30 de dezembro de 2021

CONTE-NOS A SUA HISTÓRIA HUMBERTO NUNES DA CRUZ





 

Trazemos desta vez a história de um Antigo Combatente, por terras angolanas, covilhanense de coração, ainda que de raiz visse a luz do dia em Oliveira do Hospital, no dia 31 de julho de 1944. Na Covilhã, onde se radicou definitivamente, há 75 anos, conheceu os seus melhores dias. Fez a Primária na velhinha Escola Central, passando depois a exercer a sua atividade profissional na indústria local – os lanifícios – como tecelão mecânico, nas empresas Jerónimo Sena, Lanofabril e Cristiano Cabral Nunes.

Pessoa dotada de um bom coração, simpático e amigo do seu amigo, pronto a ajudar, foi conhecido no futebol local por ter representado o Sporting Clube da Covilhã (SCC), tendo iniciado logo nos juniores, aos 16 anos. Ainda foi sénior nos Leões da Serra em 1970, representando depois o Grupo Desportivo da Guarda onde foi campeão da III Divisão, no ano 1971.

Depois de ter terminado a sua passagem pelos juniores do SCC, surgiu-lhe o serviço militar obrigatório, que cumpriu com início em 02 de fevereiro de 1965, tirando a recruta em Elvas e, depois, na mesma cidade, no Caçadores 8, seguindo daqui para o Entroncamento para a especialidade CDMN, que se destinava ao reabastecimento de material auto. Aqui foi promovido a 1º. Cabo. Recebeu a notícia da sua mobilização para Angola, tendo-se apresentado no Regimento de Infantaria 1, na Amadora, onde esteve apenas 2 dias, pois logo lhe concederam 10 dias de mobilização, com guia de marcha para se apresentar no RI 11, em Setúbal. Aqui deram-lhe 750$00. Curiosidade: com este dinheiro comprou um fio em ouro, com duas medalhas, a um camarada ourives, de Febres.

De Setúbal partiu com os seus camaradas, às 3 horas da manhã do dia 17 de setembro de 1965 integrando o Batalhão de Caçadores 1855, tendo embarcado em Alcântara, no Vera Cruz, era meio-dia, tendo aqui recebido um maço de tabaco oferecido pela Cruz Vermelha Portuguesa. Chegaram a Luanda no dia 26 de setembro, em direção ao Grafanil, onde lhes foi distribuída a arma, após 8 dias.

É então que surge o tempo mais difícil, partindo em direção a Nambuangongo onde permaneceram até perto do dia de Natal de 1965, e Novo Ano de 1966, em cujas datas confraternizaram tanto quanto lhes foi possível em condições de guerra, com o Comandante e restante hierarquia militar local. Tinha a seu cargo o material auto CCS – Companhia de Comando e Serviço do Batalhão de Caçadores 1855, a sua especialidade. Seguiram depois para Luanda, cerca do dia 20 de dezembro de 1966, e no dia 23 deste mês, pertíssimo de mais um Natal em Angola em guerra, seguiram de comboio para Malange, cuja viagem, num amontoado de militares, durou 12 horas, já que era necessária uma máquina ir à frente para a eventualidade do rebentamento de alguma mina. Chegaram a Malange na véspera de Natal daquele dezembro de 1966. Pois bem, o dia de Natal foi passado dentro do comboio, sem qualquer óbvia comemoração, pois “ia tudo ao monte”. Igualmente se passou no Ano Novo. Em Malange tinha o serviço de PU (Polícia da Unidade). Nesta cidade representou o Sporting Clube de Malange porque o viram jogar em Nambuangongo, nos jogos particulares e necessitavam de um bom elemento para o clube, pelo que foi convidado pelo Comandante da Companhia. No entanto, também aqui encontrou um covilhanense – Matos Soares – estabelecido com uma escola de condução, que gerou com o Humberto Cruz um contacto amistoso com o seu conterrâneo, tendo-lhe pedido para lá ficar a viver, o que não foi da vontade do Humberto.

Um momento terrível na memória do nosso entrevistado, foi o dia 8 de agosto de 1966. Narra assim: “Quando andávamos entretidos a jogar a bola, o capitão mandou formar porque precisava de dez homens para irem à lenha. Apenas levariam 3 armas e sem a ajuda de rádio. Ia nesse grupo o covilhanense, Furriel Malaca, já falecido, que fora debuxador no Mosa. Os 3 soldados que levavam as G3 ficaram a fazer guarda aos que carregavam a lenha. Quando acabaram de carregar as duas Berliets, com o Furriel Malaca foram ver dos 3 soldados que lhes estavam a fazer escolta. Foi com terrível espanto que encontraram dois deles mortos, degolados, e já sem as armas. O outro conseguiu escapar e nem deu conta da morte dos seus camaradas, face ao local estratégico onde se encontraria. Ficaram assim com uma única arma para se poderem defender em caso de ataque.

Quando depararam com este desfecho, surgiram dois Jeeps militares que vinham buscar o correio a Nambuangongo, onde vinha também o covilhanense Rui Velha”.

E, assim, os dois carros com a lenha, o Jeep onde vinha o Humberto Cruz e as duas Berliets trouxeram os dois soldados mortos e recolheram a Nambuangongo.

Esta é uma das muitas histórias de guerra por que passou o camarada Humberto Cruz.

De menos mau, por vezes iam ver os paraquedas que traziam peixe e carne às 3ªs  e 6ªs feiras, onde também vinha o correio, e que rebentavam, aproveitando o que pudessem apanhar.

E assim, depois de ter permanecido em Malange, desde dezembro de 1966, no dia 7 de dezembro de 1967 tiveram uma passagem de 4 dias no Grafanil, donde embarcaram no dia 11, no Niassa, chegando à Metrópole no dia 23 de dezembro de 1967. Foi então o Natal já em liberdade e fora de perigo, na Covilhã.

(In "O Combatente da Estrela", nº. 125-DEZ/2021)

29 de dezembro de 2021

O FIM DO IMPÉRIO NOS SEUS 60 ANOS

 

Aproxima-se mais um Natal e um final de ano e, consequentemente, muitas memórias ficaram entre nós. Delas sobejam reminiscências, se entre a angústia, a ansiedade, o medo, a revolta, tiveram maior peso nas duas primeiras décadas deste período, também a nostalgia, os momentos mais confortáveis, o lenitivo do afastamento da perigosidade, e o regresso ao seio familiar foram aquele bálsamo para muitos dos nossos Antigos Combatentes.

Mas como não há bela sem senão, muitos deles, que tiveram a dita de regressarem incólumes, não se livraram de padecer do stress pós-traumático. É vê-los a aguardarem pela sua vez para as consultas das psicólogas nos Núcleos das Ligas dos Combatentes, como recentemente assisti no Núcleo da Covilhã.

Reporto-me evidentemente ao tempo por que passaram os Antigos Combatentes, na referência à Guerra Colonial, já que os tempos da Primeira Grande Guerra foram já objeto de comemorações dessa efeméride. E já nenhum participante nesse conflito mundial está no mundo dos vivos.

A pandemia veio agravar a situação por que alguns ainda padecem e só tardiamente surgiu o Estatuto do Antigo Combatente, entrado em vigor em 1 de setembro de 2020, e agora com o acesso ao Passe do Antigo Combatente no âmbito da Portaria n.º 198/2021, de 21 de setembro.

Das resmas de informação que fiz cair na minha secretária, torna-se difícil extrair dela tantos rasgos sentimentais, gritos de revolta, pendores de regeneração, pela dificuldade de uma seleção.

Aqui reporto algumas:

O 1º. Dia do Fim do Império – Texto de Felícia Cabrita, in Revista Expresso de 14-03-1998

“A 15 de março de 1961, em Angola, bandos armados da UPA destruíram fazendas e vilas e assassinaram dois mil colonos portugueses. Foi o início de uma tragédia imensa, que abriu caminho para 14 anos de guerra. A Índia já havia caído. E era preciso defender África”.

Pesadelos da guerra colonial – Crónica de Carlos Esperança

“Quem regressou da guerra colonial, desejou esquecê-la, e não pôde. Saímos da guerra, e a guerra não saiu de nós, pelos mortos que lá deixámos e estropiados que trouxemos, torturantes recordações de anos injustos e inúteis.

Por menos traumática que possa ter sido a guerra, nunca mais se esquecem as rugas dos pais que nos aguardaram, a ansiedade que viveram e a angústia pelos perigos, reais ou imaginários, a que nos julgaram expostos. (…) A sobrevivência, mesmo sem mazelas aparentes, acarreta feridas que nunca cicatrizam, memórias doridas, inquietações que regressam, angústias que persistem. Ninguém faz a catarse de tão longo tempo e tão penetrante sofrimento, ninguém conta tudo o que viu e grande parte do que soube (…)”.

