23 de dezembro de 2010

QUANDO OS SINOS TOCAM

Estamos no final de mais um ano, numa evolução paradoxalmente negativa, na parte que nos toca como portugueses, envoltos num mar de areia negra que nos lança nuvens nos olhos.

Sim, porque a areia branca, espelhada ao sol ridente daqueles dias d’outrora, vai passar a pertencer a centenas ou milhares de “patriotas” da obsessão, para si, dos bens de todos, mormente o metal nobre que faz o tesouro pesar nas suas albardas de aconchego, ainda que, a exemplo de D. João VI, possam fugir para o Brasil, de casaca engordurada e de frango assado no bolso.

Mas estes felizardos de um Portugal, ainda de brandos costumes – a precisarem de um Viriato dos Hermínios que lhes cocem as costas com cajado grosso – são os que, à fartazana, não sentem dó de quem pena para ter um mínimo com que se saciar e aos seus, como homens e mulheres dum pedaço do mundo, onde desejam viver com dignidade.

É a ânsia do aproveitar, do oportunismo governamental, autonómico, municipal ou autárquico, para juntar à ceia dos seus cardeais todos quantos podem arrebanhar um bom punhado desse ouro fino; ao invés existem aqueles que têm que passar a roer uma côdea e a comer o pão que o diabo vai amassar, como nos famigerados tempos de sol a sol.

E quando nas tertúlias político-sociais e nas “conversas em família” televisivas vemos certos senhores da política, envergando pelezinha de cordeiro em suas conversas, na defesa dos altos valores da cidadania, vimos depois a verificar que, lamentavelmente, são muitos desses mesmos que estão cheios de mordomias, duplicação de pensões, de salários e de empregos, de que não prescindem – nem se atrevem – de abdicar de algumas dessas regalias.

O desgraçado daquele que sempre levou uma vida com dignidade e soube inserir-se nos valores da vida, mas que um dia acordou dum sonho pesado, caindo no desemprego, e os seus também, e tenta encontrar oportunidades nos escombros das dificuldades mas não consegue e surge-lhe o desânimo, mais não tem, quantas vezes, que comer uma refeição, voltado de costas com vergonha de ser reconhecido, nas casas da solidariedade, enquanto que muitos dos que apregoam essa mesma solidariedade mais não fazem que assobiar para o lado.

Também muitos dos portugueses que agora tentam manter-se à tona de água foram traídos pelos nossos governantes, de há uns anos a esta parte, e não só do Governo presidido por um vendilhão de ilusões.

Os pobres dos nossos ricos, esses ricos sem riqueza, que aquilo que exibem como seu é propriedade dos outros, é produto de roubo e de negociatas, porque, na realidade, o dinheiro é que o tem a eles, e a verdade é que são demasiados pobres os nossos “ricos”, como o afirmou o poeta moçambicano, Mia Couto.

Aproxima-se assim, neste presépio da humanidade, e deste pedaço mais ocidental da Europa caminhando para a falência, mais um Natal, para lembrar o ambiente cristão do Deus Menino.

Mas o que seria deste pobre País envergonhado, tão mal tratado, governado por quem não percebe patavina da missão governativa, onde temos o quarto pior Ministro das Finanças Europeu, onde outros pregam como Frei Tomás, e, de algibeiras arregaçadas, vencendo, neste País de pelintras, salários superiores aos seus congéneres americanos, e de outros países ricos, e, depois “fogem” para altos voos duma Europa de ricos – e de ricos falidos – se não houvesse Natal durante todo o ano?

Esse Natal perene é do esforço de voluntários que no País ainda emergem, para um esforço comum, em favor daqueles que a Nação de muitos ricos transformou em muitíssimos mais pobres, seus concidadãos, mas que têm o direito a comer uma malga da mesma sopa dos senhores da abastança, ainda que disfarçada.

Um Feliz Natal, possível, e um Ano Novo com melhores ventos de mudança.



(In Jornal Olhanense, de 15 de Dezembro; Notícias de Gouveia, de 21 de Dezembro e Notícias da Covilhã, de 23 de Dezembro)

2 de dezembro de 2010

NOSTALGIA

 Na onda nostálgica que nos vai envolvendo, vão surgindo, de quando em vez, encontros memorizando esses tempos de outrora, com a esperança de reunir uns quantos apaniguados em redor de uma causa que os une, muitas vezes distantes, em décadas, no tempo.

Foi assim que, depois dum primeiro encontro se ter realizado há uns anos, surgiu o segundo jantar de saudade do extinto “Estrela de S. Pedro”, no dia 20 de Novembro.

As duas dezenas de participantes que confraternizaram, recordaram também fotografias de meninos e moços, em redor do então Centro de Recreio Popular Estrela Desportiva de São Pedro, cujo evento ocorreu num restaurante desta Cidade. Entre outras memorizações, um programa de festas do 17º aniversário da fundação do Estrela de São Pedro e 8.º da sua filiação na FNAT, datado de 16/11/1961.

O carinho que perdura nas gentes que conheceram o “Estrela”, e o viveram, quer como dirigentes, integrantes de peças teatrais, rancho folclórico ou em jogos de mesa, quer como atletas nas várias modalidades desportivas, para além do futebol, como o atletismo, levou a transpor para o papel alguns registos plenos de interesse sobre a génese do Estrela.

E foi de elementos recolhidos de Manuel Ricardo Sousa Torrão, de 80 anos, único fundador da Colectividade presente, dos pouco mais de quatro ou cinco vivos, que veio a informação.


A rapaziada da freguesia de S. Pedro, e não só, daquela época de meados dos anos quarenta do século XX, juntava-se, para cavaquear, numa varanda que, nesses tempos, então existia entre as Ruas Marquês d´Ávila e Bolama e Visconde da Coriscada, e, ali perto, a Rua da Estrela.

Quando chovia, era a loja de bicicletas do Julinho, filho do Francisquinho da Padaria, ali mesmo à esquina, onde hoje é o Restaurante Estrela (mais conhecido por Repolho) que dava guarida aos rapazes da sua idade, ele que também viria a ser fundador do Estrela.

A proximidade dos meios tecnológicos ainda se encontrava a léguas de distância no tempo, e ninguém sequer adivinhava que o homem haveria de um dia chegar à lua, e até a televisão, a preto e branco, só viria a surgir nos finais da década seguinte (1957).

Os bailaricos eram ao som de grafonolas.

O jogo da bola, com que germinaram a maioria das colectividades de bairro, era então o entusiasmo da rapaziada.

E, segundo conta Manuel Torrão, as primeiras bolas que utilizavam eram feitas por eles, procurando fio no lixo das abundantes fábricas de lanifícios da altura. Mas como não saltavam, iam ao Matadouro Municipal, então existente na Covilhã, buscar bexigas de animais que depois enchiam e às quais enrolavam o fio das lixeiras fabris, ficando assim as bolas a saltar.

Formou-se então a Colectividade à qual se deu o nome de Estrela de S. Pedro, dado o local onde se encontravam, que formava ali como que uma estrela, e também com o fim de evitar conflitos entre o grupo, já que uns eram do Sporting, outros do Benfica ou do Belenenses.

Resolvido o problema, o Julinho das bicicletas dava uma ajudinha para que se arranjassem umas bolas melhores e, então, passou a vender rebuçados do concurso de cromos do futebol. A quem saísse o “número da bola” levava a bola de cauchu (borracha), ele que sabia onde estava colado esse rebuçado…

Mais tarde, adquiriam as bolas velhas ao Sporting da Covilhã.

