21 de dezembro de 2017

POIS, MAIS UM FINAL DE ANO

Que raio! Hoje, domingo, dia três do décimo segundo mês do ano dois mil e dezassete, depois de Cristo, não tinha ainda inspiração para um título a dar a este texto. Pensei um, mas, alto lá, pode vir a emanar nalguma errónea interpretação face a crónicas anteriormente publicadas. Outros destinar-se-ão para publicações noutros periódicos.
Não me esqueço duma lição de Língua e História Pátria, que o meu saudoso professor da Escola Industrial e Comercial Campos Melo, Dr. Manuel de Castro Martins, que tem o nome numa das ruas desta Cidade, nos disse, naqueles idos tempos dos finais dos anos cinquenta do século XX: “Quando quiserdes procurar inspiração basta fazer uma pequena viagem e, na tranquilidade de espírito, ela ajudará”.
Estava, então, exatamente na altura de sair à banca dos jornais: o quotidiano Público, onde vou dando uma olhadela pelos meus cronistas de eleição (que, outros, nem transversalmente lhes dou cavaco), leva-me, sempre, a ir lendo, pelo passeio fora, as crónicas mais apelativas. Há uns bons tempos atrás, as primeiras eram as do “fundador” da geringonça – Vasco Pulido Valente – que, nem ele adivinharia o que de transformação iria proporcionar ao País, de tal forma que até o Ministro das Finanças, Mário Centeno, é quase certo (à hora que escrevo estas linhas) como, também, Presidente do Eurogrupo. De facto, como diz Rui Tavares, in Público, “Às vezes, o nosso trabalho mais importante é ver o óbvio. Às vezes, o trabalho mais difícil é admiti-lo. Ver o óbvio parece demasiado fácil. Admitir o óbvio parece demasiado simples. E nós preferimos, por múltiplas razões pessoais e sociais, passar por complexos e difíceis”.
O final do ano, que se aproxima a passos largos, faz-nos emergir nas memórias impensáveis de mórbidas surpresas ocorridas no Portugal de todos nós, como foi o inferno dos incêndios, jamais visto ou algo pensado; isto, paradoxalmente, num país em que uma das grandes riquezas é a floresta, repleto de tamanhos encantos paisagísticos, então transformados numa dantesca panorâmica de cinzas e destruição.
Já antes se haviam realizado as eleições autárquicas, terminando assim o ribombar na vozearia dos prós e dos contras, no óbvio de se aceitar a democracia.
Depois, como todos os anos, nesta peregrinação no planeta, alguns dos nossos e figuras sobejamente conhecidas do nosso País, para só dele falar, deixaram o mundo dos vivos.
É o que me ocorre num pedaço de memória na transversalidade deste ano da graça de 2017.
Voltemo-nos agora, no que se insere no nosso meio, para aquele movimento organizado ou prática de associação de grupos sociais, quer seja na vertente cultural, quer na cívica ou laboral, para defesa de interesses ou de obtenção de objetivos comuns, cuja designação os dicionários registam na palavra associativismo.
Tendo já sido objeto de referências e até debates autárquicos não há dúvida que o Concelho da Covilhã tem o pendor do maior número de agentes culturais de todo o distrito, há muitos anos referido. Daí a responsabilidade de cada instituição, seja ela de que cariz for, se empenhar com ações justificativas da sua existência e manutenção, nas atividades que às mesmas dirão respeito, sempre que possível na criatividade em prol da sociedade onde se inserem.
Não vou falar das muitas existentes neste Concelho, mas tão só deste Núcleo da Covilhã da Liga dos Combatentes, do qual tenho orgulho de ser associado e colaborar no seu órgão trimestral – O Combatente da Estrela. Se, por vezes, podem existir ventos e marés fruto da sua existência, e não da passividade em ações desenvolvidas, sintoma de que há vida e não inércia, há conhecimentos e não ignorância do que por aqui se faz, a realidade resume-se naquela vertente de que a instituição prevalece nos requisitos que urge para se integrar no verdadeiro associativismo.
Basta uma leitura atenta deste periódico para se verificarem as várias atividades desenvolvidas ao longo do ano neste Núcleo, os artigos de opinião de distintos Colaboradores, sem esquecer os Associados, independentemente de serem ou não Antigos Combatentes (alguns não o foram, porque não foram chamados, mas cumpriram a sua obrigação militar), e, mormente, quando se separaram eternamente de nós, pela parte física, porque espiritualmente continuam vivos.
O Núcleo da Covilhã da Liga dos Combatentes continua bem vivo, como atrás referi, e, não só pelas razões referidas, como também por outras ações desenvolvidas ao longo do ano, já sobejamente conhecidas, como, ainda, ter a sua sede aberta, onde, para além de poderem confraternizar, pela manhã ou pela tarde, há sempre um jornal diário, e outros periódicos para leitura.
Se falarmos nas ações do CAMPS da Beira Interior no seio deste Núcleo, podemos verificar quanto valor não tem a sua ação na terapia de acompanhamento psicológico dos associados, e suas famílias, face à perturbação do stress pós-traumático de guerra, conforme já foi referido no último número.
Depois, o associativismo não se faz sem pessoas, quer sejam as da sua massa de associados quer a dos seus dirigentes, estes que são a mola impulsionadora que faz andar a máquina, que a oleia com o seu dinamismo, que lhe incute entusiasmo, que lhe gera criatividade.
Nesta situação, o Núcleo da Covilhã da Liga dos Combatentes tem vindo a ser bem servido, ao longo dos tempos, dos obreiros que conseguem manter a pedra angular desta instituição, entre, por vezes, altos e baixos; pudera, não fossem eles humanos, e, consequentemente, com pontos de vista que podem, por vezes, divergir de parte da construção. No fundo, ao longo dos tempos, todos deram parte do seu esforço em prol do Núcleo, não tivessem eles sido Antigos Combatentes!
Por último, não nos podemos esquecer que quem se encontra ao leme do navio tem a grande responsabilidade de o fazer chegar a bom porto, independentemente de, por vezes, os mares se encontrarem agitados, mas, nesta vertente, é preciso a inteligência de saber procurar as águas tranquilas. O Núcleo da Covilhã sempre soube encontrar esse Comandante e, já lá vão décadas, que o mesmo se encontra a saber encontrar os ventos favoráveis na rota certa.

Porque as palavras já se alongaram, resta-me desejar a todos quantos entraram nesta embarcação, sejam eles dirigentes, associados, colaboradores deste jornal e amigos, da CAMPS-BI, e aos prezados leitores, bem como a todas as suas famílias, os votos de um Santo Natal e um Feliz Ano Novo.

(In "O Combatente da Estrela", nº. 109 - Dezembro/2017)

13 de dezembro de 2017

O VENTO QUE PASSA

Aproximamo-nos do virar de mais uma página da história no planeta, na Europa, em Portugal, no nosso concelho, e no nosso próprio seio, para a contagem de mais um ano deste século.
Pelo mundo, um diabólico vento americano emergindo de um louco Trump, agitou outros ventos entre judeus e muçulmanos. E é assim que Jerusalém, onde já estive por duas vezes, passa de uma certa estabilidade para uma situação belicista, onde a vingança é uma das armas. Na Coreia do Norte, um desvairado líder, qual Nero a incendiar Roma, lança fortes ventos de uma demência de difícil cura.
Os europeus têm-se visto confrontados entre bons, regulares e maus ventos. O divórcio entre o Reino Unido e a União Europeia está a consumar-se. O juiz “Brexit” lá foi conseguindo que os filhos deste matrimónio, agora dissolvido, não fossem totalmente abandonados e, ao invés, selaram um acordo que protege os direitos dos cidadãos europeus que vivem no Reino Unido e vice-versa. O “casal” separado tenta agora alcançar o seu divórcio amistoso por forma a continuarem uma outra amizade. O “companheiro” Donald Tusk não deixa de avisar a sua “ex-companheira”, Theresa May, que “Romper é difícil, mas romper e construir uma nova relação ainda é mais difícil”. E, assim, de ventos de monção que nem são destas paragens nem desta época, mas imaginários, procura-se alguma brisa. E esta, antes que seja um vendaval, só na segunda fase das negociações sobre a futura relação entre Londres e Bruxelas.
Por este retângulo à beira-mar plantado, como aprendi dos tempos da primária, hoje, ensino básico, muitos acontecimentos foram surgindo do primeiro ao décimo segundo mês do ano da graça de Nosso Senhor Jesus Cristo de dois mil e dezassete, como em registos muito antigos assim se referia. Fazer um repertório de muitos dos eventos, e dos desencantos, para além do mais evidente, não caberia neste espaço, e são já do domínio público. Assim como o desaparecimento de figuras públicas, de várias vertentes da sociedade portuguesa, que todos os anos trazem o vento da inevitabilidade.
Apesar de tudo, como refere José Pacheco Pereira in Público, “… ainda me hão-de explicar o que é que tem de fascinante o presente e como é que sabem que o futuro vai ser melhor. Nem o presente é brilhante, o que acontece é que estamos presos nele, temos de viver nele, e nem ninguém sabe o que vai ser o futuro porque a essência da história é a surpresa. Pelo contrário, no passado podemos escolher algum proveito e exemplo, mesmo que saibamos que ele nunca se repete, e se se repete, tem sempre tendência para ser como comédia…”
Mas situemo-nos no nosso Portugal, onde outrora, nas eras quatrocentista e quinhentista, os portugueses se lançaram na aventura dos Descobrimentos, por mares nunca dantes navegados. Como não há mais nada para descobrir, os portugueses continuam na senda das aventuras pelo mundo e, como crentes do seu europeísmo, por este velho continente. É agora por via dos ventos direcionados na integração e união entre os povos, para a Paz Mundial e Direitos Humanos, que aí foi pegar no leme da organização um português e beirão, António Guterres, praticamente no início deste ano, ainda que oficialmente tivesse sido umas semanas antes do final do transato ano; depois, na união económica e política de agora 27 Estados-membros independentes onde já esteve Durão Barroso a presidir à Comissão Europeia (que algumas vezes não passou de joguete de Angela Merkel), agora neste final do ano surge o Ministro das Finanças, Mário Centeno, a ser eleito para presidente do Eurogrupo, dezassete meses depois de Portugal ter sido campeão europeu e sete meses depois de Salvador Sobral ter ganho a Eurovisão.
Pelo concelho da Covilhã outros ventos vinham anunciando transformar-se num furacão para se sobreporem aos ventos que sopravam na região concelhia, mas nem a ciclone chegaram, ainda que, mesmo assim, perspetivem vir aí um tornado. O que é certo e verdade é que os ventos alísios vão predominando em relação aos vendavais anunciados.
É que “O Vento Mudou”, pois “Oiçam, Oiçam, O vento mudou e ela não voltou; as aves partiram, as folhas caíram. Ela quis viver e o mundo a correr prometeu voltar se o vento mudar”, mas isto é tão só na canção de Eduardo Nascimento.
Que outros ventos também podem passar pela “Trova do Vento que Passa”, de 1963, balada do meu antigo colega de profissão, António Jorge Moreira Portugal, já falecido, e de seu cunhado Manuel Alegre, e cantada pelo saudoso Adriano Correia de Oliveira.
Alguns ventos vieram-me trazer o software que por vezes falta no meu hardware, isto porque já ultrapassou mais de dois terços do seu tempo provável de vida. Isto faz-me recordar o velho Galileu Galilei (1564 – 1642) quando alguém perguntou a este importante homem de ciências italiano a idade que tinha, tendo respondido: “Oito ou talvez dez”, explicando imediatamente que, na verdade, tinha apenas os anos que lhe restavam da vida, porque os já vividos não os tinha mais. Assim, há que aproveitar o tempo remanescente.
Aproveito para desejar a todos os meus leitores, amigos, colaboradores deste jornal na sua íntegra, e suas famílias, um Santo Natal e um Feliz Ano Novo.