Para além da noite – Crónica no Facebook de Francisco de Pina Queiroz

“…Mas… antes do seu efeito, aflora no doente o pensamento interrogativo: e para além da noite, como será o dia de amanhã? Frase de revolta para quem justa ou injustamente dorme em celas prisionais, por decisão da justiça oficial. Revolta por ali estar. Revolta de arrependimento pelo motivo afinal justo da sentença. Revolta por uma tirania castradora da Liberdade, dos atos e dos pensamentos em sua defesa: poemas, romances, manifestos, esculturas, pinturas ou até conversas num café. Frase de ansiedade, de aperto na garganta, de suores frios apesar do calor da Mãe África, para militares do exército regular, de guerrilheiros e para a população que está para a guerra subversiva como a água está para os peixes – como Che Guevara nos ensinou nos seus Textos Militares. Sim, nós os ex-combatentes, em noites incontáveis de agora, ainda nos lembramos e/ou sonhamos e revisitamos psíquica e fisicamente a ansiedade derivada do que virá para além da noite. O que nos esperará nos primeiros raios de Sol: pisar uma mina, emboscada? (…)”

A vida que não se esquece – Ainda os Combatentes da guerra do Ultramar – João Peres, in “O Olhanense”

“… Os sobreviventes da guerra do Ultramar estão entre os sexagenários e octogenários da população portuguesa. Por ironia do destino, o Estado Totalitário que governou Portugal, preferiu enviar carne para canhão, como eram designados os militares da altura, para uma guerra absurda, interminável, que obrigou centenas de milhares de moços ainda, a aprenderem a manejar uma arma, no princípio a Mauser e depois a G-3 para a utilizarem nas horas más, a deixarem para trás à medida que o navio se afastava do cais de Alcântara, a terra natal, estudos, profissão, família e amigos, a enveredar pela negociação pacífica. Já em território africano, a temperatura, a malária, as minas nas picadas, os aquartelamentos e destacamentos em instalações abandonadas nas fazendas ou feitas à custa do suor do soldado, eram elementos de um inferno que viviam de dia em patrulhamentos, à noite sujeitos a flagelação com granadas de morteiro e canhão-sem-recuo que não os deixavam repousar. (…) Dois anos depois, torrados do sol, magros, depressivos, voltavam às suas terras como estranhos, exceto a família que os ajudava a reintegrarem-se na vida civil, que por imposição deixaram. (…) Houve casos em que a bolsa abastada, como se dizia, comprou ao mais pobre a mobilização e ficou cá a cumprir o serviço militar, enquanto o outro arriscava a vida para deixar uns cobres à família necessitada. Outros conseguiram desertar, refugiando-se em países onde tinham contactos de amigos e familiares. Quantos viram o camarada de armas ser atingido ou projetado pelo sopro de uma mina, ouviram das suas bocas chamar pela mãe ou pela mulher ausentes no outro lado do Atlântico, seguravam-lhe na mão até ser evacuado ou fechar os olhos para sempre. O desprezo a que foram votados não tem explicação. A crise de stress pós-traumático foi vivida no seio das famílias, porque lhes negaram, durante décadas, a ajuda médica que precisavam. (…) Na atualidade estão a morrer, cada vez mais, e dentro de pouco mais de uma década, não haverá sobreviventes deste conflito. Aprovaram, recentemente, o estatuto do antigo combatente elaborado por políticos jovens que já nasceram em democracia e não viveram, nem sentiram este drama nacional.”

Aproximamo-nos do Natal e de um Novo Ano, pelo que convido a lerem atentamente, neste número, a história de um dos nossos Antigos Combatentes deste Núcleo da Covilhã, na pessoa de Humberto Nunes da Cruz, na forma como passou os Natais em Angola em tempo de guerra.

Por último, não podemos deixar de endereçar um grande abraço de parabéns ao Diretor desta publicação e Presidente do Núcleo da Covilhã da Liga dos Combatentes, João Cruz Azevedo, que a exerce desde 1986 (trinca e cinco anos! É obra!) e foi um dos fundadores de “O Combatente da Estrela”, pela concessão da Medalha de Honra ao Mérito – Grau Ouro, pelos anos dedicados à Liga dos Combatentes, condecoração atribuída pela Liga dos Combatentes, ocorrida no dia 11 de novembro deste ano, no Dia do Armistício, no Museu do Combatente, em Lisboa. Aqui a apresentamos.

Desejamos a TODOS os que integram o mundo do nosso Núcleo, e seus Familiares, Gente da nossa Gente, os maiores votos de um Feliz Natal e próspero ANO NOVO.

(In "O Combatente da Estrela", nº. 125-DEZ.2021)

15 de dezembro de 2021

GRANDE MÉRITO DA CASA DA COVILHÃ EM LISBOA

 

A Covilhã tem a felicidade de ter uma instituição na capital bem representativa daquela que é a cidade dos lanifícios e universitária, das faldas da Serra da Estrela.

Muitos dos Covilhanenses, sejam de raiz ou de coração, radicados em Lisboa ou concelhos da proximidade, ali confraternizam semanalmente, com orgulho da sua Terra. Do outro lado, quem viaja da Covilhã e visita esta instituição, sente a alegria no encontro de velhas amizades que os quilómetros de distância não permitem que se encurtem estes tempos de vivência.

E isto porque, quando nos encontramos fora da nossa Terra por nos termos radicado noutro lugar, por circunstâncias várias, sendo que uma das principais razões são a atividade profissional, e, outras, a vida familiar ou a conjugação de ambas, vamos sempre de encontro à nostalgia.

No caso inverso, também é salutar os que, não largando o seu torrão natal, sentem uma vontade indómita para matar saudades de amigos de longa data, colegas ou familiares, quantos deles com décadas de ausência.

Tem a cidade laneira e universitária da Beira Interior, porta principal para a Serra da Estrela, a felicidade de ter na capital uma casa com o nome da Covilhã, a pouco mais de três anos para o seu centenário. De Grémio Covilhanense como se iniciou em 1924, passou a designar-se Casa da Covilhã em 28 de outubro de 1939.

A sua sede na Rua do Benformoso, 150-1º tem sido, de há muito, palco de encontro de muitos Covilhanenses, para ao redor do degustar os almoços das terças-feiras e outras datas de eventos assinalados, surgirem as conversas de memórias dos presentes e sobre muitos dos ausentes. Reminiscências e questões opinativas, para além do que é a vivência atual, com a Universidade da Beira Interior, o Centro Hospitalar Universitário da Cova da Beira, o novo Teatro Municipal, Museus e novas obras, ainda as memórias da Escola Industrial e do Liceu, da antiga Biblioteca Municipal, das gentes covilhanenses de hoje e de outrora e das publicações que existem na Cidade, recebidas com agrado na Casa da Covilhã, antídoto ao esquecimento quando os patrícios pretendem que seja dado a conhecer o que se passa nesta instituição covilhanense na Capital.

Algumas que defendem o Interior e se revoltam do ostracismo a que o mesmo é votado, esquecem-se que estão a fazer o mesmo à Casa da Covilhã.

Não há almoços que não sejam com produtos oriundos da Covilhã, não há recordações importantes que não sejam da Covilhã e ali são expostas.

A cultura é um vetor que define também esta nossa Casa em Lisboa, com eventos como o fado, à realização de réplicas de feiras ancestrais da Covilhã, como a de S. Miguel, ao amor aos livros, com o convite de autores covilhanenses para apresentação das suas obras, ao acarinhar do Sporting da Covilhã, e a tudo o que, de alguma forma, tenha o sentir da Terra que é da Gente das nossas Gentes.

Neste cambiante de opiniões, de atividades programadas e a programar, ainda que, de quando em vez, como em qualquer ação dinâmica, possam surgir ventos e marés, há sempre a alma do Covilhanense a gritar mais alto para que o barco prossiga por águas navegáveis.

Depois de há uns tempos atrás a Casa da Covilhã ter passado por um período menos bom, por escassez de braços para prosseguir com as árduas tarefas de manter uma Casa acolhedora, nas últimas décadas covilhanenses da rija têmpera de Viriato pegaram na mesma e ei-la aí, de vento em popa, a dar alegria a quem a visita, com a permanência de casa repleta, ou muito perto disso, às terças-feiras para os almoços convívio.

Estivemos lá no dia 9 de novembro. Éramos ao todo 47 elementos, que, por coincidência correspondiam, em número, aos 47 fundadores da Casa da Covilhã em 1924. Para além do almoço, sorteiro de um livro com o autor covilhanense presente, e também do jovem covilhanense Manuel Ramos, de 19 anos, que esperamos possa vir a ser selecionado para participar nos Jogos Olímpicos de Pequim, na modalidade de esqui alpino. Do comboio para lá foram alguns produtos da Covilhã que no mesmo dia puderem ser cozinhados e consumidos.

É de louvar a Direção atual, liderado pelo Manuel Vaz Rodrigues, e também a médica fadista covilhanense, Daniela Runa, como outros entusiastas covilhanenses, o António Chorão, o Zé Ascensão Rodrigues, o Elói, o Pedro Freire, e a alma das gentes que se deslocam da Covilhã – o delegado regional João Romano – que não deixam ficar por mãos alheias um trabalho de excelência, independentemente da grave pandemia Covid 19 que nos tem assolado.

Não queremos terminar sem felicitar a equipa do Jornal fórum Covilhã pelo seu 10º aniversário, num trabalho conseguido em prol da liberdade de informação, num pluralismo de ideias, direcionados para o bom jornalismo.

Sendo esta a última crónica deste ano, desejamos aos prezados Leitores, Familiares e Amigos, sem esquecer todos os Obreiros deste Jornal, um Santo Natal e um Feliz Ano Novo.

(In "Jornal Fórum Covilhã", de 15-12-2021)

9 de dezembro de 2021

MAIS UM NATAL


 

Felizmente para muitos de nós, viventes, podemos expressar-nos na palavra em título. Outros, porém, que também o desejariam, e sem que contassem com os novos males deste primeiro quarto do século XXI, precocemente deixarem o mundo dos vivos. Viverão agora noutra vida, além-túmulo, para os crentes, mas aqui com as suas memórias desta efémera passagem planetária.



Os nossos familiares e amigos são os que constam desta listagem de saudade.

Mas como a vida continua, independentemente de prós e contras, teremos que, tanto quanto possível, prosseguir no ambiente social, que tanta falta nos fez durante o primeiro rigoroso confinamento.