A primeira Sede da novel colectividade foi exactamente a loja do Julinho; daqui passaram para o salão paroquial, sendo o Padre Carreto que suportava o custo das bolas, mas tinham que resolver o problema da Sede pelo que passaram para a Rua do Ginásio, num prédio do Alberto alfaiate. Transferiram-se depois para um prédio perto da Rua Dr. Almeida Eusébio, por cima da Lavandaria Moderna, mas, por falta de dinheiro, tiveram que sair, tendo que se socorrer das instalações da FNAT (hoje INATEL), na R. Marquês d’Ávila e Bolama (prédio do Meneses), seguindo daqui para a R. Vasco da Gama (frente à Casa do Menino Jesus), e, por último, vieram a encerrar, por cima do local onde foi a primeira Sede provisória.

(In “Notícias da Covilhã” e “Jornal do Fundão”, de 02/12/2010, e a sair no Jornal “Olhanense”)











11 de novembro de 2010

ERNESTO CRUZ


(In Notícias da Covilhã, de 11/11/2010)

SPORTING DA COVILHÃ FAZ HISTÓRIA



Pela primeira vez na vida da prestigiosa e principal colectividade, não só da Covilhã como de toda a Beira Interior, foi assinalada uma página inolvidável, e diferente, de todo o seu historial, ao longo de 87 anos.

O evento que regista esta estória do clube covilhanense, deveu-se ao facto de, num caso único da sua já longa existência, terem surgido duas listas candidatas à sucessão directiva.

Depois do anterior Presidente da Direcção, e agora vencedor das eleições, ter sido constrangido a demitir-se, e com o surgimento de duas candidaturas, originou que os associados tivessem despertado para o interesse do seu Clube do coração, e, neste contexto, fruto das mesmas se terem envolvido em dinâmicas campanhas eleitorais, jamais vistas, reunindo cada qual figuras pujantes para uma vontade de fazer o melhor pela Colectividade serrana, ficou assim, pela parte dos associados, uma forte expectativa de ver o novo rumo que o SCC vai levar.

Efectivamente, foi a demonstração de que o Sporting Clube da Covilhã é acarinhado, não só na Covilhã e na Beira Interior, como de âmbito nacional, onde se fez eco destas eleições.

Num universo de 2216 sócios com capacidade eleitoral, vieram a votar 1087, ganhando a lista A, por maioria, liderada pelo actual presidente da Direcção que foi reeleito.

Algumas feridas profundas deixadas no âmbito da contenda que levou ao voltar de costas entre o Presidente da Direcção, agora reeleito, e o Presidente da Assembleia-Geral cessante, figura reconhecida internacionalmente pelos seus méritos, serão difíceis de dissipar, muito embora se fale em enterrar o machado de guerra.

Esperemos que o novo líder da Assembleia-Geral não passe a ser uma figura para ser emoldurada, quer dizer, “decorativa”, como pejorativamente o Presidente da Direcção reeleito intitulou o anterior líder deste órgão importante da Colectividade.

É de realçar o facto de, após conhecidos os resultados, toda a equipa liderada pelo candidato vencido, aceitando normal e democraticamente o veredicto dos associados, sem interesses pessoais mas com uma vontade indómita de ver o Clube no lugar que merece, e possuidores dum projecto invejável, se terem comprometido a manterem as suas vontades indómitas, numa perfeita coesão, e atentos, sobre a vida dos Leões da Serra, entronizados na figura do maior Presidente do SCC de todos os tempos – Ernesto Cruz – recentemente homenageado, a título póstumo.

Com a força destas eleições, o grande ganhador antecipado foi o Sporting Clube da Covilhã, pelo que se irá exigir total transparência e disponibilidade para que o número de associados cresça, e o fenómeno desportivo, num espírito ecléctico, floresça no seio do principal Clube da Beira Interior.

Depois desta atitude atenta dos associados do Sporting Clube da Covilhã, jamais os responsáveis pela condução dos destinos da nau serrana poderão defraudar o que prometeram, uma vez que o lugar dos Leões da Serra é na I Liga, duma forma sustentada, o que não quer dizer, que, para que tal aconteça, se tenham que aguardar décadas.



(In “Tribuna Desportiva”, de 2/11/2010; “Notícias da Covilhã” e “Notícias de Gouveia”, de 11/11/2010 e a sair no Jornal “Olhanense”)

10 de novembro de 2010

PROGRAMA DE REFLORESTAÇÃO LIBERTY - 10 DE NOVEMBRO DE 2010



Regressado da Herdade da Murteira, em Mouriscas, do concelho de Abrantes, com os meus companheiros de viagem, Pedro Carrola (Covilhã), Alexandre Nogueira (Fundão) e João Luís (Belmonte), onde, após as nossas plantações de freixos e cupressus, e a constatação da existência de variadíssima vegetação autóctone, como a giesta, rosmaninho, alecrim, esteva e medronheiro, entre outras, e já confortados, neste dia dez de Novembro do ano da graça de dois mil e dez, com o almoço na Escola Profissional de Desenvolvimento Rural de Abrantes, naquela herdade, tenho o prazer de redigir estas linhas, pelo significado especial que, para mim, se reveste.

Diz a sabedoria popular que “um homem só tem uma vida completa quando planta uma árvore, escreve um livro e tem um filho”. Ora, os meus referidos Colegas de viagem, e de profissão, já referidos, predispuseram-se a fotografar-me nas várias fases da plantação, e até o Grande Chefe (Administrador da Liberty, Dr. José António de Sousa) não se esqueceu de referir também o facto…pelo que vão os meus agradecimentos e a certeza que só hoje passei a ser “um homem com uma vida completa”, ou lá o termo que se assemelhe, depois de ter dois filhos, quatro netos, onze livros publicados, vai daí, ajudei a plantar 37 árvores das 2.500.

29 de outubro de 2010

REMINISCÊNCIAS

 
1 – Contrariamente ao que se passa, na sua generalidade, por este País fora, e no estrangeiro, as igrejas da Covilhã encontram-se encerradas após as liturgias matutinas – excepção quando existem funerais. Fugindo à regra, nesta excepção, estão as igrejas da paróquia da Conceição – a de S. Francisco e a do Rodrigo – proporcionando, assim, aos covilhanenses, a sua frequência, mas também aos turistas as suas visitas.

Compreendemos que actualmente existem perigos acrescidos fruto da marginalidade e do vandalismo que surge por estas paragens.

Vejamos a Igreja de Santa Maria, com muitos altares dignos de ser vistos. Algumas vezes, quando por ali passo, verifico alguns visitantes a olharem para o ar, enquanto que outros procuram localizar um possível horário de abertura daquele templo.

O assento da primeira pedra da Capella Mór da Egreja de Santa Maria Maior de Covilhan (com a grafia do seu tempo) teve a sua inauguração no dia 17 de Março de 1873. O programa da festividade que a inauguração encerrou, dizia assim: “Far-se-há annunciar a cerimonia às 7 horas da manhã, por uma girandola de foguetes, repiques de sinos da Egreja e Camara, e toque de phylarmonicas. Ao meio dia toque de sinos e outra girandola. Serão convidados – a Camara Municipal com os seus empregados, o Administrador e seus empregados, o Juiz de Direito e empregados do Juizo, o Delegado, sub-Delegado de Saude e Facultativos do Partido, o Commandante e Subalterno do Destacamento e subscriptores. A`s 4 horas e meia sae o prestito da Camara Municipal para o local da inauguração, indo em ultimo logar a Commissão. Chegados ao local da inauguração, se dará começo ao acto com a benção da primeira pedra, depois o Presidente da Commissão, dirigirá algumas palavras aos srs. convidados, e offerecerá a colher ao Presidente da Camara, ao Administrador do Concelho, ao Juiz e ao subscriptor Visconde da Coriscada: depois do que, se cantará o hymno da festa, e em seguida as phylarmonicas tocarão o hymno de Pio IX. Segue o prestito para a Egreja, onde, com as mesmas precedencias, se assistirá ao Te-Deum.

