19 de dezembro de 2014

50 ANOS A ESCREVER NOS JORNAIS

Completou meio século, no passado dia 14 de novembro deste ano da graça de 2014, que comecei a escrever no primeiro jornal - Notícias da Covilhã -; depois, já foram mais de duas dezenas, entre jornais, revistas e boletins, de âmbito regional ou mesmo nacional, e, entre eles, algumas referências no espanhol El Adelanto; Urbi et Orbi, da UBI; Record, A Bola, O Jogo, Diário de Notícias,  e referido ainda nos livros "Escritores do Concelho da Covilhã, A Paixão do Povo - História do Futebol em Portugal e Desportos & Letras, estes os que me recordo.
Atualmente tenho o prazer de ainda poder escrever regularmente nalguns deles (Notícias da Covilhã, fórum Covilhã, O Olhanense, Combatente da Estrela, Boletim Informativo da Casa da Covilhã, Boletim Português da Sociedade de São Vicente de Paulo, Ecos da APAE, e, outros, de quando em vez, como o Notícias da Gouveia, Vida do Trabalho, Portas da Estrela, Gazeta do Interior, O Interior, Vida Económica, Jornal do Fundão, Revista Liberty em Acção e Notícias Magazine); outros ainda, onde escrevi, já passaram somente para memórias porque desapareceram como os humanos, entre eles Fronteiros da Beira (durante o meu serviço militar), Já Agora, Diário XXI, Kaminhos e Essencial Seguros.
Dou graças a Deus por me manter ainda ativo.
Aqui vão alguns dos primeiros textos in illo tempore. Entre eles, para os saudosistas, do tempo do serviço militar, e a informação do "Fronteiros da Beira", do RI 12, da Guarda, com os nome de alguns ex-Colegas de armas que ainda possamos recordar, entre oficiais e sargentos, e, o último, com a informação da minha passagem à disponibilidade... Mais tarde, já na disponibilidade, promoveram-se a 2.º Sargento Miliciano.














RESSURGIMENTO

Lá vai o tempo em que o provável último número do “Boletim da Casa da Covilhã”, vindo à presença dos leitores no mês de Julho do ano da graça de mil novecentos e quarenta e nove (tinha eu três anos), como número único, fazia menção em que ressurgia “O Boletim”, completamente reformado e melhorado no seu aspecto gráfico e literário que se havia deixado de publicar em Junho de 1947”. E, como editor, aparecia o nome do Presidente da Casa da Covilhã, Dr. Francisco Ranito de Almeida Eusébio.
Referia-se ainda este Boletim às comemorações das Bodas de Prata da Casa da Covilhã. Aqui começa o busílis da questão.
Tendo as Bodas de Prata sido comemoradas em Junho de 1949, a fundação da Casa da Covilhã, então ainda designada por Grémio Covilhanense, obviamente que teria de ocorrer em Junho de 1924.
E sobre esta data se referiu José Mendes dos Santos, no seu livro “Breve História Cronológica da Covilhã”, na página 81: “1924 – Junho – Data em que foi fundada em Lisboa por um grupo de 47 covilhanenses ali residentes, o Grémio Covilhanense, actual Casa da Covilhã, com sede na Rua do Benformoso, 150-1.º. Trata-se de uma agremiação vincadamente regionalista que na Capital tem pugnado pelos interesses da Covilhã e sua região”.
No preâmbulo do Boletim a que nos referimos, subscrito pelo Presidente da Direção da Casa da Covilhã, Dr. Francisco Eusébio, lá surgem os nomes dos 47 fundadores, a quem a Direção da Casa da Covilhã prestou homenagem, a saber:
Gaudêncio Pereira Neves, Dr. Alberto de Campos Andrade, João Pereira Saraiva, António Laranjinha, António Figueiredo dos Santos, António dos Santos Barata, António FerreiraJúnior, Américo Rocha Castanhinha, Joaquim Carapito de Morais, António Pereira Neves, José Antunes dos Santos, João Antunes dos Santos, Fernando António Lopes, Alfredo Tomé Mendes, Francisco Laranjinha, Alberto Inácio da Costa, Mário Cardona Quintela, Germano Anselmo Prazeres, António Antunes dos Santos Júnior, Eduardo Laranjinha, António Ramalho, Jerónimo da Silva Aguiso, José Augusto dos Santos, Francisco Ferreira Bicho, João de Jesus Freitas, Manuel da Costa Estrelado, Manuel de Almeida Muxagata, José de Almeida Bonina, João Horácio dos Santos, Luís dos Santos, João Andrade, José Nunes da Cruz, Joaquim Augusto dos Santos, João Carapito Donas, José Nobre Montez, Mário Dias Fiadeiro, Guilhermino de Almeida Barros, Aníbal dos Santos Lino, José Casimiro Quintela Júnior, José Bernardo Gíria, João de Carvalho Pedroso, José Ferreira Grácio, António Gomes de Lemos Cardoso, Benevides de Almeida Pinto, António Serrano, José Ribeiro e João Cardona Quintela.
Mas, como havia cantado António Mourão, no seu fado “Ó Tempo volta p’ra trás”, a Casa da Covilhã viu oficialmente a data da sua fundação “reduzida em cinco anos…”, pelo que, a sua verdadeira idade, neste final do ano 2014, é ainda de 85 anos!
Efetivamente, com base numa certidão do Governo Civil de Lisboa – 3.ª Repartição –, com data de 5 de Janeiro de 1929, refere que “N’esta data foi auctorisado o funcionamento da sociedade de recreio denominada Grémio Covilhamense. A sua séde é na Rua da Mouraria, 24-1.º e os seus fins são regionalista, instrutivo e recriativo”.
Volvida uma década, mais propriamente no dia 26 de Janeiro de 1939, a sede mudou-se para o Largo do Caldas, n.º 8, e, em 28 de Outubro o Grémio Covilhanense passou a chamar-se Casa da Covilhã.
Entretanto, voltaria a ter nova mudança da Sede, e esta a última, ou seja, para o local onde se encontra instalada atualmente, na Rua do Benformoso, 150-1.º B, desde 1 de Julho de 1940.
Cabe-nos agora referir que esta instituição regionalista, que representa o Concelho da Covilhã na cidade alfacinha, teve altos e baixos e, durante muito tempo viveu de grandes dificuldades de operacionalidade, com escassez de atividades ou mesmo quase nulas, por falta de obreiros capazes de ombrear com as tarefas difíceis de representatividade, não obstante as suas boas vontades e sacrifícios; e, por outro lado, os fracos recursos financeiros, a par de um edifício-sede altamente degradado e a necessitar de obras.
Em boa hora, surgiu, neste últimos anos, uma dinâmica equipa liderada pela tenacidade do Covilhanense António Vicente, que não só “inventou” propósitos para a recuperação do edifício-sede, resolveu contenciosos com o senhorio, como também intensificou semanalmente a união dos Covilhanenses radicados em Lisboa, e não só, em redor de almoços semanais.
Variadíssimas atividades têm surgido, sempre com um grande entusiasmo, como a “Réplica da Feira de S. Miguel”, Fados, Conferências, Exposições, Convite a Personalidades Covilhanense do mundo da cultura, como artistas Covilhanenses, e outras mais que não enumeramos para não sermos fastidiosos.
Nesta dinâmica se insere uma certa vontade, jamais vista outrora, de um avolumar de gentes covilhanenses, conhecedoras agora das atividades da Casa da Covilhã e desejosas de lhe fazer uma visita.
Depois, ainda que nada tenha de ligação com a Casa da Covilhã, mas implicitamente oriundo da mesma, a criação de um grupo denominado “Antigos Alunos da Covilhã”, ou seja, voluntariamente, a identificação de todos quantos desejem juntar-se aos Colegas de outrora, dos tempos do antigo Liceu Frei Heitor Pinto, Escola Industrial e Comercial Campos Melo e Colégio Moderno, e os das novas designações.
Para terminar estas linhas, queria tão só registar que no dia 18 de Junho de 1949, na Sessão Solene comemorativa da passagem do 25º aniversário (“Bodas de Prata” adiantadas num lapso temporal, na indução de um erro que desconhecemos, possivelmente tendo em conta de alguma Comissão Pró-Agremiação), “inaugurou-se, festivamente, mais uma Estante da nossa Biblioteca”.
Esta biblioteca da Casa da Covilhã passou a funcionar, naquela altura (1949), todos os dias úteis, das 21 às 23,30 horas… o que hoje é impensável, pensamos.
Fica, no entanto, aqui, um ponto de partida, para que das várias ações já desenvolvidas pela Casa da Covilhã, seja encontrada forma de reabertura da Biblioteca, o que é uma pena não poder ainda estar disponível para consulta das várias obras, muitas delas de escritores covilhanenses.
Sabemos que não é fácil, mas com a alma dos Covilhanenses radicados em Lisboa, com assento no elenco diretivo da Casa da Covilhã, e outros eventuais colaboradores, tudo farão de contento porque são Gente da Nossa Gente.
Resta-nos desejar a todos os elementos dos Corpos Gerentes da Casa da Covilhã e a todos os Associados e suas Famílias, um Feliz Natal e um 2015 próspero.
JOÃO DE JESUS NUNES (Sócio n.º 133)