(In "Notícias da Covilhã", de 14-12-2017)


12 de dezembro de 2017

IDADE DA PLENITUDE

Nada melhor do que ir ao encontro de um grande senhor da nossa cidade, para nos falar da idade de ouro, dos meninos da idade maior, dos nossos seniores, pela grande experiência alcançada ao longo dos anos, também ele, a viver, intensamente, o início da última (supostamente) etapa da vida.
Estou a falar, como calculam, do Senhor João de Jesus Nunes.
“Se há alguém que não receie a idade, sou uma dessas pessoas e até detesto quem é rotineiro do nada fazer após uma aposentação, salvo os casos de incapacidade por doença”, palavras do nosso anfitrião. Diz mesmo que se a vida teve um princípio, um dia terá o seu fim. É por isso que continua a viver cada dia, com as ocupações que lhe dão prazer (e são muitas), desenvolvendo atividades, escrevendo para a posteridade os seus brilhantes saberes, integrando equipas de ação diversa, contribuindo para a melhoria da nossa sociedade e do bem-estar dos que entram no grupo etário sénior.
O nosso amigo João, que dispensa quaisquer apresentações, homem simples, invulgar e dotado de um enorme coração pleno de sensibilidade e de amor ao próximo.
A sua vida, cuja história está ainda por contar, tal a sua riqueza de conteúdo e de saber, serve de exemplo ao mundo. E é por isso que, chegado a esta idade não escamoteia nem nega que esta é a idade da plenitude, do amor, da compreensão e do ensinamento.
Tem uma noção muito completa do que é e deverá ser, a idade maior daqueles meninos que já tudo fizeram para contribuir no desenvolvimento e engrandecimento do país, mas e também, para gerar família e, com isso, trazer ao mundo novos mundos de técnica e sabedoria.
De acordo com o que nos refere o nosso amigo João, “… é indubitável que no avançar da idade o organismo humano sente mudanças físicas que alteram as suas funções. Daí também mudanças nos seus comportamentos, pensamentos, sentimentos, e, obviamente, nas suas ações e reações. Deste estado, por vezes nalgumas pessoas leva-as a incapacidades que originam na própria família impossibilidade de manter condições de tempo, meios de atendimento do seu familiar e disponibilidades financeiras, para do mesmo se ocupar…”
Salienta ainda que “… somos o 7.º país mais envelhecido do mundo e, lamentavelmente, o que nos dói, é que 40% dos portugueses com mais de 65 anos passam oito ou mais horas por dia sozinhos, numa solidão desmedida, mesmo nalguns lares. E a Covilhã não é exceção. Que o digam as Conferências Vicentinas…”
A sua preocupação é bem patente, no que concerne ao bem-estar e qualidade de vida dos nossos seniores. De tal forma que:
“Envelhecer é redescobrir uma vida nova em cada dia.”
“A pessoa, nesta fase da vida, nasce novamente para uma vida cercada de surpresas, pronta para lhe garantir novos dias em vários campos.”
“Ainda que seja a época do aparecimento das doenças, por vezes mais invulgares, torna-se essa uma fase onde as emoções podem emergir muito mais facilmente.
Aproveitar a Idade da Plenitude ou Terceira Idade, como lhe queiram chamar, mas não de velhos ou idosos, é saber o valor de cada momento que se vive, seja antes, durante ou depois. Entender que tudo isto tem uma hora e, consequentemente, cada hora tem seu brilho.
Temos que compreender que, para não envelhecer, só morrendo jovem. Seria melancólico não poder conhecer o mundo em toda a sua grandeza, de eternizadas experiências ao longo da nossa vida, até ela chegar à sua plenitude.”
Como voto de coragem para todos, mas, em particular, para os que ainda acreditam no amanhã e, acima de tudo, nos nossos gestores políticos locais, deixa-nos este grito de glória, como exemplo a seguir.
“… tão só para deixar registado que, graças a Deus, o sentimento que vai na minha alma é de ter deixado tudo fora das gavetas, as tarefas executadas, ao longo da minha vida.
Ter dado a conhecer aos outros, para a atualidade e, eventuais vindouros interessados, tudo o que vou fazendo, sim com esforço, mas com muita dedicação e carinho, desde o mais de meio milhar de crónicas e textos de opinião em mais de duas dezenas de jornais regionais e alguns nacionais, aos livros que vou escrevendo (atualmente 10 já escritos), à memorização de eventos, factos e figuras de que as gentes da nossa gente tanto gostam, orgulha-me.
Tive o prazer de ter influenciado positivamente decisões por virtude de criatividade do pensamento, daí resultando a participação ou integrando, por convite, em algumas conferências ou debates, bem como o sucesso em duas grandes exposições temáticas que proporcionei à cidade.
Se algo posso ter dado de conhecimento, mais como autodidata, tenho a humildade de reconhecer que todos os dias tenho aprendido com todos, nos gestos e atitudes de quantos se cruzam comigo no caminho do quotidiano. E os que mais me ensinaram, e continuam a ensinar, são exatamente os pobres e os mais modestos.”
Homem de confiança, acredita que é possível elevar as sensibilidades do nosso município, na pessoa do seu Presidente Dr. Vitor Pereira, alcançando objetivos que, num passado recente, chegaram a ser uma realidade comprovada e amplamente testada.
E a sua alegria de viver, leva-o mesmo a referir que: “Se por vezes me manifesto como um pessimista, por coisas que vão surgindo, quer no planeta, quer neste país, quer ainda na minha terra – a Covilhã, paradoxalmente sou mais um otimista, pelas várias facetas da vida e uma delas é a “idade da plenitude”, ou seja, aquela que eu considero como designação mais correta, ao invés das que, oficialmente, se designam de terceira idade (aliás já existe uma quarta idade segundo alguns geriatras, ou seja, entre os 78 e os 105 anos), e também de velhice ou idoso.”
Preocupa-o ainda que:
“A velhice tenha deixado de estar associada a uma incapacidade para trabalhar para ser entendida como uma “inatividade pensionada”, ou seja, que a generalização dos sistemas de reforma tenham contribuído para que todas as pessoas, a partir de uma determinada idade, ficassem “dispensadas” de trabalhar, independentemente da sua capacidade para realizar trabalho.
Os receios agora também existem nos dados demográficos, pois segundo o Eurostat, Portugal é o quarto país da Europa onde a população com 65 ou mais anos depende mais da população ativa, com uma relação de 29,6% acima da média europeia. E confirma-se, assim, a tendência de diminuição da natalidade e do aumento de esperança de vida no país, nos últimos vinte anos.”
Por fim, sendo dispensável para a maioria, é bom que a nossa juventude saiba quem é este Senhor com H grande. Trata-se de:
João de Jesus Nunes, 71 anos, casado, pai de dois filhos e avô de quatro netos. É natural de Vila do Carvalho e residente na Covilhã desde os 9 anos. Estudou na Escola Industrial e Comercial Campos Melo onde tirou o Curso Geral do Comércio. Aos 17 anos empregou-se na Câmara Municipal da Covilhã, depois de, efemeramente, ter passado por uma firma comercial desta cidade, agora extinta.
No cumprimento do serviço militar obrigatório, tirou o curso de Sargentos Milicianos.
Partiu, depois, para o Soito – Sabugal, onde, durante um ano foi empregado de escritório duma empresa de refrigerantes, também já dissolvida.
Surgiu-lhe uma oportunidade, na Covilhã, para gerente da Companhia Europeia de Seguros, onde permaneceu durante 20 anos, até que, sequencialmente com a Liberty Seguros, passou a trabalhar por conta própria, como empresário, até que chegou a hora da aposentação.
Que brilhante exemplo para a posteridade, que extraordinária história de vida.
BEM-HAJA, SENHOR JOÃO DE JESUS NUNES.