Dois dias antes de escrever estas linhas, deleitei-me num desses encontros de amigos, que a pandemia fez recuar, onde a D. Purificação, de 100 anos, beirã mas radicada em Lisboa, com uma vida que também foi de emigrante, fazia-nos aquela inveja positiva, caminhando sozinha, comendo todas as refeições, onde não faltava o cafezinho com o “cheirinho…”. Filha e genro que a tratam carinhosamente, nos narram que diariamente tem que ler o jornal. E gosta de acompanhar as conversas. Numa foto que lhe tirei dum grupo onde estava inserida, referiu que vissem que ela era a que estava mais fotogénica… Hilaridade óbvia entre o grupo.

Para as bandas do Tortosendo, em ambiente de grande amizade, com aquela Figura que um dia me disse, após ter terminado a minha vida profissional e ter rumado para outro ciclo de vida – “Enquanto você quiser, manteremos este ‘nosso dia’” – vai a amizade entre vários amigos com uma Couvada do Natal, com produtos regionais, como antigamente, selecionados pelo Pedro, de São Jorge da Beira.

E, para que não sejam olvidados os Covilhanenses radicados em Lisboa, e que brilhantemente honram a sua Terra, na liderança da Casa da Covilhã, são os seus pontos de reunião, nos almoços das 3ªs feiras, que enchem o espaço, onde não falta a distração e a cultura, num enlaçar de amizades. Produtos e objetos expostos, tudo se reporta à cidade laneira. E tão pouco têm sido dados a conhecer os seus eventos, a não ser nas redes sociais. São Covilhanenses com o corpo na Capital mas que têm o espírito na Covilhã. Liderada pelo Manuel Vaz Rodrigues, tem na Daniela Runa, médica e fadista, como vice-presidente e outros valorosos covilhanenses como o delegado regional, João Romano, o António Chorão, o Elói, o José Assunção Rodrigues, o Pedro Freire, e outros mais, um forte baluarte na representatividade desta Instituição covilhanense na Capital, de elevado prestígio.

É desta forma que deixo a última crónica deste ano, no prestigiado semanário Notícias da Covilhã, memórias do tempo de Natal, procurando assim afastar os nefastos tempos pandémicos por que ainda estamos passando em mais um Natal.

Votos de um Santo Natal e Feliz Ano Novo, para todos os prezados Leitores, e para os que fazem com que o Notícias da Covilhã continue a chegar semanalmente até nós, e seus Familiares.


(In "Notícias da Covilhã", de 09-12-2021)

17 de novembro de 2021

QUO VADIS, ESQUERDA! DIREITA! VOLVER!?

 

Ainda faltam quatro anos e quase dois meses para completarmos o primeiro quarto do século XXI. Ele que começou mal em todo o mundo. Memórias terríveis certamente em muitos habitantes deste planeta.

No meio deste mar de problemas, Portugal foi poupado a muitas desgraças, como o terrorismo. Tivemos também a nossa quota-parte nas contrariedades. Para além de incêndios florestais como nunca se tinham visto, foram duas décadas de fraco crescimento económico, partilhando, com excesso, as crises financeiras e de austeridade. Conhecemos o maior embuste financeiro da história deste país.

Mas viria a surgir o “milagre” económico português com Mário Centeno, ministro das Finanças, a colocar o nosso País a crescer acima da média europeia nos últimos anos, com o défice público reduzido a mínimos, a superar 2014 com 7% do PIB e a fechar 2018 em apenas 0,4%. O reconhecimento internacional é indubitável, com as três principais agências de classificação a retirarem o país do nível “lixo”. Foi o homem que chegou a um partido que fora corrido do poder por causa de uma bancarrota, e que enquanto estava na oposição atacava “a obsessão do défice” dos outros, mas que, regressado ao Governo, chegou ao ponto de espalhar pelo país cartazes que celebravam “o défice mais baixo da história da democracia” e de exultar com o primeiro superavit do regime.

A pandemia, entretanto, veio manchar este desanuviar económico do país que, tal como por quase toda a Europa, viria a ver uma luz sorrir com a anunciada “bazuca” europeia, por via do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

Assim, a crónica de Vasco Pulido Valente, sob o título “A geringonça”, datada de 31 de agosto de 2014, publicada no Público, aplicada com o sentido depreciativo ao PS de António José Seguro, viria com este termo a ganhar, nacional e internacionalmente, um sentido positivo e elogioso. Neste paradoxo, a aliança parlamentar estabelecida entre o líder do PS, António Costa, e o BE, o PCP e o PEV, permitir-lhe-ia governar até ao chumbo do orçamento no passado dia 27 de outubro.

Com a insólita, ou talvez não, não aprovação do Orçamento de Estado para 2022, e consequente dissolução da Assembleia da República e marcação de eleições antecipadas, surgem muitas análises, muitos comentários, sendo certo que o Partido Comunista, acusado de ter alinhado ao lado da direita, consequentemente ao lado do CHEGA, direita radical, “vai pagar caríssimo”, na opinião do sociólogo António Barreto. “O voto contra, ao lado da direita, é dizer que a direita tem razão quando quer cortar salários”. Já António Costa antevê uma vitória de Pirro para a direita.

Com o Presidente da República no seu labirinto a tentar encontrar uma solução e a esquerda a mostrar receios, com a evidente fisionomia de Jerónimo de Sousa na sua expressão recordando que “nada obriga” à dissolução do Parlamento, naquele provérbio de “burro morto, cevada ao rabo”, também com a entrevista de Vasco Cardoso, membro da comissão política do PCP, dada a Rosália Amorim, diretora do Diário de Notícias conjuntamente com Pedro Cruz, da TSF, foi direcionada no mesmo sentido. Os receios persistem.

Já a direita também não está melhor, com a luta interna para a liderança das forças do CDS-PP e do PSD, com os protagonistas Francisco Rodrigues dos Santos e Nuno Melo, pela banda do CDS; e Rui Rio e Paulo Rangel, nas hostes do PSD.

Vamos ver se esta embrulhada em que os partidos da esquerda se quiseram envolver contra o Governo, não lhes vai resultar “num tiro a sair pela culatra”.

Jorge Almeida Fernandes, in Público, sobre a inesperada rutura da “geringonça”, mas que também não pode ser considerada uma surpresa, analisa o PCP na pessoa de Jerónimo de Sousa como “os restos do muro de Berlim que voltaram a erguer-se” e que o PCP regressa ao estilo tribunício.

Nesta conduta algo inédita, a posicionarem-se para a fotografia, orgulhosas, tanto a esquerda à esquerda do PS, como a direita, com honrosas exceções para o PAN e as duas deputadas não inscritas, vamos ver se não vai resultar numa hecatombe política sobre aquelas forças.

E, depois já não vale a pena chorar sobre o leite derramado. Sim, Quo Vadis, Esquerda! Direita! Volver!?

(In "Jornal fórum Covilhã", de 17-11-2021)

3 de novembro de 2021

A EXEMPLO DE DRAGHI

 

Estamo-nos aproximando da porta de entrada daquele período do ano próprio da gripe sazonal. Dos costumes, a precaução. Corpo mais agasalhado. Evitar contágios. Os mais idosos, alguns, aceitam vacinar-se. Não querem o estado mórbido desta gripe. Houve os anos precedentes à atual pandemia. Muitos foram os que rejeitaram vacinar-se. Nas suas mentes, o perigo iminente de uma situação muito grave não se faria sentir. Chazinho quente com a medicação apropriada resolviam o problema. Podiam solucionar, ou talvez não, no imediato. Mas veio a Covid-19. A caminho de dois anos com o nome pomposo de Coronavírus SARS-COV-2. O resultado é sobejamente conhecido do cosmopolitismo. A dita cuja não abranda. Parecia que sim. Vai-nos enganando. Com outros cambiantes na sua rota devastadora. Os descrentes da gripe sazonal convertem-se. Querem agora a ditosa picadela. Não vá o diabo tecê-las. É melhor prevenir que remediar. Os provérbios continuam na sua sapiência ancestral.

Confinamentos obrigatórios por toda essa Europa e Mundo fora. Cercas e cordões sanitários. Também por cá, na Lusa Pátria tal se passou. Entretanto, se ia aliviando por alguns tempos, logo surgiam aqui e acolá, alguns surtos. Muitos surtos pandémicos.

Procurava-se não haver desânimo. O deserto era intenso e imenso. Começava a haver a nostalgia de outros tempos. Afinal, até aqui éramos felizes sem o saber! Nem nos passava pela cabeça o que contaram os nossos avós. Aqueles do início do século XX. As pandemias dos seus tempos. Para já não se falar da história da humanidade. Vivíamos agora uma nova pandemia, com várias vagas. Que saturação!

Só se resolve quando for criada uma vacina! Mas ela surgiu. Foram, aliás, várias em tempo record. Continuava a contagem de infetados pelo novo Coronavírus. Também de doentes internados nos cuidados intensivos e das mortes. Leva-nos para uma situação assustadora.

Um pequeno lenitivo surge em Portugal.  Ao atingir-se a fase de imunidade à Covid 19, com o vice-almirante Henrique Gouveia e Melo a dar por terminada a missão da Task Force do Plano de vacinação contra a Covid-19. Era já 85% da população vacinada.

Mas há os resistentes que não pretendem o desiderato da generalidade dos portugueses. São os negacionistas. Nem a verem a morte à frente dos olhos acreditam! Nem com o impacto dantesco que houve noutros países, como a Itália.

 A vacinação contra a Covid-19 é voluntária. Apenas é vacinado quem o deseja.

Os casos provocados por este Coronavírus persistem. A pandemia por COVID-19 ainda não está dominada. A vacina continua a ser a principal solução para tentar limitar o número de mortos e internamentos.  Nos EUA os hospitais estão sobrecarregados por surtos graves da variante delta. Os seguros americanos têm vindo a adaptar-se ao estado da pandemia. Sustentam o tratamento das doenças, incluindo as hospitalizações. Ser hospitalizado por causa da COVID-19 nos EUA fica caro. Nesse sentido, alguns hospitais estão a apresentar contas diferentes aos infetados. Os que têm ou não seguro. Há seguros que excluem simplesmente estados de pandemia. Evitam-se aumentos do seguro ou pagamentos diretos ao hospital. As pessoas são incentivadas a vacinarem-se.