18 de dezembro de 2014

O CAMINHO FAZ-SE CAMINHANDO

Na continuidade de mais um número do Combatente da Estrela, o último deste ano da graça de dois mil e catorze, que vai findar, tempo que decorreu envolvido em sacrifícios que caíram sobre todos nós, vamos prosseguir o caminho de encontro ao interesse dos Associados.
E, como a metáfora que encima o título deste texto, caminharemos no sentido de dar voz aos antigos Combatentes, através das suas histórias de vida, memórias dum tempo que passou, e mesmo vivências dos tempos atuais, por vezes em hilariantes tertúlias de ocasião, a emergirem onde se juntam três ou quatro amigos, ou mais, no seu seio, ou provocados pela união em redor deste órgão que é a Liga dos Combatentes.
Muitos mais poderiam engrossar o número dos Associados da Liga, não só dentre todos quantos passaram pelas terras africanas em missão de fidelidade à Pátria, num tempo de obrigação militar, como mesmo qualquer cidadão que não tivesse sido objeto de mobilização. Também por cá se passaram histórias engraçadas que poderão ser contadas neste espaço que é o Combatente da Estrela.
Dá prazer ver hoje a união de tantos e tantos jovens de outrora, da funesta década de sessenta do século passado (sim, todos nós vivemos já em dois séculos), a reunir-nos não só na Covilhã, mas também em outras Ligas de Combatentes, por este País fora, memorizando os tenebrosos tempos da Guerra em África em que nos envolveram.
Se muitos podem agora celebrar com tranquilidade todo esse tempo passado, ainda que outros também tivessem seguido rumo à emigração, para se safarem da guerra, já milhares continuam a sofrer na carne e no espírito os nefastos efeitos da sua passagem pela luta nas antigas Colónias Portuguesas.
No último número fiz referência à enorme dor que sentiram as famílias, algumas com efeitos fatais, outras, dilaceradas com a perda dos seus jovens filhos, maridos ou irmãos.
Mas se esse luto entretanto passou, é pungente ver ainda mãos cheias de gente, incluindo as famílias que a rodeia, ainda a sofrer os efeitos psicológicos dos terrores da guerra. Uma juventude que regressou com vida mas que, na continuidade da sua vivência, agora com mais de 60 e 70 anos, não se consegue libertar duma terrível doença psicológica que os próprios não provocaram.
Valerão em parte alguns encontros com sociólogos, preparados para o efeito, mas que não passarão de um breve bálsamo.
E, por mais que se façam sentir estes problemas aos governantes de Portugal, o que é que os antigos Combatentes já usufruíram de palpável, no sentido de colmatar todo este sofrimento em que se viram envolvidos em carne para canhão?
Vamos continuar a persistir, e a lutar agora com as armas não-beligerantes, mas persuasivas, para os direitos a que cada um lhes assiste, na reparação dos efeitos maléficos ocasionados a quem ainda mantem esse enorme fardo como carraça impregnada no seu corpo.
E as tertúlias entre camaradas, e outros eventos próprios, são fazedoras de ambientes propícios a uma certa momentânea tranquilidade de espírito.
E é neste caminhar que a juventude de outrora, pelos sacrifícios que passou, ainda não chegou ao fim da viagem; e, embora a idade não perdoe e vá amolecendo o dinamismo e a vontade, continua a caminhar, ainda que em passos mais lentos, e calculados, naquele espírito, mesmo assim ainda jovem, de prosseguir, nestes dias turbulentos por que passa, e que se vão atravessando no caminho, para os quais já não existe qualquer surpresa, o sentido de que seja feita a justiça que a história um dia perpetuará.
Resta-nos desejar, a todos os Associados e suas Famílias, um Santo Natal e que o Novo Ano 2015 resplandeça daquela palavra bonita – a Esperança.

João de Jesus Nunes

(In "O Combatente da Estrela", n.º 97, de out 2014 a dezº 2014)

17 de dezembro de 2014

O SER E O PARECER

Última crónica deste ano de 2014. Foram meses conturbados, perplexos, mais de murmurações que de alertas e decisões fortes, incisivas, conducentes a mudar o rumo dos acontecimentos.
Todos somos culpados, uns com mais responsabilidades que outros. A nossa conduta também se repercutiu nas fragilidades ou alguns êxitos do todo nacional; mas foi no local onde se particularizaram mais os problemas, refletidos na nossa atenção desvelada e ação ou na nossa passividade e comodismo.
Encerrou-se o terceiro ano consecutivo de forte austeridade, e o sexto desde a crise financeira de 2008.
E é aqui que alguns se marimbaram, preferiram deixar a banda passar; outros, até se gabaram que a crise nem era com eles, riram-se dos outros que se preocupavam, e o zé quase que acreditou, mas depois do “parecer” veio a confirmação da tal inação de quem deveria regular, e surgiu o “ser”, devastador para a economia da qual todos dependemos.
Não fosse o fator espírito de solidariedade que é das coisas que admiravelmente funciona muito bem na nossa sociedade, onde estariam muitas famílias deste pobre Portugal?
Continuando a haver portugueses de primeira, portugueses de segunda e até portugueses de terceira, vejamos como uma classe das de primeiríssima se viu agora, digna de dó, sem uns ditos “direitos adquiridos”: o atual governador do Banco de Portugal cortou algumas das mordomias aos funcionários. Entre as várias regalias, acabou com as comparticipações para a compra de colchões ortopédicos e reduziu as comparticipações para as próteses auditivas. Aquilo que anos atrás víamos no Banco de Portugal – aquele “parecer” – em termos de confiança, afinal, transformou-se no que é o “ser” do nosso banco central – que andou a dormir todos estes anos, desde Vitor Constâncio a Carlos Costa! E também andou a ouvir mal, talvez por causa das reduções das próteses auditivas, porque não ouviu recomendações atempadas sobre o BES.
Bom, já não vamos falar mais no insólito caso das subvenções vitalícias que os nossos deputados (alguns?) queriam que voltassem a ter eficácia; nem nos líderes da Galp e da REN a não quererem pagar o imposto das suas empresas.
Mas vamos p’rá fente: “Espelho meu, espelho meu, diz-me lá quem fala a verdade, o juiz Carlos Alexandre, ou eu?”
Pois é este o tema de todos os dias, com toda a Comunicação Social e muitos “Correios da Manhã” a venderem papel. Até aqui tudo compreendido, só não se compreende porque é que a justiça também ela se corrói a si própria, com fugas de informação, violando o segredo de justiça e impondo o real sensacionalismo. O “parecer” da justiça não é, afinal, igual ao “ser”.
Convenhamos seja referido que é assaz importante que o caso Sócrates venha a ser desvendado, com mais celeridade que os anteriores, para credibilização do País. Não só o antigo primeiro-ministro mas também todos quantos seus séquitos surgem no “parecer” de sinais exteriores de riqueza.
“Há uma carga injusta de humilhação e vergonha que só será ultrapassada se o país e as suas instituições, os seus magistrados, os seus políticos, os seus jornalistas e os seus cidadãos souberem ser exemplares”, assim se refere Rui Tavares, no “Público”.
Na Covilhã, os ventos e marés também têm dado sinal de si. Tentativas de contra revoluções por um lado, e, depois, aplicação de contra fogos, por outro.
O Concelho necessita da credibilidade emanada daquele “parecer” que foi assinalado de porta a porta na altura das eleições, para que o “ser” se transforme na esperança depositada em quem se confiou. As palavras de confiança, transformadas em ouro fino, que não se venham a transformar em falso ouro, porque o povo, que não é caduco, jamais colocará à frente dos destinos da edilidade a força política que venceu estas últimas eleições, caso o cumprimento do prometido em prol do progresso da Covilhã não se venha a verificar. Mais que o “parecer” tem que ser o “ser”.
No entanto, uma estrela cintilou na cidade neste final de ano, despercebida, mas eficaz. Há longa data, já do tempo da anterior Câmara, que se apresentou o caso de dois irmãos, sobejamente conhecidos na cidade, a viverem numa casa (por sinal propriedade da edilidade!) desumana, a cair, sujeita a soterrar os dois habitantes. Por insistência, num trabalho árduo duma Conferência Vicentina da Cidade, a edilidade atual conseguiu, finalmente, depois de tanto batalhar, arranjar uma casa para os irmãos, em condições de segurança e humanas. O “Pinga” e o irmão já têm a sua casa. Consciencialização dos factos! Valeu a pena insistir.
Votos de um Feliz Natal para todos, e um 2015 com a esperança de melhores tempos.

