20 de dezembro de 2023

MAIS UM NATAL E UM NOVO ANO

 

Para esta minha última crónica deste ano de 2023, para o Jornal Fórum Covilhã, vou reportar-me ao papel da MULHER, ao longo dos tempos bíblicos. Ela que tem sido tão massacrada com as atuais guerras. É uma síntese retirada dos Evangelistas e de outras figuras da Igreja. Referências, muitas das quais os católicos poderão ir ao encontro do reforço da memória, que, implicitamente, não deixam de se inserir no contexto da época natalícia.  Se na sua maioria são figuras de relevo pelo seu sofrimento, humildade, submissão, outras há que foram intoleráveis pelas suas repugnantes condutas.

Entretanto, a boa notícia, em contraponto com as guerras lamentavelmente surgidas, e tão faladas, foi a aprovação do acordo inédito para abandono dos combustíveis fósseis, acordo este de mais de 200 países na COP28.

Aproximamo-nos a passos largos de mais um final de ano. Muitos de nós iremos brindar à aurora de um novo início da Terra à volta do Sol. Esperança é sempre a palavra mais consistente, adequada, para um porvir que desconhecemos.

Não vou assim referir as terríveis guerras de que uma considerável parte do mundo diabolizado parece desejar, pois que ainda umas não terminaram já outras emergiram.

Tampouco direcionar-me para este depauperado país à beira-mar plantado e tão maltratado, onde não sabemos em quem confiar. Todos apregoam que as suas promessas são de autenticidade sacra. Onde estão aqueles que respiram o sentido da verdade e não o devaneio que se oculta no seu íntimo?

E o que se passa na nossa Cidade da Covilhã, onde os comerciantes da zona sul, junto ao Centro Comercial da Estação, por exemplo, se queixam do desprezo a que são votados, com o estacionamento de viaturas ali pago, e, igual desprezo pelas iluminações de Natal com que foram contemplados, com um zero de iluminação, dando azo a que só na zona do Pelourinho se pudesse gastar uma mão cheia do pilim que certamente irá fazer falta em vertentes da solidariedade. Veja-se o que acontece com os necessitados que rodeiam com insistência as Conferências de São Vicente de Paulo.

Mas vamos ao assunto a que inicialmente me referi. Em primeiríssimo lugar o nome de Maria, a jovem Virgem que veio a ser a Mãe de Jesus, e que em variadíssimas ocasiões vai surgir em muitos momentos. Ao invés, outra Maria, chamada Madalena, que, com Joana, mulher de Cusa, administrador de Herodes, Susana e muitas outras seguiam Jesus e os discípulos. - Job teve sete filhos e três filhas. À primeira deu o nome de Pomba, à segunda o de Cássia e à terceira Azeviche. Não havia na região mulheres mais belas do que as filhas de Job. - Marta recebeu Jesus em sua casa. Sua irmã era Maria. - Abraão teve dois filhos, um da escrava, Agar, e outro da mulher livre, Sara. - Morava na Babilónia um homem chamado Joaquim. Tinha desposado uma mulher chamada Susana, muito bela e temente ao Senhor. - O homem deu o nome à mulher de Eva, porque ela foi a mãe de todos os viventes. - Maria disse ao anjo: “Como será isto, se eu não conheço homem?” E a tua parenta Isabel concebeu também um filho na sua velhice. - Judá gerou, de Tamar, Farés e Zara; Salmon gerou, de Raab, Booz; Booz gerou, de Rute, Obed. David, da mulher de Urias, gerou Salomão. Matã gerou Jacob; Jacob gerou José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, chamado Cristo. - Ana tomou Samuel consigo. - A sogra de Simão Pedro, Serafina, estava de cama com febre. - Os noivos das Bodas de Caná da Galileia, eram Samuel e Susana.  - Evoco a lembrança da tua fé sincera, que também foi a da tua avó Lóide e da tua mãe Eunice. - Herodes mandara prender João e algemá-lo no cárcere, por causa de Herodíades, a esposa de seu irmão Filipe. - Uma mulher, cuja filha tinha um espírito impuro, ao ouvir falar d’Ele, veio prostrar-se a seus pés. A mulher era pagã, siro-fenícia. - Naqueles dias, a rainha Ester, tomada de angústia mortal, procurou refúgio no Senhor.  - Veio uma mulher da Samaria para tirar água. Respondeu-lhe a samaritana: “Como é que tu, sendo judeu, me pedes de beber, sendo eu samaritana?”. - “Em verdade vos digo que havia em Israel muitas viúvas no tempo do profeta Elias, quando o céu se fechou durante três anos e seis meses e houve uma grande fome em toda a Terra; contudo, Elias não foi enviado a nenhuma delas, mas a uma viúva de Sarepta.  - Estavam ali a observar de longe, muitas mulheres que tinham seguido Jesus desde a Galileia, para O servirem. Entre elas encontrava-se Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu Estavam junto à cruz de Jesus sua Mãe, a irmã de Sua Mãe, Maria, mulher de Cléofas e Maria Madalena. - Naqueles dias, o anjo do Senhor disse a Filipe: “Levanta-te e dirige-te para o sul, pelo caminho deserto que vai de Jerusalém para Gaza”. Quando ia a caminho, encontrou-se com um eunuco etíope, que era alto funcionário da Candace, rainha da Etiópia. - No sábado, saímos pelas portas da cidade, em direção à margem do rio, onde julgávamos que havia um lugar de oração. Sentámo-nos e começámos a falar às mulheres ali reunidas. Uma delas, chamada Lídia, escutava-nos com atenção; era negociante de púrpura, natural da cidade de Tiatira. - Encontrou lá um judeu chamado Áquila, natural do Ponto, recentemente chegado de Itália, com Priscila, sua mulher. - Sob o reinado do rei Saquerdão, voltei para minha casa e foi-me restituída a companhia de minha mulher Ana e de meu filho Tobias. - No mesmo dia sucedeu que Sara, filha de Raguel, que vivia em Ecbátana da Média, também foi insultada por uma serva de seu pai.  - Naqueles dias, Ana, mulher de Tobit, estava sentada, percorrendo com a vista o caminho por onde seu filho Tobias devia voltar. - Isaac tinha voltado do poço de Laai-Roi e habitava na região de Negueb. Uma vez que ele saíra a passear pelo campo à tardinha, ergueu os olhos e viu uns camelos que acabavam de chegar. Rebeca, sua prima, ergueu também os olhos e viu Isaac. Ele desceu do camelo e perguntou ao servo: “Quem é aquele homem que vem a correr pelo campo ao nosso encontro?” O servo respondeu: “É o meu Senhor”. Rebeca tomou o véu e cobriu-se. O servo contou a Isaac tudo o que tinha feito. Isaac introduziu Rebeca na tenda de Sara, sua mãe. Depois, casou-se com ela e amou-a. - Naqueles dias, Maria e Aarão censuraram Moisés por causa da mulher etíope que ele tomara como esposa. Maria cobriu-se de lepra, branca como a neve. Aarão voltou-se para ela e viu que estava leprosa. - No tempo em que os juízes governavam, houve uma fome no país. Certo homem deixou Belém de Judá e emigrou para os campos de Moab, com a mulher e dois filhos. Elimelec, marido de Noémi, faleceu e ela ficou só com os seus dois filhos. Ambos casaram com esposas moabitas, uma chamada Orpa e a outra Rute. Depois, Booz desposou Rute que se tornou sua mulher e ela deu à luz um filho. As mulheres disseram a Noémi: “Bendito seja o Senhor, que não te recusou hoje quem assegurasse a tua descendência. O seu nome seja celebrado em Israel! Será a consolação da tua alma e o amparo da tua velhice, pois nasceu da tua nora, que é tua amiga e vale mais para ti do que sete filhos”. Noémi tomou o menino ao colo e foi ela que o criou. As vizinhas deram nome ao menino, dizendo: “Nasceu um filho a Noémi”. E deram-lhe o nome de Obed, que viria a ser o pai de Jessé, pai de David.

Muitos outros nomes de MULHERES ficaram na história da Igreja, que não foi possível abarcar no espaço de um jornal, e outras ficaram conhecidas tão só pelo nome das suas terras, como a viúva de Naim.

Ficamos por aqui neste ano que agora vai terminar. Foi uma honra escrever neste prestigiado e dinâmico Semanário. Voltaremos em 2024, se Deus quiser. Vão assim os meus votos de um Santo Natal e um Novo Ano pleno de saúde e paz, para todos os Prezados Leitores, seus Familiares, Amigos e Obreiros do Jornal Fórum Covilhã e Rádio Fórum.