A Itália passa a exigir passaporte sanitário a todos os trabalhadores. Medida aplica-se ao público e ao privado. Quem não exibir o passaporte sanitário fica impedido de aceder ao seu local de trabalho. Ou arrisca-se a pesadas multas. Determinação do primeiro-ministro, Mario Draghi. Acontece a partir de 15 de outubro. São consideradas ausências injustificadas, incluindo-se nelas  os feriados ou de descanso semanal. E isto apesar de estar excluída a hipótese de despedimento pelo facto de não possuírem passaporte sanitário.

Por que não adotar esta conduta também em Portugal?

Estamos na semana em que se sabe que uma nova subvariante da Delta, a AY.4.2, está a ter grande impacto epidemiológico. Leva alguns países de novo ao confinamento. A diretora-geral da Saúde, Graça Freitas tem uma entrevista ao Diário de Notícias. Do ponto de vista do vírus, “ainda há para saber e em aberto”. As medidas de proteção individual continuam a ser fundamentais. No Plano Referencial Outono-Inverno 2021-2022 estão previstos três cenários. “O primeiro é o que vivemos, perfeitamente estável. O segundo é aquele em que a efetividade da vacina começa a cair. Haverá necessidade de fazer reforços para aumentar a proteção da população. É o que estamos a fazer agora com os maiores de 65 anos.  O terceiro, o pior, é aquele em que apareceria uma nova variante. Mais agressiva. Com capacidade para escapar ao nosso sistema imunitário. Estas três realidades têm que estar sempre presentes até que o vírus termine o seu percurso entre nós.”

Vamos todos ser responsáveis. Não só para nosso bem como também para os que nos rodeiam.

(In "Notícias da Covilhã", de 04-11-2021)


A HISTÓRIA DO CASAL DE VELHINHOS SEQUESTRADOS PELA NEVE

 

Devagar, devagarinho, vamos caminhando por este outono fora, até que chegará o tal tempo de invernia, que poderá já não ser como noutros tempos, mas agora com as cautelas julgadas mais que necessárias neste tempo pandémico. Que não dá azos de abrandar.

Corria o mês de fevereiro do ano da graça de 1900, último ano do século XIX. Estávamos no alvor do surgimento das Conferências de São Vicente de Paulo também na Covilhã.  Para dar voz àqueles que mais necessitavam. Na Diocese da Guarda havia na cidade a única Conferência com o nome de S. Luís Gonzaga, fundada nove anos antes (01/12/1891) que lutava com grande dificuldade apesar da esmola superior a 400$00 com que o Prelado a contemplava. Tinha esta Conferência vários sacerdotes como seus membros, entre os quais o anterior bispo, D. Tomaz Gomes de Almeida. De qualquer modo, o bispo D. Manuel Vieira de Matos, também considerando indispensável a ação da Sociedade de S. Vicente de Paulo, ajudou a levantar a Conferência da Guarda que entrara em grande declínio.

Volvidos oito anos, é na Covilhã que começa a força impulsionadora vicentina – um pouco tardia é verdade, mas que com a sua vontade indómita viria a superar todas as da Diocese.

A primeira Conferência Vicentina na cidade dos lanifícios foi fundada na Igreja de Santa Maria Maior, sob a invocação de Nossa Senhora de Lourdes, em 12 de novembro de 1899. Foi eleito presidente o Dr. José Thomaz Mendes Megre Restier e entre os seus sócios ativos contavam-se o Dr. José Mendes Alçada de Paiva, Alfredo Baptista, Sebastião António da Costa Ratto, João da Costa Ratto, Manuel d’Almeida Cipriano, Camilo Ribeiro, Alexandre Espiga, José A. Thomaz Freire, Padre José da Costa Tavares, então prior da freguesia de Santa Maria, José Marques Braz Povo, a cujo zelo se devem a fundação de outras Conferências na Cidade, e Claudino Dias A. e Rosa, Francisco Petrucci e Francisco Fiadeiro.

A todos os seus títulos de benemerência sobreleva a fundação do Albergue dos Pobres em 1900 (hoje Lar de São José), sendo presidente o Dr. José Mendes Alçada de Paiva.

O Relatório das Conferências de S. Vicente de Paulo, da diocese do Porto, relativo a 1902, refere-se a essa Obra: “Contando pouco mais de dois anos de existência, esta bela obra atingiu um grau de prosperidade que decerto os seus beneméritos fundadores estavam longe de esperar e que raras instituições daquela natureza conseguem atingir nos mais dilatados prazos.

A ideia da instituição do Albergue para os pobres partiu de um dos nossos mais dignos confrades que em fevereiro de 1900 foi encontrar, num pobre casebre, sequestrados pela neve e morrendo de fome, dois desgraçados velhinhos octogenários, marido e mulher, a quem o formidável nevão do dia 1 prendera em casa, obstando a que pudessem ir mendigar o pão quotidiano.

Comunicada a ideia à Conferência, desde logo começaram a trabalhar os confrades com tanto zelo e tanta inteligência, angariando esmolas e donativos e fazendo propaganda aturada e eficaz, que, poucos dias volvidos, havia os meios necessários para a instalação.

Nessa cruzada foram auxiliados os confrades por uma comissão de senhoras composta por D. Maria da Anunciação Tavares, D. Ana Augusta Fonseca Ferreira e D. Clotilde Terenas, que, percorrendo a cidade e as povoações do Concelho, trouxeram abundante colheita para os pobrezinhos. Mais tarde, estas e outras senhoras, fundavam a Sociedade feminina de S. Vicente de Paulo, ereta em Santa Maria Maior da Covilhã em 16 de novembro de 1905, sendo a sua primitiva direção: D. Leopoldina Rato, presidente; D. Ana Ferreira, tesoureira; e D. Maria da Glória M. Ferreira, secretária; e assistente eclesiástico, presidente honorário, o Padre José da Costa Tavares. Esta Sociedade mereceu sempre as bênçãos dos desvalidos e o respeito e a admiração de todos os covilhanenses. No seu último relatório, referente ao ano findo, consigna que além de muitos socorros e subsídios que espalhou, promoveu a realização de 23 casamentos e de 14 batizados, distribuindo 349 peças de vestuário executadas na sua “Casa de Trabalho” de que continuou a dirigir e a proteger o “Patronato feminino”.

Estava fundado o Albergue, recebendo desde logo 14 pobres. Em dezembro do mesmo ano recolhia já 27.

Continuando a afluir os donativos, a Conferência foi alargando o quadro dos seus pobres, sendo já 32, em dezembro de 1902, os sustentados por esta instituição. Desde logo começou a Conferência a empenhar-se por entregar o Albergue às Irmãzinhas dos Pobres porque só elas poderiam dirigi-lo e desenvolvê-lo vantajosamente. Removidas todas as dificuldades, viu a Conferência coroados os seus esforços do melhor êxito, porque em 10 de junho de 1902 chegava à Covilhã um grupo de irmãzinhas que foram recebidas festivamente pela população covilhanense.

No dia aprazado para a sua chegada, sem convite especial da Conferência, eram as boas Irmãzinhas esperadas na estação por numerosas damas e cavalheiros, que lhes oferecendo uma carruagem, as acompanharam até ao edifício do Albergue. O Albergue esteve no princípio instalado numa casa em frente da Igreja de S. Martinho e em seguida na casa chamada dos doutores Grainhas, que então pertencia a esse sobrinho Padre Francisco de Sales B. Grainha, S.J. Foi par aqui que vieram as Irmãzinhas dos Pobres e permaneceram durante mais de dois anos até que puderam comprar aos herdeiros Marques de Paiva o belo edifício, donde as expulsaram em 1910 e onde atualmente se encontra ainda o Albergue. Ali foram aguardadas pelo povo que as aclamou. E entrando na capela, foram surpreendidas pela chuva de flores que caia dos coros.

Cantou-se uma missa solene e o Te-Deum. E em seguida apresentaram-lhes os velhinhos albergados, a quem encheram de carinhos e mimos.

Poucos dias depois da sua instalação, admitiam mais velhinhos, que em breves dias chegavam a 45 e depois quase duplicaram”.

No dia da sua chegada, foi-lhes entregue a quantia de 400$000 – todo o saldo que a Conferência então possuía – pelo seu tesoureiro, Alexandre P. Espiga.

Quando em 1908 se celebraram as Bodas de Diamante das Conferências de S. Vicente de Paulo, havia na Covilhã um Conselho Particular, que já abrangia na sua circunscrição três Conferências: a de Nª Sª de Lourdes, a da Imaculada Conceição, fundada em 19 de março de 1903 e a de S. Pedro inaugurada em 29 de junho de 1905. Em S. Martinho só em 1911 se fundou uma Conferência agregada em 22 de maio desse ano.

Estas Conferências, onde sempre viveu o espírito de S. Vicente de Paulo e a boa doutrina de Ozanam, ressentiram-se, contudo, nas perturbações religiosas e sociais que acarretou o movimento revolucionário de 1910, e em 4 de janeiro de 1920 foi resolvido reunir numa só as 4 Conferências da cidade. Organizou-se nessa ocasião a “Agremiação de Recreio e Beneficência” que no artº. 2.º dos seus estatutos preceitua: “que auxiliará obras de beneficência e caridade na medida da sua capacidade moral e intelectual, tendo sempre um especial carinho para as Conferências de S. Vicente de Paulo.” Nomeou-se então uma Comissão provisória; mas a vida da Conferência continuou débil e precária até maio de 1922, em que se elegeu uma nova Comissão, que procurou dar-lhe alento e desenvolvê-la, e principalmente angariar novos sócios – conseguindo esse desiderato a ponto de em fevereiro de 1924 se poder desdobrar de novo em quatro, correspondentes às freguesias da Cidade.

