23 de dezembro de 2015

VENTOS DE MUDANÇA

“Quando os ventos de mudança sopram, umas pessoas levantam barreiras, outras constroem moinhos de ventos” (Érico Veríssimo).
Neste ano que se aproxima do seu final, muitos acontecimentos ilustraram a contagem dos seus dias.
Entre a moderação e a agressividade dos tempos que vão passando no nosso caminhar quotidiano, nas várias vertentes da vida de cada um, talvez a reflexão, ou falta dela, fosse a palavra mais sublinhada.
O facto é que sonhadas certezas se transformaram na ambiguidade de momentos vividos, para uns; e na indiferença para os tempos que não correm de feição, para outros.
Vejamos, por exemplo, nesta última parte, o que de âmbito da vida política deste nosso Portugal, de quase nove séculos, se tem passado com a crescente taxa de abstenção nos atos eleitorais, atingindo neste 2015, a percentagem de 43,07.
Todos nós, como cidadãos portugueses, não podemos deixar de lançar o grito do Ipiranga nesta altura em que, volvidos 41 anos após a Revolução de Abril, nos podemos considerar falseados com todos quantos, ao leme das várias governações, não souberam encontrar formas de tornar a nossa Nação num país rico como tinha obrigação de o ser.
Eslováquia, República Checa, Polónia, entre outros, são países que tendo aderido à União Europeia mais tarde que nós já nos ultrapassaram no seu consistente crescimento.
E somos o único da Europa que em menos de 40 anos levámos, por três vezes, o país à beira da catástrofe.
O desenvolvimento não se compadece com a passividade dos portugueses, ao longo dos tempos, e o atraso continua a prevalecer em relação a outros países da mesma família da União Europeia, e não só.
Já não dependemos somente de nós, mas também dos nossos parceiros. É como num campeonato de futebol em que, para não descer de divisão, já temos que depender do resultado de outros. Os nossos já não são suficientes.
Nesta estagnação económica os portugueses são levados a olharem para outros mercados e a emigrarem, forçados pela inexistência de alternativas em Portugal.
O empobrecimento é generalizado e cai sobre todos nós. Por isso, a produtividade da economia tem que ser aumentada, sem rodeios.
Escrever este último parágrafo foi fácil. Difícil é saber quem, dos nossos governantes, ao longo destas mais de quatro décadas de democracia, foi capaz de incutir em nós esta forma de atuar, em prol do nosso desenvolvimento. E, quem, dos atuais, nestes ventos de mudança, vai descamisar-se para deixar correr o suor duma verdadeira, e não ambígua, ação de transformar o país no Portugal de todos e para todos, substituindo o pão que o diabo amassou pelo caldo quente que todos merecemos.
Enquanto houver forças partidárias retrógradas, presidentes da República pouco interventivos e parciais, ou ministros em meandros da corrupção, ainda que encapotada, ou na promiscuidade, este país continuará a marcar passo ou a ver a banda passar.
Pensamos que, neste final do ano 2015, e para um novo ano, é altura de, com muito respeito, mas com muita convicção, dizer um valente: basta!
O medo de mudar. “Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz”. (Platão). Sim, entendendo esta luz como capacidade de ser brilhante diante das adversidades que nos são colocadas pela vida e conseguirmos produzir as necessárias mudanças.
O descrédito que subsiste, nos governantes, de não serem capazes de se sacrificar, eles próprios e os seus apaniguados, na tentação do poder, pelas genuínas causas do povo português, interpretado este como todos os integrantes deste Portugal à beira-mar plantado, mas também com olhos postos no interior e periferias, são o tal fator negativo que leva à abstenção eleitoral, conforme foi referido.
Há que, de uma vez por todas, cada um de nós, estar atento e vigilante, mas também consciente de que, independentemente de diferenças partidárias, há que deixar resolver os problemas do país, que são os nossos próprios problemas. Que jamais se voltem a ver situações de oportunismo, e que se façam as correções devidas na eliminação dos “jobs for the boys”.
Quando é que, num concurso público, se pode ter a certeza, que há seriedade na admissão de um concorrente?
E não é preciso ir muito longe, o séquito de “boys e girls” permanecem por essas autarquias do país fora, e no nosso meio, o que é duma atitude confrangedora.
Paradoxalmente ao que atrás escrevemos, ainda temos esperança que haja um virar de página nas condutas políticas, para que ainda possamos apanhar a carruagem do desenvolvimento, e, assim, deixarmos de perder o comboio por chegarmos sempre atrasados.

Votos de Boas Festas e um Feliz Ano 2016!

(In "Notícias da Covilhã", de 24-12-2015)

21 de dezembro de 2015

COVILHANENSE ANTÓNIO FELICIANO – GRANDE DESPORTISTA DO PASSADO

A Covilhã pode orgulhar-se de ter, ao longo dos tempos, muitos desportistas, nas várias vertentes, que engrandecem a cidade laneira, hoje também universitária.
Uns, covilhanenses pelo coração; outros, covilhanenses por aqui serem os seus berços.
Ainda há pouco tempo nos deixou um covilhanense pelo coração que servir as cores do Sporting Clube da Covilhã – Jorge Nicolau.
Naturais do concelho da Covilhã, como César Brito, também honraram a sua Terra nesta modalidade desportiva – futebol, chegando a representar as cores da Seleção Nacional.
Já na arbitragem, pela primeira vez na história do desporto covilhanense, temos Carlos Xistra como árbitro de futebol da I Liga e também tendo chegado a internacional.
Noutras modalidades, dantes impensáveis, como o automobilismo – caso de João Fonseca – conseguem a liderança nas suas provas, sendo o campeão nacional de montanha. Mas outros há que não cabem já neste texto, mas que têm o registo indiscutível do seu mérito.
É indubitavelmente um orgulho para a terra que é deles berço – a Covilhã.
Outros ainda, apesar de terem aqui nascido, foram desportistas de alto prestígio, fora de portas. Neste caso em apreço reporto-me a António Feliciano, que eu não conheci.
Ele integrou a equipa de “Os Belenenses” que ganhou o Campeonato Nacional da I Divisão na época de 1944/45 (única vez).
António Feliciano era natural da Covilhã onde nasceu em 19 de janeiro de 1922 e foi um dos maiores futebolistas do seu tempo.
Segundo o jornal “O Olhanense”, de 15 de outubro de 2015, “a sua história de vida, começa na Rua do Outeiro na cidade serrana, onde o pai era tintureiro de fazendas e a mãe tecedeira. Aos seis anos ficou órfão de pai e, a mãe, com quatro filhos para criar, conseguiu que António Feliciano entrasse na Casa Pia.
O futebol corria nas veias do pequeno António que tinha pelo jogo da bola um fascínio e uma paixão inusitadas.
Aos 17 anos, começa a jogar, já inscrito na Associação de Futebol de Lisboa, pelo Casa Pia Atlético Clube, que lhe pagava o elétrico para ir treinar mas, o garoto, ia a pé para ficar com os 24 tostões.
Começou como defesa esquerdo mas rapidamente se fixou a defesa central.
Por vezes, para ganhar vinte escudos, jogava pelo Hotel Borges, nos jogos entre os hotéis de Lisboa. Rapidamente atingiu a primeira categoria do Casa Pia e logo de seguida o Benfica interessou-se por ele. Porém, Alejandro Scopelli que o viu jogar, ficou deslumbrado e impediu-o de partir (obviamente do Belenenses).
Também o F. C. Porto se interessou pelo atleta e levou-o para a Cidade Invicta. Por lá ficou 15 dias, para, apertado pelas saudades, regressar a Lisboa, indo treinar às Salésias”.
“O negócio feito em 1940 foi facilitado, recebendo o Belenenses três contos de réis e Feliciano o ordenado de 300 escudos, ficando ainda empregado no Grémio dos Armazenistas de Mercearias. O seu primeiro treinador foi Artur José Pereira que verificando que Feliciano só chutava com o pé esquerdo o obrigava a treinar com o pé descalço”.
“Em 1949, tendo sido excluído da equipa pelo treinador Fernando Riera, ingressou no Marinhense como jogador-treinador passando depois pelo Beja, Chaves, Famalicão e Riopele.
Em 1965, convidado por Afonso Pinto de Magalhães, ingressou no F. C. Porto para treinar as camadas jovens. Das suas mãos saiu uma geração de ouro do futebol português, nomeadamente Fernando Gomes, João Pinto, Jaime Magalhães, Zé Beto, Rui Filipe, Domingos, Vitor Baía, entre outros. Foi internacional 14 vezes. Em 1946, num jogo contra a França, foi considerado o melhor médio-centro da Europa”.
Consultado o livro de Acácio Rosa – “História do Clube de Futebol “Os Belenenses” – 1919 a 1991 – Factos, Nomes e Números”, sob o título “As Três “Torres de Belém”, a páginas 491 a 493, se refere assim: “O Feliciano – um desportista e um dos defesas mais categorizados de sempre – era de uma honestidade a toda a prova, de um belenensismo e amor à equipa como dificilmente se pode, hoje, encontrar e, mesmo antes de partir para férias, mal acabava a temporada, era o primeiro a apresentar-se. Depois desse dever cumprido, partia para as praias. Nunca exigia um tostão, nunca pediu dinheiro nem punha condições. Era do Belenenses e o Belenenses era tudo para ele. Excelente rapaz e grande jogador. No entanto, Feliciano esteve em vias de deixar Belém. O Celta de Vigo, fazendo valer a cotação da peseta em relação ao escudo, meteu na cabeça de Feliciano muitas pesetas e muitas ideias. O Belenenses era “pobreza franciscana” em comparação com a riqueza do clube galego, que mandava falar em pesetas e em escudos com o maior à-vontade. Feliciano procurou Acácio Rosa e, lealmente, expôs-lhe o problema. Tinha, na sua frente, a perspetiva de casar-se e precisava ponderar na oportunidade que se lhe deparava, se o Belenense não visse nisso inconveniente.
O Belenenses não quis destruir a grande oportunidade de António Feliciano fazer um bom contrato. O Clube, embora o seu defesa estivesse, à época, no auge da sua forma e lhe fizesse muita falta, cedeu.
Acácio Rosa redigiu as condições a apresentar ao Celta de Vigo. Juntamente com a carta, contendo as condições a exigir aquele clube, Acácio Rosa disse a António Feliciano que pensasse no ambiente que, muito provavelmente, iria ter no seio dos jogadores espanhóis, que talvez o dinheiro não compensasse e, em contrapartida, fez-lhe notar a camaradagem que reinava em Belém, onde toda a gente o considerava não apenas como um ídolo mas como um amigo imprescindível, como um membro querido da vasta família “azul”. António Feliciano partiu e levou a carta, Não deu sinal de si durante alguns tempos. Apareceu depois e apenas disse a Acácio Rosa: “Farei o que o senhor e o Belenenses quiserem”. Logo nesse dia, Feliciano assinou a ficha pelo Belenenses e o clube encontrou uma plataforma para, dentro das suas possibilidades, corresponder ao gesto do seu jogador, gesto de um desportista íntegro. E Feliciano continuou no Belenenses por muitos mais anos. Serviu-o sempre com indómita vontade e com a categoria dos jogadores que ficam na história”.
 Também o livro “Federação Portuguesa de Futebol – Os Anos de Diamante - 1914 – 1989 – No 1.º Centenário do Futebol Português”, de Henrique Parreirão, se registam o nome, fotos e a participação, como internacional, do covilhanense António Feliciano, que viria a falecer em 14 de dezembro de 2010, aos 88 anos.