HYMNO

Exultai Ledos! Anjos Celestes! Ledos cantos da terra partindo

N’este acto em que Deus se compraz Vem unir-se do Céo ao folgar;

Novo gozo, prazer, alegria Correi Anjos, cantando á porfia

Este dia – festivo nos traz! Com a harmonia – que a terra soltar!”


 
2 – Memorizar o passado e afastando assim uma certa nostalgia, tem dado lugar a encontros organizados, regulares, geralmente anuais, entre grupos – os antigos alunos, os antigos professores, os antigos combatentes do Ultramar.

Mas também existem amigos de infância, dos seus tempos de adolescência e juventude, de determinado bairro, rua ou travessa, que, nos tempos de outra vivência, em que não se conheciam as novas tecnologias, e ainda não tinha surgido a televisão, viviam-se entretanto períodos de mais paz e menos turbulência social. Havia contudo as guerras coloniais mas desconhecia-se a marginalidade, a toxicodependência, e, numa certa paz (por vezes balofa) saboreavam-se mais os prazeres do campo e os passeios da juventude, em redor das paróquias.

Assim nasceu um encontro – há muito desejado – o Primeiro Encontro de Amigas da Travessa do Viriato da Covilhã, realizado no dia 2 de Outubro, no Entroncamento. Foi um dia inolvidável para as amigas de há mais de cinquenta anos, que ali se reuniram, num almoço, vindas da Covilhã, Castelo Branco, Abrantes, Vila Franca de Xira e Lisboa.

A permuta de fotografias antigas e as memórias do “Ecos da Paróquia”, do Padre Carreto, de S. João de Malta, freguesia de S. Pedro, foi deslumbrante.

Depois, terminou em Torres Novas, e com uma visita à feira dos frutos secos, ficando a esperança que, no próximo ano, se verifique o segundo encontro, mais ampliado.



(In Notícias da Covilhã, de 28/10/2010; Notícias de Gouveia, de 29/10/2010, e Jornal Olhanense)

12 de outubro de 2010

CONTENDA FORA DOS ESTÁDIOS

Pela primeira vez, a principal colectividade desportiva desta região beirã, vai apresentar-se a eleições, com dois candidatos. Realça-se assim a maior importância dedicada ao histórico Sporting Clube da Covilhã (SCC).

Que seja um acto dignificante para a nossa Cidade, já que de tudo o que se passar é o nome da Covilhã que ganha ou perde.

As atitudes indignas de alguns intervenientes, na última Assembleia-Geral do SCC, vieram a passar de “bestial a besta” o Presidente da Assembleia-Geral.

O SCC foi o meu Clube de sempre, desde os tempos em que, gaiato, não tinha dinheiro para ir ao futebol e aguardava pelos vinte minutos finais de abertura dos portões para entrar no “Santos Pinto”. Cá fora sofria com o resultado, e, depois, aguardava que os jogadores forasteiros saíssem. Era o tempo da antiga Primeira Divisão.

Como covilhanense, e sócio do Clube, não devo alhear-me dos seus problemas. Tenho pena que este desentendimento, que não é crise, tenha acontecido, já que sou amigo e tenho consideração pelas duas partes envolvidas – Presidentes da Assembleia-Geral e da Direcção do SCC.

Tenho a minha visão própria do Clube em geral e das suas pessoas. Não somos todos iguais. Vivemos em democracia e em democracia se devem resolver as questões.

Um dos actos que sei estar presente na mente dos Homens da contenda é a manutenção e desenvolvimento da formação das camadas jovens do SCC, pelo que há esperança.

O SCC merece voos mais altos direccionados para a I Liga, com pedras basilares que sejam activos do próprio Clube para poderem vir a ser mais-valias no futuro. Não podemos andar com situações latentes entre a manutenção e a descida de divisão do SCC. Será nesta visão que vou escolher o candidato.

É, no entanto, de lamentar que um Homem que deu muito ao Clube, em termos financeiros, nos tempos que correm – e poderá continuar a dar – tenha sido “apedrejado”, num esquecimento de que estes Homens não surgem com facilidade. E ele, do clube, nada necessita.

Quando eu procurava arranjar fundos para satisfazer a despesa tipográfica com o meu quarto livro sobre o SCC, foi António Lopes que, espontaneamente, se dispôs assumir o pagamento das suas despesas. Pagou as verbas em falta e o produto da venda reverte a favor do SCC.

António Lopes será sempre sócio benemérito, por mais escorraçado que seja, apesar de ter devolvido ao SCC todas as distinções que lhe foram concedidas.

Outros clubes, como soe dizer-se, andariam com o Homem nas “palminhas das mãos”.

E, como também é hábito dizer-se que “Santos da porta não fazem milagres”, cumpre-me, entristecido com a última Assembleia-Geral, apresentar parte do currículo de António Lopes:

- Conhecido sindicalista na Covilhã, aquando da grave crise por que passaram as Minas da Panasqueira, com grande actuação, alguns dias, junto á Câmara Municipal da Covilhã, durante a greve daquele sector mineiro; passou depois a empresário de sucesso, e é reconhecido pelo governo brasileiro – Estado do Rio de Janeiro –, com a atribuição da Honorífica Medalha Tiradentes – a mais alta condecoração do Estado brasileiro –, em 2001, registando mesmo a expressão de “humilde em sua grandeza e grande em sua humildade”, “importante cidadão do mundo”; título de “Cidadão do Estado do Rio de Janeiro”, em 2001; título de “Cidadão Campista de “Campos dos Goytacazes” – Brasil; sócio Benemérito da “Associação de garantia ao Atleta Profissional/RJ (Rio de Janeiro); reconhecido pelo Governo da Madeira, de Alberto João Jardim; Presidente da Assembleia Municipal de Oliveira do Hospital. Podem ainda ver o seu nome numa rua – Rua António Santos Lopes – Vila Franca da Beira.

Enfim, para além de muita acção benemérita noutros clubes e associações, nomeadamente de Unhais da Serra (e actualmente na Associação de Futebol de Castelo Branco), a sua benemerência estendeu-se também a algumas Associações de Bombeiros Voluntários.

E, com tudo isto, é este Homem desprezado e insultado?

Não consigo comentar tais condutas.

Aqui fica a minha contribuição para o esclarecimento das mentes desinformadas.


(In “Tribuna Desportiva”, de 12/10/2010 e “Notícias da Covilhã”, de 14/10/2010)

1 de outubro de 2010

Dignificação do Mediador Profissional de Seguros


(In Vida Económica – Separata de Seguros, em 1 de Outubro de 2010; e no Boletim Digital “Essencial Seguros”, respeitante ao mês de Outubro 2010)

AS MINAS DA PANASQUEIRA, SITAS NO CONCELHO DA COVILHÃ, EXISTEM HÁ 115 ANOS

O trabalho das minas é um dos mais difíceis e de grande perigosidade, em qualquer parte do mundo.

E, de vez em quando, surgem as notícias catastróficas em minas, com a perda de muitas vidas.

Há já algumas semanas que mais de trinta mineiros chilenos aguardam, num sopro de esperança, que possam ser salvos, a mais de setecentos metros de profundidade, enquanto que, por um pequeno tubo, e face às novas tecnologias, vão recebendo alimentação, roupa e o que é possível fazer lá chegar, já que são necessários alguns meses para que, com a perfuração para uma abertura, possam ser retirados, um a um, num acto hercúleo, todos os mineiros.

E, independentemente destes perigos, outra situação atraiçoa os mineiros, através das doenças inerentes a esta actividade, como a silicose, que afecta os pulmões destes trabalhadores, incapacitando-os para o trabalho, pois é a mais antiga e mais grave das doenças pulmonares, sendo a mais predominante à inalação de poeiras minerais.