(In "Noticias da Covilhã", de 18-12-2014)

10 de dezembro de 2014

O SENHOR QUE SE SEGUE

Este ano de 2014 trouxe a todos os habitantes do Planeta um incomensurável rol de eventos, os mais diversificados que se possam imaginar. E, com eles, o emergir de novas guerras. Mas também muita subtração de riqueza. Poderia ter sido dividida pelos que dum pedaço dela necessitam para satisfação das necessidades mais prementes. Foram antes para as algibeiras mais escondidas dos depravados.
De positivo também algo passeou pelas estradas e caminhos planetários, como a persistente voz, tão de simplicidade quão de eloquência, de Jorge Mário Bergoglio – o Francisco – que veio do fim do mundo para o Vaticano.
Depois de um quarto de século da queda do Muro de Berlim, eis que se reavivaram fantasmas de Guerra Fria, com o líder russo Vladimir Putin como que saudoso do sovietismo.
Passou já um ano que na Praça da Independência, em Kiev (Ucrânia) começaram as primeiras manifestações antigovernamentais. Ninguém podia prever que aquelas primeiras manifestações de estudantes fossem um episódio com as repercussões a que o mundo assiste. As fronteiras da Europa foram reescritas. Kiev entrou numa guerra civil e a Rússia e o Ocidente entraram no período mais conturbado das suas relações desde a Guerra Fria.
A Primavera Árabe, pacífica, que havia começado na Tunísia, no Inverno de 2010, deu lugar a um “Verão quente e longo”, ainda hoje sem sucesso.
Surgiu o auto denominado Estado Islâmico (EI), numa ação terrível e devastadora, sem dó nem piedade pelas populações por onde passa, aterrorizadas. As decapitações de americanos e britânicos são os seus grandes troféus.
Um cortejo de jovens europeus, dentre britânicos, franceses, holandeses, e alemães, como outros, e também dois ou três portugueses, insatisfeitos, corrompidos e alienados pela Internet, integraram aquele movimento de terror.
Na memória de tempos bélicos, passou um século do início da Primeira Grande Guerra Mundial. Mais de 9 milhões de combatentes foram mortos. O evento suscita uma reflexão sobre os riscos do mundo em que vivemos. Que lições nos deixa a tragédia fundadora do século XX?
O Corpo Expedicionário Português que nela participou entrou na mesma sem preparação moral. A vida nas trincheiras lamacentas em França, segundo testemunhos, mais não foram que “sepulturas em vida”. Os partidos, chefiados por Afonso Costa e Brito Camacho não se entendiam, e “as suas divergências deixaram efeitos desastrosos na moral da tropa”. Foram milhares de combatentes entre mortos e feridos. O primeiro soldado português a falecer na I Guerra Mundial foi António Gonçalves Curado, em 4 de abril de 1917.
Nesta guerra também se encontrava o covilhanense José Antunes Garrim, soldado corneteiro, que viria a ser agraciado com a Ordem Militar da Torre e Espada. Notabilizou-se nesta guerra por ter imitado o som do clarim dos alemães, toque que indicava a retirada deles para as linhas da retaguarda. Com este toque, levou a enganar os alemães e, assim, proporcionou a que os aliados assaltassem com mais facilidade as posições inimigas e se salvassem muitas vidas.
Mas não ficaríamos por aqui e viria a surgir a 2.ª Grande Guerra Mundial, mais destruidora e duradoura. Envolveu a maioria das nações do mundo. O seu início foi há 75 anos. Apesar do estatuto de neutralidade do nosso País na II Grande Guerra Mundial, muitos compatriotas lutaram no maior de todos os conflitos. Mas 150 portugueses, numa atitude idêntica aos que agora se alistaram no Estado Islâmico, participaram na invasão alemã da URSS. Integraram-se nas fileiras da Divisão Azul, juntando-se em Espanha e incorporando-se na enorme máquina hitleriana. E, paradoxalmente à atitude patriótica do covilhanense Garrim, encontrava-se ao serviço de Hitler um covilhanense, Virgílio Henriques da Fonseca, que, dizia-se, foram muitas as vezes que andou a cavalo pelas ruas da Covilhã, talvez encantando o coração das raparigas que o observavam. Consta que se distinguia pela sua generosidade, numa época de muita pobreza, a que o seu catolicismo militante não foi alheio. Virgílio nunca tinha combatido e, por isso, não foi o voluntário típico da Divisão Azul. Era filho de uma família de industriais de lanifícios e não terá sido por necessidades económicas que se alistou. Como, agora, os jihadistas, vai-se lá saber qual a intenção por que Virgílio se alistou ao lado dos nazis. Inscreveu-se a 24 de agosto de 1942, partindo para a linha da frente onde foi integrado numa companhia de armas pesadas. A sua carreira militar seria muito curta, pois foi ferido em combate a 10 de fevereiro de 1943 e evacuado para o hospital onde faleceu dois dias mais tarde.
Neste ano de 2014 celebrou-se mais um grande evento: a comemoração dos 40 anos da Revolução dos Cravos – o 25 de Abril. Acontecimento que foi de esperança para os portugueses, com o regresso à democracia. Jamais se pensaria que as muitas esperanças se iriam transformar em períodos, e longas épocas, de muitos sofrimentos para os portugueses, depois de tantos anos de ditadura e da guerra nas antigas Colónias.
A corrupção passou a ser uma das palavras mais em voga ao longo destes 40 anos de democracia. Não obstante a morosidades da aplicação da justiça, mormente em figuras sobejamente conhecidas, quando um caso ainda estava envolvo em sensacionalismos da Comunicação Social, já outros emergiam. De antigos governantes a banqueiros, de responsáveis por organismos do Estado a antigos deputados ou autarcas, numa de retalhar este Portugal. E vai da incapacidade de saber governar à passividade dos reguladores, que deixaram continuar a ser um País adiado. E foi o ano em que a troika deixou de nos importunar tanto.
Mas até um primeiro-ministro de Portugal surgiu na fila dos homens da corrupção. Entra na prisão. É um caso inédito na democracia portuguesa. O País ficou contundido, ou talvez já não! A credibilidade em quem deveríamos confiar dissipa-se. E a corrente do segredo de justiça quebrou-se numa humilhação do suspeito, com os holofotes sensacionalistas da Comunicação Social. Afinal, confiar em quem?
Nesta sequência de figuras proeminentes que foram dos governos e da sociedade portuguesa, corroendo o País, resta perguntar, já sem qualquer surpresa: Quem é o senhor que se segue?
Mas o ano de 2014 também vai terminar com algumas boas notícias: o fadista Carlos do Carmo recebeu o Grammy Latino de Excelência Musical, cuja cerimónia se realizou em Las Vegas; e, em Paris, foi a vez de a UNESCO aprovar a inscrição do cante alentejano na lista representativa do património cultural imaterial da humanidade. Paris ouviu os homens de Serpa.
Pela Covilhã, neste ano que termina, houve trabalho de excelência de várias associações e coletividades, empenhadas fortemente na cultura, mostrando assim nova face da cidade, com a dinâmica que sabem impregnar, não obstante ventos e marés por que se tem passado.
Entre muitas outras destacam-se, para além do GICC – Teatro das Beiras, no seu 40º aniversário, a que já fiz referência no meu último texto, também o 70º Aniversário da Banda da Covilhã; o 88º aniversário do Orfeão da Covilhã e o 53.º do Conservatório de Música; o trabalho profícuo da Lapa – Liga dos Amigos dos Penedos Altos e do Oriental de São Martinho.
Também o Rancho Folclórico da Boidobra com a dinâmica do Paulo Alexandre; e o Rancho Etnográfico do Refúgio, nos seus “Serões à Lareira”, no entusiasmo de José Simões, são dignos de realce.
Ao completar três anos de vida jornalística, ao serviço do Concelho da Covilhã, e também de toda a Região Beirã, para além dos parabéns devidos ao fórum Covilhã, ficam as convicções de ser um Órgão da Comunicação Social, jovem mas incutido de uma força impulsora de seguir em frente na informação que, não agradando a todos, é autêntica.