Foi durante esta gerência que se pensou em fundar um Pavilhão para tratamento da tuberculose anexo ao Hospital.

Se é verdade que cada Conferência tem a sua vida própria, é igualmente certo que se encontram ligadas pelo mesmo laço, o Conselho Particular, atualmente designado Conselho de Zona, que orienta e conjuga os seus esforços, e não podem ser indiferentes, como ramos do mesmo tronco, indicadas na mesma salutar aspiração.

(In "O Olhanense", de 01 de novembro 2021)

13 de outubro de 2021

O MISTÉRIO DOS SONHOS

 

Sempre que me desloco ao Centro Cirúrgico de Coimbra tenho o hábito de folhear a revista Olhares que aquela instituição edita trimestralmente, tendo-me chamado à atenção um excelente artigo da Psicóloga Clínica, Vanda Clemente, especialista em Medicina Comportamental do Sono.

Muito do conteúdo deste artigo dá resposta ao que se passa connosco ao longo dos dias das nossas vidas, entre sonhos como mensagens de inspiração divina, à realização de desejos ou fantasias. Podem ser curtos, longos, a cores ou a preto e branco, estranhos, angustiantes ou engraçados. É, por assim dizer, aquele mistério de sonhar.

Eu que não consigo dormir as horas normais há anos, não deixo de ter sonhos durante o tempo que durmo, recordando-me de vários sonhos repetidos ao longo do tempo, alguns que bem parecem a realidade e que só quando acordo sinto o lenitivo de que se tratava dum sonho. Também já aconteceram aqueles sonhos de pesadelo que ao levantar parece que tinha a Serra da Estrela às costas. Mas isto penso acontecer com todos nós, uns mais que outros.

Segundo aquela Psicóloga Clínica, os sonhos correspondem à atividade mental involuntária que ocorre durante o sono: são imagens, pensamentos ou emoções. As imagens visuais são as mais comuns, coloridas ou a preto e branco, mas também podem envolver sons, odores, sabores e sensações tácteis. Os sonhos podem constituir uma coleção de imagens e eventos ilógicos, incoerentes ou fantásticos, podem organizar-se em histórias reais entre personagens e, por vezes, são mais impressionistas, carregados de emoções.

Ainda me recordo do primeiro sonho que tive ainda no meu primeiro ou segundo ano de vida. Lembro-me de dizer â minha Mãe que me tinham acontecido coisas estranhas durante a noite quando dormia. Foi quando a minha Mãe me disse que isso era um sonho.

“Há um período em que os sonhos são mais organizados (sonhos REM) com sequências progressivas e são emocionalmente mais intensos, com conteúdos fantásticos em que conseguimos proezas fisicamente impossíveis e temos experiências perturbadoras e intrigantes. Mas também há outro período (sonhos NREM) em que os sonhos são geralmente mais curtos, menos nítidos e têm um conteúdo mais coerente e menos emotivo, relacionados com pensamentos ou memórias sobre um tempo e um lugar específicos. Os sonhos tendem a predominar nas horas antes de acordar.”

Porque sonhamos, ao certo ainda não sabemos. Segundo a Olhares, “os sonhos parecem ter um papel importante na consolidação da memória, no processamento das emoções, na reprodução instantânea de acontecimentos recentes, para que sejam analisados, e na limpeza mental, libertando informações desnecessárias.”

Sonhar faz parte de um sono saudável e melhora o funcionamento cognitivo e emocional.  No entanto, os pesadelos podem ter um impacto negativo no sono, pois provocam despertares noturnos.

Já dizia Fernando Pessoa: “Mudem-me os deuses os sonhos, mas não o dom de sonhar”.

Os sonhos permanecem um objeto de mistério e de fascínio e nem sempre foram considerados um produto da mente. Da Antiguidade até hoje, algo mudou na forma de vermos e interpretarmos os sonhos. O sonho foi abordado como objeto de psicologia, pela primeira vez, pelo filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.).

Foi muito mais tarde, principalmente no final do século XVIII e durante o século XIX, que se assistiu ao desenvolvimento de diversas teorias psicológicas sobre os sonhos. Sigmund Freud (1856-1939), médico austríaco, neurologista e psiquiatra, criador da psicanálise, considerava que o sonho é a realidade de um desejo inconsciente, a expressão de fantasias proibidas e reprimidas durante a vigília.

Já Alfred Adler (1870-1937), psicólogo austríaco, defendeu que o indivíduo ensaia, durante o sonho, futuras situações que o ajudam a resolver problemas.

Muito haveria que falar sobre o sonho, e é ainda Fernando Pessoa que, das suas cinco frases universais no livro Mensagem, sobressai que “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”, sem esquecer a Pedra Filosofal, de António Gedeão/Rómulo de Carvalho: “Eles não sabem, nem sonham/que o sonho comanda a vida/Que sempre que um homem sonha/o mundo pula e avança/ como bola colorida/entre as mãos de uma criança”.


(In "Jornal fórum Covilhã", de 13-10-2021)

4 de outubro de 2021

NAQUELAS MONTANHAS DA ESTRELA

 

Uma interessante quão importante descrição da Serra da Estrela na revista Olhares, nº 24, de 2019, leva-nos a transcrever parte deste texto para conhecimento dos prezados Leitores:

“Um cristal de gelo é o símbolo escolhido pelo Parque Natural da Serra da Estrela, tão só porque nos remete para a sua origem glaciar. As suas 25 lagoas ilustram bem essa história que começou a ser contada há centenas de milhões de anos. Ainda não tínhamos nascido, mas o granito que cobre a serra já lá estava.

É preciso entrar no maior vale glaciar da Europa para avistar o único local português onde ainda vive a lagartixa da montanha. Segundo o mosaico que recheia o Parque Natural da Serra da Estrela, hoje classificado de Geoparque Mundial, tem esta caraterística de mosaico diversificado. Para além da neve de inverno, há muitas outras paisagens ali plantadas e para conhecer durante o ano. São assim 325 outras razões para seguir as rotas do turismo da natureza.

A história começou a ser contada há milhões de anos com a formação de uma cadeia montanhosa, hoje transformada na maior área protegida em solo português. A heterogeneidade mora ali, a par com inúmeros ecossistemas ainda naturais. Mas, falar da Serra da Estrela, remete o nosso imaginário para a neve, frio e grande altitude, nem sempre nem nunca, porque o património que aquele Parque Natural acolhe é muito mais vasto.

Como percorrer todo este território é uma escolha individual, a pé, de carro, de mota, a cavalo, de burro ou de bicicleta. Mas, não podemos deixar de sugerir que vá, seja pelos trilhos, seja pela estrada.

Foi por um acidente orográfico que ‘nasceu’ e é esse mesmo acaso que lhe deu toda a multiplicidade de caraterísticas onde se incluem vales percorridos por linhas de água, encostas, planaltos de menor e maior altitude e muitos picos, sendo a Torre o local mais conhecido. Mas, antes de se chegar ao ponto mais alto de Portugal continental (o Pico, na ilha do Pico, é o mais alto), é possível apreciar os vários habitats que sobreviveram e onde ainda se encontram diversas espécies, mas também inúmeras nascentes e cascatas. O Poço do Inferno é apenas um exemplo de uma cascata de visita obrigatória pela queda de água a 10 metros de altura.

Naquelas montanhas da Estrela nascem os rios Mondego, Zêzere e Alva, que ajudam a proporcionar vários habitats típicos de água doce, mas também algumas praias fluviais, porque nem só de neve vive a Estrela. A praia do Vale do Rossim e a Loriga são duas praias fluviais afamadas onde só mergulha gente sem temor ao frio.

A paisagem é alpina, misturada com vestígios de depressões de origem glaciar, que agora acolhem vales, como o Covão d’Ametade. É este mesmo vale glaciar, o maior de toda a Europa, que hoje acolhe o rio Zêzere, povoado nas margens por cabras e ovelhas.

De entre as 25 lagoas naturais, a Lagoa Comprida será a mais famosa e a que atrai mais olhares. Encontra-se no maciço superior da Serra da Estrela e é essa localização que acaba por causar alguma surpresa, ninguém está à espera de encontrar ali, bem no cimo, um lago tão grande, lado a lado com blocos gigantes de granito.

As caminhadas acabam por proporcionar visões impossíveis de detetar ao volante de um automóvel e por isso mesmo a Estrela recomenda os trilhos, como a Rota das Faias, a Rota Glaciar ou a rota das 25 lagoas, entre outras.

Mas, a história da Estrela nem sempre está escrita na pedra. Há outras histórias e vivências para conhecer e essas só se encontram nas aldeias que ainda povoam as encostas. A aldeia do Sabugueiro é a mais conhecida e também a mais alta. Os concelhos de Seia, Covilhã, Manteigas, Oliveira do Hospital e Fundão criaram a Rede de Aldeias de Montanha. Ao longo de 100 quilómetros há muito para descobrir, conhecer e provar.”

O Município de Seia comemora 140 anos da Expedição Científica à Serra da Estrela, conjuntamente com a Sociedade de Geografia de Lisboa, nos meses de setembro e outubro, evocando assim aquela Expedição Científica que se realizou em agosto de 1881. A iniciativa lembra “o pioneirismo e o arrojo de mais de uma centena de homens, que há 140 anos se aventuraram por um território até então pouco conhecido. Um momento ímpar da História da Ciência em Portugal, que permitiu revelar alguns dos segredos da mais alta montanha do território continental, dando a conhecer a Serra nas suas dimensões geográficas, climatérica, orográficas, antropológicas, etnográficas, arqueológicas e médicas”, segundo informação do Jornal terras da beira, de 17-08-2021.