(In "O Combatente da Estrela", Nº. 101, dezembro 2015/março 2016)

QUEREMOS PROSSEGUIR

Mais um dezembro chegou ao tempo das nossas vidas.
Mais um Natal se aproxima para nos reunirmos no seio familiar.
Mais um fim de ano se vai adicionar a outros tantos que fizeram as estórias da nossa própria história de vida.
Este advérbio “mais” é de tantas tristes e ledas madrugadas; de tantos sonhos desfeitos ou alegrias incontidas; de tanta ira ou alguma tolerância; de tantos gestos irrefletidos ou de formas de conduta benfazejas; de espontaneidades em atos acertados ou embirrações indesejadas.
Ano de 2015 recheado de acontecimentos díspares quer de âmbito mundial quer no contexto nacional: políticos, religiosos, solidários, demográficos, climatéricos, culturais.
Sempre o mundo se encontrou em conflitos desde os tempos imemoriais. E, quando umas lutas se dissipavam, logo noutro local outras emergiam.
Também neste pedaço planetário mais ocidental da Europa, as guerras e lutas fratricidas não nos pouparam.
Disso já demos conta nos números anteriores d’O Combatente da Estrela; e, assim, comemorámos, de âmbito nacional ou local, efemérides como foram as respeitantes à 1.ª Grande Guerra, e as memórias das guerras em África, para onde foram conduzidos, durante mais de uma década, nos anos sessenta e setenta do século passado, a maioria dos que integram a grande família dos “Antigos Combatentes”.
Por via da grande revolução das redes sociais consegue-se hoje chegar a qualquer ponto do globo num ápice, e, daí, apercebermo-nos das grandes transformações por que está passando o Planeta Terra, mas também da enorme fábrica de maldade que grassa por todo o Mundo.
Os distribuidores das sementes do mal estão por todo o lado, em todos os Continentes, na Europa, e até no nosso País.
Se o terrorismo avança em alguns países, e já chegou à França, e não só, a passos largos, e não é travado porquanto alguns países o protege, por interesses duais, originando mortandade de inocentes e uma longa marcha de milhares de refugiados, o que fazer, afinal, para sucumbir as forças do mal? Esta reflexão terá que ser incutida em cada um de nós, como pessoas de bem.
Mas, para além do terrorismo, outra situação grave afetando todo o planeta onde vivemos se sobrepõe e tem que ser encarada com todo o sentido de muita responsabilidade individual. O clima está a ser fortemente afetado pelos efeitos de estufa e há que conter o aquecimento global. Ficamos com a  esperança nos resultados positivos verificados na Cimeira que decorreu até ao dia 11 de dezembro, em Paris, para uma tomada de posição para debelar, em parte, este gravíssimo problema.
Por cá, no âmbito da governação do País, após eleições, surgiu uma situação inovadora, mudando o paradigma de quem ganha sem maioria e de quem perde com possibilidade de formar governo. Há que olhar para esta nova realidade, com toda a serenidade.
Se fizermos uma retrospetiva dos principais acontecimentos que surgiram ao longo de 2015 em todo o Mundo, a grande percentagem é fortemente de situações muito negativas. Senão, vejamos: no dia 7 de janeiro, uma série de ataques terroristas fizeram 19 mortos e 17 feridos no jornal Charlie Hebdo, em Paris; no dia 29, atentados do Daesh, o autoproclamado Estado Islâmico, ocasionaram 25 mortos e 34 feridos, no Sinai, contra forças do Egito, para, no último dia do mês divulgarem novo vídeo de decapitação de reféns. Em 4 de fevereiro, um avião da TransAsia Airways caiu minutos após a descolagem em Taiwan causando mais de 40 mortes; no dia 15, ataques terroristas numa sinagoga e num café fizeram dois mortos e dez feridos em Copenhaga, na Dinamarca; no dia 24 um avião da companhia Germanwings caiu com 150 pessoas a bordo nos Alpes franceses sem deixar sobreviventes. Nos dias 18 a 20 de março, ataques terroristas do Daesh, num museu da Tunísia e na capital do Iémen, provocaram centenas de mortes e de feridos. No dia 2 de abril, um atentado terrorista do grupo al-Shabaab, numa universidade do Quénia, matou 147 pessoas; e, no dia 25, ocorreu um sismo de 7,8 na escala de Richter, no Nepal, fazendo milhares de vítimas. No dia 18 de maio, Iraque e Síria perderam os derradeiros pontos de fronteira para o grupo terrorista do Daesh (o tal autoproclamado Estado Islâmico). No dia 26 de junho, atentado terrorista num hotel da Tunísia faz 38 mortos, entre eles uma portuguesa. No dia 8 de agosto, o tufão Soudelor causou mortos em Taiwan. Neste mês de agosto, a multiplicação de fogos em Portugal fez de 2015 um dos piores anos de sempre em termos de incêndios. No dia 3 de setembro, cinco crianças sírias que tentavam alcançar a Europa deram à costa da Turquia, criando as imagens das crianças mortas indignação nas redes sociais e aumentando o debate sobre a migração na UE. No dia 10 de outubro, um atentado terrorista na Turquia causou mais de 100 mortos e 400 feridos.
No dia 13 de Novembro, vários ataques terroristas coordenados instalaram o terror em Paris, em locais como a sala de espetáculos Bataclan e as imediações do Estádio de Paris, causando centenas de mortos, entre os quais alguns portugueses, e feridos graves. Os atentados foram reivindicados pelo Daesh. França encerrou as suas fronteiras. E, no dia 20, homens armados atacaram um hotel do Mali fazendo cerca de 170 reféns.
Mas também houve acontecimentos muito positivos, destacando, no dia 11 de abril, o encontro de Barack Obama com Raúl Castro, no Panamá, tendo em vista o fim do embargo dos Estados Unidos a Cuba. No dia 13 de julho a Grécia não saiu da zona Euro e foi acordado um terceiro pacote de ajuda económica ao país; no dia 23 foi a descoberta do exoplaneta Kepler-452b, a 1400 anos luz da Terra. No dia 28 de setembro, a Nasa anunciou ter encontrado água em Marte; assim como, no dia 8 de outubro, a Nasa anunciou ter encontrado água congelada em Plutão.
No que ao nosso País diz respeito, vários acontecimentos aconteceram ao longo de 2015, uns com mais impacto que outros, nomeadamente sob o ponto de vista das eleições que foram realizadas, mas prefiro tão só destacar o aspeto desportivo, a saber: no dia 12 de janeiro, Cristiano Ronaldo ganhou a sua terceira bota de ouro, de melhor jogador de futebol do mundo em 2014; no dia 21 de maio, o Rally de Portugal regressou ao norte do país; no dia 25 de junho, Telma Monteiro vence a medalha de ouro do judo nos Jogos Europeus de Baku; e no dia 27 de agosto, Nelson Évora vence a medalha de bronze dos Mundiais de Atletismo de Pequim.
E, no que concerne ao Núcleo da Covilhã da Liga dos Combatentes, ao longo do ano que agora se presta a findar, para além do dinamismo e entusiasmo que já é peculiar no seio desta Instituição, também houve tristes e ledas madrugadas, pois é sempre com tristeza que se mencionam os nomes e fotos dos antigos camaradas, que já partiram, na página da necrologia, alguns duma forma insólita como foram os casos dos amigos Albino da Costa e José Gregório Menina. Que Deus os tenha em paz.
Na outra parte, o Núcleo da Covilhã da Liga dos Combatentes esteve sempre ativo, entre a cultura, o recreio e a ação social, a saber:
- 26 de fevereiro – Realizou-se o já habitual passeio a Porto da Raiva para degustar as saborosas lampreias.
- Em março – No 89º aniversário do Núcleo foi feita a trasladação dos restos mortais dos Combatentes mortos em combate, do Cemitério da Covilhã para a Cripta do Talhão dos Combatentes, com grande dignidade, estando presente uma força militar; seguindo-se uma missa de sufrágio na Igreja da Santíssima Trindade, e depois o almoço do aniversário.
- Dia 5 de março, realizou-se uma palestra, na Biblioteca Municipal da Covilhã, sobre Stress Pós Traumático da Guerra, pela psicóloga clínica e da saúde, Dra Martina Lopes, então coordenadora do CAMPS da Beira Interior.
- Dia 9 de abril foi o Dia do Combatentes, com uma homenagem junto ao Monumento dos Combatentes, ao Jardim.
- Dia 18 de abril – Uma interessante visita a Buda Eden, Óbidos e um passeio pelo Tejo.
- Dia 24 de maio – IX Peregrinação a Fátima.
- Dia 27 de maio – Visita de trabalho ao Núcleo da Covilhã, do Presidente da Direção Central da Liga dos Combatentes, General Chito Rodrigues, tendo sido abordados vários assuntos, entre os quais os relacionados com o funcionamento do Centro de Apoio Médico Psicológico e Social da Beira Interior (CAMPS), tendo ainda, desta reunião, sido assumido o compromisso para que a Peregrinação a Fátima passe a ser anual, como, aliás, já era, mas de âmbito nacional.
- De 10 a 26 de julho – Participação na Feira de São Tiago, com um stand.
- Dia 20 de agosto – Para além das tertúlias mensais, ainda que independentes do Núcleo da Liga dos Combatentes, mas partindo do seio do mesmo, por parte de alguns antigos Combatentes, como já foi esclarecido no número anterior, celebrou-se este evento com cariz especial – foi o 50º Encontro de Combatentes da Covilhã.
- Dia 19 de setembro – Viagem ao Douro.
- Dia 27 de setembro – Sardinhada na Senhora do Carmo – Teixoso.
- Dia 28 de setembro – Participação na Feira de S. Miguel, no Tortosendo, com um stand.
- Dia 3 de outubro – Organização da XIX Feira de Trocas e Colecionismo da Covilhã, no Sporting Shopping Centro de Ativ’Idades.
- De 16 a 25 de outubro – Exposição “O Centésimo”, na Galeria do Serra Shopping, sobre as 100 publicações de “O Combatente da Estrela”.
- 21 de outubro – Colóquio na Biblioteca Municipal, sob o tema “Pequenos Jornais no Associativismo”.
- 1 de novembro – Romagem aos Talhões dos Combatentes da Covilhã e Fundão.
- 21 e 22 de novembro – Viagem a Malafaia.
Resta-nos desejar aos prezados leitores e a todos quantos constituem esta grande Instituição que é o Núcleo da Liga dos Combatentes da Covilhã, e suas famílias, um Santo Natal e um Feliz Ano de 2016.