Nas freguesias do concelho da Covilhã, vizinhas das Minas da Panasqueira, como São Jorge da Beira, Aldeia de S. Francisco de Assis, Sobral de Casegas e Casegas, e, por isso, com muitos dos seus habitantes a trabalhar naquela actividade, viam-se muitas famílias, nos primeiros anos da década de setenta, confrontados com a incapacidade, e até a morte, de muitos dos seus familiares, que ali ganhavam o sustento da família. Lá iam aguardando que chegasse o fim do mês para receberam as pequenas pensões vitalícias das Seguradoras, onde então as doenças profissionais se incluíam no âmbito dos acidentes de trabalho. Isso depois acabou e passou a Segurança Social a ser a responsável pelas pensões.

Após o 25 de Abril, com a reivindicação dos trabalhadores, não só da indústria de lanifícios, como de toda as outras actividades, chegou também a altura de forte contestação, com uma grande greve, prolongada, dos mineiros das Minas da Panasqueira, tendo-se deslocado à sede do concelho, e, junto da Câmara Municipal da Covilhã, permaneceram alguns dias, chegando a dormir em frente ao município, com a RTP, de um único canal (ainda aqui não chegava o 2.º canal) a fazer a reportagem. Ainda não existiam as televisões privadas, mas havia muitos jornalistas não só nacionais como estrangeiros.

À frente desses mineiros encontrava-se um forte delegado sindical, de nome António dos Santos Lopes. Esta figura haveria de ser, mais tarde, um grande empresário, tendo partido para a Madeira e Brasil, onde exerceu o seu negócio, sendo um empresário de sucesso, nos tempos difíceis que se atravessam.

Na Madeira chegou a ser presidente do clube de futebol, União da Madeira, e, actualmente, é o Presidente da Assembleia-Geral do Sporting Clube da Covilhã e seu segundo sócio benemérito.

Além do SCC, também aos bombeiros e outras colectivas, desportivas e não só, tem apoiado financeiramente, num acto de benemerência.

As Minas da Panasqueira haviam encerrado no ano de 1993 mas, após dias difíceis, surgiram novas perspectivas laborais, precisamente no ano em que completaram um século de laboração, em 1995, tendo reaberto uma vez que o valor do tungsténio, no mercado mundial de volfrâmio, atingiu um preço compensatório e favorável à exploração do minério.

Segundo um interessante trabalho de Fabião Baptista, inserido no “Notícias da Covilhã” de 21-04-1995, verificamos como tudo começou.



Com o Carvão vem o Volfrâmio



Decorria o ano de 1895.

O Inverno ia agreste. Lufadas de vento siberiano eram coadas pelas acerosas agulhas dos frondosos pinhais. Bátegas de água, fustigadas pela ventania, tamborilavam nas vidraças das janelas quase a desconjuntar-se. O rio Zêzere, esse apresentava enorme cheia, alargando as courelas e tapadas adjacentes ao leito do rio.

Indiferente a tudo isto, Manuel dos Santos, com os pés estirados em direcção ao calor acariciador que vinha da braseira, lia atentamente o “Diário de Notícias” .

A leitura era interrompida pela abrupta entrada de uma das suas filhas, que lhe anuncia a chegada do carvoeiro, o Pescão de Casegas. Manuel dos Santos manda entrar de imediato o homem, pois tem grande necessidade de falar com o Pescão.

“Olha lá, ó Pescão, nas terras onde costumas fazer carvão, nunca encontraste pedras reluzentes?”

- “Por sinal, patrão – retorquiu o carvoeiro – tanto na Panasqueira, como no Cabeço do Pião, tanto na Madorrada, como no Vale Torto, quando faço as “torgas”, aparecem sempre uns calhaus negros, lascados, muito luzidios e pesados e outros transparentes como o vidro. Todos eles brilham bastante à luz do sol. Se o patrão quiser, posso trazer-lhe uma “taleigada” deles, quando voltar com a nova saca de carvão”.

Manuel dos Santos, que vivia numa solarenga casa na Barroca do Zêzere, ao fundo do Povo e muito próximo da capela de S. Romão, indagou deste modo o seu solícito fornecedor de carvão, porque momentos antes havia lido no “Diário de Notícias” um anúncio chamando a atenção para a provável hipótese de existência em solo português de importantes jazigos de minérios, ainda por explorar.

Deste modo, no próximo fornecimento de carvão, o Pescão de Casegas lá trazia a prometida sacola, repleta de pedras negras, esverdeadas, amareladas, translúcidas, brancas, brilhantes e transparentes.

Manuel dos Santos era um abastado proprietário rural, homem muito vivido, deveras perspicaz e sempre metido em negócios.

Logo que teve na sua posse as tão ambicionadas “pedras”, foi de imediato a Lisboa, à direcção que vinha indicada no anúncio do “Diário de Notícias”, tendo-se avistado com o eng.º Silva Pinto, professor catedrático em mineralogia.

Procedendo às necessárias análises clínicas e laboratoriais, veio a saber-se que se estava na presença de enorme riqueza, pois o subsolo daquela região da Panasqueira escondia no seu seio um precioso jazigo de volfrâmio (as pedras negras, pesadas, lascadas e reluzentes), cassiterites, pirites e calcopirites (os penedos amarelo-esverdeados) e quartzo hialino (os minerais transparentes e parecidos com o vidro).

Aconselhado pelos analistas, Manuel dos Santos, ao regressar à Barroca do Zêzere, trata logo de comprar uma boa porção de terreno, registando de seguida uma concessão de minérios, em seu nome, com a denominação de Minas da Panasqueira.

Seria interessante ver o desenvolvimento desde grande negócio, que transcendeu Manuel dos Santos, deu trabalho a milhares de mineiros, por esses anos fora, com períodos áureos, mas temos que respeitar o espaço deste jornal.

No entanto, não quero deixar de registar que, no sítio designado “Mina Cimeira” se rasgaram as primeiras galerias, antes de 1910, e se em 1934, o número de operários era de apenas 759, subiu rapidamente para 2000. Em 1942, já era de 4457 e em 1943, de 5790. Se somarmos a estes números mais 4780 operários que se empregavam nos trabalhos do “quilo” (trabalhadores por conta própria, vendendo depois o minério à mina), as Minas da Panasqueira chegou a empregar 10.750 trabalhadores.

De 1942 a 1944, altura da II Grande Guerra Mundial, novamente a volframite conhece uma procura nunca dantes vista. O mercado mineiro desenvolve-se. É a época do “salta-e-pilha”.

Depois foi a grande crise. No dia 12 de Julho de 1944, o Governo proíbe, em território nacional, toda a exploração e exportação de volfrâmio. É o despedimento geral. Apenas ficam alguns operários para vigilância, conservação e reparação de todo o espólio que ficou inerte e paralisado.

Posteriormente, até aos dias de hoje, as minas voltaram a funcionar em pleno, com os “homens toupeiras” a arrancar às entranhas o precioso mineral, seguindo-se novamente crises e períodos de alguma estabilidade, como já foi referido.

(In Jornal O Olhanense, de 1 de Outubro de 2010)

23 de setembro de 2010

VASOS COMUNICANTES

Não é fácil competir no mundo do trabalho – seja do ponto de vista da entidade patronal ou no âmbito do trabalhador – com um sentido verdadeiramente honesto, enfrentando a direcção do sucesso, quando pelo caminho se deparam facilmente situações de ultrapassagens pela direita: oportunismo, jogos de influências, promiscuidade, corrupção, duplos empregos, a própria política em si, injustiças, temas que, aliás, são da actualidade, caindo numa banalidade face à sua predominância e incapacidade para os fazer dissipar.

Tal situação não existe só no nosso País, mas também na Europa, e em todo o Planeta, continuando a emergir cada vez mais, neste mundo globalizado.

