19 de dezembro de 2025
OLHANENSE E COVILHÃ PROCURAM RUMO EM CENÁRIO DE DECADÊNCIA
O futebol, tantas vezes chamado
de Desporto-Rei, vive hoje um dos períodos mais paradoxais da sua história.
Nunca foi tão global, tão mediático, tão omnipresente no quotidiano das
pessoas; e, ao mesmo tempo, nunca esteve tão distante de muitas das suas raízes
comunitárias, dos clubes que ergueram o desporto a partir da paixão local, do
sacrifício voluntário, da identidade de bairro, vila ou cidade. Entre a “grande
penalidade” que a modernidade lhe cobra e o “fora de jogo” em que tantas
instituições tradicionais se veem colocadas, ergue-se um debate urgente: que
futebol queremos preservar para o futuro?
O caso de dois clubes históricos –
o Sporting Clube Olhanense e o Sporting Clube da Covilhã – ilustra, com uma
clareza quase dolorosa, o descompasso entre o brilho do futebol-negócio e a
sombra que se abate sobre o futebol regional e de tradição. Ambos viveram
décadas de relevância competitiva, ambos são parte inseparável da memória
desportiva das suas cidades e ambos, cada um à sua maneira, enfrentam processos
de decadência que preocupam quem ainda acredita que o futebol é, acima de tudo,
pertença das comunidades.
O Olhanense, terceiro campeão
nacional da história do futebol português (08-06-1924), símbolo maior de uma
cidade que sempre soube viver o desporto com intensidade, encontra-se há anos
num ciclo de instabilidade competitiva, financeira e estrutural. O clube que já
fez tremer gigantes e encantou públicos parece hoje navegar num mar revolto,
que vinha incapaz de encontrar um rumo que devolva estabilidade e ambição. A
distância entre o prestígio do passado e a fragilidade do presente gera
frustração – não apenas entre adeptos, mas também entre todos os que reconhecem
o papel cultural que este emblema representa para o Algarve e para o país.
Uma esperança renasceu com o
desaparecimento da SAD e o ressurgimento do novo Sporting Clube Olhanense, aqui
muito mercê da batuta do homem de vontade hercúlea que dá pelo nome de Manuel
Cajuda, agora ao leme do clube algarvio.
A centenas de quilómetros, na
encosta da Serra da Estrela, o Sporting Clube da Covilhã vive situação
semelhante. Também ele clube histórico, habituado durante décadas a ser
presença quase permanente nos campeonatos nacionais mais competitivos, enfrenta
uma luta diária pela sobrevivência. A descida aos escalões inferiores não
traduz apenas um resultado desportivo: espelha a dificuldade de um modelo de
gestão e sustentabilidade que se tornou quase impossível para clubes com
recursos limitados e comunidades envelhecidas ou dispersas. O “Leão da Serra”,
tantas vezes orgulhoso representante de uma região inteira, vê-se agora
obrigado a repensar a sua identidade e o seu futuro.
Estes dois exemplos não são
exceções – são sintomas. Sintomas de um futebol que se desequilibrou, que
abandonou parte do seu ecossistema natural, que deixou para trás clubes que,
durante décadas, alimentaram o talento nacional, construíram estádios com o
esforço da população e criaram gerações de adeptos para quem a camisola era
quase uma extensão da própria alma. Hoje, com orçamentos que rivalizam com
pequenas economias, muitos emblemas regionais vivem num permanente “fora de
jogo”, lutando por espaço mediático, por apoios financeiros, por sócios e até, em
casos extremos, pela própria existência.
Apesar de tudo, há um elemento
que permanece intacto: a paixão. É ela que continua a levar adeptos ao Estádio
José Arcanjo ou ao Santos Pinto; é ela que continua a convocar memórias de
tardes gloriosas, de subidas dramáticas, de golos improváveis. É ela que impede
que o futebol regional desapareça por completo. Mas a paixão, por si só, já não
chaga. Hoje exige-se visão, profissionalização, compromisso municipal e
empresarial, união associativa e, acima de tudo, coragem para reinventar
modelos que há muito deixaram de responder às necessidades atuais.
O futebol português – e o futebol
em geral – tem que reencontrar o equilíbrio. Não se trata de travar a evolução
natural do desporto, nem de reclamar um regresso a tempos românticos que já não
voltam. Trata-se de assegurar que o crescimento do topo não destrói a base; que
a obsessão pelo lucro não elimina a identidade; que o brilho dos grandes palcos
não apaga a luz dos pequenos estádios que, tantas vezes, são os primeiros lares
de futuros campeões.
O Olhanense e o Covilhã, com
todas as suas dificuldades, continuam vivos. E enquanto permanecerem vivos, há
esperança. Há história, há comunidade, há herança. Mas é fundamental que esta
esperança seja acompanhada de ação – não apenas por parte dos clubes, mas
também dos poderes locais, dos agentes desportivos, das federações e de todos
os que acreditam que o Desporto-Rei não pode ser apenas um negócio: tem de
continuar a ser, também, uma cultura.
Entre a grande penalidade e o
fora de jogo, o futebol português prepara-se para decidir o seu futuro. Que
essa decisão não esqueça os clubes que ajudaram a construir a própria essência
do jogo. Eles merecem mais do que nostalgia: merecem futuro.
Votos de um Natal pleno de Saúde e
um Feliz Ano Novo em que a Esperança seja a realização dos sonhos que mais
desejarem, refletidos na Família do Jornal O Olhanense e do Sporting Olhanense,
Leitores e Amigos.
João de Jesus Nunes
(In “O Olhanense”, de 15-12-2025)
18 de dezembro de 2025
O DECLÍNEO DE DOIS EMBLEMAS: SP. COVILHÃ E SP. OLHANENSE EM TEMPO DE INCERTEZA
O futebol português vive, nos
últimos anos, um período de contrastes profundos.
Enquanto o topo da pirâmide
continua a beneficiar da profissionalização, das receitas televisivas e da
crescente internacionalização do mercado, muitos clubes históricos enfrentam
dificuldades significativas para garantir estabilidade competitiva e sustentabilidade
financeira. Entre esses casos destacam-se o Sporting Clube da Covilhã e o
Sporting Clube Olhanense, dois emblemas com passado relevante no panorama
nacional, mas que atravessam atualmente uma fase de clara decadência.
O Sporting Clube da Covilhã,
fundado em 1923 é um dos clubes mais emblemáticos da Beira Interior. Conhecido
como o “Leão da Serra”, o Sp. Covilhã foi, ao longo das décadas, presença
constante na II Liga e somou quinze participações na I Divisão. Contudo, a
quebra de resultados nos últimos anos, aliada a limitações estruturais e a um
contexto municipal e económico menos favorável, empurrou o clube para um ciclo
difícil. A recente queda para divisões inferiores agravou as preocupações quanto
ao futuro do emblema serrano, cujo impacto no tecido social e desportivo da
região continua a ser significativo. O Estádio Santos Pinto, que tantas vezes
funcionou como ponto de encontro da comunidade covilhanense, tem vivido tempos
de menor afluência e menor entusiasmo.
Situação semelhante vive o
Sporting Clube Olhanense, fundado em 1912, permanece na história como o
terceiro campeão nacional, título conquistado em 1924. Durante décadas foi um
dos principais representantes do futebol algarvio, com presenças regulares nos
campeonatos nacionais e um importante papel na formação de jogadores. Porém,
nos últimos anos, o clube tem enfrentado dificuldades que vão desde problemas
de gestão a instabilidade financeira. As descidas sucessivas de divisão, a
irregularidade de resultados e a perda de competitividade colocaram o emblema
de Olhão afastado dos palcos onde habituou a figurar. O Estádio José Arcanjo,
outrora palco de grandes jornadas, tem recebido cada vez menos público, num
reflexo direto das fragilidades que marcam o atual momento do clube, que chegou
a desaparecer e renasceu agora das cinzas.
Estes dois casos, embora
distintos nos detalhes, evidenciam problemas comuns ao futebol regional e
tradicional português: modelos de financiamento desatualizados, dependência excessiva
de apoios públicos, dificuldades em atrair patrocinadores, ausência de
infraestruturas modernas e a incapacidade de reter jovens talentos que
rapidamente procuram clubes mais estruturados. A discrepância entre os grandes
centros urbanos e as regiões periféricas torna-se cada vez mais evidente, com
impacto direto na competitividade dos clubes.