“OS MENINOS DE ONTEM”, por António Rebordão


(In “fórum Covilhã”, de 12-12-2017)

ABOMINAÇÃO OU ACEITAÇÃO

O ano em curso aproxima-se do seu ocaso. Há sempre o alfa e o ómega. Ao longo deste ano surgiram muitas coisas nas nossas vidas, nos nossos espaços de ação, no nosso País, com destaque para as grandes catástrofes dos incêndios, com mais de uma centena de mortos, que grassaram no território português, e, para mal dos nossos pecados, ainda uma seca severa nos veio atormentar. Mas também houve coisas importantes a abonar a favor de Portugal, e, como referiu o diário espanhol El País, “Portugal ‘transmite paz’, e os seus diplomatas elevam esse valor de sossego ao seu trabalho nas sombras dos grandes poderes”.
Como inicialmente referi, se há um princípio também há um fim. Este pode vir mais cedo ou mais tardiamente, quando menos se pode esperar. Assim aconteceu, também este ano, com figuras sobejamente conhecidas dos portugueses, de várias esferas da sociedade.
Vou falar de outros acontecimentos que vão surgindo, como o celibato dos sacerdotes. Em novembro correu por toda a comunicação social a situação do padre do Funchal Giselo Andrade, que em agosto foi pai e assumiu a paternidade. Discutiu-se a sua situação, de poder ou não continuar a ser padre. O cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, admitiu que não tem que abandonar o sacerdócio “desde que cumpra o celibato”. O cardeal disse ainda que estas situações são tratadas pelo respetivo bispo, até porque “todas as dioceses são autónomas”. Já Frei Bento Domingues, in Público, diz que a Igreja só está “com este problema ridículo às costas porque recusa discutir o fim do celibato eclesiástico”. Ainda sobre o problema da sexualidade, a teóloga Teresa Martinho Toldy refere se “não será legítimo perguntar o que pretende a Igreja fazer relativamente a padres e bispos que sejam homossexuais?” Na realidade, para além de casos sobejamente conhecidos, outros, supostos, de há muito tempo, foram notícia, em 2013, como a homossexualidade do bispo português D. Carlos Azevedo que se encontra em Roma, confirmado num dos canais da televisão pelo falecido padre Carreira das Neves.
Na diocese da Guarda surgiu a situação do ex-vice-reitor do Seminário do Fundão, padre Luís Mendes, que foi condenado a dez anos de prisão pelo abuso sexual de menores. Neste caso de pedofilia, o bispo da Guarda, D. Manuel Felício, sempre tentou proteger este padre. Será que o mesmo continuará a exercer o sacerdócio após cumprir a pena?
Há cinco anos, um amigo pediu-me para investigar algo sobre seu avô, padre Manuel António Rodrigues Mouta, que fora capelão da Igreja da Misericórdia na Covilhã. Quando o padre Mouta visitava frequentemente as suas duas filhas (nascidas em 1913 e 1915), criadas pela família ligadas ao sacerdote, fazia-se passar por padrinho. Nos documentos das suas filhas surgia a designação de “pai incógnito”. Face a esta situação, decidiu apresentar o seu caso ao bispo da Guarda, pedindo a sua resignação de padre, a qual lhe foi negada pelo bispo. Retirou-lhe, entretanto, a possibilidade de celebrar a Eucaristia. Foi colocado como capelão do hospital da Santa Casa da Misericórdia, sem esta função litúrgica. “Era, para ele, um ato de humilhação pública, não podendo celebrar missas, era também, a nível pessoal, um castigo”. Consta ainda que, à altura, esta conduta para com o padre Mouta foi mal recebida na Covilhã porque era muito querido das pessoas. Que a população se organizou e fizeram uma manifestação na Guarda na tentativa de falar com o bispo da diocese. Perante esta pressão dos covilhanenses, o bispo reconsiderou e o padre Manuel Mouta voltou à Igreja da Misericórdia, sendo que um dos seus pontos que o destacava ainda mais era, na Sexta-Feira Santa, a impressionante voz para os cânticos do Enterro do Senhor, vindo gentes de todo o lado para o ouvir.    
Após aturadas investigações e, conforme atas das sessões da mesa administrativa da Santa Casa da Misericórdia da Covilhã, foi constatado que o padre Manuel Mouta foi nomeado interinamente capelão desta instituição em 13/12/1935, tendo sido mais tarde coadjuvado, face ao seu estado de saúde, e, depois substituído, interinamente, pelo padre José Mendes Pina, em 31/07/1944. Pela ata de 26 de março de 1945, desta Santa Casa da Misericórdia, dava-se conhecimento do falecimento do padre Manuel Mouta, ocorrida na madrugada do dia 21, “num quarto particular do hospital para onde tinha sido transferido da sua residência particular (…) e assim morreu, rodeado dos desvelos das reverendas irmãs (…)”.
Depois, o Notícias da Covilhã enaltecia as qualidades do sacerdote e enfatizava as notícias sobre o seu falecimento.
Só que o padre Manuel António Rodrigues Mouta foi pároco de Nª Sª da Conceição, de 1932 a 1933, sucedendo a provável seu irmão, padre João Rodrigues Mouta, que exerceu também ali o seu múnus, de 1899 a 1932. Sucedeu ao padre Mouta, o padre José de Andrade, ainda muito recordado, de 1933 a 1968.
Isto equivale a raciocinar que, durante duas décadas, o padre Mouta terá conseguido encobrir a sua paternidade ao bispo.
Sobre o assunto do celibato clerical muito haveria a dizer, mas o espaço não o permite. Existem muitas contradições, mas o que é certo é que ele já vem desde longa data. Vejam-se, por exemplo, o que dizem os vários Concílios: Concílio de Elvira, do ano 303 a 324 – O Concílio produziu um conjunto de cânones (regras) que regulam variados aspetos da vida cristã, como o celibato clerical. Primeiro Concílio de Niceia, no ano 325: Cânone I – Eunucos podem ser recebidos entre os clérigos, mas não serão aceites aqueles que se castram. Cânone III – Nenhum deles deverá ter uma mulher em sua casa, exceto sua mãe, irmã e pessoas totalmente acima da suspeita. Cânone IX – Quem quer que for ordenado sem exame deverá ser deposto, se depois vier a ser descoberto que foi culpado de crime. Segundo Concílio de Latrão, no ano 1139: Cânone 4 – Injunção contra os bispos e outros clérigos para que não provoquem escândalo ao vestir roupas muito ostensivas e recomendando que se vistam modestamente. Cânones 6, 7 e 11 – Repetiram a condenação do Primeiro Concílio de Latrão sobre o casamento e o concubinato entre padres, diáconos, subdiáconos, monges e freiras. Cânone 27 – Freiras foram proibidas de cantar no mesmo coro que os monges. Terceiro Concílio de Latrão, no ano 1179: Cânon 11 – Proibiu os clérigos de terem mulheres em suas casas ou visitar conventos de freiras sem um bom motivo; declarou que os clérigos casados perderiam seus benefícios; e decretou que os padres que praticarem a sodomia deverão ser depostos de seus cargos e fazer uma penitência – enquanto que leigos serão excomungados. Quarto Concílio de Latrão, em 1213: Cânones 14-18: Regras de conduta do clero, proibindo e combatendo a vida não celibatária, embriaguez, frequência a tabernas, caça ou participação em combates. Concílio de Trento, de 1545 a 1663: emitiu um decreto sobre o celibato clerical. Seguiu-se o Vaticano I.
Fica assim, uma reflexão sobre este importante tema.

Votos de um Santo Natal e um Feliz ano 2018


(In "fórum Covilhã", de 12-12-2017)