 

João de Jesus Nunes

jjnunes6200@gmail.com

(In “Jornal Fórum Covilhã”, de 20-12-2023)


19 de dezembro de 2023

LEMBRAR CAMILO E EÇA DE QUEIRÓS - I

 




Neste último número do ano 2023, despeço-me dos Prezados Leitores e Amigos, recordando dois consagrados autores portugueses, prometendo voltar no novo ano, se Deus o permitir.

CAMILO CASTELO BRANCO (1825 – 1890)

Infância triste e adolescência leviana. Vida turbulenta no Porto. Os últimos anos em S. Miguel de Ceide.

Mulher, Joaquina Pereira. Uma transmontana se cruzou com ele, Maria do Adro. Ao morrer a mulher, Joaquina Pereira, os seus olhos lúbricos foram cair numa rapariga órfã, Patrícia Emília. Raptou-a e foi preso. Prende-se de amores vários mas efémeros. Encontra num baile a que viria a ser a sua mulher, Ana Plácido, mas, entretanto, esposa do conselheiro Pinheiro Alves. Este instaurou um processo aos adúlteros. Os dois amantes andaram foragidos e vão para a cadeia. Aqui esteve Camilo um ano a escrever o “Amor de Perdição”.

A loucura do filho, a notícia da morte de pessoas íntimas, a velhice e a cegueira incurável leva-o a pôr termo à vida em 01-06-1890.

A obra literária de Camilo chegou até nós em centenas de volumes. Cultivou os mais diversos géneros: poesia, teatro, romance, o conto, crítica literária, investigação histórico-genealógica, polémica, jornalismo. Foi no romance, género que deveras se notabilizou.

Camilo Castelo Branco imaginou muito e observou pouco. Se Camilo tivesse sido um bom observador, talvez tivesse evitado o principal senão dos seus romances: a monotonia. Mas tal não acontece porque se limitou a imaginar.  Daí a deceção que sofremos aos vermos repetir-se, de novela em novela, quase sempre o mesmo esquema romanesco.

Nestes romances, há personagens que, à semelhança dos de Herculano, encarnam ao vivo o ódio ou o amor – o remorso ou a vingança.

Camilo despreza o ambiente geográfico, e põe em relevo apenas o elemento humano, ao contrário de outros. O que queria era fazer rir ou chorar e pouco se importava com a pintura da paisagem. Com as coisas que fazem chorar vai construir o romance passional; com as coisas que fazem rir, o romance satírico.

Camilo era plebeu. Por isso, jamais pôde encarar com simpatia a conceção de vida de certos tipos sociais cuja imensa vaidade, ânsia de gozo e colossal fortuna estavam na razão direta da estupidez e da falta de senso.

No romance camiliano, a posse da mulher anda geralmente ligada à ideia de crime, à ideia de pecado. Um enredo amoroso entre solteiros, a terminar na igreja como o trata Júlio Dinis, não interessa muito a Camilo. Aí não vislumbra dramatismo. Ele prefere homens sedutores e mulheres vítimas. Tem fatalmente de misturar o amor com a ilegalidade. Por isso, o que é a mulher no romance passional de Camilo?

Quando em 1875 Camilo começou a redigir as Novelas do Minho, já a escola realista se vinha impondo, há anos, ao público português. Nesse ano saiu O Crime do Padre Amaro, de Eça de Queirós, escrito, no entanto, em 1871. E eram bastante lidas as obras de Flaubert, Balzac e Zola.

Camilo lera os romances de Júlio Dinis. Não se pode dizer que não tenha gostado. Mas aquela quase inocência edénica dos lavradores e aquela felicidade áurea da vida do campo, não, isso não o convencia. Ele conhecia demais o viver da aldeia e as manhas dos seus habitantes. Não era a brincar que dizia que a única coisa aproveitável nos lavradores minhotos era, aqui ou ali, A Grinalda, um naco de bom presunto; o resto, só estupidez e maldade.

A ação de grande parte dos romances de Camilo Castelo Branco não se passa no seu tempo. Ele mesmo tem o cuidado de o confessar em mais de uma obra. Quase todas as intrigas têm lugar nos anos que decorreram entre as invasões francesas e a promulgação das leis de Mouzinho da Silveira.

O dinheiro é em Camilo a mola que impulsiona a marcha da ação de muitos romances. Mas é interessante constatar que, raras vezes, ele é fruto de trabalho dignificante, como o de Tomé da Póvoa d’Os Fidalgos da Casa Mourisca de Júlio Dinis. Em geral, ou provém de heranças e de tesouros escondidos casualmente descobertos, ou da árvore das patacas do Brasil, ou da roubalheira (quase sempre no Ultramar).

Não se insurge contra os princípios basilares da sociedade, isso, não. Até os defende. Só ataca os homens, em cujas virtualidades nunca acreditou.

Camilo aprendeu a língua portuguesa ouvindo o povo e lendo os clássicos.

Camilo mostra-se parco nas descrições, sumário nas narrações e procura tirar o máximo efeito do dramatismo dialogal. Era avesso a descrições, como confessa em Vingança. A paisagem mal existe na sua novelística.

(In Jornal “O Olhanense”, de 15-12-2023)

8 de dezembro de 2023

A CAMINHO DO FIM DE MAIS UMA ETAPA

 

Este meu texto vai ser mais abreviado, revestido de poucas consultas, análises ou prévias leituras, tão só ao correr da pena. Motivo: Uma cirurgia muito recente às cataratas que me inibe de trabalhar como desejaria, e até o não deveria fazer.

Estamos, de facto, a caminho de mais uma etapa das nossas vidas, que é o ano que está prestes a findar, ou já terá findado para quem ler este nosso jornalzinho já depois de 2023.

As perspetivas vão no sentido de que seja acolhido em casa dos nossos prezados Leitores, Amigos e Camaradas, antes da Festa Natalícia, desejando assim que o Menino Deus abençoe todos, crentes, como eu, e também os não crentes.

Muito se falou sobre a vida do País e do Mundo. Quanto ao primeiro momento, com reflexos do mundo, ainda não estávamos libertos de uma guerra entre duas nações dentro do Velho Continente, com repercussões económicas e não só, quando outra surge tanto ou mais feroz no seio duma quase mesma geografia (Israel está localizado na Ásia, mais precisamente no Médio Oriente, mas possui muitos laços políticos e económicos com os países da Europa), onde duas vertentes religiosas jamais se entenderam ao longo de muitos anos, num ódio que não se dissipa.

Num contexto deste segundo momento – o Mundo – é confrangedor assistirmos a autênticas carnificinas, atentados à dignidade e direito às vidas humanas.

Mas, voltando ao nosso País, longe estaríamos, penso eu, de chegarmos à situação de que o mesmo se vê rodeado nesta altura, envolvido numa crise política com a qual não se contava, dada a maioria absoluta do partido que lidera na governação. As novas eleições para o próximo ano serão uma nova etapa na vida deste Portugal de todos nós, no bom sentido, ou mais do mesmo?

Ao longo do que tenho vindo a escrever em várias publicações, vinco sempre que oportuno, a vertente da credibilidade, fator importantíssimo para todos, inteligentes ou menos dotados, apáticos ou com aquele cunho de aceitarem confiar ainda nesta ou naquela personalidade, nesta ou naquela instituição, que obviamente, implicitamente, tem nela, mais que uma agora badalada inteligência artificial –, a Pessoa Humana.

Ao longo deste ano que agora finda, entre guerras externas e crises internas, debateram-se e tomaram-se decisões sobre comportamentos/hábitos/vícios, alguns entre a hilaridade e a revolta, como foi o caso dos jogos sociais, nomeadamente o Eurosorteio (sobre este assunto escrevi há oito anos, num ex-semanário covilhanense, um artigo alusivo, sob o título “A Raspadinha”) em que lançavam para a miséria algumas pessoas viciadas no jogo.

As reivindicações dos Trabalhadores e Trabalhadoras de Portugal, numa frequência de greves sem precedentes, ou há muito não vistas, na persistência de setores como os médicos (que, certamente, muitas vezes se terão esquecido do seu Juramento de Hipócrates), os Professores, Funcionários Públicos, surgem, na sua legitimidade, havendo notícias de um endividamento da economia ter acelerado para 811,2 mil milhões até agosto, ou seja, um aumento de 1,4 mil milhões de euros.

No entanto, Portugal deixou o pódio dos países da UE mais endividados no 2º semestre e obteve o 2.º maior excedente público no segundo trimestre.