Num cenário em que o futebol
nacional se torna cada vez mais centralizado e dominado por grandes estruturas
empresariais, os clubes históricos de média e pequena dimensão enfrentam um
verdadeiro “fora de jogo”. O espaço mediático diminuiu, a capacidade de geração
de receitas é limitada e a pressão competitiva aumenta. Ainda assim, a
importância social destes clubes permanece inquestionável: são polos de
identidade, formação, convívio e memória coletiva.
Tanto o Sporting da Covilhã como
o Sporting Olhanense procuram agora soluções que permitam estabilizar e
reconstruir. Reestruturação financeira, reorganização interna, aposta na
formação e maior envolvimento da comunidade são caminhos apontados por especialistas
e dirigentes desportivos. A cooperação com autarquias e parceiros locais
continua a ser essencial para garantir a continuidade dos projetos desportivos,
num contesto em que a sustentabilidade é cada vez mais difícil de alcançar.
Num momento em que o futebol
português reflete sobre o seu futuro, é fundamental que os clubes históricos
não sejam esquecidos. Representam décadas de contribuições para o desporto
nacional e continuam a desempenhar um papel relevante na coesão das suas comunidades.
A crise que atravessam deve servir como alerta para a necessidade de políticas
desportivas mais equilibradas e de estratégias que valorizem a base do futebol,
evitando que emblemas emblemáticos caiam definitivamente no esquecimento.
Entre a grande penalidade da
pressão económica e o fora de jogo da perda de competitividade, Sp. Covilhã e
Sp. Olhanense continuam a lutar por um futuro digno da sua história. E o
futebol português, se quiser preservar a sua identidade, terá de olhar mais
atentamente estes clubes que, apesar de dificuldades, permanecem símbolos vivos
de dedicação e resiliência.
Feliz Natal e um Próspero Ano
Novo.
João de Jesus Nunes
(In “Jornal Fórum”, de 18-12-2025)
17 de dezembro de 2025
Natal, Ano Novo e Centenário do Núcleo da Covilhã da Liga dos Combatentes
Neste Natal de 2025, porém, há
uma luz adicional a projetar-nos sobre a nossa comunidade: as comemorações do Centenário
do Núcleo da Covilhã da Liga dos Combatentes, que decorrerão entre
fevereiro e junho de 2026. Um marco notável, feito de cem anos de entrega,
camaradagem, solidariedade e presença ativa na vida da cidade e da região.
Cem anos não são apenas um número
redondo: são histórias reais de homens e mulheres que, ao longo de gerações, se
uniram em torno de valores que permanecem intemporais – serviço, honra,
lealdade e espírito de missão. O Núcleo da Covilhã, desde a sua fundação, tem
sido ponto de apoio, de memória e de afirmação coletiva, preservando o legado
dos que serviram Portugal e garantindo que o sacrifício de cada combatente não
se perdeu no rumor do tempo.
As celebrações do Centenário
serão, por isso, mais do que uma efeméride: serão um tributo à resistência e à
dignidade daqueles que nos antecederam, e uma oportunidade para reforçar o
compromisso com o futuro da Liga dos Combatentes na Covilhã. Estão previstas
iniciativas culturais, históricas e comunitárias, que permitirão envolver toda
a população e renovar os laços entre o Núcleo e a cidade que o acolhe há um
século.
O espírito festivo do Natal
lembra-nos a importância de estarmos juntos; o início de um novo ano renova a
esperança de seguirmos unidos; e o Centenário chama-nos à responsabilidade de
honrar a memória preservando-a para as futuras gerações. É este o triplo apelo
que nos acompanha neste final de ano.
Que o Natal nos inspire
serenidade e gratidão. Que 2026 se anuncie com paz, saúde e firmeza de
propósito. E que as comemorações do Centenário do Núcleo da Covilhã da Liga dos
Combatentes sejam um testemunho vivo da força da nossa identidade e do orgulho de
pertencermos a esta família de Combatentes.
Com os melhores votos para todos,
combatentes, famílias e amigos – e que a Estrela da Serra continue a iluminar o
nosso caminho.
João de Jesus Nunes
(In “O Combatente da Estrela”, nº.
141 – dez 2025)
CONTE-NOS A SUA HISTÓRIA ANÍBAL MANUEL SILVA SARAIVA
Trazemos neste número as memórias
de um antigo combatente na Guiné – Aníbal Manuel Silva Saraiva, nascido a 30 de
abril de 1949, em Santo António d’Alva, freguesia de Penalva de Alva, concelho
de Oliveira do Hospital. Desde os três anos, porém, passou a ser também covilhanense
de coração, ao vir residir para a Covilhã com os pais.
É casado, tem dois filhos e quatro
netos.
O pai, trabalhador da construção
civil, como tantos dos seus conterrâneos, veio trabalhar para a Covilhã, onde
se fixou com a família. Assim se estabeleceu definitivamente o jovem Aníbal,
que nunca esqueceu, contudo, a sua terra natal.
Frequentou a primeira classe da
instrução primária em Penalva de Alva e concluiu-a já na Covilhã, na escola do
Asilo.
Como era comum entre os jovens da época,
começou a trabalhar muito cedo – aos 11 anos – no comércio, como marçano. Aos
14 anos, ingressou na empresa António Carlos Pereira Sucessores, Lda., dedicada
a materiais de construção, onde permaneceu 40 anos, até à reforma.
Cumpriu o serviço militar
obrigatório, iniciando a recruta no RI 14, em Viseu, a 12 de janeiro de 1970.
Fez a especialidade de Transmissões
de Artilharia no R.A.P 3, na Figueira da Foz, e, posteriormente, frequentou a Escola
Prática de Artilharia de Vendas Novas, a partir de 1 de junho de 1970.
Foi então mobilização para a Guiné,
sendo colocado nos Adidos, aguardando embarque. Este realizou-se em 18 de
setembro de 1970, tendo desembarcado em Bissau a 24 de setembro, data em que foi
promovido a 1º. Cabo.
Durante oito meses esteves destacado no mato, regressando
depois a Bissau, onde concluiu a comissão de serviço.
Como saía pouco em missão, teve a
sorte de não enfrentar grandes confrontos com o inimigo, sempre iminente. Além
disso, as peças de artilharia com que trabalhavam raramente saíam do quartel,
permanecendo ali resguardadas. Felizmente, não houve baixas no seu pelotão.
Regressou à Metrópole a 5 de
outubro de 1972.
J. J. Nunes
(In “O Combatente da
Estrela”, nº. 141, DEZ/2025)
5 de dezembro de 2025
TRAÇOS DE VÁRIA HISTÓRIA DO CONCELHO DA COVILHÃ
Face às justas críticas que têm
vindo a ser feitas à anterior governação covilhanense, no que toca ao panorama socioambiental
que tem sido negligenciado, impôs-se-me uma breve retrospetiva da Covilhã de
outros tempos. Na verdade, situações como a recente proliferação de prédios em
altura, que beliscam profundamente a paisagem e retiram aos vizinhos a visão
panorâmica que sempre tiveram – como sucede na Rua Manuel de Castro Martins,
que foi meu ilustre professor – ilustram bem essa problemática. Como muito
assertivamente refere o amigo professor António Rodrigues Assunção, no Notícias
da Covilhã, ergueu-se ali “um mastodôntico edifício habitacional”, evocando
ainda “os anos 1920-1930 da criação nesta cidade de uma Comissão de Iniciativa
Turística, embrião da futura Região de Turismo da Serra da Estrela”. Essa
evocação levou-me a trazer à memória alguns traços da história deste concelho
naquele longínquo período.