(In "O Olhanense", de 01-10-2021)

1 de outubro de 2021

NO APROXIMAR DO OUTONO

 

Com a chegada do mês de setembro temos o fim do período de férias para a generalidade dos Portugueses. O seu início está relacionado com a reabertura ou reentrada. O mesmo que dizer: o regresso às atividades consideradas normais do dia a dia.

As fortes trovoadas e chuvas que se têm feito sentir nestes últimos dias  assinalam que estamos mesmo muito perto do outono, altura em que este número d’O Combatente da Estrela chegará às mãos dos nossos estimados Associados e Leitores. Certamente já no amarelar e início da queda das folhas das árvores. Todavia esperemos que a lamentável conduta dos CTT, na parte que diz respeito à distribuição do correio, não leve à situação que criaram com o número anterior que chegou atrasadíssimo aos Leitores. Uma morosidade de que este Núcleo da Liga dos Combatentes não teve a mínima responsabilidade.

Setembro é também o mês, este ano, de eleições autárquicas, a acontecerem no dia 26 de setembro. Os dias que antecedem o ato eleitoral serão, certamente, muito agitados, uma vez que há que contar espingardas para o maior número possível de votos.

O orçamento do Estado para 2022 já está na mira dos políticos de todos os quadrantes preocupados com o destino que vai ser dado aos dinheiros da “bazuca”

A propósito de eleições, também o Núcleo da Covilhã da Liga dos Combatentes viu, finalmente, solucionada a formação do seu elenco diretivo, ocorrido no dia 11 e com tomada de posse para o dia 21, a saber: Presidente da Direção – João Cruz Azevedo; Secretário – António José Barbosa Gouveia Franco; Tesoureiro – José Manuel Vicente Matias; 1º. Vogal – José Santos Cassiano; 2.º Vogal – Carlos Alberto Fiadeiro; 1º. Suplente – José Santos Varandas; 2º Suplente – José João Sutre. Na Assembleia Geral e Conselho Fiscal, continuam, respetivamente, o Dr. Afonso Conceição de Mesquita e o Dr. João José Barata Gomes.

Setembro foi ainda o mês em que se comemoraram 20 anos do famigerado ataque às Torres Gémeas – aquela história trágica do World Trade Center. Eram dois enormes arranha-céus idênticos que ganharam o título de edifícios mais altos do mundo quando foram construídos, em Nova Iorque. A 11 de setembro de 2001 um devastador ataque terrorista roubou milhares de vidas e destruiu estes edifícios emblemáticos.

Também neste mesmo mês assistimos à retirada definitiva dos americanos e de outras forças estrangeiras do Afeganistão passando a ficar um país mergulhado num caos com os talibãs. O retrocesso civilizacional está em marcha neste país, apesar dos protestos de mulheres nas ruas, enquanto os Estados Unidos continuam a medir as palavras e a China a encorajar o novo poder. Não há lugar para as mulheres, exceto em casa.

“Vinte anos depois, é possível aceitar que o estado do mundo se agravou nestas décadas inaugurais do século XXI. O ataque a Nova Iorque, a invasão e retirada desastrosa do Afeganistão, a destruição da Síria e a afirmação do Estado Islâmico no Médio Oriente ou sua presença no interior da Europa são sintomas de uma ameaça difusa, sem rosto, traiçoeira e imprevisível, bem diferente do ameaçador mas apesar de tudo entendível ‘equilíbrio de terror’ da Guerra Fria. A dificuldade e o fracasso do ocidente na resposta a esta ameaça agravaram a situação não apenas pela pressão que as migrações estão a causar nas sociedades europeias, mas também pelo sentimento de impotência que perturba a relação entre os cidadãos e os seus representantes políticos”, nas palavras de Manuel Carvalho, in Público.

Ainda este setembro fica marcado fortemente pela morte do antigo Presidente da República, Jorge Sampaio. Foi ele o autor do slogan “25 de Abril, sempre”. Um Homem sem medo e corajoso. Como secretário-geral do PS candidatou-se à Câmara Municipal de Lisboa à revelia do partido, conquistando a mesma em 1989. Como principal adversário, Jorge Sampaio teve Marcelo Rebelo de Sousa. Da campanha ficaram as imagens de Marcelo a tomar banho no Tejo, a guiar um táxi e a limpar a estátua de Eça de Queirós. Sampaio viria então a desagradar à esquerda por ter admitido a solução proposta por Durão Barroso de ir para presidente da Comissão Europeia. Mas por fim dissolve o Parlamento em 30 de novembro de 2004, demitindo Santana Lopes de primeiro-ministro, pondo fim ao XVI Governo Constitucional.

Algumas frases marcaram a vida de Jorge Sampaio: “Não há economia, nem mercado, nem política, nem democracia sem esse cimento de base, a confiança. Não há paz duradoura se a desconfiança minar as relações entre comunidades, povos e nações, se o pacto social for rompido” – Público – 14-11-2016. “Não deixa de ser – e peço desculpa pela expressão – anedótico, não fora o terrível drama humano subjacente, constatar a cacofonia europeia gerada em torno do acolhimento de escassíssimos 40 mil refugiados, agora acrescidos de 120 mil, no universo populacional de 500 milhões de habitantes.” – 09-09-2015. “A crise atual que as sociedades europeias enfrentam não é só financeira, nem económica, nem política, mas é também uma crise de valores, de cultura e de civilização.” – Lusa, 01-06-2012. “Há mais vida para além do orçamento. A economia é mais do que finanças públicas”, discurso na cerimónia comemorativa do 25 de Abril de 2003. “Não há maiorias presidenciais. Serei o Presidente de todos os portugueses. De todos, sem exceção”, discurso da posse, 09 março 1996.

Depois do amanhecer daquela sexta-feira, 10 de setembro, com a notícias da morte de Jorge Sampaio, a comunicação social encheu-se de notícias sobre esta grande Figura, desde “o construtor de pontes em política, um homem feliz com lágrimas”, na pena da jornalista Leonete Botelho, do Público; assim como “Tinha a ousadia de dar respostas inesperadas a perguntas incómodas. As suas palavras eram assertivas, mesmo quando já estava muito debilitado”, segundo Rosália Amorim, do Diário de Notícias.

O que é certo é que Jorge Sampaio nunca se reformou: depois dos holofotes se apagarem sobre si, dedicou-se a causas humanitárias internacionais, primeiro a luta contra a tuberculose, depois combatendo o extremismo na Aliança das Civilizações e desde 2013 presidindo à Plataforma Global para os Estudantes Sírios, de que foi fundador. Na véspera de ser internado com debilidades de saúde que ditaram o seu fim lançava o apelo à solidariedade, desta vez para promover a vida académica das jovens afegãs.

(In "O Combatente da Estrela", nº. 124, OUT/2021)

29 de setembro de 2021

OS COVILHANENSES ESCOLHERAM QUEM QUEREM QUE OS REPRESENTE

 As eleições autárquicas constituem sempre um importante momento de clarificação das vontades das populações. Nestas eleições, escolher um candidato não estava tão dependente das simpatias partidárias, como na generalidade acontece nas eleições legislativas. Outros fatores surgiram como as propostas, ideias e o trabalho já efetuado, para resolver problemas concretos que afetam os territórios onde se inserem, neste caso, o concelho da Covilhã.

Todos os quatro candidatos (eram cinco, mas o do CHEGA nada adiantou, e foi desaparecendo) se confrontaram entre si com nobreza de caráter ainda que em determinados momentos houvesse situações naturalmente um pouco acirradas. O que é certo e verdade, numa noite eleitoral renhida, mas ordeira, aguardaram-se sempre com enorme expetativa os resultados finais. Havia que contar o número de vereadores que poderiam tombar para um lado ou outro, daí se inferindo na possibilidade de poder resultar numa maioria absoluta para a Câmara da Covilhã, na pessoa do presidente reeleito, Vitor Pereira – o que veio a verificar-se, com 46,18% na votação –, ou então com a entrada dum vereador para a CDU, o qual foi pena não ter sido eleito, dada a forte tenacidade de Jorge Fael.

Também Pedro Farromba que efetuou uma forte campanha e se muniu de hábeis pessoas para a sua equipa, conseguiu ser eleito forçando o Partido Socialista a sofrer até quase ao último minuto, já passava da meia-noite. Pode ser, mais uma vez, uma boa contribuição para os destinos que a cidade laneira e universitária bem necessitam. Daí a sua grande influência que teve nos resultados para a Câmara Municipal e nas Juntas de Freguesia.

Quanto ao candidato do movimento independente “Covilhã tem força”, João Morgado, os seus resultados eleitorais ficaram aquém das suas expetativas.

Resta-nos a reeleição de Vitor Pereira, pela segunda vez com maioria absoluta, sinal de que os Covilhanenses também estão atentos ao trabalho efetuado, e não se deixam ludibriar pelos momentos que fazem agitar as águas.

De notar a quantidade de independentes que ganharam para as Juntas de Freguesia, grande sinal de cidadania.

Concluído o ato eleitoral donde emergiram as pessoas que a maioria quis nos representassem nestes próximos quatro anos, para o concelho da Covilhã, haverá tão só o forte desejo de que, religiosamente, se venham a cumprir as promessas feitas, e não se dissipe aquela qualidade de quem não tem nada a esconder – a transparência.

Aceitar os que democraticamente foram a maioria da escolha dos Covilhanenses é uma atitude nobre se também na sublimidade de esquecer as intrigas do passado, na permuta do dar as mãos em prol das muitas tarefas que há a fazer.