15 de novembro de 2017

FÓRUM DO ASSOCIATIVISMO

Com muito agrado li a notícia no número de 9 de novembro, do Notícias da Covilhã, sobre a pretensão do Município na recolha de contributos para a elaboração de um regulamento, a aprovar em 2018, definindo a atribuição dos seus apoios às agremiações do concelho.
Que efetivamente o fórum do associativismo se realize, e se prepare, com rigor, daí saindo prescrições para quem pretenda levar o associativismo a sério, e não mais a existência de uma associação ou coletividade de fachada, sem ações em proveito dos associados e demais populações covilhanenses interessadas.
É na realidade o concelho da Covilhã que detém o maior número de agentes culturais do distrito, considerando os mesmos inseridos em quase três centenas de associações e coletividades de todo o Concelho.
E a sua longevidade é assaz importante, pois muitas delas, várias já centenárias, tiveram origem no operariado dos lanifícios, outras das agremiações patronais, outras ainda do desejo de também se inserirem na locução latina mens sana in corpore sano, onde o desporto, principalmente na vertente do futebol, teve um manancial de alegrias que levou o nome da Covilhã bem alto para além das suas portas.
Uma palavra de apreço para a proposta do vereador da oposição, Adolfo Mesquita Nunes, que deu origem a esta decisão, e acrescenta para “uma maior eficácia e transparência”, palavra que muitos dirigentes não gostam de ouvir. Penso que já o anterior vereador da oposição, José Pinto, havia também tomado posição nesta desejada conduta.
Em nenhum momento se pode ver o Município a despejar dinheiros pelas várias associações e coletividades, sem ter a certeza, sob comprovativos, ainda que em futuro imediato, de que os mesmos vão servir para causas em prol da sociedade, por que as mesmas associações e coletividades têm o dever de contribuir, nas várias formas por que se geraram; tão-pouco para
cobrir despesas com as suas sedes, sem um real sentido do mesmo ser bem empregue.
Muitas coletividades houve que outrora foram referência na Covilhã, e tiveram iniciativas inéditas, depois continuadas por outras ainda vivas, mas hoje já não existem, não deixando, contudo, de ser memorizadas, e, nalguns casos, celebradas as suas efemérides.
As gentes que nos anos 50 e 60 eram jovens e se envolviam no dirigismo citadino e concelhio, vivendo as agruras da vida e sem os meios de distração de facilitismo como os de hoje, sentiam prazer na reunião em redor dessas associações e coletividades, e trabalhavam com afinco. No tempo presente, em idade de reforma, muitos veem mais o associativismo como um meio de aproveitar muitas das coletividades transformadas em autênticas agências de viagens que, mal acaba uma já está outra no seu seguimento, levando alguns associados a sentirem-se preteridos porque já não foram a tempo de se inscreverem no quase secretismo. Outras, tão só para manter o seu bar aberto.
Hoje, falta aquela vontade indómita para inovar, gerar ideias, retirar das gavetas e dos sótãos o
que pode ser visto, em iniciativas várias, pela sociedade. Poder-me-ão dizer que a Cidade já tem museus, teatro, cafés acolhedores onde também se passam momentos culturais, ranchos folclóricos, vários escritores. Mais uma razão para que as associações ou coletividades se embrenhem na inovação, no acarinhar os associados, no desempenho das missões que lhes cabem.
Reconhece-se que, nos dias que correm, é mais fácil, face às comodidades e facilidade existentes, fruto da modernidade, passar mais tempo com a família, sossegados, que inserir-se no dirigismo associativo; mas tudo depende como se abordam para projetos para o bem-comum, deixando o lugar a outros menos saturados, porque há sempre ideias inovadoras, há sempre a possibilidade de juntar juventude a mais experientes. Não é fácil, mas é possível. Então por que estão cada vez mais a surgir eventos nostálgicos dos tempos de outrora?
Não tem qualquer sentido manter os mesmos dirigentes anos sem fim, sem renovação, muitas vezes com a desculpa da apatia dos restantes associados quando não se contribuiu para os acarinhar, e, nalguns casos, com a formação elitista de grupos no seio dessas associações.
Cada vez se vê mais o surgimento de escritores e alguns poetas nesta Cidade. Importante. Mas, para além da apresentação das suas obras, deixou de se ver um encontro de escritores nacionais, para além dos convidados em “cafés literários”. Na minha secretária tenho uma separata do quinzenário O Olhanense dando grande destaque ao III Encontro Internacional Poesia a Sul, de Olhão 2017 (3 a 12 de novembro). São 55 poetas (portugueses, espanhóis, cubanos, irlandeses, marroquinos, chilenos, turcos, brasileiros, mexicanos, porto-riquenhos, da República Dominicana, venezuelanos, holandeses, australianos, vietnamitas; de médicos a advogados; de professores universitários a pintores e artistas plásticos). O organizador, olhanense Fernando Cabrita, advogado e poeta, tem o apoio da Câmara de Olhão. Um evento verdadeiramente notável, que já vai na sua 3ª edição.
Com o desaparecimento recente do saudoso bispo, D. Manuel Martins, recordo um evento cultural importante quando presidi a uma associação cultural e recreativa da Covilhã, no dia 17 de junho de 1995. Foi então ele, a quem me dirigi, que me indicou um grupo de timorenses que depois vieram à Covilhã atuar e proporcionar uma excelente exposição temática sobre Timor, contribuindo assim para uma tomada de posição a favor da ajuda ao então massacrado povo maubere, antes da independência.  

Uma casa que não apresenta obras, ainda que tenha poucos associados, não merece ter as portas abertas, ao sabor dum apoio que sai do bolso dos munícipes.

(In "Notícias da Covilhã", de 16-11-2017)

14 de novembro de 2017

A FERRUGEM

Umas cervejas no Celso. Acompanham umas moelas ou umas palitadas. E, vai daí, o tempo que passa vai desenferrujando a língua com o José Augusto, e outros de companhia ou de ocasião. Por vezes, o telemóvel vem desassossegar. Ou interromper a conversa da ferrugem que por aí vai grassando: no país, na região, no nosso meio.
Até se fala da oxidação que, imaginados bem-falantes desta terra, vão deixando nas redes sociais; pensando que os seus escritos no Facebook estão providos da “solarine” que limpa as suas palavras ferrugentas, como metais, mas de grossos erros ortográficos, de pontuação, de iliteracia. Como sói dizer-se: de caixão à cova. Mas surgem imponentes no meio social, sem vergonha. Qual quê? Os ensinamentos não foram o suficiente, os cuidados com o oxigénio e a água foram poucas. Resultado: a ferrugem!...
Mas, atenção, é que o trigo está mesmo a ser ameaçado pelas ferrugens de todo o mundo. Em Portugal, esta doença fúngica – ferrugem-negra-do-trigo – não ocorre com frequência, mas a Península Ibérica já sofreu uma epidemia de ferrugem-amarela-do-trigo, que também afeta este cereal. É uma ameaça à produção de alimentos e aos meios de subsistência de pequenos agricultores. Já em 2013 e 2014, Portugal havia sofrido uma epidemia causada por uma outra estirpe de ferrugem-amarela. A FAO já alertou para a necessidade de vigiar os países da Europa e do Norte de África, para se evitarem epidemias das ferrugens do trigo.
Mas, um outro tipo de ferrugem aconteceu, melhor, foi retirada, volvidos cem anos, do soldado João Ferreira de Almeida, condutor do Corpo Expedicionário Português, fuzilado aos 23 anos, em 1917, em teatro de guerra, julgado incorretamente por traição à Pátria. Foi agora reabilitado o último condenado à morte, como militar, pelo Estado português, permitindo a reintegração entre aqueles cuja memória é recordada nas cerimónias da evocação da 1.ª Guerra Mundial, revelou o Conselho de Ministros, em comunicado recente (O Combatente, setembro 2017).
A este respeito, é oportuno recordar que foi há 150 anos que Portugal dava o exemplo que a Europa iria imitar. Em 1867, o rei D. Luís oficializava a abolição da pena de morte, tornando Portugal o primeiro grande Estado europeu a fazê-lo. O último condenado, assim como o padre que o confortava, acabariam por morrer no dia 16 de março de 1842, ou seja, 25 anos antes da abolição da pena de morte, face à “ferrugem” que não largava a sentença da justiça dos europeus em situações consideradas mais graves. Mostrava-se, assim, que este tipo de acontecimento já chocava a população portuguesa e estava abolida na consciência social. Eram uma hora e um quarto daquela data, segundo o Diário de Lisboa, em 1922, quando estava o condenado Matos Lobo, de frente para o rio Tejo com a corda ao pescoço, preparado para a sentença que lhe fora aplicada, quando se dá “um incidente singular”, segundo relatam cronistas da época. “O prior de Marvão procura reconfortar o condenado, mas, subitamente, cai morto. Fulminado por uma apoplexia. Eleva-se um grande clamor na multidão e o corpo do sacerdote é imediatamente retirado na cadeira onde viera o condenado” (Público, de 24/4/2017).
Quem das palavras se desenferruja, e se abrilhanta nos afetos, é o presidente Marcelo, contra o populismo. Que, lá isso da oxidação, não se consegue livrar Sócrates, acusado de mais de 30 crimes. Vejamos nesta que foi a construção de uma rede de influências até às mais altas instâncias do Estado, sem que houvesse qualquer mecanismo de controlo capaz de detetar e eliminar em tempo útil a ferrugem que já se ia acumulando, como a nomeação de gente sem currículo para a administração da CGD. E não havia ninguém no Governo, na própria imprensa, na oposição ou na procuradoria que as conseguisse deslindar.  E, segundo Pacheco Pereira, “o mundo é hoje mais perigoso do que era porque a qualidade dos que mandam baixou significativamente”.
Para algumas gentes além-fronteiras, mesmo as já inexistentes, Portugal ainda não é conhecido, imagine-se! O português mais conhecido no mundo continua a ser um jogador de futebol. Sou testemunha disso, por duas vezes, em Israel, quando nos perguntavam, quer judeus, quer palestinianos, donde éramos, e referíamos o nome de Portugal, encolhiam os ombros. Ao falar no Cristiano Ronaldo, esse era, num ápice, sobejamente conhecido. Sem pensamentos enferrujados!...
E não é que a sonda da NASA, Cassini, depois de recolher dados na órbitra de Saturno e enviado
imagens inesquecíveis dos seus anéis e luas, durante 13 anos, se despediu em definitivo, destruindo-se, em 15 de setembro deste ano, depois de em 15 de outubro de 1997 ter partido da base espacial de Cabo Canaveral, na Florida (EUA) em direção a Saturno. Não oxidou, cumpriu a missão que lhe destinaram.

Não falarei mais de ferrugem, mas agora só de lixo. Portugal já não é “lixo”. Volta aos mercados e paga taxa mais baixa da História a 10 anos, e com o desemprego do terceiro trimestre deste ano a descer para 8,5%. O que é preciso é sair do “lixo” e não continuar sujo. “Que se lixe o lixo”, assim eu me referi numa crónica em 13-07-2011, e, como já o mandámos às malvas, e para o rating que os parta, depois de cinco anos e meio enferrujados (lá voltei eu, desculpem!...), vamos estar atentos e conscientes da missão que nos cabe de podermos passar a ser europeus de primeira, e não sulistas de segunda. Termino, com as palavras de Carlos Pereira da Silva, in Público, de 18 de setembro: “Porque será que a mesma qualidade de povo, quando emigra, se torna miraculosamente produtiva? Lá fora somos bestiais, cá dentro somos bestas!”.