Não se pode confirmar, com base em
dados positivamente seguros, a existência da indústria de lanifícios na Covilhã
durante a dominação romana. Admitir que os pascigos da Serra da Estrela
alimentavam ovelhas e que a lã deu origem a uma indústria é mera conjetura, sem
fundamento histórico sólido. As selvas que então revestiam os ínvios
desfiladeiros da serra mal podiam oferecer passagem ou pastos adequados à
ovelha. Se algum animal doméstico poderia aventurar-se, sob vigilância humana,
pelos pascigos serranos, seria a cabra – pela profusão de pastos adequados à
sua voracidade, bem como pela sua agilidade e robustez. E como os romanos
utilizavam o pelo da cabra para tecer cordas e fabricar tecidos grosseiros com
que cobriam as tendas de campanha, é plausível afirmar que fundaram a Covilhã
na Corredoura para aí estabelecerem fábricas de cordas e tecidos feitos com
pelo de cabra.
Foi, porém, durante a ocupação muçulmana
da Península que, com maior probabilidade, se fixou na Covilhã a indústria de
lanifícios. O mouro inventou o pisão mecânico para esta indústria – denominado
na Covilhã maceira – que aqui se utilizou durante muitos séculos. Nas
ribeiras da Degoldra e da Carpinteira existiam numerosos pisões antiquíssimos, tão
antigos como moinhos e azenhas.
O pisoamento do tecido de lã tem
por finalidade feltrá-lo. O feltro começa a preparar-se no cardar da lã, de onde
se produz o fio com que se urde e se tece o artefacto. É o feltro a pedra de
toque que permite aquilatar a superioridade da lã, sendo a sua capacidade de
feltragem o que confere aos tecidos as qualidades isoladoras da temperatura,
fazendo desta fibra a matéria-prima mais adequada ao vestuário. Assim, o antigo
pisão mourisco existente nas ribeiras da Covilhã atesta que a indústria da lã
cardada é aqui, muitas vezes, secular.
A primeira Fábrica Real da
Covilhã, fundada por D. Pedro II segundo as ideias económicas do Conde da
Ericeira, situava-se na Ribeira da Carpinteira, no local da Fábrica Velha, que mais
tarde passou para Campos Melo & Irmão. A Fábrica Real Nova – hoje Universidade
da Beira Interior e outrora quartel militar (Regimento de Infantaria 21 e,
posteriormente, Batalhão de Caçadores 2) – foi fundada pelo Marquês de Pombal
junto da Ribeira da Degoldra. Ambas surpreenderam nos fabricos covilhanenses a tramilha,
que não era senão um derivado ou sucedâneo da preparação da lã penteada.
Predominantemente doméstica até
ao fim do primeiro quartel do século XIX, a indústria da Covilhã não era tão
absorvente que impedisse os seus habitantes de se integrarem coletivamente nos
grandes acontecimentos políticos, militares e marítimos que fizeram de Portugal
uma das nações mais gloriosas da Europa.
Um pequeno quadro histórico,
quase às origens da nacionalidade, revela bem a têmpera e o altíssimo ânimo dos
covilhanenses medievais, que já então se ocupavam no pacífico labor dos lanifícios.
D. Sancho I concedeu à Covilhã o seu primeiro foral em 1186.
Contudo, já antes dessa data o
concelho se encontrava organizado municipalmente, regendo-se pelos usos e
costumes do foral de Salamanca, tal como os concelhos vizinhos de Valhelhas,
Penamacor, Guarda e Alpedrinha.
D. Sancho I, encontrando a
Covilhã organizada consuetudinariamente, alterou-lhe o regime jurídico,
conferindo maiores regalias aos seus vizinhos. O amplíssimo território sob jurisdição
dos alcaides da Covilhã estendia-se desde o vértice da Serra da Estrela – onde,
no reinado de D. João VI, se edificou a Torre e onde Emídio Navarro sugeriu que
fosse erigida a estátua da Lusitânia – até às Portas de Rodão, já no Tejo, no
extremo sul. Essas variações na
organização municipal sucederam à medida que se iam redefinindo os contornos da
vasta área concelhia.
A vila de Belmonte tinha surgido
na área territorial do concelho da Covilhã, por continuidade com o povoado
romano de Centum-Cellae, surgido da exploração mineira do estanho.
Obviamente, nada daquilo que hoje
conhecemos existia então. Não havia tecnologias modernas nem prédios que
ensombrassem horizontes. O casario não incomodava e a paisagem regalava os
olhos. Era impensável recear a poluição atmosférica ou os males causados pelo
consumo de carvão. Existiam povoações, vinhedos, campos e montes; e não se
imaginavam as vastíssimas extensões de terreno que hoje acolhem painéis fotovoltaicos.
Fica, pois, esta reflexão sobre o
que todos nós vimos contribuindo para um futuro cada vez mais incerto na nossa vivência
sobre este planeta.
Para terminar, envio os meus
parabéns ao semanário FÓRUM pelos seus 14 anos a informar a Região, e também
pelos dois anos e meio da RÁDIO FÓRUM, que se têm vindo a rejuvenescer. Que
assim continuem por muito anos, acompanhando a transformação da sociedade em
que nos inserimos.
João de Jesus Nunes
(In “Jornal Fórum Covilhã”, de
04-12-2025)
4 de dezembro de 2025
COVILHÃ – UMA HISTÓRIA DE LÃ, FRONTEIRAS, IDENTIDADE E A SUA UNIVERSIDADE
A história da Covilhã é
inseparável da lã. Desde tempos imemoriais, entre ribeiras encaixadas e
encostas agrestes da Serra da Estrela, este território desenvolveu uma ligação
profunda à indústria têxtil, que moldou a sua economia, a sua organização
social e até a sua paisagem humana. Embora não existam provas definitivas de
produção têxtil na época romana, a tradição industrial começou a ganhar
contornos mais sólidos durante a ocupação muçulmana, período em que os mouros
introduziam o pisão mecânico – a então chamada maceira – utilizada
durante séculos nas ribeiras da Degoldra e da Carpinteira.
Estas oficinas de pisões, movidas
pela força hidráulica e dedicadas ao feltramento da lã, testemunhavam uma
atividade que, entre cardar, fiar, tecer e pôr ao pisão, elevou a Covilhã a um
dos mais importantes centros têxteis da Península. Mais tarde, com a instalação
da Fábrica Real fundada por D. Pedro II e, posteriormente, da Fábrica Real
Nova, criada pelo Marquês de Pombal, consolidava-se uma tradição que marcava
gerações.
Paralelamente ao desenvolvimento
económico, a Covilhã afirmava-se como um concelho dinâmico e com forte sentido
comunitário. O seu primeiro foral, concedido por D. Sancho I em 1186, não criou
uma estrutura administrativa do nada; veio antes reconhecer e organizar uma
autonomia que já existia, herdade dos usos e costumes de Salamanca. Essa
identidade municipal foi reforçada quando o modelo de Salamanca foi substituído
pelo de Ávila, ampliando direitos e deveres dos seus habitantes.
O território concelhio era
vastíssimo, estendendo-se da Torre da Serra da Estrela até ao Tejo, pelas Portas
de Ródão. Incluía áreas que, por iniciativa régia e pela ação dos próprios
alcaides, deram origem a novas povoações, como Sortelha, fundada após concessão
de terras por pedido de D. Sancho I. Já Belmonte, surgida do antigo Centum-Cellas,
manteve durante longos anos uma relação jurisdicional particular: embora sob
influência da Mitra de Coimbra, as suas decisões judiciais continuavam a subir
em grau para os juízes da Covilhã.
Mas a força do concelho não
residia apenas na administração. Os covilhanenses participaram ativamente em
momentos cruciais da história nacional: da jornada de Ceuta aos levantamentos contra
Filipe IV, passando pela defesa das suas fronteiras medievais. A Covilhã,
embora dedicada à produção de lanifícios, nunca deixou de erguer a bandeira da
soberania e da justiça quando necessário.
É neste contexto que surgem os
conflitos com os Templários de Castelo Branco, que procuraram alargar os seus
domínios, impondo portagens abusiva aos munícipes da Covilhã. O choque culminou
num combate na zona da atual Póvoa de Rio de Moinhos, onde a Covilhã saiu
vitoriosa. A arbitragem posterior, registada em 1230 no Mosteiro de Santa Maria
de Ozezar, viria a confirmar que o concelho covilhanense tinha razão na defesa
dos seus limites.
Assim se desenha uma Covilhã que
não é apenas a “cidade dos lanifícios”, mas uma terra de autonomia, ousadia e
memória. Uma comunidade que ao longo dos séculos, soube conjugar engenho,
trabalho e resistência – ingredientes essenciais para construir uma identidade
que resiste às intempéries do tempo.
