Fiz a minha instrução primária na Escola do “Asilo –
Associação Protetora da Infância Desvalida”, como se designava, sita numa zona
estreita da Rua Combatentes da Grande Guerra, na Covilhã, na década de
cinquenta.
Escola só para o sexo masculino e, como eu, também havia
muitos meninos com aquelas malas de cartão, com fecho e uma tira para as
costas, como se usavam na altura.
Na sua maioria, rapaziada de fracos recursos financeiros (um
chegou a andar descalço!),mas com mistura de uns quantos bem remediados, alguns
os considerávamos “os meninos ricos”.
Quase todos almoçávamos na cantina da Escola que se situava
na sala onde estava instalada a Biblioteca Heitor Pinto, em frente da minha sala
de aula, com janelas para a rua de acesso à escola. Na 2ª classe tive três
professoras que se iam revezando, para substituir o Professor Raúl, que entrara
de baixa (o tal que dava reguadas no rabo, com os rapazes de joelhos e mãos no
chão, até que saiu da escola); depois, o professor Gadanho e, por último, o
professor Tendeiro, então na 4ª classe.
Na outra sala, ao lado, nas traseiras, exerceu a sua missão,
durante vários anos ininterruptos, o professor Manuel Poeta.
Esta Associação foi criada no reinado de D. Luís por volta
de 1870. Destinava-se à criação de um asilo, chegando a ser inaugurado em 25 de
julho de 1871,mas a falta de utentes levou a ser substituído por uma escola
destinada à instrução primária, e uma biblioteca.
A escola funcionou durante quase um século, sendo extinta em
1968, tendo passado a Atividades de Tempos Livres até que encerrou
definitivamente.
A biblioteca – Biblioteca Heitor Pinto – com fundo
documental estimado em cerca de 3,383 monografias, foi transferida para a
Biblioteca Municipal da Covilhã.
O principal fundador desta Associação foi o Visconde da
Coriscada, Francisco Joaquim da Silva Campos Melo, vários industriais e também
o fundador da Escola Industrial, José Maria Veiga da Silva Campos Melo.
Muitas foram as dedicações pela causa da instituição, não
esquecendo o carinho com que a família Campos Melo por ela teve.
De facto, no meu tempo, o então diretor da Escola Industrial
e Comercial Campos Melo, Engº. Ernesto de Melo e Castro, era a alma e o líder
daquela instituição, surgindo sempre com sorriso para com a rapaziada do Asilo,
assim como a sua esposa, D. Gonzaga.
Antes do Natal, o colaborador do Asilo, a tempo parcial, Sr.
Belmiro, funcionário da Subdelegação de Saúde, que se situava na Rua Capitão
Alves Roçadas, onde existiu um estabelecimento de fazendas, perto da Igreja de
S. Tiago, passava uma revista por todos os alunos do Asilo mais pobres, para,
depois, irem em grupos, a determinado sapateiro tirar as medidas para lhes
fazer as botas, oferecidas pelo Natal. Outros, recebiam camisolas.
Para além da aprendizagem dos programas da instrução
primária (programas únicos, durante anos, na altura do Estado Novo), aos
sábados, na primeira hora da manhã havia uma aula de Religião dada por uma
freira, ou pelo pároco de S. Francisco, Padre José Andrade. A seguir, ainda de
manhã, havia instrução da Mocidade Portuguesa (MP), umas vezes por um sargento
do então Batalhão de Caçadores 2, ainda em funcionamento, outras vezes por
alguns graduados da MP da Escola Industrial, como o Machado, do Teixoso, já
falecido.
No 1º de dezembro, e nas Procissões dos Passos e do Enterro
do Senhor, havia um desfile pela cidade, e a participação nas procissões,
fardados, conjuntamente com os estudantes da Escola Industrial e do Liceu.
Pois bem, a propósito das memórias desta Escola Primária – o
“Asilo” – como sempre foi conhecida, o antigo aluno José Alberto de Jesus
Almeida convidou o seu antigo colega de carteira, o fadista Nuno da Câmara Pereira, para um almoço de memórias, com
quantos se queiram juntar neste evento, seguido
de uma visita ao Asilo, no dia 19 de abril (sábado).
Nuno da Câmara Pereira, que viveu na Covilhã um ou dois
anos, ficou sensibilizado com o convite, recordando que, no “Asilo”, havia
muitos colegas pobres e era uma instituição de cariz solidário, propôs-se
também, por sugestão do José Alberto Almeida, atuar graciosamente, com seu irmão Gonçalo da Câmara Pereira, às 21
horas, no Teatro Municipal, a favor da Associação Portuguesa de Deficientes –
Delegação Distrital de Castelo Branco, numa ação designada “abril
Solidário”, com o apoio logístico da Câmara Municipal da Covilhã.
Sabe-se que estes dois eventos, que são isolados nas suas
intenções, estão a ter uma aderência muito interessante.
Assim, para que se possam organizar convenientemente os dois
eventos, solicita-se que os interessados
em estar presentes façam desde já as suas reservas para o José Alberto Almeida,
pelo telemóvel 912650058.
O almoço, com a presença do fadista Nuno da Câmara Pereira,
é só destinado aos antigos alunos e professores do Asilo.
Vamos recordar os antigos tempos da Primária, desta antiga
escola secular!
(In "fórum Covilhã", de 28.01.2014, e "Notícias da Covilhã", de 30.01.2014)
3 comentários:
Bonita homenagem a uma Escola da Covilhã.Eu,embora sendo daqui natural-S.Pedro já que nasci na casa dos meus avós maternos na Rua Direita nº67,fiz os 3 primeiros anos escolares em Lisboa,onde os meus pais residiam,na altura.Fiz,no entanto o exame da 3ª clase já na Escola Central,com o professor Alexandre.Depois a 4ª classe na Escola dos Penedos Altos,com a professora Dª Delfina Xavier.
Obrigado pelo seu comentário. Um abraço.
Descrição perfeita do "Asilo", onde eu também estudei durante 4 anos, o Professor Poeta, ainda foi do meu tempo. O meu primeiro professor foi o Prof Alexandre, na 2ª classe uma professora que não recordo o nome, e nas 3ª e 4ª classe o professor Joaquim, marido da minha antiga professora, e quer a régua, quer a varinha na parte de trás dos joelhos, quando íamos de calções, era a sua grande especialidade. Parabéns pela iniciativa.
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