(In "fórum Covilhã", de 14-11-2017)

9 de novembro de 2017

FEIRA DE SÃO MIGUEL – NA COVILHÃ E EM LISBOA

A Feira de S. Miguel realiza-se no Tortosendo-Covilhã, no dia 29 de setembro, desde os tempos ancestrais. Há já alguns anos que a Casa da Covilhã em Lisboa, com o apoio das Câmaras Municipais da Covilhã e da capital, e Junta de Freguesia dos locais do evento (desde há dois anos com a de Alvalade), organiza uma réplica da mesma. Este ano realizou-se no domingo, 29 de outubro, no Mercado de Alvalade.
Para além dos nossos produtos regionais, também o folclore e as tradições são e foram presença em Lisboa, neste evento. Mas a maior, a que trás calor ao nosso âmago, e faz transbordar de alegria os corações dos covilhanenses, é o encontro de amizades nostálgicas, de familiares ou amigos que ali se radicaram, alguns com várias décadas longe das vistas dos que optaram por se manter nas faldas da serra; de semblantes já alterados pelas vicissitudes do tempo, mas de almas reconfortadas, num lenitivo momentâneo da saudade. São as gentes da nossa gente.
Mas outros há, os bons amigos, que se tornaram verdadeiros covilhanenses pelo coração, na Manchester Portuguesa, há muito Cidade Universitária; de passagem efémera ou mais prolongada; que, depois, deixaram à mesma muito do seu labor em várias vertentes na sociedade covilhanense, como nos lanifícios, nos serviços, ou por via do maior embaixador da região – o Sporting Clube da Covilhã (SCC).
É de louvar o entusiasmo, e calor emanado dos dirigentes da Casa da Covilhã, na forma como organizaram os vários serviços, acolhendo os forasteiros e locais, proporcionando assim momentos inolvidáveis passados na capital. Dessa simpatia do acolhimento é responsável o seu Presidente da Direção, Manuel Vaz Rodrigues, e todo o seu séquito de colaboradores.
Desdobrei-me no abraço a alguns que há décadas não via, como os irmãos Mouta, e outros, proporcionado, em parte, pela exposição que o Miguel Saraiva ali levou a efeito, sobre o seu livro “História do SCC”. Foi assim o recordar figuras dos leões da serra, através dos seus familiares, como as filhas do guarda-redes António José, já falecido; ou da simpática quão amável Regina Livramento, filha do Fernando Cabrita e viúva de António Livramento. Dos vivos, os cumprimentos efusivos aos antigos atletas serranos: Germano, Jorge Tavares, Coureles e Palmeiro Antunes. Este último, desde que saiu do SCC nos meados da década de 60, ainda não se tinha encontrado comigo. Num ápice, a minha pergunta: “Recorda-se daquele golo que marcou no Santos Pinto, ao Zé Maria, da Cuf, para a Taça de Portugal, passando-lhe a bola por debaixo das pernas, tendo ele depois vindo cumprimentá-lo?” Recordou-se perfeitamente. Como Palmeiro Antunes veio da CUF para o SCC, era também amigo do Zé Maria. Tem agora 81 anos e aquele encontro para a Taça de Portugal realizou-se na tarde do domingo de 26 de novembro de 1961, ou seja, há quase 56 anos!... O Sporting da Covilhã, então a militar ainda na I Divisão Nacional, foi eliminado pela CUF porque perdeu os dois jogos (na Covilhã, por 2-1; e no Barreiro, por 3-2, jogo este realizado no último dia do ano 1961). Já na época anterior, também ainda na I Divisão, o SCC havia sido afastado da Taça de Portugal, pelo Olhanense, da II Divisão, com os resultados de 1-1, na Covilhã; e 3-1, em Olhão. Ainda não havia a utilização dos cartões amarelo e vermelho, e, muito menos, o vídeo-árbitro…E, o campo, era pelado.
Já perto do final do evento, o entusiasta da organização da Casa da Covilhã, José Rodrigues, dá-me a conhecer a presença do covilhanense Simões David, com quem convivi na Covilhã, então integrando uma instituição de solidariedade social, na década de 60. A partir daí, nunca mais o havia encontrado. Era filho do antigo jogador do Montes Hermínios, Francisco Teixeira David.

São estes momentos de saudade por que vale a pena dar continuidade a este evento da Casa da Covilhã. Animaram o mesmo, grupos de bombos e cantares do Concelho da Covilhã. Estiveram presentes ao ato, e visitaram e pronunciaram algumas palavras, para além do Presidente da Casa da Covilhã, já referido, também o Presidente da Junta de Freguesia de Alvalade, o Presidente da Câmara Municipal da Covilhã e o Vice-Presidente da Câmara Municipal de Lisboa.

(In "fórum Covilhã", de 07-11-2017 e "Notícias da Covilhã", de 09-11-2017)

25 de outubro de 2017

COMO EU VI A TOMADA DE POSSE DA NOVA CÂMARA DA COVILHÃ

Sou dos que integram o enorme número daqueles que gostam do berço da sua naturalidade. E, nesta vertente, sou um covilhanense amante da minha Terra. Mas também pertenço aquele leque de pessoas que viveram na humildade de uma vida quando se comia o pão que o diabo amassou, em tempos de ditadura. Daí, a exuberante alegria quando raiou a democracia. E, assim, não recear os medos que dissiparam outros medos.
Tal como o som matinal, militar, que nos fazia erguer da cama, também assim fui dando cumprimento às exigências profissionais das várias atividades que desenvolvi, numa linha de rumo de esforço pessoal. Se houve satisfação por ter sido mais vezes compreendido que rejeitado, não posso deixar de reconhecer que também tive falhas, involuntárias omissões, e vicissitudes que passaram por mim, como humano. Mas, no silêncio, maior que na berraria (esta quando dotada dum sinal anunciador de injustiça) procurei encontrar as soluções.
Vêm estes parágrafos preambulares no contexto do que temos vindo a assistir na Covilhã; Terra de grandes Homens e Mulheres: do saber, do porfiar por verdadeiras causas de interesse comum, de tantas tarefas desenvolvidas desde os tempos ancestrais até aos novos conhecimentos de hoje; com condutas de quem parece que ainda vive quando a democracia era um anseio de todos, mas sufocada por muitos.
A Tomada de Posse da nova Câmara refletiu-se numa verdadeira democracia, que a generalidade do Povo Covilhanense quis imprimir à nova sociedade, numa pacífica revolta, qual abanão, pelos insultos e mentiras que um cidadão eleito para o lugar não desejado, vinha dando sinais dum orgulho sem medida, em profecias de desgraça, enviando foguetes antecipados para o ar, cujo rebentamento foi malsucedido.
É bem certo e verdade o que se lê em Lucas 18:14: “Todo aquele que se vangloriar será desprezado, mas o que se humilhar será exaltado!”, para não referir mais citações.
Foi o que aconteceu com o cidadão, sobejamente conhecido, que, paradoxalmente, diz amar mais a sua Terra que qualquer outra gente, numa treta em que muitos vão no seu engodo.
Na exemplaridade de aceitar a democracia, sozinho entre os pares dessa mesma democracia, mas de linhas divergentes, socialistas, das quais discorda, se manteve Adolfo Mesquita Nunes, demonstrando assim amor à Terra que o viu nascer.
Agora, ainda mais na linha da frente, desta equipa socialista a Covilhã espera melhor, não obstante as trombetas anunciadoras de outros incêndios ou tempestades. É que os que se apregoam de covilhanenses e não aceitam a democracia, é a própria Covilhã que os deve recear, porque em vez de irem ao encontro dos interesses genuínos da sua Terra, por naturalidade ou radicação, preferem a via das profecias da desgraça, já referidas. Afinal, quem são os verdadeiros Covilhanenses? Por mais voltas que deem, o muro da maioria absoluta não será derrubado, e, por isso, o famigerado D. Sebastião ainda não é desta que surge numa manhã de nevoeiro.
Estas linhas são terminadas e subscritas por um cidadão sem partido, e sem quaisquer interesses de um apaniguado, mas tão só com os votos dos maiores sucessos para o novo Presidente da Câmara, Dr. Vitor Pereira, e a todos os eleitos, em prol da minha amada Terra – a Covilhã.

João de Jesus Nunes                                                                                         jjnunes6200@gmail.com

(In "Notícias da Covilhã", de 26-10-2017)

19 de outubro de 2017

1.º ENCONTRO DE ANTIGOS MORADORES DE DUAS RUAS DA COVILHÃ

Já há algum tempo que os covilhanenses; num aumento considerável de adesões, nostálgicos dos tempos da sua vivência entre os vizinhos e amigos de outros tempos, da infância à juventude, e não só, todos nós mortais, mas na réstia de encontros dos ainda vivos; se vêm avivando no gerar de encontros de amizade. É que, de facto, a amizade é uma verdadeira festa.
Já conhecemos os célebres convívios das “Amigas da Travessa do Viriato”, que contam já com o 6.º encontro.
Desta vez, coube a iniciativa de Manuel Valentim, da Rua Vasco da Gama, estender o convite de colaboração ao José Proença Mendes, da Rua do Serrado (diga-se, moradores de outros tempos) e, vai daí, a realização no passado dia 14 de outubro, de um interessante 1.º Encontro de Antigos Moradores das Ruas Vasco da Gama e do Serrado, na Covilhã.
Os mais de sessenta presentes neste encontro, alguns deslocando-se propositadamente de Lisboa, Vila Franca de Xira e outros locais, deram, ao mesmo, sãos momentos de franco convívio, reforço de velhas amizades, memórias contadas de momentos de saudade de tantos que há muito não se viam.
Após a receção no Largo das Forças Armadas (também conhecido por Largo de São João de Malta), foi a visita à Igreja de São João de Malta, paróquia de S. Pedro, onde muitos dos presentes frequentaram a Catequese e ainda se recordavam das “senhas” que o então pároco, Padre José Domingues Carreto, entregava às crianças, após a missa, as quais, pelo Natal, serviam para trocar por peças de vestuário e calçado, no então Salão Paroquial, sediado na cave da Igreja.
Seguiu-se um cortejo, a pé, uns; outros de automóvel; pelas ruas já referidas, para desfrutar de novas paisagens e recordar resquícios do que era anteriormente, tirar fotografias até que foi a altura do almoço-convívio num restaurante do Sul destas ruas.
E, assim, saiu a exigência de um 2.º Encontro para o próximo ano, se Deus quiser.