A Covilhã, outrora denominada A Manchester Portuguesa, transformou-se profundamente
nas últimas décadas. Sem perder a herança industrial que marcou a sua
identidade – visível nas antigas fábricas, nas ribeiras e na memória operária –
a cidade reinventou-se como um polo de conhecimento, inovação e tecnologia.
Hoje, a Covilhã é amplamente
reconhecida como cidade do saber, graças ao papel decisivo da Universidade
da Beira Interior (UBI). A UBI trouxe dinamismo juvenil, investigação de ponta, novos cursos e
centros de estudo, impulsionando áreas como a saúde, aeronáutica,
engenharias, artes e ciências sociais. Esta presença universitária revitalizou
a economia local, a cultura e a vida urbana, tornando a Covilhã mais
cosmopolita, criativa e aberta ao futuro.
Assim, a Covilhã contemporânea é
uma cidade que une tradição e modernidade: honra o passado dos
lanifícios, mas afirma-se cada vez mais como território de conhecimento,
inovação e oportunidades para toda a região.
João de Jesus Nunes
(In “O Olhanense”, de 01-12-2025)
19 de novembro de 2025
ENVELHECER COM MEMÓRIA: DESAFIOS DA SAÚDE MENTAL E DA DOENÇA DE ALZHEIMER
Decorridos mais de cem anos, a
Ciência ainda não conseguiu encontrar o mecanismo exato que provoca a doença de
Alzheimer e, consequentemente, os meios adequados para a sua prevenção e
tratamento.
Envelhecer não é, contudo,
sinónimo de perda de autonomia cognitiva e funcional. É importante agir,
individual e coletivamente, para a evitar. Uma das ações fundamentais é o
reconhecimento dos fatores de risco potencialmente modificáveis – aqueles que podemos
controlar e que nos permitem agir de forma preventiva.
Quando alguém que não vemos há
muito tempo nos diz “não mudaste nada”, sabemos que apenas quer dizer que somos
reconhecíveis, apesar das mudanças inevitáveis que o tempo provoca.
Envelhecer bem, sem demência, implica
perder alguma rapidez mental, ser talvez menos criativo do que os jovens
adultos, menos aventureiro e menos ávido de novidade do que os adolescentes – tendencialmente
mais repetitivo e voltado para o passado. Mantêm-se, no entanto, a capacidade
de aprender, de acumular conhecimento e de o relacionar com o já adquirido, bem
como a vontade de revisitar grande parte do que sempre nos apaixonou.
“Demência” não é sinónimo de
“doença de Alzheimer”, embora, na prática, os termos sejam frequentemente usados
de forma indistinta.
Entende-se por demência a perda
de capacidades cognitivas e funcionais previamente adquiridas, provocadas por uma
doença que conduz à degeneração do cérebro.
O cérebro adulto pesa entre 1,1 e
2 Kg e estima-se que contenha 86 mil milhões de neurónios.
É sabido que, com a idade, ocorre
perda de capacidade de memorização e diminuição da velocidade de processamento
da informação.
Entre os fatores de risco mais
comuns para a doença cerebrovascular encontram-se a idade, a hipertensão
arterial, a diabetes, a obesidade, o tabagismo e o consumo excessivo de álcool.
A perda do sentido do “eu”, da identidade
biográfica, é uma das marcas mais profundas da doença de Alzheimer, na qual o
passado se apaga progressivamente, desfazendo a linha de memórias que
construímos ao longo da vida – memórias evocadas, modificadas e readquiridas em
ciclos contínuos.
Platão, pela voz de Diotima de
Mantineia, em O Banquete (384 a.C.), antecipou o que a
Neurociência viria a provar muitos séculos depois:
“Aquilo a que se chama estudar é
como um conhecimento que se deixa partir, pois o esquecimento é a saída do conhecimento,
e o estudo, fabricando de novo uma nova memória em substituição da antiga,
salva o conhecimento, de tal modo que ele parece ser o mesmo”.
A doença de Alzheimer deve o seu
nome a Alois Alzheimer, que, no início do século XX, descreveu as principais alterações
patológicas observadas no cérebro dos doentes.
Essas alterações começam muito
antes dos primeiros sintomas – um intervalo que pode ir de 15 a 30 anos –, constituindo
um dos maiores desafios para o tratamento e diagnóstico precoce.
Os sintomas iniciais surgem de forma
insidiosa e variável. A dificuldade crescente na conversação, o esquecimento
frequente e o isolamento subsequente podem conduzir a tristeza e apatia. As perdas
cognitivas são progressivas e cumulativas.
O envelhecimento é, de facto, o
principal fator de risco para a perda cognitiva, uma vez que o cérebro acumula
danos ao longo da vida.
A perda auditiva relacionada com
a idade – presbiacusia – é uma condição neurossensorial progressiva, bilateral
e simétrica, que afeta cerca de um terço das pessoas acima dos 65 anos.
Habitualmente manifesta-se a partir dos 40 anos e, aos 80, atinge entre 50 e 80%
dos indivíduos.
A hipertensão arterial na
meia-idade é reconhecida como fator de risco de demência em idade avançada. Idealmente,
a tensão arterial deve situar-se abaixo de 120/80 mmHg; valores acima de 135-140/85-90
mmHg indicam hipertensão.
Também a diabetes aumenta o risco
de demência, agravando-o com a duração e a gravidade da doença.
A obesidade – definida por um
índice de Massa Corporal (IMC) > 30 – tem vindo a aumentar em todos
os grupos etários, incluindo entre os mais idosos.
A prática do exercício físico
associa-se consistentemente à redução do risco de demência, segundo diversos
estudos longitudinais. É essencial manter a atividade física ao longo de toda a
vida.
Embora o tabagismo seja, por si
só, um fator de risco de demência, é sobretudo causa de morte prematura.
Os danos cerebrais provocados
pelo consumo excessivo de álcool são igualmente conhecidos há muito. Considera-se
consumo excessivo acima de 21 unidades por semana (uma unidade equivale a 10 ml
ou 8 g de álcool puro).
A depressão e a ansiedade são duas
das patologias mais frequentes na sociedade moderna.
Sigmund Freud (1856-1939), “pai” da
Psicanálise, atribuiu, no ensaio O Mal-Estar na Civilização, o
neuroticismo crescente das sociedades à repressão dos instintos primários de frustrações
impostas pela vida em sociedade, assistindo-se à repressão dos instintos
primários, particularmente os sexuais, em nome das exigências coletivas da vida
em sociedade.
O isolamento social é outro dos
males silenciosos da modernidade.
Segundo os Censos de 2021, mais
de um milhão de pessoas em Portugal viviam sós – sendo meio milhão idosos. A solidão
na velhice é difícil de ultrapassar e tem forte impacto na saúde física e
mental: dias inteiros sem conversas, longas horas de televisão, sentimentos de
desesperança e de não pertença. Na Europa, 40% das mulheres idosas vivem sós,
contra 19% dos homens.
As perturbações de sono também surgem
associadas ao aumento do risco de Alzheimer e outras demências. O risco é maior
quando a duração do sono é inferior a cinco horas. O ideal, segundo alguns autores,
situa-se entre cinco e sete horas diárias. A apneia do sono, por seu turno, é
um fator de risco reconhecido para doenças cardíacas, morte súbita e demências.
Envelhecemos todos de maneira
diferente – resultado da genética e dos múltiplos fatores ambientais a que
estivemos expostos ao longo da vida. Por isso, pessoas da mesma idade podem
apresentar níveis de capacidade cognitiva muito distintos.
A alimentação tem um papel
essencial, tanto no desenvolvimento saudável como na prevenção de doenças. O
saber ancestral – quando semear, o que colher e quando, o que pescar e como
alimentar os animais – faz parte da nossa herança de saúde e de equilíbrio.
Como refere a psicóloga clínica Catarina
Ruas Antunes,
“Existe uma rede de (des)informação
sobre a doença mental e temas que foram outrora tabu, mas que hoje fazem parte
da narrativa quotidiana e das tecnologias de pesquisa avançada”.