Trabalhar com honestidade, num ambiente de rectidão, de verdade, seriedade e probidade de homens e mulheres verdadeiramente empenhados, como o define o substantivo, leva, como no sistema de vasos comunicantes, a uma harmonia no trabalho que inevitavelmente conduz à alegria de viver.

Mas, nos meandros desta vida do trabalho, da sociedade, do serviço cívico, vamos também encontrar a outra face da moeda, numa outra vertente, onde o assédio, o chico-espertismo, o aproveitamento político, a ganância, a sobranceria, e outros casos libertinos levam a que se harmonizem muito mais rápido – a serpente tentadora faz reluzir a maçã – como, também, no sistema de vasos comunicantes, os sinais exteriores de riqueza, os lucros ilegais, as benesses, a subida dos degraus do poder a qualquer preço, o não olhar a meios para atingir fins, o tráfico de influências.

“Há muita gente com vergonha da falta de vergonha que por aí impera. A vergonha é um dissuasor de comportamentos sociais pouco éticos”, nas palavras de Luís Campos e Cunha”. E continuou: “Quem não sente vergonha é porque não tem vergonha. É mau, mesmo muito mau, para a democracia e para todos nós. A vergonha, quando existe, é um dissuasor moral muito eficaz. Nesse sentido, penso que Portugal era menos corrupto há dez ou quinze anos do que é hoje em dia. A falta de resposta e a morosidade por parte da justiça e da investigação é embaraçante e conduz à impunidade”. (in “Público” de 20/08/2010).

Assim, segundo as previsões do FMI, o PIB per capita português ocupará em 2015 o pior lugar no ranking desde a adesão à UE. Em apenas dois anos foram destruídos mais de 200 mil empregos na economia portuguesa, de acordo com um relatório do Instituto Nacional de Estatística.

“É preciso que se saiba que os portugueses que têm trabalho ganham cerca de metade do que se ganha na zona euro, mas os nossos gestores recebem, em média, mais 32% do que os americanos, mais 22,5% do que os franceses, mais 55% do que os finlandeses, mais 56,5% do que os suecos, e são estas “inteligências” que chamam a nossa atenção afirmando que os portugueses gastam acima das suas possibilidades” (Manuel António Pina, in Jornal de Notícias, de 24/10/2009).

Depois, foi a bandalheira na atribuição do Rendimento Social de Inserção, sem controlo nem vigilância, e, assim, andámos todos nós a contribuir, durante muitos meses, para que os marginais, os toxicodependentes e outros afins beneficiassem sem contrapartidas do RSI. Li recentemente algures de que um burlão de seguradoras e alegado cabecilha de rede desmantelada por simular e provocar acidentes conseguiu apoio estatal. Até onde é que vamos com este estado de condutas?

Esperemos que o bom senso prevaleça em todo o sistema de vasos comunicantes deste nosso Portugal, para que tanto os que vivem na planície, como os que habitam no planalto, possam comer do mesmo pão, para que não seja mole para uns e duro para outros.

 
(In Notícias de Gouveia, de 20/9/2010, Notícias da Covilhã e Jornal do Fundão, de 23/9/2010)

16 de setembro de 2010

DEVASSIDÃO

Finalmente, e só após oito anos de assistirmos nos canais de televisão, ouvirmos pelas rádios, e pela leitura da diversa imprensa, os já enfadonhos relatos dos acontecimentos, denúncias verdadeiras ou infundadas, desculpas esfarrapadas ou não, revoltas de queixosos ou defesas de “tristes” inocentes, se chegou à leitura da sentença do famigerado Processo Casa Pia.

Ainda que as prisões a que foram condenados os cinco de seis arguidos fiquem suspensas face ao recurso para tribunais superiores, o facto é que, finalmente, se fez justiça.

Pessoalmente, face ao desencontro de vozes no seio dos diversos órgãos do aparelho forense, não acreditei que se chegasse às condenações dos arguidos, na forma em que surgiu a decisão do colectivo de juízes. Penso, também, que outros mais ali deveriam ser sentenciados.

Este julgamento marcou indiscutivelmente e, para sempre, a vida nacional.

Esperemos que agora a justiça, de quem o povo português colocava como das principais preocupações na vida de todos nós, em termos de credibilidade, possa dar um volte-face, fazendo mesmo justiça, sem casos judiciários, em tempo muito mais célere, deixando de ser uma das vergonhas nacionais.

Sabemos que existem muitos outros casos de abusos sexuais de menores não detectados e não denunciados, nomeadamente no seio das famílias.

Não compreendo como é que tendo o casapiano Américo Henriques denunciado, durante anos, os abusos sexuais na Casa Pia, só há oito anos, por força de uma notícia publicada no Expresso, é feito prisioneiro o primeiro de um dos cinco agora condenados – Carlos Silvino.

Depois de tudo o que aconteceu, com tanto de decisões como de indecisões, morosidade, a existência de condenações terá sido a melhor forma do sistema judicial se redimir perante a opinião pública na sua credibilidade.

Será que o Código Penal não terá de ser alterado na parte que diz respeito ao tempo de duração das penas, que, para casos graves, como estes, traduzem-se em hilariantes condenações face ao número exíguo de tempo a cumprir? E, nestes casos, não deveriam ser reduzidas face ao bom comportamento dos condenados, ao longo do tempo de prisão, mas tão só cumpridas globalmente?

Este País deixou de ser de brandos costumes. É ver o aumento de casos deste tipo, e outros, para os quais nem o exemplo de condenações serve para recear novas condenações.

E, depois, ainda surge o caso dos reincidentes, após cumprimento das penas.

Tem que haver mais severidade na sua aplicação, sem apelo nem agravo.

As notícias que nos fazem chegar os jornais são aterradoras sobre o que se passa em várias zonas, mormente de Lisboa, iniciando-se no crepúsculo, no Parque Eduardo VII, com a prostituição masculina e feminina, e ainda de menores.

Mas será que não é possível conseguir legislação no sentido de dar uma vassourada nesta desgraça toda?

Sinto confrangedoramente que os políticos actuais, quer do governo quer da oposição, não têm essa coragem, e, mais preocupados, em quem lhes dá votos, como os famigerados ridículos casamentos gays, para os quais até o católico Presidente da República seguiu o exemplo de Pilatos.

Será que as fotos de vítimas, como o exemplo que surgiu no Correio da Manhã de 1/09/2010, vendo-se apontar uma faca ao pescoço da vítima, são um exemplo dissuasor, ou de instigação à violência, para os jovens?

E, no mesmo jornal, na sua separata de Classificados, de vinte páginas, constatei que cinco são destinadas exclusivamente a publicidade ao sexo – os chamados “convívios”, com e sem fotos “delas”, num total de mais de um milhar, com predominância em Lisboa, Algarve e até onze na Covilhã.

Comentários para quê?

As vozes da moral e dos bons costumes que se pronunciem.



(In “Notícias de Gouveia”, de 10/09/2010; Jornal “Olhanense”, de 15/09/2010; e “Notícias da Covilhã” e “Jornal do Fundão” de 16/09/2010.

 

1 de setembro de 2010

CIDADE DA COVILHÃ: PORTA PRINCIPAL PARA A SERRA DA ESTRELA

Júlio César, Conde D. Julião, D. Rodrigo e a formosíssima Florinda – a CAVA – nome atribuído pelos mouros, são referências sobre a origem desta cidade laneira, fundada, segundo uns, no ano 41 antes de Cristo.

Na opinião de outros, a sua fundação remontará durante a dominação romana na Lusitânia, pelos anos 202 antes de Cristo a 409 depois de Cristo, na Costa dos Hermínios (Serra da Estrela).

Aqui foram lançados os fundamentos de muitas povoações em volta do Hermínio maior, a fim de atrair para as planícies os sucessores dos Celtas que, a exemplo de Viriato, resistiam com tenacidade à dominação romana.