No que se reporta à segurança no País, e depois de termos assistido a situações graves de terrorismo, com o Hamas na Faixa de Gaza, aquela fação palestiniana deixou pasmado o Mundo face à facilidade com que perpetraram o atentado numa festa judaica, quando, afinal, apanharam de surpresa Israel, com os seus serviços de inteligência e de alta segurança a falharem.

Quando o autor do atentado em Bruxelas, suspeito de ter matado a tiro dois cidadãos suecos, havia sido detido em Portugal pelo então SEF, em 2015, o Tribunal da Guarda decretou-lhe apenas a medida de coação e termo de identidade e residência e de apresentações semanais às autoridades. Isto apesar de, à época, o SEF ter pedido a detenção e expulsão do território nacional uma vez que o suspeito tinha já uma ordem de interdição de entrada na Suécia. O tribunal da Guarda decretou-lhe apenas as medidas atrás descritas. O atentado foi em Bruxelas mas poderia ter sido em Portugal. Não haverá que ter mais rigorosidade na aplicação das penas?

É que as profecias de Natália Correia, do ano 1993, “para as primeiras décadas do próximo milénio”, em Portugal, são assustadoras.

Fazemos votos para que este Natal de 2023 seja repleto de esperança no reflexo de melhores tempos, e que no Novo Ano possamos encontrar a PAZ de que tanto necessitamos.

BOAS FESTAS!

 

João de Jesus Nunes

jjnunes6200@gmail.com

(In “O Combatente da Estrela”, n~. 133 – DEZ/2023)

 

 

 


CONTE-NOS A SUA HISTÓRIA RUI CARDONA ALMEIDA








Nesta época natalícia trazemos à presença dos prezados Leitores d’ “O Combatente da Estela”, uma Figura Covilhanense, sobejamente conhecida porquanto a sua atividade profissional que abraçou, de longa data, se coaduna com os seus produtos para esta época, e em todas as festividades ao longo do ano.

Quem vê o Rui Cardona, a maior parte do tempo quase embrenhado no seu estabelecimento da indústria de pastelaria, na cidade serrana, tão de humilde quão de atencioso, brota-se-lhe um certo sorriso para com a clientela que vê crescer.

Quem não conhece a Pastelaria Almeida com os seus produtos característicos como os biscoitos de azeite, bolo-rei, filhós, e outros afins, de grande diversidade?

Bom, mas certamente a maioria das pessoas não terá conhecimento que o Rui foi um antigo combatente em Moçambique, onde passou grande parte do tempo em zonas de grande perigo que, embora não tivesse sido atingido pelos efeitos nefastos da guerra, viu entretanto sucumbirem alguns dos seus camaradas de armas.

Mas façamos uma retrospetiva desde a Covilhã, onde nasceu no dia 9 de novembro do ano da graça de 1950, até à então designada, na altura, província ultramarina de Moçambique, para cuja colónia foi enviado.

É casado. Tem 2 filhos e 2 netos e, como referido, exerce a atividade de industrial de pastelaria.

Quando jovem estudou na Escola Industrial e Comercial Campos Melo da Covilhã e veio a iniciar a sua atividade profissional numa loja de eletrodomésticos, na Covilhã (Adalberto dos Santos Luís) e posteriormente noutra (Francisco Nunes Silva).

Surge entretanto o serviço militar obrigatório, que o leva até Moçambique, e, no regresso com passagem à disponibilidade, conclui o Curso Geral do Comércio e vai trabalhar com o pai, na Padaria da Ramalha. Este estabelecimento acabou por ser vendido e o Rui Cardona Almeida passou a trabalhar de conta própria, estabelecendo-se, fundando a Padaria Almeida, até aos dias de hoje.

Relativamente ao início do serviço militar obrigatório, foi incorporado no Regimento de Infantaria 7 (RI 7), Leiria, em 16 de abril de 1971 para a frequência do 1º Ciclo do Curso de Sargentos Milicianos (CSM), passando em 15 de maio do mesmo ano para o RI 5, nas Caldas da Rainha, ficando apto para a frequência do 2º Ciclo do CSM em 4 de julho, no CISMI, em Tavira, terminando o mesmo na especialidade de Atirador de Infantaria, em 18 de setembro.

Foi entretanto promovido a 1º Cabo Miliciano em 5 de outubro de 1971, então no RI 1, na Amadora, altura em que é mobilizado para Moçambique.

Seguiu ainda para Tancos (RI 11) onde tirou o Curso de Minas e Armadilhas.

No dia 27 de junho de 1972 foi promovido a Furriel Miliciano e embarcou em Lisboa para Moçambique, no avião 747, fazendo parte da C. Caçadores 3555, B. Caçadores 3886/RT1, desembarcando na Beira no dia seguinte.

Da Beira seguiu para Tete, onde estava o Comando que o destacou para Chinhanda  e Daque. Fez Segurança à Barragem de Cabora Bassa e fazia o reconhecimento das colunas, limpando a picada das minas ou outros objetos. Era então uma zona de intenso perigo, minada, onde passavam os carros de abastecimento.

Na especialidade de Minas e Armadilhas tinha a função de organizar as equipas que iriam detetar as minas com os aparelhos de deteção, trabalho este que cabia aos sapadores.

A Companhia era mista, de brancos e pretos, incluindo oficiais. Por vezes iam nas picadas e recebiam informação da DGS de que mais adiante tinham minas, o que lhes facilitava muitas vezes o seu o salvamento. É que a DGS torturava o inimigo e este sentia-se obrigado a dizer onde se encontravam as minas... livrando-se muitas vezes da morte.

A maior parte do tempo era passado no mato, pois havia só a casa do Comando e o restante onde se encontrava a guarnição militar eram palhotas, onde estavam aquartelados.

Os grandes problemas eram nas picadas onde havia minas, chegando a haver alguns comandos que morreram, como o subcomandante da Companhia, Alferes Sá Carneiro, sobrinho de Sá Carneiro que foi 1º Ministro de Portugal. Teve o desfecho mortal ao fazer o reconhecimento da zona, de helicóptero, onde foi abatido. Todos faleceram (quatro), à vista do Furriel Miliciano Rui Cardona e seus camaradas.

Da sua Companhia teve oito baixas (3 por minas antipessoal; 3 por acidentes com viaturas; e 2 por doenças, como o paludismo).

Mas nem só de combate o Rui Cardona tem memórias. Certo é que as refeições eram geralmente à base de rações de combate. Vingavam-se muito no pão que era fabricado por eles com a farinha que lhes distribuíam. Certo dia mataram uma grande vaca do mato, mais conhecida por puma. Estavam à espera de uma coluna, e mais uma vez com as refeições referidas, o habitual arroz com conservas, mas sabiam que aquele carregamento trazia batatas, que há muito, mas muito tempo não comiam. Com a abatimento da vaca, mais as batatas que aí vinham, estavam todos ansiosos, mesmo encantados, todos alegres.  Chegado o carregamento das batatas (alguns a pensar naquelas batatinhas fritas...) ao abrirem, o contentor as batatas estavam todas podres. Foi uma autêntica deceção, que levou muitos deles a chorarem.

O Rui Cardona regressou à Metrópole em 14 de setembro de 1974, já depois da Revolução do 25 de Abril, desembarcando no Porto, no aeroporto Sá Carneiro.

Recebeu a Medalha Comemorativa das Campanhas de Moçambique com a legenda: “1972/73/74” (O.S. nº. 30 de 3555 de 28/08/1974).

(In “O Combatente da Estrela”, nº. 133-DEZ/2033)

 

 

7 de dezembro de 2023

A CIDADE, O CLUBE E O JORNAL

 


No que concerne à Cidade de Olhão está na minha memória desde longa data pela história e pela geografia. Vem já dos tempos da Primária, hoje Ensino Básico, quando empinávamos os nomes dos rios e seus afluentes, das serras e seus sistemas de montanhas (Galaico-Duriense, Lusitano-Castelhano, Toledano e Mariânico), e também dos caminhos de ferro. Nos então exames de admissão aos liceus e escolas industriais e comerciais, o examinador, que era sempre professor do ensino secundário, de quando em vez, fazia a pergunta: “Diga-me lá, se quisesse ir de comboio daqui (Covilhã), para Vila Real de Santo António, quais as linhas ferroviárias que teria de apanhar?”. E o menino ou menina, bem vestidos, ele  com fatinho novo a condizer para o exame (a Covilhã geralmente não tinha grande problema porque era a terra dos lanifícios e, na altura, vendiam-se muitos tecidos ao metro, para que o alfaiate se encarregasse de o fazer à medida); e um vestido novo, que fosse  bonito, que a costureira fazia com ou sem folhos, para a menina que queria entrar no Liceu (ao tempo, o Ciclo Preparatório era iniciado nos estabelecimentos do Ensino Secundário); lá se voltava para o velho mapa de Portugal. Com o ponteiro que o examinador lhes colocava na mão, iam referindo os caminhos ferroviários (por vezes de faces coradas quando a atrapalhação surgia, noutras, com um à vontade, descontraídos, com as linhas férreas decoradas debaixo da língua, como se de comboios já viajassem muito). Daqui, na linha da Beira Baixa, vou até Lisboa - Santa Apolónia (ainda não havia a do Oriente). No cais do Terreiro do Paço apanho um barco para o Barreiro. Sigo esta linha e vou entrar na Linha do Sul: Barreiro, Pinhal Novo, Torre da Gafanha, Casa Branca, Tunes, Faro, Olhão, Tavira, Vila Real de Santo António.