(In "O Combatente da Estrela", N.º 101, dezembro 2015/março 2016)

9 de dezembro de 2015

O (DESA)APROVEITAMENTO DE ESPAÇOS DE LAZER

A cidade covilhanense está imbuída do espírito coletivo, no seio das suas agremiações, localizadas nas várias zonas citadinas, e seus termos, da grande aspiração para o melhor que possam oferecer aos seus associados, consequentemente também a suas famílias, para os momentos de lazer, que cada vez são mais, face ao envelhecimento da população.
Ou não fosse a Covilhã a detentora do maior número de agentes culturais e de recreação do distrito, atingindo perto de duzentas coletividades e associações.
Se bem que ao longo dos tempos algumas, que tiveram grandes pergaminhos na cultura e desporto da cidade, sucumbiram para não mais se levantarem, outras ressurgiram das cinzas e por aí vão andando, no empenho dos seus dirigentes.
Ora, houve uma via associativa no empenhamento municipal, dando a possibilidade de melhoramentos nas suas sedes, que, nalguns casos deram passos maiores que as suas pernas e hoje veem-se confrontados com elevadíssimos compromissos financeiros; outras, se a razão da sua atual existência é a quase exclusividade de um bar, não têm razão de existir.
Mas na dinâmica de outros dirigentes, conseguiram na exemplaridade do que é o fazer e o saber fazer, erguer baluartes no âmago da solidariedade, que extravasa a ação profícua para com os seus associados.
Mas já não é admissível ver alguns espaços há muito tempo desaproveitados, como as fotos documentam, retirando a possibilidade de cumprirem a missão para que foram criados, sem jamais terem sido utilizados.
Efetivamente, os dois campos de ténis que foram o sonho do Académico dos Penedos Altos, construídos há uma dúzia de anos, encontram-se quase num lameiro, encerrados, impossibilitando, já que para courts de ténis não pode assim funcionar, que as crianças que por ali andam de bicicleta não tenham a oportunidade de ali se divertirem com segurança. Este desagrado já foi sentido em tempos, ainda na liderança camarária do anterior autarca, devido ao facto de no Bairro dos Penedos Altos não existirem espaços infantis para as crianças poderem andar de bicicleta e praticarem outro tipo de atividades lúdicas.
Senhores autarcas, em colaboração com os dirigentes associativos, venham in loco e deem aproveitamento a estes espaços inativos pois as crianças, o melhor do mundo, não se compadecem com a passividade existencial.


(In "fórum Covilhã", de 09-12-2015)

DO CLIMA AMBIENTAL, DE MEDO E POLÍTICO, AOS CHOCALHOS

Dezembro, último mês da primeira década e meia do terceiro milénio da era de Cristo, nesta Idade Contemporânea. Saímos do equinócio do outono para nos prepararmos para a entrada no solstício de inverno.
O Planeta Terra, nestes primeiros anos do século XXI, e terceiro milénio, teve, na distribuição pelos seus Continentes, vários eventos, geralmente substantivados de “guerra” ou “crise”.
Começou na América e na Ásia, com os ataques às duas torres do Worl Trade Center, em Nova Iorque, e ao Pentágono, em Washington, numa fatídica 3.ª feira de 11 de setembro de 2001, provocando a morte de mais de três mil pessoas, depois dos terroristas terem desviado quatro avões comerciais.
No mesmo ano foi a Guerra do Afeganistão, e, logo a seguir, em 2003, a Guerra do Iraque, no Continente asiático.
No salto para o ano 2011, resultaria numa esperança para a África, com o início da “Primavera Árabe” que, mais tarde e paradoxalmente, se transformaria num “Inverno/Inferno Árabe”. Mas, no ano anterior (2010), surgiria a Crise da dívida pública”, na Europa.
Neste espaço temporal emergiram alguns estados soberanos: Timor Leste, em 2002, com o fim da ocupação da Indonésia; Sérvia e Montenegro (de 2003 a 2006), como último vestígio da Jugoslávia; depois, a Sérvia, em 2006, cisão da Sérvia e Montenegro; como igualmente, no mesmo ano, Montenegro, com a mesma cisão. Por último, em 2011, o Sudão do Sul, independência com a divisão do Sudão.
E, no meio de tudo isto, a nossa essência traduz-se em dois polos antagónicos: a dor e a alegria. É falsa a vida sem dor, como é falsa a vida sem alegria. Esta última depressa desaparece, qual penumbra, enquanto o sofrimento parece que não mais vai terminar.
E é assim que os justos, honestos e pacíficos se vêm confrontados com extremistas fanáticos, como é o caso do Daesh, em vez de autoproclamado Estado Islâmico, já que de Estado nada tem, uma vez que é uma organização que existe essencialmente para nos destruir; e representação islâmica também o não é. Daí, a grande avalanche de refugiados, qual êxodo para os países da Europa, fugindo à morte, como já acontecia com os terroristas do Boko Haram.
Só que, não obstante estas terríveis maldades humanas, homens e mulheres inebriados pelas carnificinas, surgem, de há muito, agora numa ação veloz, outros medos, fora da ação direta dos humanos, mas responsáveis indiretos pela mudança climática do Planeta, devido à grande envolvência industrial.
De cimeira em cimeira, chegou-se, neste mês de dezembro, até Paris, na tentativa de um acordo, no sentido de conter o aquecimento global. Esta conferência é conhecida como “COP21” por ser a vigésima primeira desde que foi aprovada a Convenção Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas, em 1992. Durante duas semanas quase duzentos países tentarão aprovar um novo tratado. Vão-se esperar dificuldades mas ou agora ou nunca, como sói dizer-se, desde a aprovação do Protocolo de Quioto, em 1997. O objetivo do acordo é estabelecer-se o que compete a cada país para evitar que a temperatura da Terra suba mais de dois graus centígrados até ao fim deste século. Efetivamente, “os dois graus de temperatura são o limite definido por políticos e cientistas a partir do qual as mudanças na Terra vão ser mais radicais e terão um impacto maior no clima”.
Desde 2007 que se vem tentando um novo acordo com o comprometimento de todos os países, quer sejam pobres ou ricos. Só que, em 2009, surgiu um fracasso em Copenhaga na conferência aqui realizada, que se pretendia decisiva.
Surgem assim duas grandes lutas: a luta contra as alterações climáticas e a luta contra o terrorismo, sendo os dois principais desafios do século XXI.
As grandes preocupações agora, entre o combate aos terroristas e o combate pelo ataque às alterações climáticas, reveste-se de maior sentido de agir no imediato sobre os efeitos de estufa, pelo que, na ordem de preocupações, é a situação climática do Globo, deitando para trás das costas o medo, principalmente depois dos atentados em Paris. A ameaça das alterações climáticas é mais grave.
A gravidade deste problema planetário já afetou o lago Chade, na África Central, que fornece água a mais de 68 milhões de pessoas de quatro países que o rodeiam, com “a perda de 90% da sua superfície inicial”. Também o Presidente do Kiribati “anunciou que as ilhas Fiji já se comprometeram a aceitar os seus habitantes, quando a subida do nível do mar tornar impossível a vida naquele arquipélago”.
Isto é, portanto, um caso muito sério, pelo que esperemos que a Conferência das Nações Unidas sobre o Clima (COP21), que decorre em Paris até 11 de dezembro, tenha um grande êxito no que ali se vier a decidir. E, assim, o clima político de todas as nações se volte no sentido único de debelar as grandes preocupações climáticas que a todos afeta.
Já há uns meses atrás que o Papa Francisco se debruçou, empenhadamente, sobre este problema gravíssimo, através da encíclica “Laudato si. Sobre a proteção da casa comum”. Uma encíclica inteiramente dedicada ao ambiente é uma novidade. O Papa advertiu: “Nosso lar comum está contaminado, não para de deteriorar-se. Precisamos do compromisso de todos. Devemos proteger o homem da sua própria destruição”.
E enquanto se debate o clima ambiental, em Paris, o clima alentejano sorri com a segunda distinção de Património Cultural Imaterial em apenas um ano. Em 27 de novembro de 2014 foi o cante alentejano a ser distinguido com este selo da UNESCO. O fabrico de chocalhos foi considerado no dia 1 de dezembro de 2015, pela UNESCO, Património Cultural Imaterial da Humanidade com Necessidade de Salvaguarda Urgente, na capital da Namíbia.
Antes do findar deste ano, queremos brindar ao “fórum Covilhã” por mais um ano de vida – o quarto – formulando os melhores votos para que continue com pujança, como o tem feito, com todos os seus obreiros, a servir a causa do jornalismo, ao serviço do bem comum, dos covilhanenses, e região beirã.