O Dia Mundial da Saúde Mental celebra-se a 10 de outubro – uma
oportunidade para refletirmos sobre a importância de cuidar da mente, em todas
as idades.
Fonte: “Quando a
Memória Falha”, de Belina Nunes e Álvaro Machado – neurologistas.
João de Jesus Nunes
(In “O Olhanense”, de 15-11-2025)
13 de novembro de 2025
SAÚDE MENTAL E ENVELHECIMENTO – O QUE DEVEMOS SABER
Decorridos mais de cem anos, a
Ciência ainda não conseguiu encontrar o mecanismo exato que provoca a doença de
Alzheimer e, por conseguinte, os meios adequados à sua prevenção e tratamento.
Envelhecer não é, contudo,
sinónimo de perda de autonomia cognitiva e funcional, sendo importante agir, de
modo individual e coletivo, para a evitar. Uma das ações fundamentais é o
reconhecimento dos fatores de risco potencialmente modificáveis – aqueles que
nós controlamos e que nos permitem agir preventivamente.
Quando alguém que não vemos há
muito tempo nos diz “não mudaste nada”, sabemos que apenas quer dizer que somos
reconhecíveis apesar das mudanças necessariamente operadas pela simples
passagem do tempo.
Envelhecer bem, sem demência, implica
perder alguma rapidez mental, ser talvez menos criativo do que os jovens
adultos, possivelmente menos aventureiro e menos ávido de novidade do que os
adolescentes, tendencialmente mais repetitivo e voltado para o passado.
Mantêm-se, no entanto, a capacidade de aprender, de acumular conhecimento e de
o ligar ao já adquirido, de procurar a novidade, ainda que com menos avidez, e
muito certamente a vontade de rever uma grande parte daquilo de que sempre
gostámos.
“Demência” não é sinónimo de
“doença de Alzheimer”, embora, na prática, os termos sejam muitas vezes usados indistintamente.
Por demência, entende-se a perda
de capacidades cognitivas e funcionais previamente adquiridas, por meio de uma
doença que conduz a uma degeneração do cérebro.
O cérebro adulto pesa entre 1,1 e
2 Kg e estima-se que tenha 86 mil milhões de neurónios.
Quanto ao tipo de função
cognitiva, todos têm noção da perda de capacidade de memorização com a idade,
bem como da diminuição da velocidade de processamento da informação.
A idade, a hipertensão arterial,
a diabetes, a obesidade, o tabagismo e o alcoolismo são os fatores de risco
mais comuns para a doença cerebrovascular.
A perda do sentido do “Eu”, a
perda da identidade biográfica, é um dos defeitos essenciais da doença de
Alzheimer, no contexto da qual, progressivamente, se vai apagando o passado que
trazemos connosco desde o nascimento, numa linha que vemos sempre a acumular
memórias sobre memórias, que, na verdade, sabemos serem inúmeras vezes
evocadas, modificadas, readquiridas e perdidas, em múltiplos ciclos contínuos.
Platão, pela voz de Diotima de
Mantineia, em O Banquete, obra composta cerca do ano 384 a. C., diz-nos
o que a Neurociência provou muitos séculos depois: “Com efeito, aquilo que se
chama estudar é como um conhecimento que se deixa partir, pois o esquecimento é
a saída do conhecimento, e o estudo, fabricando de novo uma nova memória
inovada em substituição da antiga, salva o conhecimento, de tal modo que ele
parece ser o mesmo”.
A doença de Alzheimer deve o seu
nome a Aloís Alzheimer, que, no início do século XX, descreveu as principais
modificações patológicas no cérebro dos doentes.
As alterações cerebrais caraterísticas
desta doença começam muito antes dos sintomas que trazem o doente a uma
primeira consulta. Este lapso de tempo, que pode ir de 15 a 30 anos, constitui
um dos maiores problemas para o tratamento da doença e é o principal alvo da
investigação atual, particularmente sobre os meios de diagnóstico.
Os sintomas e sinais iniciais não
surgem, por regra, todos ao mesmo tempo e não têm todos a mesma intensidade. A
dificuldade crescente na conversação e a rapidez com que escapam as coisas que
se dizem levam a um isolamento relativo a uma tristeza sem causa evidente. As
dificuldades cognitivas são progressivas e vão-se somando, em combinações
várias e intrincadas.
O envelhecimento é reconhecido
como o mais importante fator de risco para a perda cognitiva, pois o cérebro
acumula danos ao longo da vida.
A perda de audição que se deve ao
envelhecimento, designada por presbiacusia, carateriza-se por uma perda
auditiva, neurossensorial progressiva, bilateral e simétrica, e atinge cerca de
um terço das pessoas acima dos 65 anos. A presbiacusia começa a manifestar-se habitualmente
na quarta década de vida e, pelos 80 anos, atinge 50-80% dos indivíduos.
A hipertensão arterial na
meia-idade é reconhecida como um fator de risco de demência na idade tardia. A
tensão arterial ideal é <120/<80 mmHg e a hipertensão arterial compreende
valores >135-140 mmHg para a tensão sistólica (máxima) e >85-90 mmHg para
a tensão diastólica (mínima).
A diabetes é considerada um fator
de risco de demência, aumentando o risco com a duração e a gravidade da doença.
A obesidade, definida como um
índice de Massa Corporal (IMC) x 30, tem vindo a aumentar em todos os grupos
etários, incluindo entre os mais idosos.
A maior parte dos habitantes das
grandes cidades não se desloca a pé nem para o trabalho nem para a escola, como
acontecia maioritariamente há algumas décadas. A prática do exercício físico
associa-se a uma redução do risco de demência em vários estudos longitudinais
com diferentes populações. É destacada a necessidade de manter a atividade
física ao longo da vida.
Embora o tabagismo seja, por si
só, um fator de risco de demência, é principalmente um fator de risco de morte
prematura, ou seja, morte antes da idade mais frequente do desenvolvimento da
demência.
Os danos causados ao cérebro pela
ingestão excessiva de álcool são conhecidos desde há muito. A definição de consumo
excessivo de álcool aponta para um valor superior a 21 unidades/semana, sendo
uma unidade igual a 10 ml ou 8 g de álcool puro.
A depressão e a ansiedade são
termos conhecidos por se referirem a duas patologias mais frequentes na
sociedade moderna. Sigmund Freud (1856-1939) foi o “pai” da Psicanálise que
atribuiu no seu ensaio O Mau Estar da Civilização, o neuroticismo
crescente das sociedades modernas à acumulação de frustrações impostas pela
vida em sociedade, assistindo-se à repressão dos instintos primários,
nomeadamente sexuais, para corresponder às exigências coletivas.
Isolamento social – Segundo os
Censos de 2021, mais de um milhão de pessoas no nosso país viviam sós, sendo
que meio milhão eram idosos. Há certamente diversos modos de viver só, mas a
solidão do idoso é a mais difícil de ultrapassar e a que tem maior impacto
sobre a vida física e mental, devido aos dias inteiros que passa sem conversar com
ninguém, as horas seguidas a ver televisão, a que se seguem sentimentos de
desesperança, de não pertença e de depressão. É de 40% a média europeia de
mulheres idosas que vivem sós, contra 19% de homens.
As perturbações de sono surgem
repetidamente associadas ao aumento do risco de doença de Alzheimer e outras
demências. Parece existir um maior risco com a duração curta do sono, inferior
a cinco horas. Segundo alguns autores, o período ideal situa-se entre cinco e
sete horas de sono.
A apneia do sono é um fator de
risco reconhecido de patologia cardíaca, morte súbita e patologia vascular
cerebral e surge também associada a um maior risco de demência.
Envelhecemos todos de maneiras
diferentes, o que resulta da genética e dos inúmeros fatores ambientais a que
estivemos expostos ao longo da vida. É por isso que uns, com mesma idade de um
paciente, mantêm as capacidades cognitiva e funcionais, outros não.
A alimentação humana tem um papel
absolutamente estruturante ao longo do tempo. A nível individual, não apenas no
desenvolvimento e crescimento saudáveis, mas também no surgimento de doenças e
no combate às mesmas.
Crescemos com o saber ancestral
relativo às melhores alturas para semear o quê e onde, quando devemos colhê-lo
e porquê, onde e em que alturas pescar certos peixes, ou como alimentar os
outros animais para a força ou para o prato.