Terá sido na planície – zona de Mártir-In-Colo – que a Covilhã surgira, com o nome de Sila Ermia ou Hermínia, origem, talvez, do nome dum dos famosos generais romanos – Silius, ignorando-se então as modificações que terá tido Sila Ermia.

Consta que nascera nesta terra, pelos anos 692, a formosíssima Florinda, filha do Conde Julião, que foi violada por D. Rodrigo, último rei godo.

D. Julião, pai de Florinda, prometeu vingar-se e abriu as portas aos mouros que tomaram a região e passaram a chamar CAVA (mulher perdida) a Florinda.

O povo, juntando o nome de CAVA a JULIANA, deu origem a CAVA JULIANA ou COVALLIANA e, com a evolução dos tempos, COVELIANA, COVILIANA, COVILLÃ, COVILHAN e COVILHÃ.

É esta terra ancestral capital portuguesa da indústria de lanifícios que sempre marcou presença activa no País, ao longo dos tempos.

Cidade laneira, com Homens da rija têmpera de Viriato, puseram em relevo sua acção, nos vários domínios, desde a literatura à arte, à ciência, ao trabalho e até ao martírio: Pêro da Covilhã, Frei Heitor Pinto, Francisco Álvares, Mateus Fernandes, Eduardo Malta, Morais do Convento, José Maria Veiga da Silva Campos Melo, entre outros.

São figuras muito importantes da Covilhã. Ultrapassando o centenário como Cidade (vai comemorar 140 anos no dia 20 de Outubro), mas milenária como Terra de trabalho e luta; importantes são também os trabalhadores e empresários covilhanenses que têm conhecido, aos longo dos tempos, dias difíceis, de grande sacrifício durante as várias crises que surgiram.

No entanto, estão empenhados num trabalho árduo mas eficiente que fez singrar para a ribalta europeia, empresas da cidade (muitas delas já extintas), salientando-se actualmente a grande empresa de lanifícios Paulo de Oliveira, Lda.

Da Covilhã medieval, fabricante de burel, à Covilhã de hoje, produtora dos mais finos tecidos de lã, há uma obra admirável, cimentada por sucessivas gerações de gente laboriosa e empreendedora.

Em Portugal, outra indústria não há que possa competir em antiguidade com a de lanifícios.

No entanto, as graves crises por que passamos, fizeram dissipar do mapa covilhanense e da sua região, centenas de fábricas, levando um formigueiro humano para o desemprego.

Ainda há poucos anos existia a 1.ª Fábrica Real, fundada por D. Pedro II, denominada Fábrica Velha, tendo pertencido à firma Campos Mello & Irmão. Sofreu várias remodelações ao longo do tempo, e até um incêndio, tendo sido fundada entre 1671 e 1681. Fora adquirida por José Maria Veiga da Silva Campos Melo, de ideias republicanas, em 1835.

Através da inteligência e preponderante acção deste Homem, criou condições sociais para os trabalhadores e, no plano cultural, fundou a Biblioteca Heitor Pinto, tendo sido a primeira biblioteca pública aberta fora de Lisboa, Porto, Coimbra e Évora.

José Maria Veiga Campos Melo aproveitou a oportunidade de ter como colega do colégio, em Lisboa, António Augusto de Aguiar, que era então Ministro das Obras Públicas, Comércio e Indústria, para que fosse fundada, em 3 de Janeiro de 1884 aquela que foi a primeira escola industrial do País, que viria a designar-se Escola Industrial e Comercial Campos Melo.

A 2.ª Fábrica Real/Fábrica Nova ou Real Fábrica de Panos, para a distinguir da Fábrica Velha, foi fundada pelo Marquês de Pombal, após a construção do edifício pombalino, em 1755.

As suas raízes ainda hoje existem. Os edifícios encontram-se completamente remodelados, pois existiram ali o Quartel de Infantaria 21 e, mais tarde, o Batalhão de Caçadores 2, sendo actualmente património, com instalações de excelência, da Universidade da Beira Interior, a qual se encontra ramificada por vários pólos e pela Faculdade de Medicina.

Esta “fábrica do ensino”, conforme referi no meu último texto, veio dar um grande contributo para absorção de muita gente que, em termos normais, poderia ocupar as fábricas de lanifícios, se a crise não fizesse desaparecer as mesmas.

A Universidade trouxe à Covilhã e Região avanços tecnológicos que são notórios nas várias empresas. Foram estabelecidos protocolos de cooperação com empresas da região, em estágios de obrigação curricular, sendo uma das principais vias de acesso ao mercado de trabalho para jovens que terminam o curso.

A Covilhã, “Cidade-Granja, Cidade Fábrica”, como lhe chamou Manuel Nunes Giraldes, é uma cidade de passado histórico invejável. Possui vários museus, entre os quais o Museu dos Lanifícios, na UBI.

Além das fábricas que outrora existiram em grande número, como a parte cultural (Escola Industrial, Biblioteca, UBI, associações culturais, com o maior número de agentes culturais do distrito de Castelo Branco), são o baluarte da Cidade-Lã.

O seu turismo, com um grande esforço para o seu aproveitamento, integra a Região de Turismo da Serra da Estrela, com sede na Covilhã, como o são outras organizações de âmbito nacional, caso do Clube Nacional de Montanhismo.

Com a Serra-Rainha junto de si, e em colaboração com o Parque Nacional da Serra da Estela é, e pode reforçar, a entrada para a grande montanha. Para isso, já existem muitas condições hoteleiras na Covilhã e região, de excelente qualidade e requinte. Já abriu o ano passado mas foi inaugurado este ano, um Hotel de excelência, na zona termal de Unhais da Serra.

Os visitantes, e não só, podem praticar os desportos de Inverno no maciço central, e não só, com a neve como atractivo, e, no Verão, o campismo de altitude e escaladas nas escarpas dos Cântaros, além de usufruírem de sossego paradisíaco de algumas zonas de montanha.

Motivado pelas excelentes condições de montanha, foi aqui que a Selecção Nacional iniciou a sua preparação para o Mundial 2010. E outras colectividades da I Liga já optaram também por esta região.

A Covilhã deixou de ter o inimigo natural – a sua interioridade – face a ter sido construída a auto-estrada A23. Necessita, contudo, duma outra com destino a Coimbra.

O visitante pode deslocar-se à Covilhã, e, aproveitando o ar puro da montanha, na sua deslocação à Serra da Estrela, apreciar a cozinha regional e deliciar-se com a sua paisagem, através dos vários miradouros, embora já quase não possa visitar fábricas de lanifícios, face aos seus muitos encerramentos, mas admirar as ribeiras, a cultura da sua região e as inovações, com praias fluviais e outros melhoramentos implantados por todo o concelho.

Na parte desportiva, existe a prática de várias modalidades, como o basquetebol, voleibol, futebol de salão, integrando alguns clubes os campeonatos nacionais, com destaque para o desporto-rei, através do seu maior representante – o Sporting Clube da Covilhã.

E, porque a pena com que redijo estas linhas se esquece do tempo e do espaço, fico por aqui, embora muito mais houvesse a dizer sobre a “Manchester Lusitana”.

 
(In Jornal “O Olhanense”, de 01 de Setembro 2010)

19 de agosto de 2010

COVILHÃ NA MÚSICA, NAS TRADIÇÕES E NA POESIA

Jamais se poderá afastar a realidade de uma Covilhã cultural, em vários domínios. Uma quase permuta imposta pela sociedade, quando ainda não se falava de globalização, surgida entre as fábricas laneiras de então, e, hoje, a grande fábrica do ensino – a Universidade da Beira Interior.