Para todo o mundo que envolve este semanário, incluindo os prezados leitores, votos de um Feliz e Santo Natal.

(In "fórum Covilhã", de 09-12-2015)

22 de novembro de 2015

PONTOS NOS “IS”

A informação que se impunha aconteceu agora com o esclarecimento do JF de 19 de novembro de 2015, independentemente da minha amizade existente com o autor do site historiascc e o jornalista do JF.
Pretende-se assim que não haja usurpação dos direitos de autor.
Não pretendo escrever mais obras sobre o SCC, pois bastam as quatro (quase cinco, com as duas edições) que, com centenas



horas de pesquisas e envolvimento de muita gente, muitos já falecidos; e com algum prejuízo de âmbito familiar, profissional (na altura) e até financeiro; deixei à Covilhã a história do maior Clube da Região, ousadia que ninguém ainda havia assumido.
E, que mais não fosse, ofereci ao Clube todos os livros, encadernados, e várias compilações sobre a nobre Coletividade Serrana, de grande volume, encadernadas, num total de 9, em 12.06.2002.
Do Clube do meu coração – o Sporting Clube da Covilhã – nada tenho de ressentimento, independentemente de pontos de vista que em determinadas ocasiões podem divergir. Posso mesmo afirmar que os Dirigentes do SCC reconheceram oficialmente, por várias vezes, todo este trabalho, com condutas que inequivocamente me honraram.
Quanto a novos elementos de estórias para a continuidade da história dos Leões da Serra, que não foram abarcados nos livros já escritos, ou a sua atualização, já que a história não se completa, é de saudar nas iniciativas dos seus mentores, mas que jamais das buscas se omitam as fontes.
Tal não aconteceu no texto de 2 de abril de 2015, do JF, com o destaque de “Grande Tema”, sob o título “A História do Futebol na Covilhã”, e, depois, lamentavelmente, na repetição do erro, na revista do JF alusiva aos “145 anos da Covilhã-Cidade”, nas páginas 50 a 53, sob o título “A Origem do Futebol na Covilhã”, parte integrante do Jornal do Fundão de 15 de outubro de 2015, se bem que um excelente trabalho do jornalista do JF, mas pecando por omissão das reais fontes.
Fica assim reposta a autenticidade da autoria da história escrita do SCC, tendo a certeza que com a minha última obra, em junho de 2007, dei a minha contribuição para lançar o clube, a nível nacional, de todas as divisões, na vanguarda daqueles que têm mais publicações sobre a sua história, só ultrapassado pelos três clubes grandes da I Liga.
Aqui vão mencionados, por ordem cronológica:

SUBSÍDIOS PARA A HISTÓRIA DO SPORTING CLUBE DA COVILHÃ – 1991
Autor: João de Jesus Nunes
Edição: A.P.A.E. Campos Melo
1ª. Edição – 150 exemplares
Composto na Gráfica do Notícias da Covilhã em 1991 – 565 páginas

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SUBSÍDIOS PARA A HISTÓRIA DO SPORTING CLUBE DA COVILHÃ – 1992
Autor: João de Jesus Nunes
Edição: A.P.A.E. Campos Melo da Covilhã
2.ª Edição (renovada) – 300 exemplares
Composto e impresso na Gráfica do Tortosendo em abril de 1992 – 696 páginas
Depósito Legal n.º 55229/92


FIGURAS E FACTOS DO SPORTING CLUBE DA COVILHÃ
Nas Comemorações do seu 70º Aniversário – 1923 – 1993
Autor: João de Jesus Nunes
Edição: Sporting Clube da Covilhã
1.ª Edição – 500 exemplares
Execução gráfica: Gráfica União da Beira, Lda – Fundão, em 1993 – 568 páginas
Depósito Legal n.º 68547/93

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SPORTING CLUBE DA COVILHÃ – PASSADO E PRESENTE
Bodas de Diamante – 1923 – 1998
Autor: João de Jesus Nunes
Edição: Sporting Clube da Covilhã
1.ª Edição: 500 exemplares
Impressão e encadernação: Tipografia do Jornal do Fundão, Lda – Fundão,
em novembro de 1998 – 424 páginas
Depósito Legal n.º 130140/98

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SPORTING CLUBE DA COVILHÃ NA TAÇA DE PORTUGAL
Cinquentenário da sua participação na Final – 2 de junho de 2007
Autor: João de Jesus Nunes
Edição: Sporting Clube da Covilhã
1.ª Edição – 1.000 exemplares
Impressão e acabamentos: Grafisete – Artes Gráficas Lda – Fundão,
em  junho de 2007 – 182 páginas
Depósito Legal n.º 256178/07
ISBN: 978-972-95503-9-3