Se a Covilhã foi sempre conhecida pela Cidade dos Lanifícios (hoje também Cidade Universitária), Olhão era a Cidade das Pescas.

Curiosamente, vi num Manual Encyclopédico para as Escolas de Instrucção Primária, do ano 1879, que possuo na minha biblioteca, nessa altura tinha 21 Distritos Administrativos, segundo o Diário do Governo de 16 de maio de 1877, contava apenas com 4.429.332 habitantes, e, dizia que, junta às Províncias Ultramarinas excedia os 6 milhões de almas. E, entre as principais povoações, desse tempo, já passados 144 anos nos dias de hoje, referiam-se “Outras povoações há no Algarve dignas de serem mencionadas, a saber: Albufeira, Aljezur, Castro Marim, Loulé, Monchique, Olhão, Vila Nova de Portimão, Vila Real de Santo António, etc.”.

Mas a Cidade de Olhão ficar-me-ia ainda carinhosamente na minha memória quando, naquele sábado de 25 de maio de 1968, me sentei num daqueles bancos junto ao correio, cuja foto incluo desse tempo, e escrevi num postal ilustrado adquirido naquela estação dos CTT (ainda se encontravam abertos aos sábados e também aos domingos da parte da manhã), à minha namorada com quem viria a casar, perdurando até aos dias de hoje. Encontrava-me então a prestar serviço militar no CISMI – Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria, em Tavira.

Clube de Olhão – o Sporting Olhanense – Como referi no número de 1 de novembro, uma nota importante fez vincar o meu afeto pelo clube algarvio, depois de acompanhar todos os clubes das I, II e III Divisões Nacionais, pelos jornais, na Biblioteca Municipal, mormente O Comércio do Porto. E foi o último encontro entre o Sporting da Covilhã e o Sporting Olhanense, encontrando-se ambos na então I Divisão, na época 1961/62, com o Olhanense regressado ao convívio dos grandes e os covilhanenses a descerem de divisão depois de muitas contrariedades havidas, nomeadamente com as arbitragens, que na simpatia dos homens de Olhão reforçou o meu apreço pelos algarvios.

Jornal O OlhanenseJamais pensaria vir a colaborar há mais de um quarto de século com este periódico de grande prestígio. Não conhecia o quinzenário, tendo ele surgido fruto das minhas pesquisas para a publicação do então meu segundo livro (de quatro) sobre o Sporting da Covilhã. Foi um então amigo, já falecido, Augusto Ramos Teixeira, que me informou, depois de o ter questionado, numa altura em que ele me indicava alguns antigos atletas que passaram pelo Olhanense e se transferiram para o Sporting da Covilhã. Vim então a entrar em contatos frequentes com o diretor do jornal da altura, Herculano Valente, que nunca conheci pessoalmente, como acontece com o atual diretor, amigo Mário Proença. As únicas personalidades do Olhanense que conheci pessoalmente foram o anterior diretor, Isidoro Silva Sousa, então presidente da direção do Olhanense, assim como a esposa, num jantar convite das comemorações do clube serrano, e, de igual modo, Manuel Cajuda. Ainda vim a conhecer num encontro de futebol, na Covilhã, entre os dois Clubes, para o campeonato Nacional da II Divisão, o Sr. Júlio Favinha.

Quando pensava terminar a minha colaborar com este periódico, após o falecimento de Herculano Valente, mão amiga do atual diretor, incentivou-me a continuar e não é que, com ele, este periódico tornou-se um jornal de referência, desconhecendo a sua posição a nível nacional, mas, nos seus 60 anos de vida fica bem à frente de muitos outros, nomeadamente desta região beirã, certamente com mais apoios que o quinzenário O Olhanense, a viver horas difíceis.

Sobre o último número, quero informar que do suplemento “A Voz de Olhão”, o texto “O Mendigo”, de Mário Proença, serviu para uma reflexão numa reunião da Conferência de São Vicente de Paulo – Paróquia de Nossa Senhora da Conceição da Covilhã, com muito agrado.

Já a crónica de João Peres, “Assim vai este mundo doentio – Crónica ao sabor da caneta...” está espetacular. Parabéns a ambos.

Deixo, para vossa apreciação, os periódicos regionais da Beira Interior, numa comparação com o quinzenário O Olhanense, a saber:

- Correio de Unhais – Unhais da Serra

Periódico mensal. ANO XXXIV, Nº. 348 – Outubro 2023 - 16 páginas

Tem editorial e 8 crónicas, correspondente a 9 autores diferentes.

- Jornal Fórum Covilhã

Periódico semanal – ANO XI, Nº. 585 – 18-10-2023 – 24 páginas

Tem editorial e 5 crónicas, correspondente a 6 autores diferentes, para além de variadíssima informação e reportagens.

- notícias da Covilhã – gratuito

Periódico semanal, renascido do anterior e mais antigo semanário da Beira Interior, mas que nada tem a ver com o anterior, a não ser o aproveitamento da sua antiguidade. ANO 110 – Nº. 5294 – 19-10-2023 – 24 páginas

Tem editorial e 3 crónicas, de 4 autores.

- Jornal do Fundão

Periódico semanal – ANO 77 – Nº.  4027 – 19-10-2023 – 24 páginas

Tem editorial e 2 crónicas, de 2 autores

- A Guarda

Periódico semanal – ANO 119 – Nº.  5905 – 19-10-2023 – 20 páginas

Neste número não teve editorial mas sim 3 crónicas de três autores diferentes.

- Gazeta do Interior – Castelo Branco

Periódico semanal – ANO XXXIV – Nº 1814 – 18-10-2023 – 16 páginas

Tem editorial mais 3 crónicas de autores diferentes.

- Reconquista – Castelo Branco

Periódico semanal – Edição 4049 – ANO 77 – 19-10-2023 – 32 páginas

Tem editorial mais 4 crónicas, de 5 autores

- O Olhanense

Periódico quinzenal, fundado em 1963 (60 anos) – Nº 1307 – 15-10-2023 – 28 páginas

Tem editorial e 12 crónicas de 10 autores

João de Jesus Nunes

jjnunes6200@gmail.com

(In “O Olhanense”, de 01-12-2023)


6 de dezembro de 2023

COMO ERA A PALESTINA ANTES DO NASCIMENTO DE ISRAEL

 


De harmonia com um trabalho da jornalista Ana Marques Maia, inserido no Público (P3), de 17 de outubro, e depois do que já tanto se escreveu (eu também) sobre Israel, a Palestina, e o Hamas, as polémicas/mal entendidos entre personalidades que se assumiram com frontalidade e depois tiveram os seus dissabores (justificados para uns, injustos para outros), como António Guterres e Marcelo Rebelo de Sousa, e os defensores de um lado e outros do adverso, nos horrores desta guerra entre Israel e o Hamas, sem me querer envolver em partidarismos, trago, tão só, com base na história ora descrita por quem sabe, elementos para algumas elucidações.

O slogan “Uma terra sem povo para um povo sem uma terra” foi inúmeras vezes repetido ao longo do século XX. Consta que quem o fez foi o movimento sionista, e seus apoiantes, no sentido de mobilizar a imigração judaica para a Palestina, a eles se reportando o período entre os anos 1898 a 1946.

Entretanto, também é contada uma história diferente, já que a Palestina era, no século XIX e XX, antes do nascimento do Estado de Israel, em 1948, um território habitado por centenas de milhares de pessoas, vivendo um “renascimento árabe”, segundo a Enciclopédia Britannica.

A localização da Palestina tornava-se num local estratégico do ponto de vista comercial. Era a partir dos portos de Gaza e Jafa que as importações e exportações decorriam com países dos continentes africano, europeu e asiático. Havia também ligações ferroviárias com outras zonas do Império Otomano. Vários jornais locais podiam-se encontrar em circulação.