E, se desta cidade serrana brotam afluentes para engrossar o caudal do Zêzere, como as Ribeiras da Goldra e da Carpinteira, que integram a história da excelente panorâmica citadina, indo dar uma ajuda ao Tejo, também muitos jovens oriundos das várias escolas secundárias da Cidade, como a centenária Campos Melo, e, também, a Frei Heitor Pinto e das Palmeiras, foram grandes obreiros na sua passagem pela UBI, concluindo os seus cursos.

Alguns, emergiram como pirilampos, e hoje vingam no meio empresarial da região e nacional.

Dentre várias actividades, quer de âmbito municipal, quer de programa próprio das instituições, quero destacar, sem sombra de dúvida, a Banda Sinfónica da Covilhã, com uma centena de jovens músicos, vindos de vários pontos do País, e em grande parte naturais da região, que no dia 29 de Julho deram vida ao Pelourinho, sob a direcção do maestro convidado, Reinaldo Guerreiro. Mas a alma desta instituição é indubitavelmente o Prof. da UBI, Eduardo Cavaco, presidente e director artístico da Banda da Covilhã, com o apoio do Município Covilhanense.

Em plena noite de verão, foi um show que me fez recordar um concerto sinfónico a que assisti, também à noite, em frente ao Município de Viena de Áustria.

Outro espectacular evento, surgido no Parque da Boidobra, na noite de 31 de Julho, foi o FestiBoidobra – Tradições do Mundo, onde a freguesia e a cidade da Covilhã puderam assistir a um autêntico festival de cores e sons, com folclore internacional, e a presença, entre outros, dos Ranchos da Geórgia (excelente) e do México, os quais permaneceram por cá uma semana, período das festas promovidas pelo Rancho Folclórico da Boidobra, sobejamente conhecido pela sua alta qualidade, para a qual contribui o grande esforço e carinho da sua Direcção, liderada por Paulo Alexandre Machado Jerónimo.

A Covilhã é também uma Terra de poetas. Uns, covilhanenses de raiz, outros pelo coração.

Entre outros, José Corceiro Mendes, natural de Fóios, Sabugal, exerceu professorado na Covilhã e tirou o curso de debuxador na Escola Campos Melo, tendo fundado na Covilhã a Livraria CCC, que viria a ser extinta. Em 1971 emigrou para a Alemanha e, actualmente, acometido de doença grave, encontra-se num Lar em Setúbal.

Publicou três livros. Em 2009, o terceiro de poesia – “Farpas Neutrais”.

Maria Alice Mangana Monteiro é uma poetisa covilhanense. Apesar da sua idade avançada e doença do marido, encontra-se sempre de semblante sorridente e, de imediato, se lhe soltam uns espontâneos versos, bem ao jeito de quem sabe o que quer.

Publicou vários livros de poesia, e à mesma se dedicou desde jovem. Desde os cinco anos que declama poesia. Há cerca de 15 anos, por sugestão duma amiga, professora na Universidade de Coimbra, aproveitou alguns poemas que, introduzidos numas pastinhas, eram vendidos pelos estudantes, por altura da Queima de Fitas, a favor duma casa de infância.

Sempre que passa pelo meu escritório, vai um sorriso e uma poesia.

Maria Ivone de Jesus Pinto Manteigueiro Vairinho, já várias vezes referida nos meus textos, é uma poetisa nata covilhanense, radicada em Lisboa. É irmã do antigo atleta do SCC, Francisco Manteigueiro.

Tem um vasto currículo, que pode ser visto na Internet, tendo já publicado vários livros de prosa e poesia. Desde os 15 anos começou a escrever contos, peças de teatro, autos de Natal e poemas que foram publicados em diversos jornais e revistas, tendo ganho vários prémios.

Dá aulas na Universidade Sénior, de “Ler…e Dizer – Nove Séculos de Literatura Portuguesa/Poesia”.

Desde 2002 que é Presidente da Direcção da Associação Portuguesas de Poetas e Directora do Boletim.

Esteve recentemente no meu escritório, com o marido, Victor Vairinho. Por falta de espaço não posso desenvolver mais sobre a vida desta poetisa covilhanense.



(In Jornal Olhanense, de 15 de Agosto, Jornal do Fundão de 19 de Agosto e no próximo Notícias da Covilhã, de 2 de Setembro.)

22 de julho de 2010

A ACTA

Umas breves férias. Notícias do País, pela RTP Internacional. Tempo também para a leitura de um livro que é mais difícil fazer ao longo do ano – desta vez um de Saramago.
No barco, conseguimos ver o Portugal-Espanha, numa sala só para o nosso grupo de portugueses. Não invalidou, no final, uma ligeira provocação de um pequeno grupo de espanhóis; afinal iriam ser os campeões do mundial de futebol.
No regresso, já no avião, um ligeiro olhar por alguns jornais – La Tribune e El País. Sobre Portugal, só no espanhol se viu uma referência às divergências no norte do País com fotos de bandeiras de Espanha em Valença do Minho. Mas também uma notícia sobre o filho de Cristiano Ronaldo, com uma foto deste.
Uma observação nos fica dos motivos por que também os gregos se encontram em situação difícil: os seus campos de cultivo maltratados e uma indisciplina nas estradas, onde até nem o uso do capacete para os veículos de duas rodas é exigível, e, nos semáforos, o sinal vermelho é pouco respeitado. Mas a sua riqueza monumental é enorme, assim como os valores das figuras da sua antiguidade. Ficou-me na memória aquela expressão de Sócrates: “Só sei que nada sei”.
No meu carro fui encontrar o “Vida Económica”. Numa leitura em diagonal, registei algumas linhas do texto de António Vilar: “Compreende-se que os tempos não estão de feição para grandes alegrias e felicidades. Mas também é verdade que nós, portugueses, temos uma queda nefasta, permanente, para a depressão. (…) Esta realidade evidencia-se, designadamente, na leitura dos jornais e das notícias da comunicação social em geral, sobretudo dos artigos de opinião que se vão publicando. (…) Ora, é na pia em que todos andam a chafurdar que se cria a depressão da generalidade do país, de resto também pouco interessado, enquanto sociedade civil, quanto ao nosso destino colectivo e alheio. (…) Os portugueses só se mexem e apenas se mobilizam, ou reagem, perante a festa ou a tragédia. No entretanto cultiva-se o medo e a resignação por entre dias de crescentes dificuldades. (…) Vivemos num tempo de decadência. Um novo paradigma de vida há-de, porém, nascer, tem que nascer. Talvez das cinzas, no final, de uma vida a “fazer de conta”, egoísta e sem valores onde só contam interesses individuais ou corporativos, o lucro a qualquer preço e a gratificação imediata”.
Foi por isso que sugeri o título desta crónica. Por vezes, o medo ou a displicência levam a pouca reflexão, sobre os actos que devem ficar em registo para a posteridade.
Efectivamente, uma acta, segundo o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia de Ciências de Lisboa é o registo escrito dos actos ocorridos e das deliberações ou determinações tomadas numa sessão de qualquer assembleia.
Nos trabalhos de pesquisa, ao longo dos anos, sempre me debati com o grande problema de enormes omissões, sobre assuntos importantes, registados duma forma sintética, algo despercebida, por vezes contraditória, outras vezes sem princípio nem fim, o que deixa ao sabor dos ventos e das interpretações, os poucos registos existentes.
Uma acta deve registar com rigor o que se passou numa determinada reunião ou assembleia e, depois, aquando da sua aprovação, o registo das alterações julgadas pertinentes.
Também a acta tem por obrigatoriedade ser objecto de autenticidade, sendo sustentada pelo número de
elementos que dão lugar ao mínimo para que a mesma possa ser aprovada.
Vejamos o exemplo, hilariante, da elaboração de parte de uma acta (sem qualquer valor) durante o tempo de uma das várias crises por que passaram, neste caso, os nossos Bombeiros Voluntários da Covilhã, então no ano 1977: “Existindo vários assuntos para serem tratados, foi esta reunião deliberada somente pelo Director-Tesoureiro: (… ) pontos a deliberar: a), b),c),d), e), f), g), h), i), j)”. Como se pode verificar, foi efectuada uma reunião fantasma, pois não pôde ter qualquer valor, por falta de quórum. Existência de um único elemento da Direcção entre as paredes da sala onde foi redigida… Mas as suas deliberações, de um único e exclusivo elemento, presente na reunião, pelo mesmo marcada, não tiveram qualquer repercussão, já que, na acta seguinte, não foi feita qualquer rectificação.
A acta é, pois, um documento de primordial importância, para a história de um determinado organismo, pelo que os seus registos, além de mostrarem a face dos acontecimentos, devem também ser revestidos de autenticidade.