JOÃO DE JESUS NUNES


18 de novembro de 2015

A DINÂMICA E O ENGENHO DE ALEXANDRE GALVÃO AIBÉO

Lembrei-me deste Covilhanense, nascido nos alvores do século XX, em 16 de abril de 1906, tendo deixado o mundo dos vivos aos 57 anos (escrevo exatamente no dia e mês em que faleceu: 01-11-1963) porquanto se aproxima o Natal.
Os traços da sua personalidade e a sua inteligência deram-lhe a oportunidade de deixar obras que ilustram atos importantes na vida da Cidade e do Concelho.
Quando agora se entregam as iluminações das ruas da cidade, e de certos eventos, principalmente na época natalícia, a empresas de fora, naquela altura dos anos 40 a 60 do século passado, era da autoria de Alexandre Aibéo que saíam as maravilhosas e artísticas iluminações, com a mão-de-obra dos funcionários dos então Serviços Municipalizados, onde ele era Diretor-Delegado. Contribuíam assim para o sucesso de solenidades da cidade, tais como as ornamentações com iluminações no edifício da Câmara Municipal, comemorativa do 25.º aniversário do Prof. Oliveira Salazar no Governo, em 1953, com a silhueta do então Presidente do Conselho; iluminação do monumento de Nossa Senhora da Conceição, da Covilhã, e de algumas ruas da cidade, nas festas comemorativas do centenário de Lourdes que se realizaram na Covilhã, de 27 a 29 de junho de 1958, com a presença do Núncio Apostólico, Cardeal D. Fernando Cento; na mesma altura, silhueta de Pio XII, no edifício da Câmara Municipal; iluminação da Feira Popular do Sporting da Covilhã, no Jardim público, em 1961; ainda no mesmo ano, em 20 de maio, decoração e iluminação da sua responsabilidade, do edifício da Câmara Municipal, Pelourinho e algumas ruas da cidade, aquando da visita das relíquias do Condestável, na altura Beato Nuno Álvares Pereira; por último, no mesmo ano da sua morte, ornamentação, com iluminação do edifício da Câmara Municipal e Centro Cívico, aquando das visitas do Presidente do Brasil, Juscelino Kubitschek de Oliveira, em janeiro de 1963; e do Presidente da República Portuguesa, Almirante Américo Thomaz, em junho do mesmo ano.
Os Aibéos foram nomes de destaque na vida citadina, tendo vivido à Ponte do Rato, numa casa destruída com os profundos melhoramentos e alterações que se fizeram – Rossio do Rato. Esta ponte chamava-se “Barreira” porquanto quem quisesse atravessá-la para entrar na Covilhã (há mais de um século) tinha de pagar e mostrar o que transportava.
Dos cinco irmãos, o João, o José e o António tinham uma oficina, na altura denominada “Aibéo & Irmãos” onde fabricavam peças para as fábricas de lanifícios. Foram eles que construíram o primeiro carro de bombeiros da Covilhã e os primeiros esquis de Portugal.
Alexandre Galvão Aibéo depois de ter frequentado o Liceu de Castelo Branco tirou o Curso Comercial na Escola Industrial e Comercial Campos Melo da Covilhã, e o diploma de eletricista, por correspondência.
Aos 21 anos foi indigitado pelo Eng.º Michaelis de Vasconcelos, do Porto, para organizar os Serviços Municipalizados, tornando-se gerente comercial, tendo-se dedicado de alma e coração ao seu trabalho, nunca aceitando propostas de melhores lugares fora da terra que amava acima de tudo – a Covilhã. Passados alguns anos foi nomeado Diretor-Delegado dos SMC (posteriormente com a designação de SMAS, e, atualmente, ADC-Águas da Covilhã) que ocupou até à sua morte.
Muito novo fez parte da Corporação dos Bombeiros Voluntários da Covilhã e integrou outros órgãos dirigentes de instituições e coletividades da Cidade, entre as quais o Clube Nacional de Montanhismo, do qual foi presidente.
Foi o iniciador e impulsionador do Carnaval da Neve. Fez o saneamento e eletrificação das fábricas de lanifícios da cidade e quase todo o concelho. Depois de muito instado pelo então Governador Civil de Castelo Branco, aceitou ser provedor da Santa Casa da Misericórdia da Covilhã onde mostrou bem as suas capacidades no dirigismo, com bastante rigor. Chegou a organizar o cortejo de oferendas a favor do hospital, com excelentes resultados. Era sempre chamado para fazer parte das comissões de festas da cidade, comemorações, homenagens, visitas e receções, para as quais estava sempre pronto.
Com todo este trabalho em prol da Covilhã, não temos conhecimento, nem a família, que lhe tivesse sido prestado reconhecimento por tudo o que fez.
O último projeto que não chegou a realizar foi o parque de jogos que hoje existe com o seu nome, pertencente ao Grupo Desportivo da Mata – o Parque Alexandre Aibéo.

Faleceu num acidente de automóvel, mas resultante de doença súbita, a caminho do Porto, onde ia adquirir os candeeiros para a inauguração da Barragem do Viriato, nas Penhas da Saúde (Serra da Estrela).

(In "Notícias da Covilhã", de 19-11-2015)

10 de novembro de 2015

QUIMERA APOCALÍTICA

Na altura em que escrevo esta crónica o País aguarda o desenrolar dos acontecimentos que presumivelmente irão resultar nos únicos onze dias de poder na administração do governo então empossado.
Uma considerável parte das gentes portuguesas pretende agora outro cambiante para dar forma diferente ao colorido do retângulo português: de Melgaço ao Funchal; de Seia a Rabo de Boi; ou de Miranda do Douro à Lage das Flores. Quer fugir daqueles tons escuros, pouco cinzentos, representados na tez daqueles que procuraram outro florir em terras da estranja. Foi assim que deu azo à diminuição da população portuguesa, pelo quinto ano consecutivo. Portugal é ainda o 12.º país do mundo com mais emigração, para além de ser a sexta população mais envelhecida do planeta.
E foram o “S. Pedro e o S. Paulo” do anterior famigerado governo que ainda deram uma mãozinha para que não houvesse na Europa outro país com mais emigrantes do que Portugal.
E para também continuarmos na vanguarda das necessidades, aí está Portugal com mais pobres do que em 1974.
Muito provável pouco tempo para um período governativo, sendo o pessoal da tenda constrangido a sair do seu conforto, naquele travo amargo de um Governo a prazo, do qual não rezará a História, já que o sistema político irá mudar o seu funcionamento e, talvez, algumas páginas da História possam registar tão só esta alteração.
Já não há interjeições que possam exprimir algum sentido de respeitabilidade pelo homem de Boliqueime, porque não dá para acreditar o que o representante máximo deste pedaço planetário mais ocidental da Europa está sendo de provocação. Se levarmos Cavaco a sério estamos a ir de encontro a uma crise constitucional prolongada. Ele ainda pensa como no tempo da Guerra Fria. A Maria que trate dele.
As tomadas de posição de Cavaco Silva – o Presidente da República para alguns portugueses –são monstruosas, aquando da indigitação de Passos Coelho como primeiro-ministro, aqui como ato perfeitamente normal; são também paradoxais face ao seu então discurso de tomada de posse, em que seria “o presidente de todos os portugueses”. De quais? Os do seu partido? São ainda de uma incoerência atroz, ele que dizia que “sabe o que faz e nunca se engana”. Efetivamente, afirmar que não se deveria aceitar que o BE e o PCP/PEV tenham uma participação plena nos governos de Portugal revela uma autêntica falta de cultura política e democrática.
É certo e verdade que aqueles partidos de esquerda, durante a campanha eleitoral privilegiaram como bombo da festa os socialistas, mas também haja a memória das decisões irrevogáveis, que se transformaram numa farsa de oportunismo, passando-se uma esponja sob a palavra dada de um mentiroso, que era conhecido pelo Paulinho das feiras. Mas Cavaco incitar os deputados socialistas à desobediência assenta no pressuposto que sonha com uma situação apocalítica.
Portugal pode mudar dentro de dias, e se tal funcionar bem, inaugurará uma nova era.
Mas voltando a Cavaco, aquele que prezava acima de tudo a estabilidade e as soluções de governo com apoio maioritário, agora já parece tomar como opção governos de minoria. Pois é, o importante mesmo é que o seu partido esteja presente. Total incoerência.
O homem que deveria dar o exemplo e foi um dos causadores “do estado a que isto chegou” faz gerar um alarmismo despropositado sobre a formação de um novo Governo de esquerda, apresentando essa decisão como aquela que nos pode conduzir ao fim dos tempos. E a agressividade com que a direita enfrenta qualquer desafio à sua dominação, leva a ferir a democracia. Esperemos que o caricato não surja nos ministros então empossados, ainda que por onze dias, telefonando para os seus familiares, como surgiu em 1987 com o famigerado Dias Loureiro, dizendo: “Pai, já sou ministro!”.
O discurso de Cavaco, lido no dia 22 de outubro, foi a afirmação de um verdadeiro golpe de Estado, tornando-se assim o pirómano, aquele que já era conhecido por atear fogos de instabilidade no país. Figuras importantes da vida política do País, e não só, consideraram “excessivas” as palavras de Cavaco na comunicação que fez ao país; outros que “foi o pior discurso de um Presidente da República desde 1974”; que não se “lembram, depois do PREC, de uma crise tão profunda e tão angustiante como esta que hoje vivemos”.
Pois é, o Sr. Silva, como uma vez um madeirense do seu partido lhe chamou, em demanda com ele, abriu precedentes com o gerar deste conflito mostrando como a comunicação do presidente, que deveria ser de todos os portugueses, está no limite do abuso e da usurpação de poderes.
Reconhecendo-se embora que o provável futuro governo de esquerda que se prepara para subir ao poder no dia 10 de novembro, é de poucas oportunidades e de muitos perigos, há que ter fé e esperança na mudança, já que o Presidente da República que muitos desejam vê-lo partir, não pode impor as suas convicções à soberania popular. Há que acreditar que o apocalipse vislumbrado por Cavaco não passou de uma indisposição como já lhe acontecera em público. Também é certo que, na falta de medicação atempada, tal indisposição só lhe passará quando outro o substituir. Que o tempo passe depressa!