Para os Leitores vão os votos de um Feliz Natal e um Novo Ano menos sacrificado.

(In "fórum Covilhã", de 10.12.2014)

12 de novembro de 2014

QUANDO O TIRO SAI PELA CULATRA

Timor faz parte das notícias enfáticas mais recentes. Foi em 1512 que lá chegaram os portugueses e passaram a colonizar este território, que o utilizaram durante quatro séculos. Nos meus tempos da primária, era a última província ultramarina a ser estudada nos compêndios de geografia. Era uma parte de Portugal, que, lá para as profundezas do Planeta, servia não sei para quê. Mas, entretanto, surgem as guerras coloniais, subversivas como os governantes desse tempo as apelidam. Também para lá se deslocam contingentes militares para a defesa do Portugal multirracial que integra o Império Português. E os militares, hoje antigos combatentes, para aí deslocados do Continente, encontram um dos territórios ultramarinos onde ainda não há guerrilha a sério. Ali, e também em São Tomé e Príncipe e Cabo Verde não se vislumbram os receios do que aconteceu a muitos que tombaram nas Colónias da Guiné, Angola e Moçambique.
Mas o ano de 1961, para além de fazer agitar o País, para as bandas do Atlântico, com as notícias das guerrilhas em Angola e a invasão de Goa, e, depois, Guiné e Moçambique, faz acordar também os outros territórios um pouco mais sossegados.
Enquanto pode, Timor Português mantem-se sem incomodar o colonizador, até que surge o 25 de Abril em Portugal. A independência do território do solo nascente, entre uma guerra civil, surge duma forma temerária, em 28 de novembro de 1975. Mas só depois de se terem livrado das garras da dominação indonésia, que considerou a sua 27ª província, e originou grande mortandade, não obstante muitas denúncias de vários países e de fortes pressões de Portugal, a Organização das Nações Unidas (ONU) decide criar uma força internacional para intervir na região, o que acontece com a sua entrada em Díli, a capital, em 22 de setembro de 1999. É então que o líder da resistência timorense, Xanana Gusmão, sai da prisão onde se encontra, na Indonésia. Este país, que entretanto, deixa o controle de Timor, vai proporcionar que os timorenses, em 20 de maio de 2002, ergam um novo País – Timor-Leste – sendo o primeiro novo Estado soberano do século XXI.
Portugal é incansável ao lado e na defesa do povo timorense, durante o período crítico do jugo indonésio. Estabelece relações de grande amizade, reconhecendo a justa luta, ao lado do seu povo, de figuras proeminentes, desde o tempo em que, como Xanana Gusmão, atual Primeiro-Ministro, e que fora já o 1.º Presidente da República, dura a chefia da resistência, largos anos, que passa entre o mato e a prisão.
Todo o Portugal se enternece com os sacrifícios e muitas torturas por que passa o Povo Maubere. Quando presido à “Apae Campos Melo”, diligencia-se a vinda à Covilhã, para o aniversário da associação, dum grupo de timorenses – “Taci Feto Taci Mane” –, a residir em Lisboa. Participa com as suas danças tradicionais. E uma interessante exposição alusiva a Timor, em 17 de junho de 1995, em colaboração com a Biblioteca por Timor, em Lisboa, é proporcionada aos Covilhanenses. Altura em que lutam fortemente contra a dominação indonésia. Em 19 de junho de 1996, também segue uma carta para Xanana Gusmão, na prisão em Jakarta (L.P. Cipinang – Jalan Raya Bekasi), aquando do seu 50º aniversário natalício: “Parabéns pelos 50 anos de vida, parte dela na luta pela causa do Povo Maubere (…) Mas fique ciente que um dia a sua coragem e determinação há-de servir para a libertação do seu povo. Pela nossa parte, estaremos sempre atentos à vossa justa causa e daremos todo o apoio possível, dentro das nossas possibilidades, como o reforço da divulgação que fizemos por um Timor livre e independente (…)”.
Entretanto, o poder geralmente corrói e altera comportamentos e atitudes, colocando, quantas vezes, os valores, por que se debatiam, esfumados, e denegridos.
Efetivamente, não gostámos de ver Xanana Gusmão, no dia 23 de julho de 2014, aquando da Cimeira da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), realizada em Díli (Timor), ironia da história, a levar o ditador Teodoro Obiang, da Guiné Equatorial, de início, pela sua mão, contrastando com aquilo que foi a sua luta contra a ditadura.
Agora, é Xanana Gusmão e o Conselho de Ministros do seu Governo, que determina a expulsão de Timor, num prazo de 48 horas, dos funcionários judiciais internacionais, incluindo cinco juízes e um oficial da PSP de nacionalidade portuguesa, invocando “falta de capacidade técnica” para “dotarem funcionários timorenses de conhecimentos adequados”. Atitude que não está em conformidade com tudo o que Portugal fez pelos timorenses.
A Ministra da Justiça de Portugal, e muito bem, fez cessar, de imediato, todas as contratações existentes e renovações contratuais dos funcionários judiciais internacionais, a exercer funções nos vários órgãos judiciais daquele país, e a cooperação existente, neste âmbito.

Chegam agora notícias do envolvimento de figuras, e do próprio Xanana, em casos de corrupção. Muita tinta ainda vai que se gastar com esta conduta, qual ingratidão. Depois do país ter saído das cinzas, emerge a preocupação timorense pela reação portuguesa. Chega-se à conclusão que, afinal, o tiro saiu pela culatra.

(In "Notícias da Covilhã", de 13.11.2014)