Entre 1516 e 1917, o território da Palestina integrou o Império Otomano. Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), alinhou com as Potências Centrais, o eixo que saiu derrotado do conflito. Na sequência da vitória, dois dos países Aliados, França e Reino Unido, com a concordância da Rússia, assinaram um acordo secreto, em 1916 que determinada que parte do território do Império Otomano, a ser desmembrado no pós-guerra, ficaria sob a administração francesa e britânica. Nesse acordo, foi determinado que a Palestina, devido à presença de locais sagrados para cristãos, muçulmanos e judeus, deveria ser governada por um regime internacional. As administrações dos territórios “conquistados” pelos Aliados souberam das resoluções do acordo aquando da sua publicação, sem que tivessem podido pronunciar-se favorável ou desfavoravelmente sobre elas.

Em 1917, o Reino Unido decidiu violar o acordo e, unilateralmente, determinar que o território da Palestina deveria ficar sob o seu comando e tornar-se “o Lar Nacional para o Povo Judeu”. A população autóctone não foi consultada ou chegou a qualquer acordo com o Reino Unido. Assim, este tomou as rédeas do poder na Palestina, no pós-guerra, assumindo o papel de facilitador da imigração da comunidade judaica para a região. Antes da chegada dos britânicos, a esmagadora maioria da população era árabe, mas já existia uma comunidade de judeus na Palestina, ainda que minoritária.

Se algumas estimativas apontam para cerca de 50 mil judeus a viver na Palestina, em 1918, contra 500 mil árabes, já a partir da vigência do controlo britânico, a imigração judaica intensificou-se. Em 1920, a Liga das Nações tornou oficial o governo britânico da Palestina. Na década de 1930, o número de judeus a chegar à Palestina aumentou significativamente devido à perseguição e extermínio sistemático dos judeus na Europa Central, principalmente com a chegada de Hitler ao poder da Alemanha, em 1933. Em 1935 chegaram à Palestina cerca de 62 mil judeus, menos 10 mil que nos dois anos anteriores.

Em 1937, de acordo com as Nações Unidas, a população judaica era de 400 mil e dez anos depois atingiu os 625 mil.  Segundo a Britannica havia em 1946, na Palestina, 1,2 milhões de árabes e 678 mil judeus, um crescimento de 1350% da população judaica durante 25 anos. A resistência à chegada de mais imigrantes judeus intensificou-se nesse período entre a população árabe da Palestina, e em 1933 tornaram-se frequentes manifestações em oposição à emigração e que pediam o fim do mandato britânico. Estas manifestações foram reprimidas pelos britânicos violentamente, com protesto em Jaffa, no ano de 1935. Entre 1936 e 1939, a Palestina esteve em guerra civil. Na sequência desta revolta, a Britannica  refere que “pela primeira vez, um órgão oficial britânico falou abertamente sobre a formação de um estado judaico”.

Em meados de 1940, tanto árabes como judeus opunham-se ao mandato britânico na Palestina.

A Segunda Guerra Mundial tinha tornado o Reino Unido vitorioso, mas exausto. A resolução britânica de permanecer no Médio Oriente entrava em colapso.

Em 1947, o presidente norte-americano Harry S. Truman declarou, contra o interesse britânico, o seu apoio à ideia da criação de Israel; no ano seguinte, a “solução de dois estados” seria levada a votação na recém-criada Organização das Nações Unidas (ONU). Em 1948, o Reino Unido abandonava a Palestina. No mesmo ano, as Nações Unidas partiram o território em dois e nascia Israel. Os palestinianos opuseram-se ao acordo unilateral.  A resistência árabe ao novo Estado israelita, em 1948, deu origem a um conflito armado e ao “deslocamento e expropriação em massa” dos palestinianos, com milhares deles sob ameaça de violência, obrigados a abandonar as suas aldeias e as suas casas e a encontrar refúgio na Cisjordânia, na Faixa de Gaza e em países vizinhos.

Segundo consta, em setembro de 2023, a população de Israel é de 9,8 milhões de pessoas, existindo no mundo 15,2 milhões de judeus.

Presentemente, Israel ocupa, à revelia da lei internacional que lhe destinou 55% do território em 1947, mais de 20 mil quilómetros quadrados de terra (76% do território). Aos palestinianos cabe residir numa área de 6 mil quilómetros quadrados (24%), em Gaza e na Cisjordânia.

Mais de cinco milhões de palestinianos vivem, atualmente, dispersos por vários países do Médio Oriente e do mundo.  Em Israel, dos dias de hoje, segundo a ONU, “os palestinianos continuam a ser expropriados e deslocados pelos colonatos israelitas, por despejos, confisco de terras e demolições. A Palestina é, hoje, um “estado observador” na ONU, não reconhecido pela maioria dos países do Ocidente.

Aproveito a oportunidade para desejar os maiores êxitos jornalísticos ao Jornal Fórum Covilhã, reforçado pela Rádio Fórum, na pessoa do seu Diretor, Vitor Aleixo, e demais Obreiros, pela passagem do 12º  Aniversário no passado dia 29 de novembro de 2023. Parabéns!

 

 

João de Jesus Nunes

jjnunes6200@gmail.com

(In “Jornal Fórum Covilhã”, de 06-12-2023)


17 de novembro de 2023

“UMA TERRA SEM POVO PARA UM POVO SEM TERRA”

 

Longe estaríamos de pensar que iríamos viver tempos de reviravolta no planeta, numa enorme agitação entre os povos, guerreando-se freneticamente, causticamente, ao ponto de quando ainda nos encontrávamos virados para a invasão da Ucrânia pela Rússia, (re)começar uma luta feroz entre judeus e uma fação terrorista palestiniana que dá pelo nome de Hamas.

Parece termos voltado aos tempos bíblicos e da história da antiguidade. Para trás ficou-nos o espetro das duas grandes guerras mundiais, que aconteceram com as perdas de milhares de vidas humanas e destruição de património construído, além de outros nefastos problemas. Embora as guerras localizadas, outras que desmembraram países e uniões de países jamais deixassem de existir – Guerra da Coreia, do Vietname, Crise dos Mísseis, Muro de Berlim; e entre judeus e árabes a Guerra dos Seis Dias que possibilitou a Israel expandir o seu território, conquistando a Península do Sinai, a Cisjordânia, Gaza, Jerusalém oriental e as colinas de Golã, não deixou de existir um tempo um pouco “pacífico” ainda que tenha sido durante a Guerra Fria. No entanto, com estas conquistas pelos judeus viria a desencadear-se a Guerra do Yom Kipur, em 1973. Os portugueses encontravam-se envolvidos nas Guerras com as Colónias que terminariam com a Revolução do 25 de Abril de 1974.  Em meados da década de 1980, o novo líder soviético Mikhail Gorbachev introduziu as reformas liberalizantes e com a perestroika encerrou o envolvimento soviético no Afeganistão. Em 1989 foi uma onda de revoluções (com exceção da Roménia) que derrubaram pacificamente todos os governos comunistas da Europa Central e Oriental e em grande parte da África e Ásia. Os Estados Unidos foram deixados como a única superpotência do mundo. A Guerra Fria acabava com a decadência da União Soviética e do bloco socialista. Em 25 de dezembro de 1991, Gorbachev renunciou e a União Soviética foi dissolvida. No seu lugar, quinze nações conquistaram a sua independência, entre as quais a Ucrânia; e o bloco socialista deixou de existir no leste europeu. Esses acontecimentos marcaram o fim da Guerra Fria. Apesar disso, um estado renovado de tensão entre o Estado sucessor da União Soviética – a Rússia, e os Estados Unidos nos anos 2010; bem como tensão crescente entre uma China cada vez mais poderosa e os Estados Unidos e seus aliados ocidentais; passou a ser referido como a Segunda Guerra Fria.

O título desta crónica é uma frase amplamente citada e associada com o movimento para estabelecer uma pátria judia na Palestina durante os séculos XIX e XX. Embora geralmente é assumido ter sido um slogan sionista, a frase foi usada já em 1843 por um clérigo restauracionista cristão e continuou a ser usado durante quase um século por outros restauracionistas cristãos. A frase tem sido vasta em extremo na citação por políticos e ativistas políticos opondo-se às reivindicações sionistas. Na sua declaração de independência de 14 de novembro de 1988, o Conselho Nacional Palestino acusou “forças locais e internacionais” de tentativa de propagar a mentira de que “a Palestina é uma terra sem povo”.  Também o fundador e presidente da Sociedade da Terra Palestina chama a frase de “uma mentira perversa, a fim de fazer o povo palestino ficar sem teto”. No fundo, são resmas de interpretações.