(In "fórum Covilhã", de 10.11.2015)

1 de novembro de 2015

FOI UM ÊXITO O CONVÍVIO DO EXTINTO “C.R.P. ESTRELA DESPORTIVA DE SÃO PEDRO”, NA COVILHÃ

Conforme tínhamos vindo a anunciar, realizou-se no dia 24 de outubro, no GIR do Rodrigo, o almoço-convívio anual de memórias do extinto “Centro de Recreio Popular Estrela Desportiva de São Pedro”.
Desta vez tinha como inovação a apresentação do livro “Breve Resenha do Centro de Recreio Popular Estrela Desportiva de São Pedro”, escrito pelo antigo associado João de Jesus Nunes, o qual foi oferecido a todos os presentes e convidados deste evento.
A apresentação esteve a cargo do Dr. António Manuel Parente Antunes, que a todos encantou pela forma clarividente da mesma. O autor, um dos membros da Comissão do evento, disse nas suas palavras, e já anteriormente o vinha afirmando, que se pretendia este ano sair da rotina e transmitir a outras coletividades, neste caso do mesmo âmbito, inseridas no INATEL (anteriormente designada FNAT) que os seus dirigentes mantenham a ousadia, nestes tempos difíceis, como também outrora o foram, de manterem as suas coletividades ativas e não as deixando acabar como aconteceu com o antigo CRP Estrela de São Pedro, e também com o CRP Águias de Santa Maria. É que a Covilhã é detentora do maior número de agentes culturais de todo o distrito. Tanto mais numa altura em que se acentua como uma CIDADE CULTURAL.
Estiveram presentes os presidentes de algumas das coletividades convidadas, do Inatel: Centro Popular de Trabalhadores dos Pinhos Mansos (Tortosendo), CRP do Rodrigo, Leões da Floresta, Oriental de São Martinho, e Arsenal de São Francisco.
Da edilidade covilhanense esteve, por uns breves momentos, o Vereador Carlos Martins, que se deslocou propositadamente de mais de cem quilómetros onde se encontrava, e voltou ao local donde viera.
Falou por último a Gestora da Loja do Inatel na Covilhã, Dr.ª Margarida Pereira.
O encerramento deste evento foi com chave de ouro, através da jovem fadista covilhanense, médica em Lisboa, Daniela Runa. Subiram ainda ao palco, para que a voz do fado não lhes doesse, José Manuel Matias e João Figueiredo.
Após o partir do bolo comemorativo, alguns dos presentes ainda pediram mais livros para desta vez adquirir para seus familiares e amigos, que não estiveram presentes.
Excelente organização para a tranquilidade de uns bons momentos de descontração.

João de Jesus Nunes

21 de outubro de 2015

A RASPADINHA

O outono vai a meio. As vindimas já se fizeram. Não é muito usual haver por estes lados concertinas e tambores, nem cantores ao vivo e em despique. Chegam agora as castanhas, que assadas são um regalo, na companhia da jeropiga.
Diariamente lá está o quiosque habitual para o meu jornal de preferência. E os regionais complementam-no. Mas é no sábado e domingo que, noutra banca de jornais, assisto às raspagens. Na minha frente apressa o passo alguém que pressente que também me dirijo para lá.
Enfileiro-me para adquirir o jornal. Cá fora, sob uma mesa de madeira, já se raspa…
Aguardo a vez. Mas se o meu antecessor adquire uma revista, lá vai também o pedido de uma raspadinha. Perco tempo…Do outro lado da fila, já uma senhora mostra a raspadinha sortuda.
E é neste andar quotidiano que se raspa, raspa, raspa… e volta a raspar!...
Vêm as notícias. Primeiro as parangonas. Depois as crónicas.
As eleições para o governo deste Portugal, por muitos desejado, e por outros rejeitado, já passaram à frente. Antes delas, naquele período do pregão, a gentinha raspava de devagar, devagarinho.
Veio a euforia! Os que nos tramaram a vida compraram logo uma raspadinha d’ouro. Eles lá pensaram: com uma raspadinha de um euro afinal eles contentam-se… E começaram a raspar com força.
Raspa, raspa, raspa… e volta a raspar!...
Mas, maldito mas… da euforia passaram à ansiedade, tendo acertado nas sondagens mas com falhanço na imaginação necessária para gerir o dia depois. A preocupação de deixarem o poder é notória.
Os risos sarcásticos de dentro da Coligação duraram pouco tempo. Quem havia semeado os ventos da arrogância, de um governo que não ouviu ninguém e não falou com ninguém, que fez o que lhe deu na real gana, tantas vezes na ilegalidade, “quebrando contratos com os mais necessitados, ao mesmo tempo que lembrava a intangibilidade dos contratos com os mais poderosos”, acusando os outros de serem “piegas”, de serem culpados por estarem desempregados, de serem velhos do Restelo, como tantas outras baboseiras que soltaram daquelas bocas, permitiu que na altura do julgamento, uma parte maioritária dos que votaram contra o Governo sejam agora capazes de os impedir de governar, ainda que correndo muitos riscos.
E enquanto os socialistas, como Partido charneira, decidem, com os ventos de feição, jogar a raspadinha à esquerda ou à direita, o Zé Povo vai também tentando a sua sorte: raspa, raspa, raspa… e volta a raspar!...
É preciso mudança! Temos vivido sob uma grande mentira, em que os responsáveis políticos, para se perpetuarem no poder, produzem ilusões, medos e ansiedade social, levando as pessoas ao ponto de se maltratarem a si próprias, gerando dúvidas e insegurança em si mesmas.
Há que haver uma profunda reflexão do que queremos e para onde vamos, independentemente de raspar mais devagar ou com mais força; de comprar raspadinhas de ouro ou de um euro. A sortuda não está para breve, pelo que há que se ponderar. É que as vindimas são feitas até ao lavar dos cestos.

Raspa, raspa, raspa… e volta a raspar!...

(In "Notícias da Covilhã", de 22-10-2015)

18 de outubro de 2015

CHEGÁMOS!


Neste ano da graça de dois mil e quinze, mês de outubro, completámos cem números de “O Combatente da Estrela”.

Podemos agora voltar-nos para o que foi o “antes”, o que está sendo o “durante”, e o que poderá ser o “depois”.

São três fases do tempo daquele tempo que tem a nossa vida: para uns mais longa, para outros mais curta.

Seja como for, entre virtudes e defeitos se fez a vida humana. E foi, é e será, nesta forma comportamental de cada um; mais dinâmica ou menos ativa, mais tolerante ou de índole agressiva, na tez de serenidade ou no semblante neurótico, cada qual com a sua alma assim tatuada, entre considerações e repulsas; que assim se construiu ou vai arquitetando o espaço temporal das nossas existências.

E é assim que, na amálgama de conceitos, mas no respeito pelo mundo que nos circunda, nasceu este pequeno jornal, na sua forma, mas grande na sua generosidade de querer fazer chegar, ao maior número possível de leitores, aquele abraço no sentir de quem passou por uma parte dura da História de Portugal.

Mas também, como órgão de cultura, várias facetas da vida citadina, onde nos inserimos e, por isso, e por natureza, também onde poisam as nossas preocupações.

O tempo vai caminhando veloz, mas a parte integrante dos acontecimentos que constituem muitas páginas da História de Portugal; daquela juventude que nós fomos, dos anos sessenta a setenta do século XX, em que surgiu a bravura na defesa da Pátria, a dor dos companheiros que se viram tombar em combate, lá longe, longe das famílias, as marcas indeléveis na carne, ou a doença depressiva que todos trouxeram, numa incompreensão dos senhores da Nação de outrora; jamais se poderá dissipar, e é nas páginas de “O Combatente da Estrela” que muitos testemunhos, notícias, reportagens, entrevistas, ou textos diversos dão o sinal de que a História das Guerras em África terá que continuar a ser lida, meditada, por tudo o que se passou, e, também, por tudo o que não querem assumir como reflexo dessas lutas fratricidas de então.

Durante o espaço que medeia entre o primeiro número de “O Combatente da Estrela” que viu a luz da gráfica em janeiro de 1988 e este mês de outubro de 2015, nos seus cem números, os obreiros do jornal, que durante muito tempo quase se reduziram ao trabalho desdobrado do seu Diretor, o mesmo desde início, muitos acontecimentos surgiram na vida da Liga dos Combatentes, da Cidade e do País.

No seio da Liga, muitos foram os que deixaram o mundo dos vivos, alguns prematuramente. Todos foram respeitados no simbolismo fúnebre e na recordação das suas memórias com inserção da notícia, com foto, neste periódico. Também nas transladações para o espaço próprio nos Cemitérios Municipais, e nas romagens em cada 1.º de Novembro.

Depois, há a preocupação dos que ainda vivem o resto das suas vidas, e, daí, a persistência na construção do tão almejado Centro de Dia e Lar de Terceira Idade, conforme temos dado notícias neste jornal, sempre que oportuno.

As notícias também têm vindo a lume, neste periódico, sobre as consultas psicológicas gratuitas, no apoio que a Liga dá aos seus Associados, e não só, também a todos os antigos Combatentes que à mesma se dirijam.

A solidariedade também se estende aos mais necessitados.

Embora separado da Liga dos Combatentes, como organização particular, mas de antigos Combatentes, que emergiu do que surge na Tabanca de Matosinhos, onde alguns antigos Combatentes da Covilhã ali se juntaram aos seus colegas, no encontro por que é conhecido o local de encontro, todas as quartas-feiras, de ex-Combatentes da Guiné, hoje Guiné-Bissau, para um almoço de confraternização, surgiu a Tertúlia dos Combatentes, cujo evento temos dado conhecimento nas páginas de “O combatente da Estrela”.

Todos os meses se reúnem, num restaurante da cidade, para um almoço, antigos Combatentes, cujo número vai crescendo, sempre ultrapassando a centena de participantes. A anteceder o almoço costuma haver uma caminhada, ou, quando tal não é possível, mormente no inverno rigoroso, reúnem-se os antigos Combatentes num café para conversar sobre determinado tema, ou, então visitas culturais, como foram ao Museu de Arte Sacra, Universidade da Beira Interior, etc.