11 de novembro de 2014

CULTURA BEIRÃ

Das exaltações surgidas na leitura de algumas notícias dos semanários regionais deste último fim-de-semana, ao ponto de alguns protagonistas não olharem a meios para atingir os fins, foram evidentes algumas bofetadas de luva branca.
Já lá vai o tempo que quando um autarca largava o poder em democracia, lobrigava-se, quase sempre, um caminho a percorrer sem que houvesse obstáculos de maior, na prossecução das tarefas municipais que são sempre muitas.
A partir do momento em que não se aceita a democracia, se assalta o povo num adjetivar pensante de burro e estúpido porque não votou na pessoa que o ditador deseja, mas votou de sua livre vontade, então perde-se o tino.
Isso já aconteceu há uns anos, em que a cor política vencedora da edilidade covilhanense mudou e, então, vai daí, nenhum dos que se haviam apresentado ao eleitorado quiseram tomar posse e apresentaram, então, uma equipa B, que eu, na altura, designei da segunda divisão.
Desta vez, novamente com a alternância de poder autárquico verificada, democraticamente, surgem ventos ciclónicos duma corrente de ar poluída de calúnias cobardes em blogues anónimos, que, ingenuamente, circulam na Internet. Se é verdade, há que dar a cara, mas não!
A bofetada de luva branca foi dada na aprovação dos orçamentos municipais, de todas as Câmaras desta região, e, no que concerne à da Covilhã, os homens da governação concelhia viram a aprovação do orçamento sem um voto contra, incluindo da oposição, que teve apenas em um dos elementos a abstenção. Há muito tempo que isto não acontecia! Certamente porque os vereadores da oposição, na mente de certos senhores fora da corrida, são também burros e estúpidos. Será?
As restantes Câmaras mais próximas, desta região, também viram os seus orçamentos aprovados sem dificuldades: Fundão e Belmonte.
Vamos à cultura. É assaz importante verificar que a região está a dar à cultura um espaço que a mesma merece, contra ventos e marés de outros tempos. A região carece da mesma, e já que começou a ser levantado o véu da interioridade, é nos homens do leme das governações locais que se encontra a força para levar por diante o conhecimento e a cultura.
O 1.º Festival Literário Gardunha 2014, realizado nos dias 22 a 28 de setembro, no Fundão e Gardunha, promovido pela Câmara do Fundão, foi um autêntico êxito. Foi o primeiro festival literário temático focado na literatura de viagens a ser criado em Portugal. Durante alguns dias, cerca de trinta escritores e ensaístas embarcaram na viagem pela Gardunha, nos caminhos da imaginação, rompendo assim o isolamento cultural da região.
Ainda sob a égide do município fundanense, e com o apoio da Universidade da Beira Interior (UBI) e Jornal do Fundão, foram atribuídos os Prémios de Jornalismo Jornal do Fundão.
Na Covilhã, o Teatro das Beiras, anteriormente designado GICC, foi fundado em 7 de novembro de 1974 e comemora agora 40 anos, numa ação louvável da cultura teatral na Covilhã e Região, tendo já percorrido outras zonas do país. É obra! Estão de parabéns todos os obreiros desta instituição, já sobejamente conhecida, principalmente na pessoa do seu diretor e fundador, Fernando Sena.
E os festivais literários vão continuar com força pela região beirã, sob a dinâmica dos edis locais.
Mas, antes, quero recordar, já lá vai quase uma década, o que ocorreu também na Covilhã, em 16 de julho de 2005, no Pólo das Engenharias da UBI – um Congresso Literário, designado como Primeiras Jornadas de Literatura, onde estiveram presentes meia centena de notáveis escritores. Foi, talvez, o maior evento, realizado na Covilhã, depois de recuar mais de sete décadas, para encontrar um espaço com um acervo cultural importante como foi o III Congresso Nacional dos Bombeiros, também realizado na Covilhã, em julho de 1932.
No momento em que escrevo esta crónica, ainda não se realizou a Diáspora, que irá acontecer neste fim-de-semana, em Belmonte; é o Festival Literário de Belmonte, a realizar nos dias 7, 8 e 9 de novembro, com mais de uma dezena de escritores portugueses. Segundo as palavras do Presidente da Câmara de Belmonte, António Dias Rocha, “Belmonte foi desde sempre uma terra de chegadas e partidas, marcou um sem-número de pessoas espalhadas por todo o mundo. Podemos lembrar Pedro Álvares Cabral, que alargou os horizontes deste povo ao descobrir o Brasil, (…) podemos falar de tanta e tanta gente…e, se foi sempre terra de chegadas e partidas, é também um ponto de visita de todos os que gostam de celebrar a história e a cultura. É com este espírito que decidimos criar o Diáspora – Festival Literário de Belmonte, esperando despertar neste território fértil um manancial de novas ideias, sentimentos, ligações: literatura”.
A Região Beirã está, de facto, numa viragem cultural, depois de participações individuais de escritores, como por exemplo, na Covilhã, com o convite feito a diversos escritores para a sua participação nos interessantes Cafés Literários.

(In "fórum Covilhã", de 11.11.2014)

22 de outubro de 2014

ENTRE HOMENS SEM ALMA

São notícias do dia-a-dia. Eles são criminosos, outros ladrões. Há corruptos e traidores. Matam inocentes por ódio e ambição. Voltam a fazer escravos. Eles são homens sem consciência. Seus corações são inexistentes e não têm alma. Vivem interiormente como bestas no cometimento das suas barbaridades. Tragédias ou desgraças são palavras que não conhecem, ou desejam omitir. Pensam e materializam esse pensamento. São homens sem alma! Fanatismo é um dos seus ideais. Um humano é como um irracional. A brutalidade, no desígnio da sua divindade, é duma feroz loucura. Inocentes condenados e famílias destroçadas. Eles são homens sem alma!
Já vai na quarta vítima dos jihadistas do Estado Islâmico, com decapitações sob as garras desses terroristas bárbaros e repugnantes. Depois dos jornalistas norte-americanos James Foley e Steven Sotloff, seguiram-se no martírio os britânicos David Haines e Alam Henning, mesmo a trabalhar no voluntariado em organizações não-governamentais, em prol dos países que lhes dão guarida. Mas os carrascos são homens sem alma!
São mais de trinta mil esses combatentes do Estado Islâmico que domina uma vasta faixa territorial entre a Síria e o Iraque, e a sua raiva já não é só sobre os americanos e britânicos, estende-se também aos franceses e aos ocidentais na sua generalidade, assim como à Austrália.
Eles aproveitaram a Primavera Árabe de 2011, e a liberdade das eleições para tentar subvertê-la a seu favor. Os extremistas islâmicos que proclamaram o califado no Iraque e na Síria apelam à violência, e violência extremamente feroz, com métodos medievais nas execuções.
E na aderência a este grupo terrorista, recrutados muitas vezes por via da Internet, também há ocidentais. Para além dos ingleses, também franceses, alemães e de outros países, e, como não podia deixar de ser, consta que há doze jihadistas de origem portuguesa na Síria e no Iraque. São filhos de emigrantes e vivem na Europa. Consta ainda que um deles já cometeu em atentado suicida no Iraque. Um é de Trás-os-Montes e outro, engenheiro de profissão, é de Lisboa.
O autodenominado Estado Islâmico (EI), que de Estado nada tem, está também agora a atrair mulheres norte-americanas, recrutadas para serem “fábricas de bébés”, com o objetivo de aumentar a população do Califado que pretendem criar, fenómeno que já não é estranho, onde se inserem adolescentes, recrutadas através da Internet.
Ora, que balanço podemos fazer da luta contra o terrorismo, treze anos volvidos sobre os bárbaros atentados que mataram milhares de pessoas nas torres gémeas de Nova Iorque? Será que o mundo está mais seguro? A Primavera Árabe acabou por se transformar num Inverno: Iraque, Líbia, Síria e Egito caíram no caos. Os que se consideram agora libertadores ultrapassaram na violação dos direitos humanos os assassinados Saddam e Kadhafi, e Assad e Mubarak. E se este pretenso Estado Islâmico, entre o Iraque e a Síria, que se propõe construir um Califado, num desejo de extermínio de milhares de infiéis que professam uma religião diferente, outro “Estado Islâmico”, a Sudoeste da Nigéria, dedica-se a raptar meninas que depois vende a pedófilos, como castigo por terem aprendido a ler e a escrever. Santo Deus! Qual é a divindade destes loucos, muito próximos dos irracionais?
Ao longo de toda a história universal encontramos guerras, conflitos, situações geradas e que poderiam ter sido evitadas. Acabou a Guerra Fria mas logo surgiram novas situações de conflitos no globo. Temos agora, para além de outras preocupações, o medo do “Estado Islâmico” (EI) – ou ISIS ou ISIL – que reúne a fação mais radical da jihad, ou seja, a guerra santa, que, apesar de recente, já se distinguiu pela sua crueldade e primitivismo.
Tem o Ocidente que fazer um esforço para separar os países que se envolveram na luta pelo Estado Islâmico, ou pelo Iraque, ou qualquer outra ambição de conquista ou vingança. E também tem que tomar as precauções necessárias para que a jihad não penetre no seu território.