João de Jesus Nunes
jjnunes6200@gmail.com

(In "fórum Covilhã", de 17/10/2017; "Notícias da Covilhã", de 19/10/2017; "Jornal do Fundão", de 19/10/2017; e  "O Olhanense", a publicar em 01/11/2017)


12 de outubro de 2017

CIDADANIA

Não está no espírito deste periódico tomar partido na defesa ou repúdio por qualquer força política, insurgir-se na religião que qualquer um professe, ou no seu sentimentalismo desportivo.
Isto não coloca fora deste contexto o pluralismo de opinião, numa vertente de bom senso, não podendo, de forma alguma, ferir a suscetibilidade do cidadão comum.
Este texto, redigido antes de 1 de outubro, irá sair no Combatente da Estrela já depois do ato eleitoral para as autárquicas consumado.
Espera-se, assim, que o vencedor das eleições, para os vários órgãos autárquicos, venha defender acerrimamente o nosso concelho, colocando-se, sem peias, ao serviço dos covilhanenses, quer de raiz quer de coração, que escolheram esta terra para viver.
Compreendemos que não é fácil resolver contendas, depois de lutas intestinas, sem haver a tolerância que se deve impor, ainda que muitas vezes custa optar por ela face a arestas que ainda é preciso limar devido a escárnios e humilhações que houve, mormente pela via das redes sociais, chegando-se ao ponto de ofensas escusadas, e ao caricato de encontramos uma linguagem desprovida de discernimento, onde até os erros ortográficos, mormente no Facebook, são de bradar aos céus. Por aqui muitas vezes se avalia como vai a cultura de certas pessoas bem-falantes.
Independente de pontos de vista diferentes, como é normal em democracia, queremos que o vencedor destas eleições venha a servir a Covilhã e seu Concelho, e que as oposições que venham integrar-se na edilidade, se unam nos esforços por uma Covilhã mais próspera e se eliminem aqueles traços de desunião, verdadeiramente perniciosos à vida do Município, o que quer dizer, em flagrante delito com os interesses de todos nós, munícipes.
É do Evangelho cristão aquela frase de Jesus Cristo, segundo São João, capítulo 8, versículos 1 a 11, sobre a mulher adúltera: “Aquele que não tiver pecado atire a primeira pedra”.
Portanto, esperemos que a nova Câmara e as Juntas e Uniões de Freguesia do Concelho se unam num esforço para o bem comum e se eliminem as guerrilhas até então existentes nalguns casos, como já atrás referimos, mas não é demais repetir.
Todos são úteis – eleitos e oposição –, respeitando os pontos de vista de cada um na defesa do coletivo e não do individual.
Vem tão a propósito a introdução no ensino, pelo governo português, da disciplina Cidadania e Desenvolvimento, no âmbito da Estratégia Nacional para a Igualdade. Foi uma medida que este ano, na fase piloto, vai abranger 235 escolas, mas no próximo ano letivo pretende-se que seja alargada aos restantes estabelecimentos de ensino.
A Covilhã foi uma das cidades escolhidas para esta fase piloto, através da Escola Quinta das Palmeiras, já vista como “um exemplo”, pelo que, na manhã do dia 15 de setembro, estiveram neste estabelecimento de ensino, na cerimónia de apresentação, os governantes Eduardo Cabrita, ministro Adjunto; Tiago Brandão Rodrigues, Ministro da Educação; e Catarina Marcelino, secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade; assim como o secretário de Estado da Educação, João Costa. Quiseram assim “mostrar a importância de implementar uma estratégia que promova uma sociedade mais justa, mais inclusiva e que rejeite a segregação e as desigualdades de género”.
Bom, nesta fase inicial, a disciplina começa a ser lecionada nos anos iniciais de cada ciclo de ensino, ou sejam, o 1.º, o 5º, o 7º e o 10º ano dos estabelecimentos de ensino que integram o Projeto de Autonomia e flexibilidade curricular. No caso do concelho da Covilhã, o Agrupamento Pêro da Covilhã, a Escola Campos Melo e a Escola Quinta das Palmeiras.
Segundo o governante Eduardo Cabrita, a área da educação é decisiva, pela capacidade para chegar a todos, “garantindo que a igualdade de oportunidades se desenvolve desde os primeiros níveis de escolaridade”.
E Catarina Marcelino manifestou-se no reforço da necessidade de nas escolas se passar para lá das matérias tradicionalmente formais, para se evoluir para uma sociedade mais democrática.
E assim serão tratados assuntos como a igualdade do género, a interculturalidade, o desenvolvimento sustentável, a educação ambiental e a saúde irão ser abordados em todos os graus de ensino; bem como a participação democrática, literacia financeira e educação para o consumo, sexualidade, media e segurança rodoviária. Num outro grupo instituído remete para o empreendedorismo, mundo do trabalho, segurança, defesa e paz, assim como bem-estar animal ou voluntariado.
A disciplina Cidadania e Desenvolvimento é obrigatória.
Pretende-se assim apostar num ensino de qualidade, visando também uma igualdade de oportunidades no plano territorial. Considerar assim que o Interior, onde nos inserimos, não é um espaço de assistencialismo nem de fatalismo, mas sim, segundo o Ministro da Educação, “um espaço de excelência e de oportunidades”.

Assim esperemos que a Covilhã possa sentir os benefícios da introdução da “Cidadania e Desenvolvimento”, no nosso Ensino.

(In "O Combatente da Estrela", n.º 108,  outubro/2017)