O dia 14 de maio de 1948 dita a fundação do Estado de Israel. Esta fundação não remete ao surgimento de um novo país ou nação. Tal data marcou o ponto máximo da invasão da Palestina pelo movimento sionista, apoiado pelos diferentes imperialismos. Desde então, o povo palestino tem resistido à ocupação do seu território e exigido a sua devolução.

No final do século XIX, surgiu um movimento na Europa, o sionismo, “promovido pela burguesia imperialista e por proeminentes bilionários judeus”. Na Palestina, durante muitos séculos, a maioria da população árabe coexistiu pacificamente com uma pequena minoria judaica. O sionismo destruiu essa situação desde que começou a pôr em prática o seu plano de “colonização” e ocupação militar daquele território.

“Com a ajuda direta do imperialismo britânico, que era amo e senhor da região, o sionismo difundiu a falsa ‘história’ das terras vazias, que voltaram às mãos dos seus legítimos habitantes desde os tempos bíblicos”. Na realidade, milhões de palestinianos viviam ali ao lado da pequena minoria judaica. A Palestina estava sob domínio inglês desde o fim da Primeira Guerra Mundial. Longas lutas de resistência anti-imperialistas ocorreram em todo o Médio Oriente. Entre as duas guerras ocorreram numerosas insurreições contra os colonialistas britânicos e franceses. O auge da resistência na Palestina ocorreu entre 1936 e 1939, tendo a Inglaterra que mobilizar para lá metade do seu exército, um dos mais poderosos do mundo.

Na década de 1960 foi fundada a Organização para a Libertação da Palestina (OLP).

Muito mais haveria a dizer sobre os diferendos, as vontades e as lutas destes dois povos – judeus e palestinianos, mas o tempo, o espaço deste quinzenário, e a paciência dos prezados Leitores têm de ser respeitados nos seus limites. Ficamos por aqui.

 

João de Jesus Nunes

jjnunes6200@gmail.com

(In “O Olhanense”, de 15-11-2023)


8 de novembro de 2023

A INVASÃO DOS BÁRBAROS

 

Autêntica barbárie a ocorrida no do dia 7 de outubro, inesperadamente, em território israelita, próximo da fronteira da Faixa de Gaza. Estava-se na manhã de sábado. Um ataque sem precedentes por ar, mar e terra foi lançado pelo grupo palestiniano Hamas que combinou a infiltração de terroristas armados, que passaram a massacrar civis.

Israel, apanhado de surpresa, e o Hamas a utilizar o lançamento de foguetes e a tomada de dezenas de reféns. No início da noite, já Israel contabilizava centenas de mortos e mais de 2.000 feridos.

Aconteceu então durante a festividade judaica de Simchat Torah, situação que ocorreria 50 anos e um dia depois da Guerra do Yom Kippur, considerada o último grande episódio que ameaçou a existência de Israel.  Na ocasião forças egípcias e sírias lançaram uma ofensiva durante o feriado judaico do Yom Kippur, num esforço para recuperarem território que Israel havia tomado durante a Guerra dos Seis Dias, travada em 1967.

Este ataque marca a mais ambicionada ofensiva já lançada por um grupo palestiniano. Nem mesmo a Segunda Intifada, no início dos anos 2000, que deixou mais de um milhar de israelitas mortos em quatro anos, foi palco deste tipo de incursão em massa no território israelita.

O líder do braço militar do Hamas disse que a ofensiva foi uma resposta ao bloqueio de 16 anos a Gaza, aos ataques israelitas nas cidades da Cisjordânia no ano passado, e, entre outros, ao aumento dos ataques de colonos israelitas aos palestinianos e à expansão dos assentamentos israelitas em território palestino.

Os serviços de inteligência de Israel falharam todos: Mossad, que recolhe informações e realiza operações no estrangeiro; a Agência de Segurança de Israel, que controla a segurança interna e nos territórios ocupados; o Aman, responsável pela inteligência militar. Não é normal tanto falhanço e até foram avisados pelo Egipto que o Hamas estava a preparar uma ação em grande escala. Netanyahu considerou que o aviso era uma fake news. Enfim.

Agora Israel está prisioneiro de um dilema. Segundo Jorge Almeida Fernandes, in Público, “após o selvático massacre de 7 de outubro, a opinião pública israelita exprime duas exigências: garantir a libertação dos reféns, a qualquer preço; destruir o Hamas de uma vez por todas”. Mas numa análise dum jornalista do diário Haaretz refere que “O governo israelita deve dizer aos cidadãos, e especialmente aos reféns e suas famílias, a insuportável verdade; não podemos realizar os dois objetivos, libertá-los e destruir o Hamas.”

“O resgate dos reféns é a máxima prioridade”, diz Ayraham Sela, professor de Relações Internacionais na Universidade Hebraica de Jerusalém. “Israel tem uma obrigação para com eles. Já não basta deixar que tenham sido capturados?”.

Michael Milshtein, diretor do Fórum de Estudos Palestinianos na Universidade de Telaviv diz que personalidades do Hamas “são ideólogos que acreditam na jihad e o declaram abertamente. O seu autêntico objetivo a longo prazo é destruir Israel. Eles planearam este ataque desde 2014. Têm um culto pela morte e pelo martírio. Não é por acaso que usam o termo ‘judeus’ e não ‘sionistas’. O Hamas recusou sempre a solução ‘dois estados’.”

Na prática, o 7 de outubro suscitou comparações com a Al-Queda e o Estado Islâmico.

Já Fernanda Câncio, na sua coluna habitual do DN refere que “Israel está então a fazer tudo de acordo com o plano do Hamas, e é impossível que até Netanyahu, o irresponsável, o sem-vergonha, o sangrento, não o saiba. É impossível que o homem que desguarneceu de tropas a zona sul do país, junto a Gaza e ao seu governo de terroristas, para garantir a segurança dos colonatos ilegais, ocupados pelos seus apoiantes de extrema-direita, na Cisjordânia – a ponto de não só permitir um ataque como o de 7 de outubro, mas também de não haver, durante horas, socorro para as comunidades martirizadas –, não saiba que está a fazer tudo segundo a cartilha dos atacantes”.

Mas vejamos o Hamas e Israel à luz da lei internacional. Segundo Patrícia Akester, in DN, “Tanto Israel como a Palestina são signatários das quatro Convenções de Genebra de 1949. Nestas Convenções e nos seus Protocolos Adicionais reside o cerne do Direito Internacional Humanitário, pelo que tanto Israel como a Palestina estão obrigados a cumprir os ditames básicos de um ramo de Direito que visa, no âmbito dos conflitos armados, limitar as barbáries da guerra. Quanto ao Hamas, desde 2007 que governa de facto a Faixa de Gaza e por lá comanda um Exército, encontrando-se indissoluvelmente ligado ao Estado da Palestina e tendo, por extensão, de cumprir as Convenções de Genebra. Além disso, sendo a Palestina signatária do Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional (TPI), a conduta do Hamas cai sob a égide da jurisdição do TPI, que tem competência para julgar certos crimes que ‘chocam profundamente a consciência da Humanidade´”.

António Guterres, secretário-geral da ONU, condenou os “atos de terror” e “sem precedentes” de 7 de outubro perpetrados pelo Hamas em Israel nas frisou que “esses ataques terríveis não podem justificar a punição coletiva do povo palestiniano”. O discurso não foi bem recebido por Israel.

“Os ataques do Hamas não acontecem do nada. O povo da Palestina tem sido sujeito a anos de ocupação (...). Mas as reivindicações do povo palestiniano não podem justificar os ataques terríveis do Hamas. E esses ataques não podem justificar a punição coletiva do povo palestiniano”.

É um tema extraordinariamente sensível, de paixões desabridas, na opinião de José António de Sousa, “em que é preciso saber andar descalço sobre cacos de vidro. António Guterres sempre foi cuidadoso e moderado, e como máximo responsável das Nações Unidas tem de saber unir, não tomar partido. O Hamas é um grupo terrorista que tem de ser erradicado, a população árabe na Palestina não é o Hamas, tem de ser protegida, não pode ser um ‘dano colateral’ no processo de erradicação do Hamas. Israel está na posição difícil de ter de lutar contra um inimigo que utiliza populações civis, crianças, etc. como escudos humanos. É uma luta que Israel tem que lutar com inteligência, e não força bruta, para que o Hamas não ganhe a opinião pública mundial. Acredito que fosse isso que António Guterres quis dizer, e com o qual eu concordo.”. Eu também concordo.