Parabéns aos que os Covilhanenses quiseram que subissem ao pódio e também aos que se mantiveram no palanque da seleção deste campeonato autárquico. Compreensão para com os não eleitos.

(In "Notícias da Covilhã", de 30-09-2021) 

"A REAL ASSOCIAÇÃO PROTECTORA DA INFÂNCIA DESVALIDA"


 Esta extinta instituição que depois adotou o nome de Associação Protectora da Infância da Covilhã, mais conhecida por “Asilo”, encontra ainda o seu edifício aparentemente em bom estado, mas desocupado, há anos, onde funcionou um asilo (de duração efémera), fundado em 25 de julho de 1871, e depois uma escola e a primeira biblioteca covilhanense, já lá vão 150 anos. Situa-se na Rua Combatentes da Grande Guerra.

Este edifício que ainda ostenta uma placa no exterior do edifício com a designação da instituição e até uma haste onde se hasteava a bandeira nacional, bem se pode lamentar, e envergonhar, do ostracismo a que tem sido votado por quem de direito.

Foi a minha escola primária, onde entrei, pela primeira vez, em 7 de outubro de 1955, e o meu último professor foi o inspetor Tendeiro que ainda hoje é um grande amigo e ambos colaboramos culturalmente.

Esta instituição, antes da criação da biblioteca municipal que abriu ao público em 1917, tinha numa das suas dependências uma importante biblioteca com a designação de “Biblioteca Heitor Pinto”, tendo sido inaugurada em 1882. Chegou a ser, na altura, uma das mais importantes bibliotecas do País, a seguir a Lisboa, Porto e Coimbra. Destinava-se a servir o público, e por isso se encontrava aberta às quintas-feiras e aos sábados durante todo o dia. Possuía então, nas suas estantes, cerca de três mil volumes, na sua maioria, encadernados. Encontram-se atualmente na Biblioteca Municipal.

O principal fundador desta Associação foi Francisco Joaquim da Silva Campos Mello, Visconde da Coriscada, mas também teve em José Maria Veiga da Silva Campos Melo outro dinâmico fundador não só da Associação Protetora da Infância Desvalida como da Biblioteca Heitor Pinto.

Por razões que desconheço, o valioso recheio para além dos livros que se encontram na Biblioteca Municipal, e que era constituído por documentação, fotografias, e grandes quadros retratando as figuras dos seus fundadores, além de outro material, como o mobiliário da escola, foi atribuído judicialmente à Paróquia de Nossa Senhora da Conceição. Encontrava-se então naquele espaço do conhecido “Asilo” até abril de 2014, após o que, com base num evento cultural ali efetuado, a(s) proprietária(s) do imóvel deu(deram) imediatas ordens à paróquia para que até final do mês fosse retirado todo o material do recheio que não lhes pertencia.

Recordando esse evento, o último na vida daquele imóvel que chora de abandono, foi o facto de no dia 19 de abril de 2014 a paróquia nos ter emprestado a chave para ali podermos tão só fazer uma visita para memorizarmos os tempos da nossa escola primária, com uma minha pequena palestra, onde se encontrava o antigo aluno, fadista, Nuno da Câmara Pereira, a cujo convívio dei destaque nas páginas da comunicação social.

Alguns dos antigos alunos presentes nesse convívio de saudade já não se encontram no mundo dos vivos.

Entretanto, por desejo de quem é proprietário do imóvel, esta atitude nobre ali realizada foi transformada num ato vociferante de despejo do recheio que, felizmente, o acolheu a Santa Casa da Misericórdia da Covilhã.

Que a nova equipa que resultar das eleições autárquicas possa olhar para este imóvel, preservando o que de memória ainda existe e estabelecendo diálogo, se possível, por forma a dar uso ao mesmo, quando há tando coisa a necessitar de espaços condignos.

(In "Notícias da Covilhã", de 30-09-2021)

8 de setembro de 2021

O GRANDE INCÊNDIO DE LONDRES

 

Estamos na época de incêndios, o que já é habitual todos os anos. Na Covilhã ficou na memória o incêndio urbano, por fogo-posto, ocorrido na madrugada de 14 de junho de 1907, que foi conhecido pelo Incêndio da Mineira.

A data de 2 de setembro de 1666 ficaria na história dos ingleses, e do mundo, pelos piores motivos – o Grande Incêndio de Londres.

Em Portugal, governava nessa época D. Afonso VI, que casaria nesse mesmo ano de 1666 com D. Maria Francisca Isabel de Saboia. Também nesse mesmo ano falecia sua mãe, a rainha D. Luísa de Gusmão.

Um ano após sofrer a Peste Negra, Londres foi tomada pelas chamas e perdeu 80% da sua área central. A reconstrução que se seguiu transformou a cidade na capital do mundo.

Era de manhã e a um domingo. Ninguém se deu ao trabalho de dar a notícia ao rei Carlos II, que estava descansando nos seus aposentos do palácio de Whitehall. Não parecia haver motivos para preocupação, uma vez que, como qualquer grande cidade europeia da época, a capital britânica estava acostumada a lidar com pequenos focos, rapidamente apagados com a ajuda da própria população e seus baldes cheios de água. Desta vez, porém, seria diferente. Ao fim de quatro dias, 1800 Km2 da cidade ficaram em cinzas. A destruição de 13200 casas, 87 igrejas, incluindo a primitiva Catedral de São Paulo, e mais de 50 sedes de instituições ou corporações profissionais, portas da cidade e quatro pontes sobre o rio Tamisa, deixou 100 mil desabrigados e 9 mortos. Este episódio ficaria conhecido como acima referido.

Tudo começou na noite anterior, no forno da padaria Pudding Lane, fornecedor de pães à família real. Thomas Farriner fechou o seu estabelecimento que ficava no primeiro andar da sua casa. Eram 22 hora do dia 1 de setembro. Quatro horas depois, foi acordado por um funcionário (que dormia no piso de baixo). Os fornos não haviam sido totalmente apagados, e uma brasa alcançou uma pilha de feno que ficava ao lado. Farriner e a sua família escaparam com vida porque saltaram da janela do andar de cima para a casa ao lado – uma empregada ficou com medo de cair, tentou sair pela porta e acabou por se tornar a primeira vítima deste incêndio. Os vizinhos correram para ajudar a conter o fogo. Tornava-se importante agir com rapidez porque a cidade de Londres ainda tinha ruas estreitas e casas muito próximas umas das outras. Enquanto isso, o oficial da Marinha Samuel Pepys, que morava distanciado um Km dali, foi acordado de madrugada pelo barulho da madeira queimando, mas voltou a dormir tranquilamente. Ao acordar, de manhãzinha, ficou assustado ao verificar que 300 casas estavam destruídas e o fogo já atingia a Ponte de Londres.

Foi Pepys quem se apresentou ao rei com o primeiro relato detalhado dos acontecimentos. Carlos II pediu-lhe que que levasse ao prefeito da cidade, sir Thomas Bloodworth, a ordem para não poupar casa alguma, desde que as chamas fossem contidas. Este demorou a agir. A cidade só teria um Corpo de Bombeiros organizado no século seguinte. Grupos de soldados faziam esse papel em caso de emergência.

As chamas chegaram aos arredores do rio Tamisa, onde havia depósitos de madeira, carvão e azeite. As explosões que se seguiram pioraram um quadro que já era preocupante. O fogo ainda acabaria por barrar o acesso aos dutos de abastecimento de água do rio. Na noite de 4 de setembro chegou a vez da Catedral de São Paulo, construída em madeira e inaugurada no ano 604, tinha ganho três ampliações e uma reforma, iniciada em 1633.

Chocada, a população perdeu a paciência. O relacionamento do povo com o rei de 33 anos não era dos melhores. Foi só quando a situação ficou grave demais que ele mandou seu irmão, o duque de York, com uma tropa para ajudar no combate ao incêndio.

A classe social atingida explica a quantidade de desabrigados, assim como a baixa contagem de vítimas fatais, apenas 9, sem nenhum registo de feridos. É que os ingleses da época não tinham o hábito de fazer atestados de óbito para pessoas mais pobres, o que inviabilizou qualquer levantamento realista do número de vítimas. Por outro lado, o estado em que os restos de muitas casas ficaram indica que famílias inteiras podem ter morrido carbonizadas, sem possibilidade de identificação. O rei fez uma opção conservadora na reconstrução do centro no mesmo formato. Apenas deixou as ruas mais largas, o que reduziu o número de residências reconstruídas. As obras demoraram 50 anos, A reconstrução do centro deu origem à atual City londrina. O fantasma da Peste Negra que assombrava a Inglaterra deste o século XIV, ainda estava presente no momento do incêndio, mas agora as ruas mais largas e as casas mais afastadas entre si proporcionaram uma melhoria nas condições de higiene. Foi o começo de uma era de ouro para a cidade.


(In Jornal fórum Covilhã, de 08-09-2021)

25 de agosto de 2021

AGOSTO - DUAS EFEMÉRIDES PARADOXAIS DA HISTÓRIA DE PORTUGAL

 

Foi no mês quente de verão, em pleno agosto, que se deram dois acontecimentos históricos em Portugal: um de glória, outro de leviandade barbárie.

Entre estas duas vertentes da história em Portugal, muitas ilações se podem extrair para os tempos que vão decorrendo. Dum país, fundado em 1139, com quase nove séculos.

Outros países menos longevos estão na vanguarda. É indubitável que também tivemos sempre momentos e figuras repletas de boas intenções e na têmpera de colocar o país no mapeamento do progresso. Muitos portugueses têm honrado Portugal, em vários domínios, no planeta.

Portugal é o mais antigo Estado-nação da Europa com fronteiras definidas.