A espiritualidade também não fica sem lugar e então há anualmente uma peregrinação a Fátima. O lazer e recreação também estão presentes na Liga dos Combatentes, pelo que são várias as viagens programadas para os associados, seus familiares e amigos, de cujo relato damos notícia n ´”O Combatente da Estrela”.

Como não podia deixar de ser, na preocupação com os seus associados, e no âmbito cultural, têm-se organizado algumas Conferências, com debate, alusivas a vários temas, mormente sobre a situação dos antigos Combatentes.

O “depois” passa incondicionalmente pela continuidade da caminhada que os obreiros da Liga dos Combatentes estão a fazer, e, neste contexto, também “O Combatente da Estrela” será o elo de ligação entre as suas estruturas e os seus associados e leitores em geral, ao serviço da Cidade Covilhanense, e seu Concelho, ao qual pertence.
(In "O Combatente da Estrela" - N.º 100 - Edição Especial - outubro 2015)

13 de outubro de 2015

VITÓRIA DE PIRRO


Contra ventos e marés a coligação Portugal à Frente (PaF), sem sensação, face às últimas sondagens, acabou por vencer as eleições legislativas, saindo vencido o Partido Socialista (PS) que, meses antes, era dado como partido vencedor, incontestavelmente na opinião pública e no próprio seio das gentes da direita.

No entanto, a vitória da PaF, constituída pelo PSD e CDS/PP, com os seus 38,6% de eleitorado contra 32,4% do que votou no PS, acabou por ver dissiparem-se as grandes alegrias das suas gentes face às indecisões sobre a obtenção de maioria absoluta ou relativa.

E os seus semblantes começavam então a ser diferentes quando uma brisa soprava na direção da esquerda.

Mas neste intervalo até aos resultados finais, algumas coisas iam emergindo, entre aqueles que sempre se consideram vencedores mesmo perdendo – caso da CDU, aos grandes vencedores: Catarina Martins, do Bloco de Esquerda (BE) e as próprias sondagens que vinham sendo desacreditadas.

O líder do PS, António Costa, foi o grande derrotado da noite eleitoral. Depois de tanta austeridade durante quatro anos, tinha a obrigação de ganhar as eleições legislativas. Para além de culpa própria que se traduziu em vários fatores, como ter acreditado na corrida da lebre e da tartaruga em que ele representou a lebre, e ao sair-lhe o tiro pela culatra na expressão do “soube a pouco” que levou o seu antecessor António José Seguro (ele um dos vencedores) a ser traído a meio do campeonato de líder do seu partido, viu também na esquerda, mormente da parte do Partido Comunista, erguerem-se os manguais da malha no PS ao invés da Coligação PaF.

E, falando de campeonato, os vencedores Passos Coelho e Paulo Portas tiveram, ao longo da legislatura, a parcialidade do árbitro que sempre fora nomeado, Cavaco Silva, sem que lhes mostrasse o cartão amarelo e muito menos o vermelho.

No terreno do jogo, ainda surgiram algumas expulsões como Marinho e Pinto, do Partido Democrático Republicano, e, quando ainda se encontrava no aquecimento, o jogo acabaria por terminar sem ser utilizado Rui Tavares, do partido Livre. Para já não falar nas memórias de Sócrates.

Dos mais de nove milhões de eleitores inscritos, 56,89% exerceram o direito de voto, sendo que, ao contrário do que as projeções anunciaram ao início da noite, neste caso para gáudio da PaF, a abstenção também quis ganhar, sendo a mais alta de sempre em eleições legislativas, com 43,11% de eleitores a não irem às urnas.

Voltando ainda à final do campeonato governativo, como foi possível que os mais de cinco milhões de “espetadores” que entraram nos vários estádios e introduziram o seu bilhete nas urnas da esperança, aceitaram continuar com a equipa técnica geral quando houve quatro anos de austeridade, desemprego, emigração, sacrifícios de vária ordem e um treinador novo anunciado no partido da oposição, e de mais de cem mil jovens por ano a procurarem outros clubes no estrangeiro, a custo zero, em detrimento de Portugal que os preparou e neles investiu fortemente?

Acontece porém que, no rescaldo após o jogo, já na fase das entrevistas dos jornalistas, nos balneários, se chega à conclusão que, afinal, a vitória do clube Portugal à Frente não vai chegar para passar a eliminatória. É uma vitória amarga. É que há mais clubes interessados em não descerem de divisão e se manterem no “arco da governação”. Eles unidos podem eliminar o vencedor da contenda.

E como o povo não é estúpido, havendo sempre vencedores e vencidos, sabe que não ter medo é uma das melhores armas.

Assim, só para falar no nosso distrito de Castelo Branco, o PS ganhou, e, na Covilhã deu um forte contributo com quase o dobro dos votos no PS em relação à coligação PaF.

O País inclinou-se para a Esquerda. A soma dos votos dos “Clubes” que a integram é superior aos do vencedor. Não podem agora jogar (governar) a seu bel-prazer. Também o fragilizado presidente da agremiação, Cavaco Silva, agora não pode fechar os olhos às tropelias do vencedor, com total impunidade e complacência meiga.

Claro que a Coligação foi a vencedora; que a CDU perdeu, embora com um deputado a mais; que Catarina Martins, do BE foi a “jogadora” mais em evidência na peleja, muito bem preparada, decidida e veemente sem nunca perder a calma, sorrindo zombeteira quando era necessário, personalizou o que queríamos e precisávamos de ouvir. Ela recuperou a tradição do combate da História de Portugal, como Deu-la-Deu Martins, ou a Padeira de Aljubarrota.

E, assim, nesta apagada e vil tristeza que tem assolado o nosso querido retângulo à beira-mar plantado, chega-se à conclusão que a Coligação de Direita foi a vencedora mas é uma vitória de Pirro.


(In "fórum Covilhã", de 13-10-2015)

16 de setembro de 2015

O ILUSTRE COVILHANENSE, DR. DUARTE SIMÕES, COM A ALMA DE UM GRANDE VISIONÁRIO


Fisicamente era de uma grande estatura, mas muito inferior à grandeza da sua alma, numa forte nobreza de caráter, probo, onde a sua magnanimidade se impunha como visionário em prol da sua Covilhã.

De horizontes largos, bem depressa integrou um grupo de dinâmicos e corajosos covilhanenses, em redor do grupo de trabalho para o Planeamento Regional da Cova da Beira, no qual viria a emergir o ensino superior na Covilhã, através da fundação do Instituto Politécnico, em 11 de agosto de 1973, com a entrada dos primeiros alunos dos cursos de Engenharia Têxtil e Administração e Contabilidade, no quadro da então chamada “Reforma Veiga Simão”. Esses primeiros 143 alunos foram recebidos em 1975.

Volvida meia dúzia de anos, surgia assim, em julho de 1979, a conversão do Instituo Politécnico em Instituto Universitário da Beira Interior (Lei 44/79, de 11 de setembro); e, em 30 de abril de 1986, o Instituto Universitário passa à atual Universidade da Beira Interior.

Mas voltando a esta insigne figura, de seu nome completo, Duarte de Almeida Cordeiro Simões, nasceu na Covilhã em 28 de fevereiro de 1927. Com 11 anos ingressou no Colégio Militar onde estudou até ao 7.º ano (atual 12º). Não sendo seduzido pela carreira militar, optou por se matricular, no ano de 1945, no Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras, no qual completou 4 licenciaturas (Administração Comercial, Finanças, Aduaneiras e Diplomacia).

Iniciou a sua atividade docente na Escola Industrial e Comercial Campos Melo da Covilhã, como professor provisório, nos anos 1952/1955, seguindo depois para a Escola Comercial Veiga Beirão, em Lisboa, nos anos 1955/1956. Viria a interromper a sua atividade docente, durante seis anos, passando a exercer as funções de Gestor em várias empresas privadas, quando, em 1962, regressa ao ensino, passando por Caldas da Rainha, Lisboa e, finalmente, fixando-se na sua Terra natal – a Covilhã. É assim que, de 1965 a 1974 vem a acumular as funções docentes com as de gestor público e secretário-geral do grupo de trabalho para o Planeamento Regional da Cova da Beira.

E concretiza-se o seu grande sonho, num pensamento há muito gerado na sua mente. A criação em 1974 dos Institutos Politécnicos em Portugal foi a ocasião chegada, a grande oportunidade. O Instituto Politécnico da Covilhã abriu uma nova etapa da história do ensino. O Dr. Duarte Simões vem a ser o seu primeiro diretor. Vem a dedicar-se com todo o empenho à grande tarefa de transformar a que fora, em tempos, a “Real Fábrica de Panos” numa grande catedral do ensino, contribuindo assim para o ressurgir daquela que fora a cidade lã – cidade fábrica, na cidade da cultura.

Só que, muito cedo, esta notável figura covilhanense deixou o mundo dos vivos, no malogrado dia 8 de agosto de 1979.

Tendo o diretor da Escola Industrial e Comercial Campos Melo da Covilhã, Eng.º Ernesto de Melo e Castro, atingido a reforma, coube ao Dr. Duarte Simões tomar interinamente a direção da mesma, de 1966 a 1967. Verificaram-se imediatamente alterações: cursos têxteis de formação equiparados em igualdade e equivalência aos cursos gerais de Comércio. Pediu autorização para funcionarem as secções preparatórias aos institutos. Conseguiu a criação do curso de Habilitação Complementar para os Institutos, a funcionar em regime de experiência piloto, por ordem do Ministro da Educação Nacional, Veiga Simão, no sentido de preparar a entrada dos alunos nos institutos universitários a criar por aquele membro do Governo.