10 de outubro de 2017

AQUELE AGOSTO DE 1968 NA COVILHÃ

Estava longe de pensar o que se preparava de agitação na cidade dos lanifícios. Encontrava-me a caminho do términus do 2º. Ciclo do Curso de Sargentos Milicianos, no Regimento de Artilharia Ligeira nº 4, em Leiria. Para aqui vim por obrigação militar, depois de ter completado o 1.º Ciclo no CISMI, em Tavira. Uma das minhas preocupações era tirar uma boa nota no curso; tentativa de evitar uma mobilização para as Colónias (então designadas Ultramar), o que veio a acontecer. Isto porque as mobilizações começavam pelas classificações mais baixas. Terminei assim a vida militar no RI 12, na Guarda.
Era o tempo da ditadura: “Tudo pela Nação, nada contra a Nação”, o que mais propriamente significava, “Tudo por Salazar (ou Marcelo Caetano), nada contra Salazar”. Quando menos se esperava, elementos anónimos da PIDE espreitavam a qualquer canto, por qualquer apercebimento de que “este é dos do contra”. Vai daí, toca a deitar a mão para interrogar, torturar para obrigar a informar, castigar, para recear e não voltar…
Sendo contra elites, logo comecei a ficar incomodado, obviamente sem manifestações. Foi-nos recomendado, duma forma sub-reptícia, ainda na formação, de que não nos deveríamos misturar, na rua, com os outros militares do contingente geral, uma vez que éramos instruendos milicianos; e o comandante da unidade militar não gostava desta nossa conduta.
Por vezes arriscava conversar com alguns meus conterrâneos, alguns mesmo antigos colegas da escola e amigos; um ou outro me avisava, ao avistarem algum oficial superior da formação, daquela infeliz recomendação, para que me afastasse.
Terminado o curso e ali colocado, iniciei funções de formador na especialidade de escriturário. Foi para mim uma excelente ocasião para me aperceber, de vários recrutas, desabafando na confidência de notícias que me transmitiam, do que se passava em determinadas redações de jornais e no único canal da RTP, em Lisboa; assim como no Rádio Clube Português, Rádio Renascença e Emissora Nacional, onde colaboravam; notícias essas contra a ditadura, no anonimato, obviamente. Tudo, para mim, era de certo modo um mistério.
Os meios de comunicação social eram totalmente diferentes dos de hoje. Nem todos ainda tinham televisão em casa. Não havia telemóveis, o fax ainda não tinha surgido, e muito menos os computadores, os emails…, as redes sociais…; as chamadas telefónicas eram interurbanas. O stencil era o que servia para passar a papel as ordens de serviço das unidades militares, como duplicador, já que as impressoras de hoje eram uma miragem. O meio de contacto com a família e a namorada era a carta, eventualmente o telefone caro ou o telegrama quando de um assunto urgente se tratasse.
Daí que não me apercebi da revolta dos estudantes em França, no célebre maio de 68, e, porque só depois do 25 de abril 74 se rasgaram os véus da ignorância forçada, do obscurantismo (felizmente que já não ouvimos, há muito tempo, esta palavra…), viemos a ter conhecimento que na Covilhã se preparava um assalto político, através de militantes ativistas da LUAR – Liga de Unidade e Ação Revolucionária, cujo mentor era Hermínio da Palma Inácio. Soubemos do seu assalto ao Banco da Figueira da Foz; do desvio do Paquete Santa Maria, por Henrique Galvão; e do assassínio do General Humberto Delgado e secretária, pela Pide. Mas da Covilhã pacífica, para além de greves dos operários da indústria local, e de vários presos políticos, nem nos passava pela cabeça que alguma tentativa viesse a acontecer.
Houve a sorte pela parte dos covilhanenses de terem surgido um conjunto de acidentes e acontecimentos inesperados para que a Covilhã não viesse a ser tomada de assalto em agosto de 1968. O plano direcionado pela LUAR, movimento este considerado pelo Estado Novo de terrorista, mas que tão só se opunha ao mesmo Estado, previa ações armadas na cidade dos lanifícios.
Foi no livro “Uma Nova Concepção de LUTA”, de Fernando Pereira Marques, elemento que integrou a LUAR; e englobado na coleção Ephemera – Biblioteca Arquivo do escritor José Pacheco Pereira, que vieram a lume as memórias desta tentativa de assalto.
Do assalto, a ser bem-sucedido, constava que os mais novos (como o autor deste livro) e menos responsáveis, distribuiriam um panfleto e colariam um cartaz nas paredes, de apoio
às greves operárias. Para o êxito desta distribuição, tinha havido uma previsão por parte dos ativistas para neutralizar a GNR e a PSP, para além de passarem uma mensagem gravada no posto da Emissora Nacional, bem como “recuperar fundos” nas agências bancárias. Depois de tudo consumado retirar-se-iam. A opção pela Covilhã, em termos de assalto, deve-se ao facto de ter sido uma cidade operária; e a retirada dos ativistas em segurança e com o risco de perseguições anulado, foi um dos motivos escolhidos pela LUAR. A cidade da Covilhã seria então isolada dinamitando umas pontes e acessos, aquando da retirada, já que os responsáveis da LUAR sairiam através de transporte aéreo, via o extinto aeródromo da Covilhã. Depois, uns regressariam aos locais onde mantinham atividade clandestina e outros rumavam à fronteira com o auxílio de passadores.
Tal só não surgiu porque Palma Inácio foi surpreendido por um acidente de viação, antes da chegada, e também a uma série de outros acasos. Estes relatos encontram-se registados no livro atrás referido (páginas 77, 109, 119, 129, 156, 188 e 241).
Também na página 277 se regista o facto de, em fins de 1971, terem vindo do estrangeiro para ingressar nas fileiras da LUAR, uma quantidade considerável de militantes, entre os quais Carlos Jesus Barata (Carlos Gordo), nascido em 1951 na Covilhã e que faleceu num acidente de trabalho após o 25 de abril de 1974.
Outra figura, sobejamente conhecida na cidade covilhanense, referido na página 248, que fora meu colega na Escola Industrial e Comercial Campos Melo da Covilhã, conjuntamente com seu irmão, João Riscado, nos anos 60 do século passado, onde tirou o Curso Geral do Comércio, já falecido, mais tarde envolvido no meio empresarial, com falência de empresas, conhecido pelo Ajax, de seu nome José Manuel Riscado Pereira Monteiro, mas natural de Alcains, viria a ser um dos elementos da LUAR que constituíam a sua rede de apoio no País. Como tal, efetuou vários encontros com o Hermínio da Paula Inácio em Paris e próximo de Salamanca. Foi este elemento de apoio quem passou clandestinamente, na fronteira luso-espanhola, Palma Inácio e outros elementos da LUAR; e os transportou na sua própria viatura desde Vilar Formoso até Lisboa.  A sua ação de apoio levou ainda Palma Inácio a Mira de Aire, uma região dos lanifícios, para que fosse feito o reconhecimento da localidade e dos bancos que ali existiam, para um assalto à mão armada. Além de outros apoios à LUAR, após as primeiras prisões, transportou também na sua viatura, até à fronteira com Espanha, um ativista da LUAR, para que este pudesse fugir à ação policial, seguindo assim clandestinamente para o estrangeiro.


(In "fórum Covilhã", de 10-10-2017)

4 de outubro de 2017

OS NOVOS GOVERNANTES DA AUTARQUIA COVILHANENSE

Na grelha de partida se perfilaram os seis candidatos à corrida autárquica (BE, CDS/PP, CDU, DE NOVO COVILHÃ, PSD/PPM e PS), sendo que na pole position acabaria por ficar o candidato VITOR PEREIRA, agora elevado a novo Presidente da Câmara Municipal da Covilhã, na sua recandidatura, com assaz mérito.
Dos 46.837 eleitores do Concelho da Covilhã, verificou-se uma abstenção de 38,14 por cento quando em 2013, com 49.773 eleitores se havia verificado uma abstenção de 42,2 por cento. Esta continuada redução de eleitores, e, consequentemente da população no Concelho, deve passar a preocupar o novo líder do Município Covilhanense, ainda que a abstenção tivesse baixado.
Mas nem sempre quem se adianta primeiro, na convivência com toda a população, é o que ganha a contenda política, mas sim aquele que merece verdadeira confiança, na proximidade dessa população, pelas palavras e atos mais perto da sinceridade, porque ao povo já não se lhe consegue pôr uma venda nos olhos, mas só àqueles que não querem mesmo ver.
Depois de muita tinta ter corrido, entre os dois principais adversários (DE NOVO COVILHÃ e candidato do PS), ao longo do anterior quadriénio de poder autárquico na Covilhã, é altura de se dissiparem todas as brigas havidas, mais por culpabilidade do candidato Carlos Pinto, humilhantemente vencido. No entanto, os atos por este cometidos, de âmbito judicial, devem continuar a merecer a reparação da justiça.
Volto assim a referir o que escrevi em 1 de outubro de 2013, para as anteriores eleições: “O socialista Vitor Pereira, persistente quão afável, soube convencer os covilhanenses que afinal a democracia é de primordial importância na vida de todos os que querem viver em concórdia”. Mais tarde também me manifestaria desacordado com alguma impaciência por uma certa passividade autárquica que me pareceu existir.
A reviravolta socialista que se dera então em 2013, no seio do município serrano, não obstante as agora continuadas tentativas para dar o volte-face por parte do candidato DE NOVO COVILHÃ, mas altamente defraudadas pelo castigo infligido pelos covilhanenses, em quem tanto confiava, deu os seus resultados, reforçando essa reviravolta com uma maioria absoluta de 46,41 por cento, muito por culpa de Carlos Pinto, e seus fragilizados apoiantes, agora este com o resultado de 18,16 por cento. Vitor Pereira vencera as eleições em 2013 com 37,52 por cento dos votos expressos, depois de em 2009 ter ficado em segundo lugar, com 27,86 por cento.
Carlos Pinto sempre rebateu Vitor Pereira, pelas formas mais incorretas, inclusive versando uma educação menos própria. Deleitava-se a apregoar que sempre derrotara este candidato, esquecendo-se que indiretamente foi pelo mesmo derrotado nas anteriores eleições, ao apoiar um outro candidato submissamente (na sua pessoa) independente; e que também já o fora por Jorge Pombo. É, assim, a sua terceira derrota autárquica. Como era de esperar, já afirmou que não vai integrar a vereação. Afinal, o seu amor à Terra na defesa dos seus interesses, deixa muito a desejar.
Em terceiro lugar ficou o centrista Adolfo Mesquita Nunes, também eleito, com aquela surpresa de o CDS conseguir um lugar na Câmara, em detrimento do PSD que, pela primeira vez, penso, não integra as fileiras camarárias, um pouco como o que se passou com este partido por todo o País.
João Casteleiro, que compõe a equipa dos socialistas que se apresentaram às eleições, será o novo presidente da Assembleia Municipal, tendo arrecadado uma vitória com 44,18 por cento dos votos.
Excetuando a U.F. de Peso e Vales do Rio, e Vale Formoso e Aldeia do Souto, que votaram para a Câmara em Carlos Pinto, todas as 19 restantes votaram em Vitor Pereira.
No que diz ainda respeito às freguesias e uniões de freguesias, o sorriso bateu à porta dos socialistas em nove dessas freguesias, das quais vieram a ser vencedores, quando em 2013 ganharam sete freguesias, e, em 2009, haviam só vencido em duas. Algumas com maioria absoluta.
Carlos Martins, da União de Freguesias da Covilhã e Canhoso, continua a ser o campeão das presidências de freguesia, que em 2013 ganhou com 46,87 por cento, depois de em 2009 ter ganho com 55,76 por cento. Desta vez volta a sair vencedor, mas sem maioria absoluta, com 40,92 por cento.

Vão assim integrar a nova Câmara, para os próximos quatro anos, cindo elementos do PS (Vitor Pereira, José Serra dos Reis, Regina Gouveia, José Miguel Oliveira e Jorge Gomes), juntamente com Carlos Pinto e Adolfo Mesquita Nunes.