 

João de Jesus Nunes

jjnunes6200@gmail.com

 

(In “Jornal Fórum Covilhã”, de 08-11-2023)


3 de novembro de 2023

RUMAR CONTRA A MARÉ OS INDÓMITOS ALGARVIOS E SERRANOS

 


Em posições nada condizentes com a valia que tanto o Sporting Clube Olhanense (SCO) e o clube da minha Terra, Sporting Clube da Covilhã (SCC), respetivamente 4ª e 8ª filiais do meu clube de sempre – Sporting Clube de Portugal (SCP), representam como históricos do futebol português, fica aqui mais um apontamento de momentos que agitaram desportivamente gentes deste país.

Naquele mês de janeiro de 1962, no Estádio José dos Santos Pinto, na Covilhã, confronto entre as duas equipas para uma jornada do Campeonato Nacional da Primeira Divisão, onde a turma algarvia havia então regressado ao seio dos maiores, depois de ter vencido o Campeonato Nacional de 2ª. Divisão – Zona Sul, deixando atrás de si equipas como o Farense, Vitória de Setúbal e Oriental.

Estávamos na 2ª volta da época 1961/62 e o SCO tornava-se forasteiro do SCC. Já havia vencido os serranos, no seu reduto, na 1ª volta, numa vitória arrancada a ferros, por uma bola a zero, golo de Armando. O guarda-redes era o Filhó (ex-Farense).

Pontificavam nesta época, na 1ª Divisão, equipas como a C.U.F., Atlético, Leixões, Académica, Beira-Mar, Lusitano de Évora e Salgueiros, num total de 14 clubes. Uma vitória contava 2 pontos e não três, como hoje. Não podia haver substituições, a não ser do guarda-redes, por lesão. Entre outras modificações que posteriormente se vieram a verificar como a aplicação dos cartões amarelos e vermelhos. A expulsão dum atleta era por gestos do árbitro, indicando o caminho dos balneários. Isso não quer dizer que não deixava de haver castigos, segundo o que o árbitro registasse no seu relatório.

Neste encontro, o SCC encontrava-se a atravessar um período de castigos aplicados a jogadores, pelo que andou três jogos a jogar desfalcado de algumas peças importantes do puzzle serrano.

Reporto-me ao caso do jogo Leixões – Sp. Covilhã, em janeiro de 1962, que abalou a equipa leonina, os seus dirigentes, a cidade e até o país, como um caso inédito então vivido. O encontro, realizado em Matosinhos, tinha o Beira-Mar também a lutar pela manutenção na divisão maior, tal como o clube serrano. O jogo foi arbitrado pelo aveirense Porfírio da Silva. Os Leões da Serra empenharam-se, entretanto para não perder o jogo, e até estavam a ganhar por 1-0. O árbitro prolongou o desafio mais sete minutos, duma forma tão flagrante que enervou os atletas covilhanenses, porquanto nesse prolongamento excessivo surgiu o golo da vitória do Leixões, quando o resultado se encontrava 1-1, num golo irregular por ter sido obtido em posição de fora de jogo, como igualmente foi forjado o primeiro golo do Leixões.

Da reação dos Leões da Serra, surgiram pesados castigos para os jogadores do Sp. Covilhã: Rita, Couceiro, Lanzinha, Chacho e Palmeiro Antunes, com três jogos de suspensão. Repreensão a Adventino e 30 dias de suspensão ao treinador Mariano Amaro, com 250$00 de multa A reação dos dirigentes leoninos e da própria população da Covilhã foi tão forte que a Federação Portuguesa de Futebol – caso inédito para a época! – levantou alguns castigos aos atletas covilhanenses, como ilibar o capitão Lanzinha de qualquer culpa e o castigo de Chacho foi reduzido de três para um jogo.

”O vasto salão de conferências da sede encheu-se muito antes da hora anunciada e nas ruas de acesso também se comprimiu multidão, compacta, indiferente à chuva e ao frio, olhos e coração postos no terrível dilema criado no seu Clube: manter-se, ou não, na prova máxima com a equipa ‘Reserva’, ou melhor, com os únicos 12 elementos que o Sr. Porfírio deixou fora da alçada da Federação (...)” E, daqui o grito do Ipiranga dos covilhanenses. Registaram-se ecos da imprensa local e nacional (n’“A Bola”, por exemplo) naqueles dias de janeiro de 1962.

“Perante a gravidade da extensão dos castigos impostos e ainda o reflexo do próprio futuro da equipa no Campeonato, a Direção, visivelmente contristada pelo facto da FPF não ter sequer ligado qualquer espécie de importância à exposição acerca das revoltantes arbitrariedades cometidas pelo direto causador de quaisquer excessos, porventura cometidos no supracitado jogo em relação ao aspeto disciplinar, iniciou desde logo uma longa e trabalhosa série de diligências oficiais e extraoficiais que o caso aconselhava”. Todo o desenvolvimento deste caso encontra-se descrito no meu livro “Sporting Clube da Covilhã” – Passado e Presente” – Bodas de Diamante – 1998.

Foi neste contexto que o SCC recebeu o SCO, na segunda volta, em que os castigados não puderam jogar, apresentando-se assim as duas equipas:

Sporting da Covilhã – Alves Pereira; Patiño, Cavém e Lourenço; Lanzinha e Carlos Alberto; Manteigueiro, Adriano, Adventino, Chacho e Amilcar. Olhanense – António Paulo; Rui, Luciano e Nunes; Madeira e Reina; Matias, Campos, Cardoso, Mateus e Armando.

Árbitro – Dr. Décio de Freitas, de Lisboa.

Segundo o primeiro volume do livro “Sporting Clube Olhanense – 90 anos de História – 1912 – 1962”, de Raminhos Bispo, “O intervalo chegou com o marcador em branco. Quer algarvios, quer os serranos, proporcionaram, nos primeiros 45 minutos, um magnifico espetáculo, a decorrer numa tarde amena, sem vento nem frio, sem calor, nem chuva, antes uma temperatura ideal e convidativa para a prática do futebol.

Colocados em vantagem numérica, lesão de Lanzinha, os donos do campo tinham de se desdobrar já que para a muralha defensiva de tanta eficiência apenas dispunham de quatro pedras.

Logo nos primeiros minutos, o Sporting da Covilhã altera o marcador, com dois golos de rajada. Uma jogada do espanhol Chacho, oferece de bandeja ao seu colega Adriano, que inaugura o marcador. Três minutos depois, Reina, ao cortar um centro contrário, faz o esférico entrar na própria baliza”.

Estive presente nesse encontro. Tinha então 16 anos. No final, esperávamos o regresso dos atletas para os seus autocarros, entre sorrisos e palavras simpáticas, os votos de boa viagem.

Foi a partir daqui, naquela esperança de ver o meu clube a manter-se na Primeira Divisão, com os jogadores não habituais a darem tudo por tudo para substituírem os seus colegas punidos, e, no final, a referida simpatia dos forasteiros, que me levou a uma afeição pelo Olhanense, que, tal como outros, já acompanhava pela leitura dos jornais, na antiga Biblioteca Municipal, ao jardim. Mas, principalmente, pelos jogadores que vieram do Algarve, nomeadamente de Olhão, para o clube da minha Terra.

No final desta época 1961/62 dava-se o regresso do Olhanense à Primeira Divisão e a saída do Sporting da Covilhã, que só regressaria ao seio dos maiores volvidos 23 anos.

Espero um novo ciclo de reanimação para as duas Coletividades Históricas, tendente ao seu regresso ao seio dos maiores do futebol português.

João de Jesus Nunes                                                                                          jjnunes6200@gmail.com

 

 

(In “O Olhanense”, de 01-11-2023)

 

19 de outubro de 2023

PETAS DE ALGUNS DOS NOSSOS POLÍTICOS

 


Não penso no tempo que remanesce da minha vivência neste planeta, não obstante reconhecer já ter atingido, ou estar próximo, da média de duração da nossa existência.

Apesar de terem sido cumpridas as obrigações profissionais que abraçámos, com mais ou menos fulgor, jamais conseguimos parar de fazer algo mais (na generalidade dos casos), quer em atividades de solidariedade social ou no âmbito da cultura, quer mesmo nos pequenos trabalhos agrícolas, em espaços dos próprios ou de familiares e amigos. Quer ainda na religiosidade ou no associativismo. Há assim variadíssimas situações, num ambiente de gratidão à Vida.

Outra gratificante forma de continuidade dum desejável tempo longevo (que aberração esta da longevidade na Terra, em relação à Eternidade) é o que se dedica aos filhos e aos netos, que poderão ser os portadores do nosso espelho a sorrir pela Vida, para quem as oportunidades lhes surgiram.