“Existe uma rede de (des)informação
sobre a doença mental e temas que foram outrora categorizados como tabu e que,
atualmente fazem parte quer da narrativa do dia a dia quer das tecnologias de
pesquisa avançada”. (Catarina Ruas Antunes, psicóloga clínica).
O dia 10 de outubro é considerado
o Dia Mundial da Saúde Mental.
Fonte: “Quando a Memória Falha”, de Belina Nunes e Álvaro
Machado – neurologistas.
João de Jesus Nunes
(In “Jornal Fórum Covilhã”, de
13-11-2025)
6 de novembro de 2025
OS 40 MÁRTIRES DO BRASIL E O BEATO FRANCISCO ÁLVARES: O CARDADOR DA COVILHÃ QUE DEU A VIDA PELA FÉ QUARENTA MÁRTIRES JOVENS!
A história do martírio destes
jovens começou muitos anos antes do nascimento da maior parte deles… Foi Inácio
de Azevedo, um nobre da zona do Porto, nascido em 1526, que, abandonando o
sucesso que a vida lhe prometia, seguiu a Cristo, na Companhia de Jesus
(jesuítas). As notícias que iam chegando do Congo, Angola, Índia e Japão,
encantavam-no!
Do Brasil pediam reforços e
alguém capaz de reorganizar o trabalho já iniciado. Pelo seu carácter empreendedor,
ativo e enérgico, Inácio foi escolhido. Trabalhou no Brasil, de 1566 a 1568. De
regresso, fez campanha para recrutar jovens que o quisessem acompanhar. Reuniu
uma expedição de 73 jovens religiosos, de idade entre os 16 e os 30 anos, que,
com vários leigos, técnicos de diversas profissões, chegaram a cerca de 100
pessoas! Foi a maior expedição missionária jamais enviada por Portugal para
terras ultramarinas.
Durante quase meio ano,
prepararam-se na Quinta de Val de Rosal, Charneca da Caparica, ao sul do rio
Tejo. O resultado da generosidade demonstrada por todos esses jovens, iria, em
breve, ser conhecido por todo o mundo católico.
A 5 de junho de 1570 zarparam
rumo à Ilha da Madeira, primeira etapa da viagem, onde permaneceram cerca de
três semanas. Antes de partir dali, tendo notícias da existência de corsários,
Inácio de Azevedo lançou o repto: “só deve seguir viagem quem estiver disposto
a ser mártir”. Assim, na nau Santiago, partiram os 39 que aceitaram este
desafio. E, a 30 de junho, reembarcaram e continuaram viagem. Quando navegavam
junto a La Palma, uma das Ilhas Canárias, a 15 de julho, surgiu uma frota de
piratas huguenotes, comandados por Jacques Sória. A nau foi atacada e dominada
após breve luta. Ferido na cabeça e coberto de sangue, Inácio de Azevedo ainda
proclamou: “Não choreis, meus filhos. Não chegaremos ao Brasil, mas fundaremos,
hoje, um colégio no Céu”.
Inácio de Azevedo de Ataíde Abreu
e Malafaia, era filho ilegítimo, depois legitimado, aos 12 anos, de Manuel de
Azevedo e D. Francisca Abreu. À data do seu nascimento, S. Francisco Xavier
frequentava, havia escassos meses, o Colégio de Santa Bárbara, em Paris,
encetando por essa altura o convívio com Santo Inácio de Loiola e demais
companheiros que vieram a ser os fundadores da Companhia de Jesus.
Durante a sua infância, Inácio de
Azevedo levou a vida normal dum filho da fidalguia portuguesa de Entre Douro e
Minho. Para ele, como para os seus irmãos, o pai acalentava um futuro brioso,
que deveriam alcançar pelas armas ou na administração de um Portugal cujo
monarca estendia o seu poder às mais recônditas partes do mundo.
Em chegando à idade de casar,
queria seu pai achar-lhe noiva para que constituísse família, mas Inácio de
Azevedo, sentindo-se confuso quanto ao seu futuro, pediu ao pai que lhe desse
algum tempo de reflexão. Recolheu-se então na Quinta de Barbosa, em Paço de
Sousa, cujo solar o pai mandara já reconstruir, para que aí se viesse a
instalar com a futura família.
Através do conselho amigo de
Henrique Nunes de Gouveia, Inácio foi à cidade do Porto ouvir os sermões do
padre Francisco Estrada, da recém-constituída Companhia de Jesus, que lhe terão
despertado o desejo de, também ele, servir o país e o rei, não pelas armas, mas
através da Evangelização proposta pelos jesuítas. Aqui entrou a 23 de dezembro
de 1548, com 22 anos.
Com o objetivo de levar o Evangelho
ao novo mundo, muitos se quiseram juntar ao padre que, logo ali, foi fazendo
uma primeira seleção, ponde especial interesse naqueles que, pela sua juventude
ou empenhamento, dessem mostras de serem capazes de se entregar com dedicação à
missão ou também àqueles que, pelas suas ocupações, fossem de maior valimento
para as comunidades, pois bem sabia o padre Inácio que braços experientes e
capazes para as diferentes profissões escasseavam no Brasil e eram de maior
utilidade para a construção da cristandade. Então, no grupo, ele havia o
pintor, o músico, o cantor, o tecelão, o carpinteiro, o bacharel, o pastor, ou
o simples estudante, com muita vontade de cumprir a sua missão na Companhia. Assim,
havia o irmão experimento na arte da carpintaria, outro pintor, outro alfaiate,
mas também o cozinheiro, ajudante de cozinha, enfermeiro, bordador, cantor,
músico, sapateiro, padeiro, pastor, entre outros.
Reunido em Lisboa, o grupo vai
instalar-se na Quinta de Val de Rosal, que os padres possuíam na outra banda,
na margem do Rio Tejo.
No terceiro quartel do século
XVI, Lisboa, cabeça do Império e uma das maiores cidades da Europa, lutava com
enorme escassez de água para satisfação de tão enorme população. Por isso,
grassava nela frequentemente a peste. Essa foi então a razão principal pela
qual o padre Inácio de Azevedo, no início daquele ano de 1570, procurou a
Quinta de Val de Rosal, para recolher os seus companheiros, enquanto aguardavam
a partida para o Brasil.
Tinham passado já cinco meses,
desde que no Inverno daquele ano de 1570 se haviam reunido em Val de Rosal, à
espera da nau que os levasse ao Brasil. Porque esta tardava, estava então
decidido o padre Inácio em embarcar na armada do Governador. Por isso, deu
instruções para que os companheiros se preparassem para deixar a quinta e rumar
a Lisboa. O Inverno e a Primavera, naquelas paragens da outra banda, são sempre
muito suaves e nem o calor do início do Verão apoquentava o grupo que tinha
vivido aquele tempo de formação em plenitude. Mas a notícia que estaria próxima
a partida a todos entusiasmou. Após a necessária preparação e depois de ouvida
a missa, partiram para Cacilhas e daí, de barco, atravessaram o Tejo até Lisboa.
Em Lisboa, o padre Inácio não
permitiu que o grupo amolecesse e a todos incumbiu de trabalhos.
Mas estavam já em S. Roque havia
quinze dias, prestes a embarcarem na armado do Governador, quando um dia o
irmão António Soares, de Belém, chegou à casa dos jesuítas com a boa nova que a
nau do Porto tinha entrado na barra. Nisto, sentiram grande alegria porque
dessa forma não teriam de se distribuir pelas diversas naus mas iriam viajar
todos juntos, continuando assim e em grupo o bom trabalho que haviam iniciado
em Val de Rosal.
Estavam então reunidos os 40
companheiros na nau Santiago. O padre Pero Dias e uma vintena de irmãos
embarcaram na nau do Governador e o padre Francisco de Castro com outros dois
irmãos tomou a nau dos Órfãos.
Ao ver embarcados em seu redor os
39 companheiros, folgou o padre Inácio de Azevedo por se dar conta que aqueles
seriam os que com ele iriam desbravar as consciências levando o Evangelho aos
Brasis.