(In "Notícias da Covilhã", de 23.10.2014) 

MARIA IVONE DE JESUS PINTO MANTEIGUEIRO VAIRINHO

Não é fácil falar sobre uma personalidade covilhanense por quem tive grande amizade e que nos compreendíamos pela envolvente cultural que nos tocava, tantas vezes no caminho da nossa Terra-Mãe.
Maria Ivone Manteigueiro, que nasceu na Covilhã em 27 de Fevereiro de 1936, desde muito jovem, e ainda na adolescência, se evidenciava, na Covilhã, no âmbito cultural, pelas excelsas qualidades que possuía e lhe fervilhavam da sua jovialidade, num encontro do saber e do saber fazer, de tal forma que a Covilhã, após a década de cinquenta do século XX, já era uma cidade pequena para ela.
Com 9 ou 10 anos fez a sua estreia no teatro – no teatrinho do salão paroquial de S. Pedro, como lhe chamava – e, mais tarde, ensaiou as primeiras pequenas peças de teatro que, entretanto, ia escrevendo, nos seus 13 anos.
O ensino na Covilhã, e no País, não tinha a evolução dos tempos de hoje – e o que era isso de novas tecnologias? – e, assim, o nosso Liceu só tinha o 1.º ciclo, à altura. Como Maria Ivone queria muito mais, e até  mesmo por um impulso familiar, optou pela Escola Industrial, onde o ensino se prolongava até ao 5º. ano industrial, e aí prosseguiu os seus estudos até que já no 4.º ano industrial, o então dinâmico director da Escola,
Eng.º Ernesto de Melo e Castro, conseguiu que na Escola fosse também criado o Curso Comercial. Aconselhou a jovem aluna  a mudar de curso, a qual sobressaía pelo seu valor académico.  E ei-la a ser a aluna mais distinta da Escola e a ganhar prémios entre os quais a de ter sido a 1ª classificada dos Cursos de “Formação Geral do Comércio” e “Complementar do Comércio”.
Mais tarde viria a completar os cursos do Instituto Britânico e Alliance Française, assim como a diplomar-se em estenografia portuguesa, francesa e inglesa.
E é já na sua actividade profissional ao serviço da ex-Sacor e depois Petrogal, como Secretária do Conselho de Administração que frequentou um curso internacional além de outros de informática e técnicas de secretariado.
Mas, voltando à sua juventude, na Covilhã, as peças de teatro e autos de Natal, que escrevia, foram por si representadas na Escola Industrial e Comercial Campos Melo e no já referido teatrinho do Salão Paroquial de São Pedro, mas também contos e poemas que viriam a ser publicados em diversos jornais e revistas, tendo ganho quatro primeiros prémios em contos, e uma menção honrosa em Poesia Lírica no I Concurso Literário da ex-Sacor.
Com guião e direcção do Padre José Domingues Carreto, foi a protagonista do filme “Dois Caminhos”, que relatava a luta de uma jovem operária, militante da JOCF, na defesa da mulher no mundo do trabalho, tinha Maria Ivone 15 anos.
As gentes mais antigas poder-se-ão recordar do retumbante êxito de Maria Ivone na
festa de finalistas de 1955/56, na representação de “Auto da Alma, Todo o Mundo e Ninguém” e “Súplica de Cananeia”.
Mas já antes, em 1952/53, no ressurgimento do Orfeão da Covilhã, começou a fazer parte do grupo de teatro. Declamava entre a 1.ª e a 2.ª partes da actuação do Orfeão. Foi criado o grupo folclórico que levou o folclore beirão a vários pontos do País, onde Maria Ivone fazia o papel de “Covilhã”, apresentando e explicando os números que o grupo exibia e declamando também.
Em 1954, aquando da inauguração do Teatro-Cine da Covilhã pela Companhia de Teatro Nacional Amélia Rey Colaço – Robles Monteiro, Maria Ivone representou um monólogo de Alice Ogando, tendo o casal de actores ficado muito agradado, o que proporcionou lhe  abrirem as portas do Teatro Nacional, oportunidade que não pôde concretizar.
Mas, com estes seus dotes de mulher multifacetada, colaborou em concertos da “Pró-Arte”, dizendo poemas ilustrativos de diversos andamentos de Sinfonias de Beethoven.
No cinquentenário do Monumento de NosNeves e de Maria Alberta Menéres, na sessão solene, a que presidiu o Núncio Apostólico em Portugal, Cardeal D. Fernando Cento.
sa Senhora da Conceição, na Covilhã, declamou poemas do Padre Moreira das
Com o pseudónimo de Ivone Beirão, em 1959 pertenceu ao Centro de Preparação de Artistas da Rádio. Gravou programas  nos estúdios da Emissora Nacional, na Rua do Quelhas, e estreou-se num Serão para Trabalhadores, no Pavilhão dos Desportos, no Parque Eduardo VII. Nessa altura teve também lições de arte de dizer.
Entretanto, ia escrevendo, tendo publicado quatro livros (entre os 20 e os 23 anos), dum mercado específico da Agência Portuguesa de Revistas que tinha aberto uma porta a “Novos Escritores Portugueses” – “Linhas Trocadas”, “Amor Cigano (1.ª e 2.ª edição)”, “Humilhação de Amor” e “Uma Mulher Moderna” – os romances; e, já mais recentemente,  “Livro da Dor e da Esperança”, em poesia, apresentado no Salão Nobre da Câmara Municipal da Covilhã.
Escreveu também largas dezenas de contos e crónicas que foram publicadas em revistas e muitos jornais, como já referi.  Foi colaboradora da Crónica Feminina, nos seu anos de ouro, de 1957 a 1982, com uma página semanal (conto ou crónica).
Também foi colaboradora do jornal “Poetas e Trovadores” e participou em 12 Antologias da Associação Portuguesa de Poetas.
As suas biografia e bibliografias estão incluídas em vários livros.
Em 02.10.1961, Maria Ivone casou com Victor Vairinho e foi para Lisboa, empregando-se na Sacor. Passou a ser então a Maria Ivone Manteigueiro Vairinho.
Em 1966 fez parte do “Teatro do Pessoal da Sacor”, tendo depois realizado Serões Culturais Vicentinos. Colaborou em diversos Saraus de Poesia, sempre a poesia…
A convite da ex-FNAT, representou no Teatro da Trindade, em Lisboa; no Luísa Tody, em Setúbal; e nas instalações da ex-Sacor em Lisboa, Cabo Ruivo e Faro.
Continuou a escrever os seus contos mas teve uma excelente proposta para fazer traduções de Francês, Inglês e Espanhol, e, por isso, não voltou a publicar mais romances originais. Tem várias dezenas de livros traduzidos de Espanhol, Francês e Inglês (entre eles a série Dallas, da Televisão, e Robinson Crusoe, editadas pela Agência Portuguesa de Revistas e Circulo de Leitores).
Na Biblioteca Nacional (Base Nacional de Dados Bibliográficos) tem registados em seu nome 239 livros (traduções e originais).
Reformando-se aos 56 anos, recomeçou as suas actividades literárias e artísticas e é então que começa a escrever poemas.
Foi ao auditório da RTP onde declamou e recebeu uma proposta para fazer parte da Associação de Poetas Portugueses (APP).
Proferiu diversas palestras e conferências, em vários locais do País.
Foi Presidente da Direcção da Associação Portuguesa de Poetas e Directora do seu Boletim.
Desde 2001 que Maria Ivone  dava aulas de “Ler…e Dizer – Oito Séculos de Literatura Portuguesa/Poesia”, na Universidade Sénior de Oeiras.
Era sócia da Associação Portuguesa de Poetas, Associação Portuguesa de Escritores e Sociedade Portuguesa de Autores.
Mas…poderão perguntar alguns das gerações mais novas, ou, outros, do seu tempo, menos interessados pelo fenómeno cultural: quem era Maria Ivone que aqui se narra?
Maria Ivone Manteigueiro, como era conhecida, e, depois, Vairinho pelo casamento, era  a mais nova de três irmãos: Armanda e  Francisco Manteigueiro, que foi velha glória do Sporting da Covilhã e também meu bom amigo. Quis Deus que o Francisco deixasse o mundo dos vivos em 9 de Novembro de 2011 e aguardasse pela companhia de sua querida irmã, volvidos pouco mais que dez meses, em 7 de Setembro de 2012.
A Maria Ivone era uma pessoa de raras qualidades, humilde, sem dar nas vistas, orgulhosa da sua Covilhã, amiga do seu amigo, de grande sabedoria que com facilidade assimilava e se reflectia na sua pessoa como mulher multifacetada. Depois, acabaria na sua grande paixão – a poesia, depois do teatro.
Mas isto é o suficiente para tão grande reconhecimento de mulher covilhanense?
Maria Ivone Manteigueiro Vairinho tinha na sua alma a Covilhã, sempre a Covilhã e as coisas lindas desta cidade maravilhosa!
É que, vivendo mais de meio século na cidade alfacinha, a sua voz, transcrita para o papel e para a declamação, em vários pontos da cidade lisboeta, transmitia na sua alma a Terra-Mãe que a viu nascer – a sua Covilhã, como a conheceu e a ia vendo transformar-se.
Os covilhanenses não se aperceberam!
Adicionar legenda
Houve várias ocasiões em vida, na Covilhã,  que foram merecedoras do seu reconhecimento público, mas tal não aconteceu, tendo sido  como que votada ao ostracismo. Mas, na outra cidade onde vivia – Lisboa, e também  Oeiras – Maria Ivone foi merecedora do reconhecimento dos seus méritos, tantas vezes aclamada no dizer das suas poesias, quando antes o fôra também na parte teatral.
Sabia ela que este seu amigo era ainda o que ia dando conhecimento público, na comunicação social, do valor da sua pessoa, e das suas obras, tendo a oportunidade de o fazer por várias ocasiões.
Por isso, me passou a enviar o Boletim Trimestral Informativo e Cultural da Associação Portuguesa de Poetas, à qual presidia. Guardo-os ainda religiosamente, para saborear, de quando em vez, as suas poesias, muitas delas declamadas em locais como no Centro Cultural de Belém e no Mosteiro dos Jerónimos, onde seria a sua última homenagem, já fora do mundo dos vivos.
E que doce a leitura dos seus versos, ora em redor da sua família, mormente a mãe, ora noutras direcções do seu pensamento de covilhanense de raiz. Respigo alguns títulos da sua vasta obra:  O Menino Jesus e as Crianças; Noémia; Os olhos das crianças; Lua Branca em Céu Azul (sobre a Covilhã); Tecelão da Covilhã; 25 de Abril; Olhos secos de dor; Árvore da Vida (sobre a Covilhã e a família); A Matança dos Inocentes; Meu Canto de Cisne.
Em 1 de Março de 2008, as suas amigas e amigos poetas, homenagearam a Presidente da Direcção da APP:

