padre, de frente para os fiéis, só durante a homilia. E,
obviamente, durante a Comunhão. Os homens ficavam separados das mulheres. Estas
cobriam a cabeça com um véu. No templo, elas não usavam calças nem os vestidos eram
de mangas cavadas, ou atrevidos, como vai acontecendo nos dias de hoje.
Havia o conluio
Salazar/Cardeal Cerejeira que procurava manter o povo contente com a trilogia: “Fado, Futebol e Fátima”.
O carteiro distribuía as cartas,
com mais atenção que nos tempos que correm. Já quase não se escrevem. As
oficiais ou que queriam incutir uma certa deferência, terminavam com a
sacrossanta expressão: “De V. Exª., atento, venerador e obrigado”, e os
ofícios: “A Bem da Nação”. Os funcionários públicos, eram obrigados a
assinar um documento, com assinatura reconhecida notarialmente, onde
declaravam: “Declaro, por minha honra, que estou integrado na ordem social
estabelecida pela Constituição Política de 1933, com ativo repúdio do comunismo
e de todas as ideias subversivas”
Foi nesta geração que a juventude,
em Portugal, ameaçou o regime fascista e hoje, felizmente, tudo mudou. Mas muitos
portugueses ainda abusam do poder, descontextualizando o sentido da liberdade,
colocando fortes nódoas na democracia. Afinal, para que foi feito o 25 de
Abril?
Estivemos então na geração baby boomer, ou seja,
aquela época de aumento brutal da natalidade, que se seguiu à Segunda Guerra
Mundial, entre 1946 e o final dos anos 1960. Outras se lhe seguiram:
Geração X – Aquelas pessoas que nasceram sensivelmente
entre o final dos anos 1960 e o início dos anos 1980.
Geração Y – As que nasceram sensivelmente entre o início dos anos 1980 e o final
dos anos 1990.
Geração Z – Aquelas que nasceram sensivelmente entre o
final dos anos 1990 e a década de 2010.
Segundo Mariana Durães, in Público, de 23 de maio 2023, “o mundo dos encontros
‘é mais saudável’ para os que têm hoje entre 18 e 25 anos”. Na Geração Z estão determinados a ser “mais honestos, mais abertos e mais focados em
dar prioridade à saúde mental”. Mas já Sara Vale, do mesmo diário, de
15-09-2021 referia: “A necessidade de ligação a alguém é uma das mais básicas
do ser humano, tão natural como respirar. Começa ainda na barriga da nossa mãe
e nunca mais termina até a vida acabar. Ao longo das nossas vidas temos vários
tipos de relações, da família aos amigos, dos amantes aos conhecidos, e todas
as outras no meio. Umas mais intensas, outras mais leves, umas mais longas,
outras mais curtas, mas sempre com um denominador comum: o desejo de nos
conectarmos e sermos aceites pelo outro. Como tudo na vida, as relações
começam, desenvolvem e acabam”.
Geração à Rasca – Foi uma expressão usada pelo
jornalista Vicente Jorge Silva em 1994 num editorial do jornal Público aquando
das manifestações estudantis contra a então ministra da educação Manuela
Ferreira Leite. Em 2011, a expressão foi reeditada, tendo sido ajustada como
mote à manifestação de 12 de março Geração à rasca. As reivindicações eram na
melhoria das condições de trabalho e o fim da precaridade.
E então diziam: “Em 1994,
vínhamos ao mundo, em 2011 andávamos na faculdade com todas as limitações
adjacentes ao facto de estarmos em recessão económica, e agora em 2020 quando
finalmente víamos prosperidade na nossa vida, estamos órfãos de pensar e sonhar
o nosso futuro, desta vez com aquilo que vimos e estamos a viver de mais
próximo de uma guerra”.
Estavam, então, à rasca aqueles com menos de
30 anos que, após 2011, terminaram a licenciatura e, como esta não dava para
ingressar no mercado de trabalho, foram tirar mestrado. Começaram a trabalhar
mais tarde e agora estavam à rasca pois eram os primeiros a ser dispensados das
empresas onde trabalhavam.
Estavam ainda à rasca, aqueles
que após concluírem os seus estudos foram para fora do país em busca de uma
vida melhor e agora viam-se em quarentena forçada fora de casa, muitos a
milhares de quilómetros de distância, pois não conseguiam voltar.
Estavam também à rasca aqueles
que, após concluir os estudos, trabalharam e como tinham ambição constituíram a
sua empresa, e, de um momento para o outro ficaram à rasca para pagar contas,
e, sendo sócios-gerentes da sua empresa, nem direito a lay-off tiveram.
Geração “nem-nem” –
Número de jovens que nem estudam, nem trabalham. Segundo Rafaela Burd
Relvas, in Público, de 26-05-2023, em 2022, Portugal conseguiu, pela primeira vez, superar a meta
estabelecida pela União Europeia para 2030, apresentando uma taxa de jovens que
não estudam nem trabalham abaixo dos 9%. O número de jovens entre os 15 e os 29
anos que não estudam nem trabalham (os chamados “nem-nem”) está a diminuir na
União Europeia. Portugal está entre os que têm das mais baixas taxas de jovens
“nem-nem”. Os dados são divulgados pelo Eurostat, que dá conta de que, em 2022,
11,7% dos jovens entre os 15 e os 29 anos na União Europeia eram “nem-nem”, o
mesmo que dizer que mais do que um em cada dez jovens não trabalhavam nem frequentavam
qualquer tipo de educação ou formação.
Portugal é o sexto país da União
Europeia com a taxa mais baixa de jovens “nem-nem”, enquanto consegue superar a
meta europeia de uma taxa abaixo de 9% até 2030.
Segundo a SIC notícias, da mesma
data, estima-se que em Portugal existem mais de 190 mil nesta situação (8%),
mas os números oficiais esclarecem que o país é um dos Estados-membros com melhor
desempenho neste âmbito.
João de Jesus Nunes
(In “Jornal Fórum Covilhã”, de
07-06-2023)
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