A 5 de junho do ano de 1570, a
armada deixou a barra de Lisboa, rumo ao imenso oceano, que era a estrada que
os deveria levar ao Brasil. Levaram sete dias até chegarem à Ilha da Madeira.
A nau Santiago, ao invés das
outras da armada, tinha de ir à Ilha de Palma, nas Canárias, descarregar parte
da carga que transportava e carregar outra que pretendia levar para o Brasil, para
o que tiveram de obter do Governador autorização para e desligarem das demais
que compunham a armada, licença essa que muito dificilmente lhe foi dada porque
se sabia que por ali o mar estava infestado de corsários. Obtida por parte do Governador
a necessária autorização, entendeu-se que a nau Santiago não podia esperar mais
tempo, ao que o padre Inácio, consciente dos perigos que poderiam enfrentar,
tratou de saber junto dos seus companheiros da vontade que tinham em se
aventurar a tais riscos. Todos mostraram não temer os perigos que sabiam poder
surgir, salvo quatro irmãos que pediram licença para ficar com o padre Pero
Dias.
Ao outro dia de manhã, a nau
Santiago levantou ferros e deixou a Ilha da Madeira. Tinham já passado sete
dias desde que a nau Santiago deixara a Madeira, navegando sempre debaixo de
uma grande calmaria, mas estando então, a pouco mais de duas léguas e meia da
cidade de Palma. Eis senão quando lhe dá um vento contrário que a leva perto de
um ancoradouro que dava pelo nome Tazacorte e onde desembarcaram no dia
seguinte. Quando todos se dispunham a tomar os cavalos e camelos decidiu o
padre Inácio de Azevedo alterar os planos da viagem, pois sentiu que estaria a
ser fraco ao evitar o mar com medo dos corsários. Dirigindo-se então aos seus
companheiros, comentou que o único mal que os piratas lhes podiam fazer seria
mandá-los mais cedo para o céu.
No dia seguinte, decidiram então
deixar Tazacorte, rumando na direção da Ilha de Gomeira, para depois darem a
volta para a cidade de Palma. A bordo, iam todos entusiasmados com a ideia de
chegarem a terra quando da gávea o marinheiro deu sinais de que avistava uma
grande vela, a qual vinha acompanhada de outras quatro mais pequenas. Mas, à
medida que se aproximavam da nau Santiago, perceberam que, em vez da armada
portuguesa, eram os navios do pirata Jacques Sória, capitão da rainha de
Navarra.
Estavam agora à vista da nau
Santiago, as velas do famoso corsário Jacques Sória. Dias antes, já a nau
Santiago tinha deixado a Madeira, tentara ele um ataque no Funchal. A
desproporção de forças era enorme. Por um lado, eram os navios mais o galeão
Príncipe contra uma nau, por outro, em termos de combatentes, a Santiago levava
a bordo, entre a tripulação, 40 soldados cuja arma era a palavra de Cristo, de
pouca valia para aquele combate frente aos validos da rainha protestante de
Navarra.
Os navios de Sória estavam cada
vez mais perto da nau Santiago. Então, o padre Inácio de Azevedo, dando
cumprimento à promessa de apoio que fizera ao capitão, selecionou um grupo de
companheiros para que com a sua palavra assistissem e animassem os combatentes.
Os primeiros embates foram renhidos. À primeira tentativa que os corsários
fizeram para abalroar a nau Santiago, os nossos dispararam a artilharia que
matou uns quatro deles, causando baixas que os piratas pareciam não fazer caso,
face a serem tão numerosos. Dando conta que, do lado dos nossos, os combatentes
não seriam mais de 30, Jacques Sória afastou-se ligeiramente, deixando os seus
homens abater os da Santiago. Dava-se então uma luta corpo a corpo, desigual no
número dos combatentes e no ímpeto dos intervenientes, pois dos missionários
não se esperava mais do que palavras para tentar suster os corsários.
Do galeão de Sória, vendo os
piratas os seus desígnios, dispararam alguns tiros de arcabuz que o atingiram o
padre Bento de Castro, mas não derrubaram, continuando o padre, com redobrada
vontade, a impelir os assaltantes com as suas palavras, até receber sete ou
oito punhaladas dos piratas que o ergueram e lançaram meio vivo ao mar. Estava
feita a primeira vítima. Ao padre Inácio de Azevedo, descarregaram-lhe um golpe
que lhe fendeu a cabeça, tendo os piratas lhe lançado umas quantas estocadas
até cair. O capitão da nau estava exausto de tanta luta e ferido de tanto
golpe, pelo que também ele se recolheu a uma câmara onde acabou por sucumbir às
cutiladas dos piratas que o perseguiram e lançaram ao mar. Com a morte do
capitão, terminava a luta, onde tinham morrido uns quinze ou dezasseis dos
nossos contra uns trinta dos corsários, entre os que tinham sido abatidos pela
artilharia e os aniquilados na luta.
Procuraram então os piratas
pilhar a nau e o que esta pudesse transportar, iniciando uma batida por todas
as câmaras. Numa delas, encontrando alguns dos irmãos em oração e de joelhos
frente a imagens santas, com tanta fúria a eles se lançaram que os fizeram
perecer.
Enquanto os irmãos davam à bomba,
uns quantos corsários iam atirando ao mar os mortos e feridos que iam
encontrando até que, dando conta do corpo do padre Inácio de Azevedo, ainda
agarrado à imagem da Virgem, o lançaram à água.
Naquele sábado, 15 de julho de
1570, do promissor grupo de 40 missionários, que o padre Inácio de Azevedo
preparara tão esforçadamente para evangelizar os territórios do imenso Brasil,
só mesmo escapara à morte o irmão João Sanches, que haveria de ser a testemunha
do martírio dos 39 companheiros, a que se juntou depois também João Adauto, e a
16 de julho, o irmão Simão da Costa.
Os Mártires
Um cardador que
sonhou ser missionário
ÁLVARES, irmão auxiliar,
Francisco – Português, nascido na Covilhã em 1539, tendo entrado para a
Companhia em 1554, em Évora. Era por ofício tecelão e cardador. A cidade era um
dos grandes centros da indústria de lanifícios portuguesa. Dedicava-se à cardação,
um ofício modesto mas essencial, símbolo do esforço e da dignidade do trabalho,
partilhando a vida simples e laboriosa dos operários têxteis da sua terra.
Homem de fé viva e carácter humilde, sentiu o chamamento de Deus e decidiu
consagrar-se à vida religiosa, ingressando na Companhia de Jesu como irmão
coadjutor – um dos jesuítas leigos que apoiavam as missões com o trabalho
manuel e o testemunho de vida. O seu destino
cruzou-se com o padre Inácio de Azevedo, visitador das missões jesuítas no
Brasil, que regressara a Portugal para recrutar novos missionários. Francisco
Álvares respondeu ao apelo e
alistou-se na expedição missionária, integrando o grupo dos “companheiros do
Brasil”, que partiria de Lisboa em 1570.
O martírio em
alto-mar
A viagem decorreu sob ameaça
constante. As rotas atlânticas eram frequentadas por corsários e piratas,
muitos deles a soldo das potências protestantes que viam nos jesuítas inimigos
da sua causa.
A 15 de julho de 1570, quando a
nau Santiago, comandada por Inácio de Azevedo, navegava ao largo da ilha de La
Palma, nas Canárias, foi atacada por corsários franceses sob o comando de
Jacques Soria, um calvinista feroz.
Os jesuítas recusaram renegar a fé
católica. Um a um, foram mortos e lançados ao mar – alguns ainda com vida –
entoando cânticos e orações.
O covilhanense Francisco Álvares
foi lançado vivo ao mar.
Os restantes
companheiros
ADAUTO, irmão, João – Português,
de Entre Douro e Minho, sobrinho do capitão da nau Santiago, foi confundido com
os jesuítas, mas aceitou o martírio por desejar entrar para a Companhia. Foi
lançado vivo ao mar.
ÁLVARES, irmão auxiliar, Gaspar –
Português do Porto. Apunhalado, foi lançado vivo ao mar.
ÁLVARES, irmão auxiliar, Manuel –
Português de Extremoz, nasceu em 1536 e entrou para a Companhia em 1559, em
Évora. Era pastor de ofício. Foi lançado vivo ao mar.