“Com a Lira no coração
faz da ética o seu bordão.
Tem uma chama sempre acesa
na sua alma poética
e na sua forma de amar
a nossa Língua Portuguesa”.

E, a poetisa Virgínia Branco, tesoureira da Associação Portuguesa de Poetas, referia-se assim a Maria Ivone Vairinho:
“Encontro-me hoje e aqui a prestar homenagem à grande amiga que muito prezo, à Professora, à Tradutora, à Escritora, à Conferencista, à Poetisa e Declamadora, mas acima de tudo à Digma Presidente da Associação Portuguesa de Poetas, nau que tão dignamente tem sabido levar a bom porto, servindo-a sem nunca se servir.
Para Maria Ivone não há dia ou noite, apenas conhece trabalhos a apresentar e prazos a cumprir, pois é dotada de grande carácter e firmeza, pessoa de uma só palavra.
Maria Ivone Vairinho é um Ìcone da cultura portuguesa, possuidora ela própria de uma vasta cultura é há muito um grande vulto nas Letras e na Poesia”.
O meu preito de gratidão à Maria Ivone, pela grande amizade que teve para comigo, que é, como dizer, para com a nossa Terra-Mãe – a Covilhã, e que lá dos céus possa gozar a plenitude da glória que sempre mereceu.
À família, mormente ao meu especial amigo Victor Vairinho, e à Mané, a certeza de que hoje, dia 20 de Outubro de 2014, no Salão Nobre da Câmara Municipal da Covilhã, é prestada a homenagem, há muito devida, à vossa mui amada esposa e mãe – a Maria Ivone, com a atribuição da Medalha de Mérito Municipal – Classe Prata, a título póstumo!

João de Jesus Nunes



14 de outubro de 2014

UM PAÍS ADIADO

Depois do adeus à troika, o recuperar da nossa soberania e poder de decisão independente ainda estão longe.
Continuamos um país adiado e sob tutela apertada, e assim continuaremos enquanto não tivermos juízo.
Segundo se consta, a troika tem um compromisso de nos “deitar a mão” caso as condições dos “mercados” nos obriguem, de novo, a que estendamos a mão à caridade.
Continua a haver fonte de desperdício e de dinheiro mal gasto no setor público, onde ainda não foi organizado.
Dou um exemplo recente, de desorganização, que já vem de anos atrás, e isto no que se refere à distribuição dos excedentes alimentares da União Europeia, da responsabilidade da Segurança Social.
Na Covilhã, das listas de carenciados fornecidas à Segurança Social pelas instituições de solidariedade social, como as Conferências Vicentinas, foram eliminados vários nomes, muitos deles verdadeiramente carenciados, o que causou estranheza nos meios que prestam, num autêntico espírito de voluntariado, um bem às pessoas desprotegidas.
Aconteceu, porém, como vem sendo hábito, que a Segurança Social, instituição pública, acabou por distribuir, a cada elemento das suas listagens de carenciados, quantidades enormes como, por exemplo, duas ou três dezenas de cada género alimentício (açúcar, arroz, massa) a uma única família, o que naturalmente leva a que essa pessoa não consiga consumir tudo dentro do prazo de validade, e não tenha espaço nas suas casas para tanto género alimentício, originando, várias vezes, termos visto nos contentores do lixo quantidades desses produtos deitados fora. Entretanto, para trás ficaram outros que, como já referimos, por estranho que pareça, ficaram sem esses produtos.
Será isto uma boa gestão? Já muitos contestam o trabalho das Assistentes Sociais, que deveriam andar no terreno, em ação profícua, e não nos seus gabinetes.
Entretanto, sobre este assunto, no início pretendiam que fossem as Conferências a fazer a distribuição direta dos produtos oriundos dos excedentes da UE, mas teriam que efetuar um trabalho burocrático, que não lhes competia, e para o qual as Conferências Vicentinas se negaram já que compete à Segurança Social trabalhar, como empregados públicos que são, e não quem tem já tanto serviço de voluntariado a fazer, muitas vezes sem mãos a medir.
Assim, não, não vamos lá.
“Nenhum grupo etário é tão afetado pela privação como as crianças. Segundo o Instituto Nacional de Estatística, no ano passado, 2,2% dos menores de 15 anos pertenciam a famílias que não lhes garantiam pelo menos uma refeição diária de carne ou peixe e 1,4% não comiam fruta e legumes uma vez por dia. É de gente que salta refeições ou come mal que se fala quando se fala de fome em Portugal”, segundo afirmou Eugénio Fonseca, presidente da Cáritas Diocesana.
Se formos levantar o véu doutras instituições públicas, como alguns serviços de enfermagem dos Centros de Saúde, então teríamos muito para contar.
Outro setor que nos faz um país adiado são os serviços judiciais, com a investigação criminal lenta e má, não conseguindo produzir prova de qualidade, em particular nos crimes de colarinho branco na área financeira, mas não só, o que faz com que muitos criminosos, de todas as cores e colarinhos, se consigam escapar pelas amplas malhas deixadas nas teias da lei para quem tem dinheiro para contratar bons advogados. Advogados cujos sócios “deputados” fizeram as leis com os buracos necessários para os seus conhecimentos conseguirem livrar os seus constituintes.
No entanto, mais recentemente, já vemos alguns tribunais com as suas sentenças em que as elites também já não escapam a mão pesada da Justiça.
Costa Freire foi o primeiro político condenado por atos durante o mandato, decorria o ano 1994. Dez anos depois, Maria de Lurdes Rodrigues é sentenciada a mais três anos de prisão. A Justiça portuguesa, dizem alguns juristas e advogados, segundo o jornal i, começa a ter mão pesada nos políticos e não só. Costa Freire, Isaltino de Morais, Armando Vara, Jardim Gonçalves, Ricardo Salgado e, mais recentemente, Maria de Lurdes Rodrigues, são alguns exemplos de como a Justiça portuguesa não tem olhado a elites ou postos quando em causa está uma condenação.
Esperemos que a Justiça dê o volte-face a esta situação, se bem que existe quem julgue que os banqueiros e grandes agentes económicos, assim como outras personalidades de elite, vão a tribunal em desigualdade com os outros cidadãos.
Há por este país escolas privadas muito caras, e portanto só acessíveis a uma minoria de privilegiados, conhecidas por serem excessivamente generosas na atribuição de notas destinadas a subir médias.
Assim como há universidades privadas sem quaisquer requisitos de qualidade e que oferecem “cursos superiores” sem qualquer interesse prático. O grau de exigência do setor privado deveria obrigatoriamente ser idêntico ao do setor público.
Enquanto não nos dedicarmos de corpo e alma, norteados pelos interesses do país e não pelo umbigo partidário, a estudar em profundidade, com técnicos e não políticos, a liderar o processo e a decidir sobre essas áreas não podemos viver tranquilos em Portugal.
Muito, mas muito haveria que dizer, para que este país não estivesse “entregue à bicharada” e, assim, deixasse de ser um país adiado.