Pois é, de manhã, ao acordar e olhar o dia que aí vem, chegamos ao ponto de ver que não há tempo para tudo o que tínhamos para fazer, e, como em generalíssimos casos, na vertente de quem já se encontra nas suas férias vitalícias, apesar da sua constatação, aceitamos mais isto e aquilo: um encontro, uma reunião, uma visita, uma videochamada. Acontece, por vezes, que, ao fim do dia, nem nos lembramos das caras com quem estivemos, não saboreámos os momentos bons ou refletimos sobre os pouco agradáveis.

Já corremos, ou ainda o fazemos, apressadamente atrás do sucesso, do trabalho, da carreira, do ter. Corremos, ainda, apressadamente para as redes sociais, para os likes, para os amigos virtuais, tornando-nos cúmplices, por vezes, duma vida cheia de nada, de tentação e perdição, que rouba o tempo.

Mas vamos aos assuntos em título, e comecemos pelos que envolvem casos mais prementes, como é o da habitação. Segundo Ana Sá Lopes, in Público, “Costa ficou entusiasmado por conseguir ‘melindrar’ o Presidente da República e foi inebriado pela sua ‘habilidade’ política que apareceu eufórico, deliciado, em ponto de rebuçado narcísico, dizendo o impensável: o Governo fartou-se de trabalhar para que os portugueses tenham habitação condigna. Afinal, os cidadãos que tentam alugar (ou comprar) uma casa nos maiores centros urbanos é que estão a ver mal   as coisas: o Governo desde 2015 não faz outra coisa do que resolver o problema da habitação, construir casas e mais umas coisas alienígenas”. O que é certo e verdade é que o problema da habitação persiste. António Costa informou que vêm aí 17 mil casas a caminho e não as 26 mil que prometeu. Segundo a aludida jornalista, sobre a habitação, Costa “prometeu o céu várias vezes desde 2015 e as pessoas (principalmente nos grandes centros urbanos) vivem no inferno”. Entretanto, o programa Mais Habitação tem várias medidas positivas. Vamos aguardar o que vai sair do OE que vai ser apresentado.

Saltamos agora para as eleições na Madeira, onde o presidente do PSD Madeira e do Governo Regional, Miguel Albuquerque, anunciou perentoriamente que se demita se não tivesse maioria absoluta. Aqui funcionou em pleno a patranha. Ganhou sem maioria absoluta, e, contrariamente ao que havia dito, não se demitiu e formou novo Governo madeirense, coligado com o PAN.

Voltamos uns anos atrás e temos aí Cavaco Silva, então como Presidente da República, a garantir que os portugueses podiam confiar no Banco Espírito Santo (BES), treze dias antes da queda deste mesmo Banco. Corria o ano de 2014. Pois é, Vitor Bento, que substituiu o líder histórico Ricardo Salgado, disse a 14 de julho desse ano, dia em que entrou em funções, que a prioridade no banco é reconquistar a confiança dos mercados e pôr fim à especulação. O Banco de Portugal já veio várias vezes a público garantir a solidez financeira do BES e o então Primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, tranquilizava também os depositantes do banco. O certo e verdade é que o banco caiu e Ricardo Salgado encontra-se ainda a contas com a justiça, para julgamento, o qual tem tentado esquivar-se por vários meios.

Encheria páginas deste quinzenário, ou de outra publicação, se fossemos mencionar muitos casos gritantes de petas políticas. Não quero, contudo, deixar de memorizar a célebre data de 2 de julho de 2013 respeitante à demissão “irrevogável” de Paulo Portas (PP) de ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros do Governo de Passos Coelho. Naquela patranhada que homens de palavra alguma vez tomariam, acabaria por se ver PP a dar uma machadada fatal no “irrevogável” da demissão.

Muito mais haveria para lembrar, mas não quero deixar de registar as contínuas petas do atual Governo perante a não eliminação das portagens na A23 e A25, com contínuos adiamentos, passando tão só por algumas reduções, deixando a Plataforma P’la Reposição das Scut na A 23 e A25 enraivecidas face ao incumprimento da palavra dada.

E por aqui ficamos. Até à próxima.

 

João de Jesus Nunes

jjnunes6200@gmail.com

(In “O Olhanense”, de 15-10-2023)

 


11 de outubro de 2023

TODOS, TODOS, TODOS!

 

Começo por me referir ao editorial de Joaquim Chito Rodrigues, Tenente-general e Presidente da Liga dos Combatentes, na última revista “Combatente”, de que é o seu diretor, edição 404 de junho de 2023. No seu historial sobre as missões de paz em tempo de guerra, regista a data consagrada de 29 de maio do ano em curso, na homenagem “aos que ao serviço da ONU, da UE e da OTAN se sacrificaram e sacrificam para que a Paz no mundo procure ser uma realidade”. Três fatores se destacam neste contexto da sua intervenção: “Dia dos Combatentes das Forças Armadas e das Forças de Segurança, em forças nacionais destacadas, ao serviço da Paz. Ano em que celebramos o 75º. Aniversário da primeira Operação de Paz da ONU, em 1948, na guerra israelo-árabe e o 35º aniversário da atribuição do Prémio Nobel da Paz à ONU”.

A ONU, surgida após a segunda guerra mundial, tem hoje 128 países interessados nesta missão, cerca de 123.000 pessoas servindo nesta causa e um orçamento que ronda os sete mil milhões de dólares.

Também não podia deixar de me referir ao grandioso evento que se realizou em Portugal, de 1 a 6 de agosto – As Jornadas Mundiais da Juventude – com dois locais em destaque: Parque Eduardo VII (Missa de Abertura, Festa de Receção ao Papa Francisco e Via Sacra) e o Parque Tejo (Vigília e Missa de Envio), contando com 1,5 milhão de pessoas, jamais visto em Portugal, e irrepetível, segundo as palavras do Presidente de República, Marcelo Rebelo de Sousa.

Depois de muito do que se falou sobre os abusos sexuais no seio da Igreja, das controvérsias relativamente às opções da vivência entre pessoas do mesmo sexo, e outras que dispenso de enumerar, algumas francamente injustas, outras nem tanto, na minha opinião, surge o discurso do Papa Francisco, para aquela multidão de jovens, e não só, de todo o Mundo, numa intervenção perante 500 mil pessoas, afirmando com grande vigor que a Igreja tem lugar para “todos”, sem exceção. E pediu a cada jovem que seja o protagonista da sua vida.

Foi um discurso marcado por um grande improviso e desvios em relação ao texto que tinha sido preparado – e marcado por uma frase: “Igreja de todos, todos, todos!”. Voltou assim a defender uma Igreja de braços abertos.

O Papa Francisco apareceu rejuvenescido e revigorado pelo contágio de entusiasmo dos jovens que, juntamente com os seus pastores e educadores, chegaram a Portugal vindos de todas as partes do mundo.

Interessante a parte do jornal digital Vatican News que passo a reportar: “Num tempo em que todos comentam e ninguém escuta, numa época em que tantos procuram aparentar o que não são, não há mensagem mais atraente e revolucionária: Alguém nos ama assim como somos, perdoa-nos sempre, está ali à espera de braços abertos, vai à nossa frente disposto a nos cobrir de misericórdia. É a lógica nada humana e inteiramente divina que aprendemos com o episódio do Evangelho de Zaqueu, o pecador publicano mal visto por todos na cidade de Jericó que, curioso em relação ao profeta nazareno, sobe para um sicómoro e meio escondido entre as folhas o espera passar. Mas Jesus a olhar primeiro para ele, ama-o primeiro, se auto convida para ir a sua casa, independentemente dos comentários escandalizados dos presentes. Na Igreja há lugar para todos, assim como houve lugar para o publicano Zaqueu que teve o privilégio de receber o Nazareno na sua própria casa, à sua mesa.

Gosto de contar este episódio, pois já por duas vezes estive em Jericó.

Pegando neste tema, ocorre-me um assunto no seio dos Antigos Combatentes, que reputo de injusto e que já apresentei no Jornal “O Combatente da Estrela”, nº. 129, de dezembro de 2022, sob o título “Do Meu Ponto de Vista”. Refere-se à injustiça, na minha opinião, resultante da alteração inserida no Estatuto do Antigo Combatente em que deixaram de ser considerados nesta situação os militares que prestaram serviço fora da Guiné, Angola e Moçambique, salvo raras exceções.

Também, como o Papa Francisco, eu aqui exorto a que todos os que se consideram lesados insistam na reivindicação: “Todos, todos, todos!”.

João de Jesus Nunes

Jjnunes6200@gmail.com

(In “O Combatente da Estrela”, 132, OUT/2023)