Em 1972 foi nomeado como correspondente do Fundo de Fomento de Exportação, cessando as suas funções em junho de 1974 e, bem assim, as de diretor interino dos Serviços Municipalizados da Covilhã.

Podemos mesmo dizer que foi o Dr. Duarte Simões o principal dinamizador e homem-chave das comemorações do Centenário da Cidade da Covilhã, da realização das Feiras de Atividades Económicas, do Parque Industrial, e da Cooperativa dos Fruticultores, entre outras suas iniciativas. Foi ainda o responsável por relatórios visando a criação do Ensino Pós-Secundário na Covilhã, em colaboração, reorganização e reconversão da indústria de lanifícios; relatório de proposta para planeamento da Cova da Beira; sobre os Serviços Municipalizados, e Serra da Estrela – Desenvolvimento Turístico.

Por despacho do Ministro da Educação e Cultura de 18 de setembro de 1974 foi nomeado para a Comissão Instaladora do Instituto Politécnico da Covilhã, lugar criado pelo Decreto-Lei n.º 402/73, de agosto passado. Em 10 de setembro do mesmo ano foi nomeado Presidente daquela que viria a ser a Universidade da Beira Interior.

Na Escola Industrial foi professor de Contabilidade e Cálculo Comercial. Ainda chegou a ser meu professor de Contabilidade, embora por pouco tempo.

Foi autor das seguintes obras: Planeamento Regional, Poesia – Esperança e Ânimo, Serra da Estrela (Bases para programação do seu desenvolvimento turístico – 1975).

Casou com a Dr.ª Maria Ascensão Albuquerque Amaral de Figueiredo Simões, também ela dedicada à Escola Campos Melo, e à Covilhã, tendo sido a Presidente do Conselho Diretivo aquando das Comemorações do Centenário da Escola Campos Melo.

Com o desaparecimento do Dr. Duarte Simões, a cidade e região ficaram mais pobres. A Covilhã admirava-o pelo seu dinamismo, o seu espírito empreendedor e lutador por tudo quanto representava o progresso da região.

A edilidade covilhanense deliberou dar o seu nome a uma das ruas da cidade e homenageá-lo, a título póstumo, com a medalha de ouro da cidade.
(In "Notícias da Covilhã", de 17.09.2015)

8 de setembro de 2015

AQUELA QUE FOI A MONO-INDÚSTRIA NA COVILHÃ

Os tempos mudaram. As crises generalizadas que o País sempre enfrentou, desde que foi fundado, acentuaram-se nalguns setores. Um deles foi o da indústria de lanifícios.
Os dias que correm, face às transformações no mundo, com a globalização, na modernidade, com as descobertas científicas, são incomparáveis aos de ontem.
Contudo, há modos de vida que se encontram enraizados nas populações, que deram prosseguimento à vivência local dos mesmos, como o sangue a correr nas suas veias.
Hoje, a Covilhã, já não é a Covilhã da mono-indústria mas duma vertente de atividades que vão do ensino universitário, maioritariamente, a uma série de pequenas indústrias, com exceção de meia dúzia de grandes empresas de lanifícios; comércio em menor escala, e diversidade de serviços, entre os quais as novas tecnologias.
As crises da indústria de lanifícios na Covilhã são ancestrais. Hoje vemos a existência de muito poucas empresas fabris, entre as quais a maior ibérica, comparativamente com as de mais de uma centena de outrora.
Preservam-se ainda muitos imóveis das antigas fábricas de lanifícios, quase todos devolutos ou em adiantado estado de degradação, com as suas gigantes chaminés, que são ainda o ex-líbris da Covilhã, continuando a tecer o futuro.
A grande crise da indústria de lanifícios do século XX acentuou-se, remontando há quase meio século. Trinta mil pessoas a viver juntas nesta cidade interior do País – referência ao ano de 1968, altura em que deixei a Covilhã temporariamente, durante 42 meses, para cumprir o serviço militar obrigatório.
A Covilhã, inteira, dependia de 130 fábricas que aqui laboravam 48 a 50 por cento da produção nacional de lanifícios. Um terço da população desta cidade, de então (dez mil operários inscritos), trabalhando nesta indústria, sentiam grandes dificuldades, com seus fracos salários.
Nessa altura, já 23 fábricas haviam encerrado por falência. Alguns empresários colocavam os bens em nome de seus filhos, com a tendência para se criarem sociedades de capital limitado. Capitalistas e agiotas aproveitavam a situação, fazendo negócios chorudos para as necessidades imediatas, empurrando o industrial na ruína ou em situações de grande dificuldade. A banca impunha condições exigentes, como nas aberturas de crédito.
Mas em qualquer outro ponto do País onde se trabalhasse em lanifícios, encontravam-se operários e técnicos covilhanenses, com nítida fuga de mão-de-obra para o estrangeiro.
A Covilhã esteve durante muito tempo, com as suas crises têxteis, de costas voltadas para a Serra. Havia uma ideia errada do fenómeno sócio-económico desta cidade. A presença de tão grande concentração industrial com dezenas de fábricas que descem a serra e se estendem pelos vales, e a aparência próspera dos seus habitantes, induziam em erro. Havia uma vida artificial com as pessoas a usufruírem de artigos de luxo em detrimento de bens de primeira necessidade. Nessa altura havia um único hotel na Covilhã – “Solneve”, de Artur de Almeida Campos, que não teve nos seus descendentes a sua força empresarial.
O investimento no equipamento industrial, iniciado 15 anos antes, por parte de empresários, movimentou números elevadíssimos, confiando no futuro, pensando principalmente nas exportações.
Se bem que esta tenha sido a mola real para o desenvolvimento da indústria têxtil covilhanense, foi, simultaneamente, uma das razões principais da crise que então se principiou a delinear. Um dos motivos maiores da crise financeira dos empresários foi no corte de crédito que os bancos fizeram, ou as condições a curto prazo, insustentáveis. Outras causas das dificuldades foi o fraco poder de compra do mercado nacional. Segundo o falecido industrial José Rabaça, o que acontecia na Covilhã era a existência de um excessivo número de micro-empresas. Depois, na Covilhã não havia a indústria completa mas sim a setorial. Enquanto na fábrica completa tudo se conjuga para uma fabricação de artigo final, mais economicamente produzido, nas atividades setoriais procura-se atingir o mesmo benefício à custa do sacrifício da secção alheia. A maior empresa de lanifícios do nosso país não possuía ainda secção de acabamentos (ultimação).
A reconversão desta indústria deparou com um obstáculo intransponível: a falta de preparação de muitos industriais e o seu feroz individualismo. Era o tradicionalismo familiar que imperava. Fábricas passando de pais para filhos. Estes, em muitos casos, com evidente impreparação.
Também a inexistência de um Instituto Industrial na Covilhã. Havia apenas a Escola Industrial e Comercial Campos Melo. Hoje o problema está resolvido com a Universidade da Beira Interior.
Ainda não tínhamos entrado na União Europeia mas, entretanto, segundo acordos da EFTA, logo que um produto atingisse ou ultrapasse 15 por cento de exportações, deixava de estar sob proteção pautal, podendo assim os produtos de outros parceiros entrar livremente no nosso pobre mercado, com concorrência aberta da Grã- Bretanha e da Suíça.
Depois da lã da região, com a industrialização, a Covilhã passou a ser um consumidor dos grandes fornecedores mundiais de lã – a África do Sul, a Austrália e a Nova Zelândia. Mas nunca deixou de se mover em volta da sua indústria secular.
Para obstar aos problemas da mono-indústria, nunca foi levado a sério, ou com entusiasmo férreo, o desenvolvimento do Turismo, numa zona privilegiada como é a Serra da Estrela, com a sua porta principal na Covilhã.
Naquela altura, há quase meio século, o turismo na Covilhã não passava duma pequena sala iluminada, no Centro Cívico, onde se encontrava um taciturno funcionário dizendo quase não a tudo, embora com um sorriso, porque não havia informações. Para além do “Solneve”, existia apenas, nas Penhas da Saúde, a “Estalagem do Pastor” e o velho “Hotel das Penhas da Saúde”.
Os operários e empregados dos lanifícios recebiam à semana, dando assim a ilusão de um desafogo económico na Covilhã. O dinheiro corria sempre. Havia sempre dinheiro fresco. As casas comerciais utilizavam as pequenas prestações mensais – “as deixas” – que atraíam o operariado. Um fato não se pagava, descontava-se na féria. Daqui o poder andar-se bem vestido, ou gastar dinheiro numas cervejas ou nuns cafés. O “Montalto”, à sexta-feira tinha os agiotas e espetadores que desde a hora do almoço aguardavam que um empresário aflito lhes vendesse uma letra de 70 contos por 40, ou lhes pedissem empréstimos para pagar a féria ao pessoal, preferindo este sistema à busca direta de um banco, a fim de que este não se apercebesse das dificuldades em que se debatia. Era o coração de uma crise que se reforçava na Covilhã.
Hoje, apesar das várias crises, a Covilhã está indubitavelmente muito melhor. Outros tempos.


(In "fórum Covilhã", de 08.09.2015)