(In "fórum Covilhã", de 14.10.2014)


8 de outubro de 2014

A MONUMENTAL TAÇA “O SÉCULO” GEROU CONTROVÉRSIA NA 2.ª DIVISÃO NACIONAL O ESCLARECIMENTO QUE HÁ MUITO SE IMPUNHA

Muito se falou sobre a forma “confusa” como foi atribuída a Taça “O Século” aos clubes da 2.ª Divisão, a qual acabaria por vir a ser ganha pelo Sporting Clube da Covilhã, com todo o mérito.
Dizia-se que só havia em Portugal duas monumentais taças com esta matriz – uma, ganha pelo Sporting Clube de Portugal (SCP) e, outra, pelo Sporting Clube da Covilhã (SCC).
Após aturadas pesquisas conseguiu-se o cabal esclarecimento, cujas dúvidas vinham ofuscando a transparência da informação.

A história desta Taça começa com a iniciativa do diretor do extinto jornal O Século, João Pereira da Rosa, organizando, em 1938, a “Exposição Histórica do Futebol”, para comemorar os 50 anos do futebol em Portugal e, com a respetiva receita, criou duas gigantescas taças, do mesmo tamanho, a que se chamou Monumental Taça “O Século”, destinando-se uma para os Clubes da I Divisão e outra para os Clubes da II Divisão.
“O Século, ao mesmo tempo que fez a encomenda das duas taças, elaborou um projeto de regulamento das taças, que submeteu à apreciação da Federação Portuguesa de Futebol, tendo merecido a sua melhor aprovação.
O Regulamento é do teor seguinte:
Artigo 1.º - As duas taças “O Século”, oferecidas pelo mesmo jornal, para serem disputadas, uma na I Divisão e outra na II Divisão do Campeonato Nacional de Futebol, comemorando a organização das Bodas de Ouro do Futebol Português, que promoveu em Outubro de 1938, serão disputadas nas seguintes condições:
1.º - Ficarão na posse provisória do Clube que se classificar em primeiro lugar na respetiva divisão do Campeonato Nacional de Futebol, com início na época de 1938/39.
2.º - Cada uma das taças passará à posse definitiva do Clube que ganhar em três anos consecutivos, ou cinco alternados, o Campeonato Nacional de Futebol, na respetiva divisão.
Artigo 2.º - No fim de oito épocas, se nenhuma das taças tiver passado à posse definitiva de qualquer Clube, proceder-se-á do modo seguinte:
a)      Se nessa altura nenhum Clube tiver duas inscrições na taça, será a mesma entregue ao vencedor do Campeonato de 1946/47, da respetiva divisão.
b)      Se nessa altura já houver Clubes com duas inscrições alternadas, na época de 1947/48 serão ainda as taças disputadas nos termos do n.º 2.º do art.º 1.º.
c)       Se até ao início da época de 1948/49, nenhum Clube tiver ganho as referidas taças nas condições atrás citadas, serão elas conferidas definitivamente aos Clubes que forem os vencedores das I e II divisões do Campeonato nesse décimo ano da sua disputa.
d)      Artigo 3.º - Se o Campeonato Nacional deixar de disputar-se, não sendo substituído por outra prova semelhante na qual as taças possam continuar a disputar-se, ficarão elas na posse da Federação Portuguesa de Futebol, com destino ao Museu de Futebol Nacional, quando vier a constituir-se.”

Relativamente aos Clubes da I Divisão a tarefa foi fácil na sua definição. À luz do regulamento, ganhou a 1.ª Monumental Taça “O Século” o Sporting CP porque, de 1938/39 (data do início desta Taça) até ao seu termo (1947/48) não houve nenhum requisito conseguido por qualquer clube primodivisionário.
Os vencedores dos Campeonatos das I e II Divisões foram então os seguintes:
I Divisão: 1938/39 – FC Porto; 1939/40 – FC Porto; 1940/41 – Sporting; 1941/42 – Benfica; 1942/43 – Benfica; 1943/44 – Sporting; 1944/45 – Benfica; 1945/46 – Belenenses; 1946/47 – Sporting; 1947/48 – Sporting.
II Divisão: 1938/39 – Carcavelinhos (ganhou na final ao Sp Covilhã, por 1-0); 1939/40 – Sp. Farense; 1940/41 – Olhanense; 1941/42 – Estoril; 1942/43 – Barreirense; 1943/44 – Estoril; 1944/45 – Atlético; 1945/46 – Estoril;
1946/47 – Sp. Braga; 1947/48 (Sp. Covilhã, ficando em 2.º lugar o Barreirense, com o mesmo número de pontos, 8. O SCC teve 17 golos marcados e 7 sofridos e o Barreirense 13 golos marcados e 7 sofridos, o que o inibiu de subir em favor do SCC).
Portanto, o Sporting, analisado o Regulamento da Taça “O Século”, acabou por ganhar a primeira, ao 10º ano, ou seja, na época 1947/48.
Embora tivéssemos desconhecido que o jornal “O Século” deu continuidade a nova Taça “O Século (penso que só para a I Divisão), o mesmo jornal viria a deixar de instituir este troféu a partir de 1953.
Foi entretanto ganha novamente pelo Sporting Clube de Portugal por ter sido vencedor de três campeonatos seguidos, em 1950/51, 1951/52 e 1952/53 (ganhou também o de 1953/54). Esta segunda Taça é também monumental, com 1,40 cm de altura, sendo que a primeira, igual à que possui o Sporting da Covilhã, tem 1,23 de altura.
Relativamente à II Divisão, nenhum Clube conseguiria ganhar três campeonatos seguidos, como é óbvio, já que subiam à I Divisão. Assim, ganhou a Taça “O Século” o SCC, no 10º ano, em 1947/48, precisamente quando subiu, pela primeira vez à I Divisão Nacional.
Estas Taças estiveram provisoriamente em cada Clube (I ou II Divisões), durante o ano em que ganharam os respetivos campeonatos, e iam colocando uma chapinha metálica, na Taça, com o nome do Clube e época. Portanto, as Taças, quer a da I Divisão, quer a que é pertença do SCC, esteve em poder provisório de todos os Clubes que foram ganhando os respetivos Campeonatos, daí se encontrarem algumas fotografias com esta Taça, como é o caso do Olhanense e do Barreirense.
Alguns Clubes, como o Barreirense (livro sobre a história do Clube pág.s 134 e 135), duma forma errónea, bem gravitaram na tentativa de a obter, face à má interpretação do Regulamento, ou mesmo desconhecimento do assunto que a envolveu.
Aqui fica o devido esclarecimento que se impunha.

(In "Tribuna Desportiva", de 6.10.2014; "fórum Covilhã", de 7.10.2014; e "Notícias da Covilhã", de 09.10.2014)