No dia 14 de agosto comemoraram-se 636 anos que Portugal venceu os castelhanos na Batalha de Aljubarrota. A peleja decorreu no final da tarde daquele ano de 1385. As tropas portuguesas com aliados ingleses, comandadas pelo rei D. João I e pelo condestável D. Nuno Álvares Pereira, defrontaram o exército castelhano e seus aliados franceses, lideradas por Juan I de Castela. As crises, peste negra e instabilidade política dominavam. Portugal não era alheio à mesma.

Ganhar uma batalha com 6 500 homens do Reino de Portugal contra 31 000 por parte de Castela é deveras notável. Só ao alcance de cérebros como o de D. Nuno Álvares Pereira que soube utilizar as táticas e as estratégias rumo à vitória.

Aquele interregno que se seguiu à morte de D. Fernando – a crise de 1383-1385, terminava e seguia-se um período áureo para a História de Portugal, com a conquista de Ceuta e prosperidade com base nos descobrimentos que se iniciavam.

De Aljubarrota, “… o próprio D. Juan I chega a Santarém, a sua praça fiel, mais morto do que vivo e com as sezões agravadas por uma fuga desesperada. Vai depois num barco que desce o Tejo de urgência e, ao largo de Lisboa, sobe para o navio que o transportou até Sevilha. Com a fina-flor da sua nobreza perdida, com a dimensão do desastre já conhecida por toda a parte, anuncia então o luto profundo em que o reino de Castela mergulhará até ao Natal de 1387”.

Rosália Amorim, no seu editorial do DN, refere que “A 14 de agosto de 1385, Aljubarrota foi palco de uma batalha decisiva para a independência e a construção de um novo Portugal. A 14 de agosto de 2021, é muito oportuno refletir sobre o que nos ensina este confronto militar que opôs portugueses e ingleses a castelhanos e franceses (e vários nobres lusitanos que defenderam o lado de Castela), numa disputa pelo trono português, após a morte de D. Fernando. Hoje, podemos discutir remodelações governamentais (…). Podemos discutir a tática do jogo de xadrez político e como se movem as peças da oposição à direita e à esquerda. Podemos ainda fingir que está tudo bem, neste verão de descompressão social em longo período de pandemia. Mas a história militar, bem como das empresas e organizações, demonstra que, mais do que jogadas táticas, é fundamental definir e aplicar uma estratégia para vencer batalhas a curto e médio prazo. (…) Perante um adversário muito mais poderoso e fortemente armado, venceu o exército de D. Nuno Álvares Pereira graças a visão estratégica, liderança genuína e corajosa, inteligente e eficaz gestão de recursos no terreno, inovação nas técnicas (…). Devemos aprender com lições de história de ilustres portugueses do final do século XIV que inovaram, souberam dar a volta a uma crise sem precedentes (invasão militar, peste negra e fome) e iniciar um novo ciclo que foi o das Descobertas. (…) Com a memória deste grande feito militar na região centro de Portugal continental, devemos olhar para os próximos anos como uma época de novas descobertas (talvez de nós próprios), sem fantasmas ou temores do passado e sempre com olhos postos num futuro mais promissor para o povo português”.

O outro acontecimento paradoxal do texto, é a triste memória da Batalha de Alcácer-Quibir, também surgida no mês quente de verão, do dia 4 de agosto do famigerado ano 1578. O exército português, comandando pelo jovem rei D. Sebastião, que aqui viria a perder a vida, estava esgotado pela fome, pelo cansaço e pelo calor, quando se deu a batalha. O exército marroquino era composto por dez mil cavaleiros e avançou cercando as alas de D. Sebastião pelos flancos. Apesar da sua doença o Sultão Abdal Malique deixou a sua liteira e liderou as suas forças a cavalo. (Também na Batalha de Aljubarrota, o rei castelhano, D. Juan I, fugiu transportado numa liteira, tão debilitado estava. Viria a morrer de peste negra.). O rei de Portugal, D. Sebastião, aos 24 anos, morre na batalha e o seu corpo jamais foi encontrado.

A batalha terminou após quatro horas de combate intenso com a completa derrota dos exércitos de D. Sebastião e Abu Abdallah Mohammed II Saadi, com quase 9 mil mortos e 16 mil prisioneiros, nos quais se incluíam grande parte da nobreza portuguesa. Talvez 100 sobreviventes tenham escapado, com custo, do local da batalha. O exército português foi completamente dizimado.

Entre os prisioneiros portugueses estava D. António, Prior do Crato, assim como o covilhanense Aires Teles de Meneses, Alcaide-mor da Covilhã, que havia servido na Índia e acompanhou D. Sebastião nesta batalha, onde ficou prisioneiro. Foi resgatado e regressou à Covilhã. Encontra-se sepultado na Igreja de Nossa Senhora da Conceição (São Francisco), da Covilhã.

(In "Notícias da Covilhã", de 26-08-2021)

11 de agosto de 2021

A MULHER - QUANDO O SONHO SE TORNA UMA REALIDADE

 

Vivemos momentos do aproximar das eleições para as autarquias em Portugal. O que hoje se fala de paridade no ambiente parlamentar ou autárquico, outrora era uma quimera.

O voto da mulher quase que não existia.

Mas seria duma mulher das Beiras a surgir o pontapé de saída para o sonho. A médica egitaniense, Carolina Beatriz Ângelo, viúva do médico covilhanense (natural de Aldeia do Souto), Januário Barreto, furava as redes pensantes dos homens da altura. Como retrógrados dos tempos bíblicos.

As próximas eleições estão à porta, marcadas para o dia 26 de setembro. Um bom momento para recordar a história de como é que as mulheres conquistaram o direito ao voto em Portugal.

Carolina Beatriz Ângelo foi a primeira mulher a votar em Portugal. Foi em 1911, ano após ter sido implementada a I República que surgiu o primeiro ato eleitoral. Estavam aptos a votar “todos os cidadãos portugueses com mais de 21 anos, que soubessem ler e fossem chefes de família”. Não sendo referido o género, a beirã Carolina Ângelo, médica, viúva, com mais de 21 anos e uma filha menor a seu cargo, dirigiu ao presidente da comissão recenseadora do 2.º Bairro de Lisboa um requerimento para que o seu nome fosse incluído. A 28 de abril de 1911, o juiz João Baptista de Castro proferiu uma sentença histórica ao incluir o nome de Carolina Beatriz Ângelo no recenseamento eleitoral, dizendo: “Excluir a mulher (…) só por ser mulher (…) é simplesmente absurdo e iníquo e em oposição com as próprias ideias da democracia e justiça proclamadas pelo Partido Republicano (…). Onde a lei não distingue, não pode o julgador distinguir (…) e mando que a reclamante seja incluída no recenseamento eleitoral.”

A 28 de maio, Carolina Ângelo dirigiu-se às urnas e votou, sagrando-se a primeira mulher a fazê-lo em Portugal. Uma notícia que se difundiu pelo estrangeiro. No entanto, durou pouco tempo, porquanto três anos depois seria aprovada uma legislação que especificava que somente os homens poderiam votar.

A conduta da médica ginecologista Carolina foi o ponto de partida para uma luta que durou duas décadas. Somente em 1931 as mulheres conseguiram o direito a voto com limitações. Eram elegíveis só as mulheres que tivessem frequentado o ensino superior ou as chamadas “chefes de família”, um termo que englobava “mulheres portuguesas, viúvas, divorciadas ou judicialmente separadas de pessoas e bens com família própria e as casas cujos maridos estejam ausentes nas colónias ou no estrangeiro”. Em 1933 a lei incluía o direito de voto à “mulher solteira, maior ou emancipada, quando de reconhecida idoneidade moral, que viva inteiramente sobre si e tenha a seu cargo ascendentes, descendentes ou colaterais”. Nesse mesmo ano foi dada a oportunidade às mulheres de se candidatarem. Em 1934, três mulheres foram eleitas para a Assembleia Nacional.

Em dezembro de 1968, com Marcelo Caetano na chefia do Governo, o número de votantes foi alargado a todos os que soubessem ler e escrever. Contudo, foi só depois do 25 de abril de 1974 que o direito ao voto se tornou universal em Portugal.

Hoje já se veem mulheres na liderança de empresas, organizações nacionais e internacionais.

Sempre trabalhei com colegas do feminino, e foi na maior parte do tempo, em duas multinacionais, que muitas das mulheres souberam ocupar cargos de chefia.

Portugal tem mais mulheres no Governo e parlamento que a média da União Europeia (UE), segundo dados, relativos a 2020, publicados pela Eurostat (Serviço de Estatística da UE).

O número de mulheres Presidentes e primeiras-ministras na UE também aumentou desde 2004.

Na Madeira, socialistas têm mais mulheres candidatas (seis) a presidente de Câmara do que homens (cinco). O PSD vai a votos com 11 homens. É caso único nos 20 distritos eleitorais.

No meu tempo nostálgico de estudante na Escola Industrial e Comercial Campos Melo da Covilhã, na disciplina de Geografia, a Drª Maria Adelaide Maia ditava-nos apontamentos que passávamos a escrito, sobre os Continentes, os quais ainda preservo como relíquia. Estávamos no ano letivo de 1960/61. A certa altura falou de Ceilão (atual Sri Lanka) e fez uma pequena observação. Este país é agora governado, pela primeira vez no mundo, por uma mulher – Sirima Bandaranaike. E tinha razão. Foi no dia 21 de julho de 1960 que se tornou a primeira mulher democraticamente eleita chefe de governo. Só depois, em 1966, surgiria Indira Gandhi, na Índia.

Nesta altura, aproveitamos para homenagear a Mulher Portuguesa no desporto, na pessoa de Patrícia Mamona que honrou o “país pequeno” ao voar acima dos 15 metros, no triplo salto dos Jogos Olímpicos do Japão, conquistando a medalha de prata.

(In "Jornal fórum Covilhã", de 11 de agosto de 2021)