(In Notícias de Gouveia, de 20/07/2010, Notícias da Covilhã, de 22/07/2010, e Jornal “O Olhanense”.)

18 de junho de 2010

EXEMPLARIDADE

Na catadupa de temas que gostaria de apresentar neste espaço, por vezes o mais difícil é saber como começar. Lançando um olhar para as resmas de recortes de jornais, revistas e apontamentos, num amontoado mais ou menos cronológico, faz luz uma ideia, depois de banir outras que ficarão a aguardar oportunidade.

É que também no quotidiano nos surgem panóplias de assuntos que já nos entram por um ouvido e saem pelo outro, tal o descrédito por que vai o trabalho dos nossos políticos.

E, mesmo de alguns em quem pensávamos acreditar, ocupem eles os lugares com mais ou menos degraus na vida da Nação, já não nos dão espaço possível no pensamento para neles confiarmos, como povo pacífico e farto de esperar por uma vida que se projectara na esperança dum 25 de Abril.

A “exemplaridade” de atitudes, desde homens dos Partidos Políticos, Governo ou mesmo pelos “habitantes” da Assembleia da República, e seus periódicos “visitantes” ou “convidados” sob pressão, na defesa deste povo tão bem personificado nos Lusíadas, de Camões, traduz-se naquela frase proverbial de “faz o que eu digo, não faças o que eu faço”.

Exemplos? Milhentos! Desde os que vão às televisões, com semblante de defensores dos mais necessitados, e, depois, por detrás da sua cortina de falsidade na argumentação, aí estão as reformas luxuosas, que, só de cada um, davam para dezenas de salários mínimos nacionais; dos subsídios e prémios atentatórios da dignidade do pobre povo, que os vê por um canudo, e que tão acarinhado e apregoado é nas épocas de eleições.

Daquelas “migalhas douradas”, na maioria dos casos, muitos dos cidadãos têm uma sombra em salários anuais de um décimo das suas reformas ou vencimentos mensais.

Eles são um formigueiro de apaniguados, desde a direita à esquerda e ao centro. Eles são reformados, na política, com reformas de pasmar, algumas por invalidez, e, depois, surgem novamente em cargos políticos, com novos luxuosos salários, como se o Zé Povo se esquecesse.

Eles são familiares dos Srs. Presidentes da República, dos Srs. Primeiros-Ministros, dos Srs. Secretários de Estado, dos motoristas, dos assessores dos Srs. Ministros, dos Srs. Louçãs, que tiveram a dita de pertencerem a esses ditos cujos e “não têm culpa” que lhes arranjassem um tachinho tão a calhar, nos tempos que correm, que, isso da vozearia dos colegas, amigos ou vizinhos, é tão só aquela inveja habitual, pelo que o conselho para os afortunados é deixar passar a caravana.

Por isso, é preciso que o Zé-povinho volte a pronunciar-se e…”Toma! Que levas com o manguito!”

As utopias e os sonhos continuam por ser realizados.

Ainda sou, aquando da escolaridade, dos tempos dos “Quadros de Honra”, sem saudosismo dos mesmos tempos, mas, com saudade, sim, dos tempos em que os homens gostavam de mulheres, e estas gostavam dos homens.

E, nesta época de festa dos Santos Populares, cá vamos cantando e rindo, como outrora, e esperançados que os futebóis nos tragam alegria, com a nossa Selecção Portuguesa em terras sul-africanas – altura para o Governo das nossas desesperanças folgar um pouco – sem os energúmenos a chateá-lo.

Como é natural que eu esteja equivocado com tudo o que passei à pena, dita agora computador, vou ficar por aqui, e vou apoiar a Selecção. Viva a Selecção de Portugal!

 
(In Notícias da Covilhã, de 17/06/2010, Notícias de Gouveia, de 18/06/2010  e a sair também no Jornal “O Olhanense”)

3 de junho de 2010

“NÃO HÁ MACHADO QUE CORTE A RAÍZ AO PENSAMENTO”

Foi num clima de transbordante entusiasmo que no passado dia 27 de Maio se reuniu num jantar, no Centro Cultural e Social da Covilhã, um grupo de 34 antigos jocistas (movimento da Juventude Operária Católica), de várias gerações, organizado por actuais elementos da LOC/MTC (Liga Operária Católica/Movimento dos Trabalhadores Cristãos), para “interpretar o sentimento de amizade e reconhecimento”.

Este sentimento teve como único alvo a pessoa de um grande Covilhanense pelo coração – o Padre Fernando Brito dos Santos – que durante mais de três décadas foi assistente diocesano destes movimentos, em tempos difíceis da ditadura, tendo deixado bem vincada a sua personalidade de grande Homem, amigo, defensor dos mais pobres e desprotegidos e da classe trabalhadora.

Reunidos em ambiente de simplicidade, onde todos eram amigos, tal acto deixou marcas indeléveis para memorizar os movimentos operários católicos.

Tendo o Padre Fernando Brito celebrado as bodas de ouro sacerdotais em Agosto de 2009, os antigos e actuais militantes dos referidos movimentos desejaram manifestar-lhe o sincero agradecimento e a grande amizade.

Presentes dois coordenadores nacionais daquele movimento – Maria de Fátima Almeida (Braga) e José Rodrigues (Lisboa) – também marcou presença amiga Serafim Vieira, antigo dirigente livre da JOC, natural do Porto.

Estiveram ainda presentes, o Assistente Nacional do Movimento, Padre Emanuel Valadão e o Assistente Diocesano, Padre Joaquim António.

Foi esta manifestação tão importante quão sentida, a seguir à da despedida e substituição do Padre Fernando Brito, de Assistente deste Movimento, em 24/11/2001, no Seminário do Tortosendo, reunindo então centena e meia de amigos.

Interessantes terem sido passados dois álbuns recordando algumas fotografias de actividades e participações dos antigos jocistas, verificando-se algumas notícias de jornais com a intervenção em assembleias de antigos elementos, de há quase meio século, e ali presentes.

E também as peripécias por que passaram alguns elementos, nas décadas de sessenta e setenta do século passado, reunidos no Centro Cultural, no 1.º de Maio, tratando de assuntos do movimento operário católico, e com a Pide a entrar-lhes pela sala dentro, tendo o Padre Fernando conseguido dar-lhes a volta, passando a conversar num tema totalmente descabido para o assunto que tratavam mas que os presentes logo compreenderam ser a forma de ludibriar os homens da PIDE.

Nas conversas de cada um – e vieram de várias zonas da região, como Unhais da Serra, Tortosendo, Teixoso – foram recordados alguns antigos elementos dos movimentos operários católicos, já falecidos, como a Irene Pereira.

O Padre Fernando agradeceu, na sua simplicidade, deixando o seu desejo de que aquela reunião de amigos ao menos servisse para reforçar a abertura do caminho na continuação do movimento baseado nos valores cristãos.

Depois de efusivamente entoarem cânticos jocistas, todos de despediram com grande entusiasmo pelo que se passou neste memorável encontro de amigos.


In Notícias da Covilhã de 3 de Junho de 2010