ANDRADE, padre Diogo de –
Português, de Pedrógão Grande, nasceu em 1531 e entrou para a Companhia em
1558, em Coimbra. Foi soto-ministro no Colégio de Coimbra e depois no de Santo
Antão, em Lisboa. Exercia o ofício de ministro. Foi apunhalado e lançado ainda
vivo ao mar.
AZEVEDO, padre Inácio de –
Português, do Porto, nasceu em 1526 e entrou para a Companhia em 1548, em
Coimbra. Foi Visitador do Brasil e o mentor do grupo de missionários que levava
como Provincial do Brasil, nomeado pelo Padre Geral.
BAENA, irmão auxiliar, Afonse de
– Espanhol, de Villalobas (Toledo), nasceu em 1539 e entrou para a Companhia em
1567. Era de profissão ourives e foi lançado vivo ao mar.
CALDEIRA, irmão estudante, Marcos
– Português, de Santa Maria da Feira, nasceu em 1547 e entrou para a Companhia
em 1569. Foi lançado vivo ao mar.
CASTRO, irmão estudante, Bento de
– Português, de Chacim (Macedo de Cavaleiros), nasceu em 1543 e entrou para a
Companhia em 1561, em Lisboa. Em 1569, estudava filosofia em Coimbra. Era
Mestre de noviços e encarregado da catequese. Ferido com tiros e punhaladas,
foi lançado ainda vivo ao mar, sendo o primeiro mártir.
CORREIA, irmão estudante, António
– Português, do Porto, nasceu em 1553 e entrou para a Companhia em 1569. Estava
em oração, quando recebeu violenta estocada na cabeça e foi lançado vivo ao
mar.
CORREIA, irmão estudante, Luís –
Português, de Évora. Foi lançado vivo ao mar.
COSTA, irmão auxiliar, Simão da –
Português, do Porto, terá nascido por volta de 1551 e entrou para a Companhia
pouco antes da viagem. Por ser noviço, ainda não trazia o hábito, no que foi
tomado por filho de comerciante. Levado à presença de Sória, confirmou ser
missionário, foi degolado e o seu corpo lançado ao mar a 16 de julho.
DELGADO, irmão estudante, Aleixo
– Português, de Elvas, nasceu em 1555 e entrou para a Companhia em 1569, em
Évora. Era excelente cantor e o mais jovem dos mártires. Foi lançado vivo ao
mar.
DINIS, irmão estudante, Nicolau –
Português de Bragança, nasceu em 1553 e entrou para a Companhia em 1570, em Val
de Rosal. Tinha boa arte para representar. Foi lançado vivo ao mar.
ESCRIBANO, irmão auxiliar,
Gregório – Espanhol, de Viguera (Logroño). Foi lançado vivo ao mar.
FERNANDES, irmão auxiliar,
António – Português, de Montemor-o-Novo, nasceu em 1552 e entrou para a
Companhia em 1570. Em Val de Rosal, era chefe de oficina de carpintaria. Foi
apunhalado e lançado vivo ao mar.
FERNANDES, irmão auxiliar,
Domingos – Português, de Borba, nasceu em 1551 e entrou para a Companhia em
1567, em Évora. Foi trespassado com uma lança e ainda vivo lançado ao mar.
FERNANDES, irmão estudante, João
– Português, de Braga, nasceu em 1547 e entrou para a Companhia em 1569, em
Coimbra. Foi lançado vivo ao mar.
FERNANDES, irmão estudante, João
– Português, de Lisboa, nasceu em 1551 e entrou para a Companhia em 1568, em
Coimbra. Foi lançado vivo ao mar.
FERNANDES, irmão auxiliar, Manuel
– Português, de Celorico da Beira. Foi lançado vivo ao mar.
FONTOURA, irmão auxiliar, Pedro
de – Português, de Chaves. Estando em oração, recebeu uma cutilada no rosto que
lhe cortou a língua, sendo depois lançado ao mar.
GONÇALVES, irmão estudante, André
– Português, de Viana d o Alentejo, tinha estudado na universidade de Évora.
Foi lançado ao mar depois de apunhalado.
GODOY, irmão estudante, Francisco Pérez – Espanhol. De
Torrijos (Toledo), nasceu em 1540 e entrou para a Companhia em 1569. Era
parente de Santa Teresa de Jesus (de Ávila). Bacharel em cânones pela
Universidade de Salamanca, sabia música e tocava vários instrumentos.
Apunhalado, foi lançado ainda vivo ao mar.
HENRIQUES, irmão estudante, Gonçalo – Português, do Porto,
era diácono. Foi lançado ao mar.
LOPES, irmão estudante, Simão – Português, de Ourém, entrou
para a Companhia durante a viagem. Foi lançado vivo ao mar.
MAGALHÃES, irmão estudante,
Francisco de – Português, de Alcácer do Sal, nasceu em 1549 e entrou para a
Companhia em 1568, em Évora. Tinha aptidão para bom administrador e excelente
voz de tenor. Foi lançado vivo ao mar.
MAIORGA, irmão auxiliar, João –
Espanhol, de S. Jean Pied de Port (na época do domínio de Navarra), nasceu em
1533 e entrou para a Companhia em 1568. Era pintor de ofício. Foi lançado vivo
ao mar.
MARTIM, irmão estudante, João de São
– Espanhol, de Yuncos (Toledo), nasceu em 1550 e entrou para a Companhia em
1570, em Évora, quando estudava na Universidade de Alcalá. Foi ferido e lançado
vivo ao mar.
MENDES, irmão estudante, Álvaro –
Português, de Elvas, era excelente cantor. Foi lançado vivo ao mar.
NUNES, irmão estudante, Pedro –
Português, de Fronteira. Foi lançado vivo ao mar.
PACHECO, irmão estudante, Manuel –
Português, de Ceuta. Foi lançado vivo ao mar.
PIRES (Mimoso), irmão estudante,
Diogo – Português, de Nisa, frequentou o curso de filosofia na Universidade de
Évora. Foi trespassado com uma lança e o seu corpo deitado ao mar.
RIBEIRO, irmão auxiliar, Brás –
Português, de Braga, nasceu em 1546 e entrou para a Companhia em 1569, no
Porto. Estando recolhido a rezar, foi morto com uma cutilada na cabeça e o seu
corpo lançado ao mar.
RODRIGUES, irmão estudante, Luís –
Português, de Évora, nasceu em 1554 e entrou para a Companhia em 1570, em Évora.
Foi lançado vivo ao mar.
RODRIGUES, irmão estudante,
Manuel – Português, de Alcochete. Foi lançado vivo ao mar.
SANCHES, irmão estudante, Fernando – Espanhol, de
Castela-a-Velha, foi estudante m Salamanca. Foi lançado vivo ao mar.
SOARES, irmão estudante, António
– Português, de Trancoso, entrou para a Companhia em 1565, em Évora, onde
passou todo o noviciado. Serviu como cozinheiro e enfermeiro e assumiu na nau o
ofício de soto-ministro. Foi apunhalado e lançado vivo ao mar.
VAZ, irmão auxiliar, Amaro –
Português, de Benfazer (Marco de Canavezes), nasceu em 1553 e entrou para a
Companhia em 1569, no Porto. Foi lançado vivo ao mar, depois do seu corpo ser
atravessado com punhaladas.
ZAFRA, irmão auxiliar, João de –
Espanhol, de Jérez (Badajoz), entrou para a Companhia em 1570, em Évora. Foi
lançado vivo ao mar.
ZUDAIRE, irmão auxiliar, Estêvão –
Espanhol, de Zudaire (Navarra). Tinha o ofício de bordador. Foi lançado vivo ao
mar.
Todos estes mártires foram
beatificados a 11 de maio de 1854 pelo Papa Pio IX. Foram solenemente
recordados por São João Paulo II no Jubileu do Ano 2000, que confirmou o culto
aos Mártires do Brasil.
Biografia consultada: Os 40
Mártires o Brasil, de Eduardo Kol de Carvalho, Wikipédia, Biblioteca- Arquivo
Municipal da Covilhã.
João de Jesus Nunes
(In “Jornal Fórum”, de 06-11-2025)