(In "Notícias da Covilhã", de 05/10/2017)

27 de setembro de 2017

A MINHA ALDEIA – VILA DO CARVALHO

A história vai seguindo o caminho que lhe vamos difundindo ao longo do tempo. Ele vai correndo. Umas vezes mais lento, como as águas das ribeiras da minha aldeia, no estio; ou duma forma mais veloz, como a agitação das mimosas-acácias, na primavera, por alguns ventos.
A altaneira Pousadinha, lugar um tanto ou quanto alcantilado, onde nasci, teve o seu cordão umbilical na Aldeia do Carvalho (atualmente Vila do Carvalho); depois, ventos mais fortes levaram-na para Cantar Galo; mas uma outra ventania entrelaçou-a na União de Freguesias de Cantar Galo e Vila do Carvalho. Que raio! Já a esta lhe haviam subtraído uma parcela importante – o Canhoso – face à sua independência. E, assim, se transformou geograficamente esta aldeia, hoje vila.
Em agosto, o carvalhense José Salcedas Rogeiro, que saiu da sua Terra com quatro anos de idade, apresentou, com grande galhardia, as memórias desta freguesia global, sob o título “Aldeia/Vila do Carvalho – Das Origens Medievais ao Ano de 2010 – Uma Evocação”.
Deixei a Pousadinha, onde nasci e residia, naquele sábado de 12 de fevereiro de 1955, quase a completar 9 anos, rumo à Covilhã.
Memórias deste local panorâmico, implantado como que de um presépio se tratasse; e de Aldeia do Carvalho; não ficam na penumbra do tempo.
Decorria ainda a I Grande Guerra. João de Brito, pedreiro, que residia na Pousadinha, ali casou com Rita Passarinha, covilhanense, que residia à Fonte das Galinhas. Não aprenderam a ler e escrever. O trabalho infantil atraía, mormente na monoindústria – os lanifícios – uma féria para colmatar brechas na economia do lar, onde os recursos dos pais eram escassos. Aos 52 anos o casal comprou um pedaço de terra naquela encosta da serra. Aí fizeram uma pequena casa de altos e baixos. João fartava-se de trabalhar, aparelhando a pedra, fazendo os alicerces. Depois de tudo pronto, aos domingos metia homens para subir as pedras. Como não tinha dinheiro para pagar ao pessoal, Rita ia para o mercado da Covilhã vender galinhas, transportando-se numa burra. Quando já não havia casa para construir, existiam as hortas para tratar, uma courela, aquela leira para deixar o alfobre, já que, em tempo de ainda se poderem cultivar os cereais, existia a eira, e o recordar da ceifa, com a utilização dos manguais.
Luz, água e saneamento, naqueles anos das décadas de 30 a 50 do século passado, eram uma quimera.
José Martins Nunes, então regente escolar do curso noturno da Casa do Povo do Bairro do Rodrigo, foi colocado na Borralheira (Bairro de São Vicente de Paulo), no então criado Posto Escolar Masculino, em 12 de fevereiro de 1938, ficando assim com dois cursos. Depois de passar pela Escola Central da Covilhã, em outubro de 1945 foi colocado na Escola Masculina de Aldeia do Carvalho, com a 2.ª e 4ª. classes, como diretor escolar. E, assim, nas poucas horas vagas, ainda dava aulas particulares a rapazes e raparigas na Pousadinha, onde casara e passara a residir.
Ainda hoje, um ou outro seu antigo aluno, recordam o professor do seu tempo.
A então falta de luz elétrica, e maus caminhos, na Pousadinha, tornavam-na uma zona de difícil acesso, principalmente para viaturas. Quando havia um acidente, ou um incêndio, face à fragosidade do terreno, era de temer. À noite, uma escuridão. Somente no horizonte aquele luzeiro da cidade e das freguesias vizinhas; o luar, ou as miríades de estrelas no firmamento. De dia, uma zona paradisíaca, com os muitos pomares, animais de capoeira, e, na rua, pombais, e um infindável prazer de vida.
Decorria o dia de inverno de 18 de janeiro do ano 1952 quando, na Pousadinha, pelas 19 horas, já noite escura, assisti, aterrorizado, ao alarme dos habitantes, face aos gritos alucinantes que, do Alto das Lapinhas se ouviram. Muitas pessoas com candeeiros e archotes, entre os quais os vizinhos Mário Eufrásio, D. Conceição, e as filhas, Lucinda, Zezinha e Angelina, acorreram ao local e depararam com o jovem de 14 anos, Mário da Conceição Rodrigues, que todas as tardes passava com um sorriso nos lábios à minha porta, havia sido vítima de desastre, fraturando o crânio com um pinheiro que transportava para lenha, e lhe caíra em cima. Transportado pelo pai para sua casa, a poucos metros do local do sinistro, veio ali a falecer. Ficou escavada numa rocha uma cruz assinalando o triste acontecimento. Em maio de 2013 procurei no local essa memória granítica, com a ajuda da atual proprietária do terreno, natural de Verdelhos, e, por debaixo de caruma, não é que ainda lá está, volvidos mais de seis décadas?
Quando havia um incêndio nalguma casa; onde numa ficou uma criança, e gado, carbonizados; era um espetáculo dantesco.
Aos domingos era o dia de ir à missa, vestindo os fatos domingueiros. E lá se ia, a pé, por terra batida, até à Igreja de São Vicente de Paulo, na Borralheira, ou então, mais frequentemente, à antiga Igreja de Aldeia do Carvalho (cuja padroeira é Nª. Sª. da Conceição). No final da missa, havia sempre um leilão de ofertas que faziam os paroquianos, a favor da Igreja, enquanto à porta, um habitual feirante, vendia bolos. Do leilão, entre os quais havia cabritos, via-se o velho sacristão António Vicente, a coxear, de açafate na mão e opa vermelha vestida, depois de ter vindo da taberna do Zé Patareco. De tarde, quando havia futebol era altura de “ir à bola”. No regresso, nas tabernas ouviam-se os comentários “daquela defesa incrível do António José” (depois, o Rita); “os dribles estonteantes e potentíssimo remate do francês Simonyi”; mais tarde do espanhol Suarez e do brasileiro Tonho (eu que só ouvia falar nos “Tonhos do Pelourinho”…).
Era o tempo do pároco António de Oliveira Pita, com o qual eu fiz a minha Primeira Comunhão. Tinha uma mota com que se fazia transportar. Depois foi o Padre José Nabais Pereira que gostava de futebol (mais tarde seria meu professor de Canto Coral, na Escola Industrial). Aquando do batizado do meu primo Tó Zé Brito, pediu-nos para irmos mais cedo porque queria ir ao Santos Pinto assistir ao jogo do Sporting da Covilhã com o Benfica. Contentei-me por ouvir o relato na telefonia da única taberna que existia na Pousadinha, do Francisco Oliveira. Os leões serranos ganharam o encontro por 2-1.

Muito haveria para contar, mas não cabe neste espaço. Não esqueço os muitos pirilampos que, por esses caminhos fora, em direção à Pousadinha, se viam à noite, e as flores campestres, bem como o cheiro campesino.

(In "Notícias da Covilhã", de 28/09/2017)

25 de setembro de 2017

POR QUE VOU VOTAR PS

É óbvio que as eleições para as autarquias têm como ponto da maior referência o candidato que se vai apresentar para a liderança dos destinos do seu espaço autárquico, nas várias vertentes do genuíno interesse dos seus eleitores e das populações aí residentes.
Olhar exclusivamente para a época do festival das campanhas eleitorais e pré-eleitorais, onde a realidade versa quantas vezes o ridículo dos apaniguados, muitos deles à procura do tal dito tacho, nas variadíssimas oportunidades que emergem do eleito, é francamente duma escassez de tempo.
Muito tenho escrito, em várias publicações, sem peias, ao longo dos anos, sobre condutas de alguns dos alcandorados nos órgãos do poder, sejam elas no âmbito da positividade, ou do lado deduzido negativo. Por vezes também me posso enganar no momento, no meu conceito, e depois outras luzes vêm dissipar o precedente mal-entendido, ou porque veio a ser retificado.
Mas a observância ao longo do maior tempo possível dum candidato é crucial para uma escolha o mais acertada possível, pois um quadriénio pode ser o tempo de vida de uma pessoa.
E é preciso ter presente que todos podemos cometer erros voluntária ou involuntariamente, e, por isso, há que conscientemente olhar para dentro de si quando se acusa o adversário (geralmente considerado mais inimigo) por vias que merecem o maior repúdio, ou seja, o anonimato, na pusilanimidade dos falsos perfis das redes sociais, na linguagem pouco vernácula, que é de bradar aos céus. Não sei como um vencedor desta estirpe pode depois confrontar todos (pessoas e empresas) de quem foi tão maldizente. Jamais será este o meu candidato.
Todos os restantes, respeitáveis, mas sem possibilidade, segundo penso, de tomarem assento para além de vereador, tomo como opção quem já conheço nos destinos da autarquia, que também já critiquei, mas que é isento de arrogâncias, não se refugia em anonimatos, conseguiu reduzir o grande défice autárquico, também conseguiu obra, que mais não fosse reparar o que o seu antecessor deixou mal concebido.
O candidato mais novo, com experiência governativa, mas sem conhecimento autárquico, residindo fora do concelho, onde os meandros das dificuldades do quotidiano se elevam, ficou também fora das minhas opções para as eleições autárquicas.
Por último, estou agora de algum modo convicto que o atual governante do nosso concelho e pretendente à continuidade, face à equipa que o acompanha, nos vários órgãos autárquicos da sua candidatura, merece a confiança dos covilhanenses para novo mandato. Por isso, o meu voto será no Partido Socialista.

João de Jesus Nunes

jjnunes6200@@gmail.com

12 de setembro de 2017

A FRAUDE

Fraude (in “Dicio - Dicionário Online de Português): logro, falsificação de produtos, documentos, marcas, etc.; qualquer ação ilícita, desonesta, ardilosa que busca enganar ou ludibriar alguém. Contrabando; inserção de mercadorias estrangeiras sem o pagamento de impostos: fraude tributária. Não cumprimento de um dever, de uma obrigação. (Figurado) Que não é verdadeiro; pessoa falsa.
Não é novidade este estratagema de tentar enganar alguém, geralmente em proveito próprio, ou de empresas ou instituições onde se insere o beneficiário da fraude.
Ontem e hoje foram várias as fraudes, ou tentativas, que chegaram ao conhecimento do público, e prosseguirão no amanhã se não houver um feroz combate a este flagelo.
Notícias publicadas na comunicação social, na vertente de papel ou online, são exemplos: lavagem de dinheiro gera dívida de dez milhões da TAP a Angola; Cristiano Ronaldo é acusado de ter criado uma sociedade para defraudar o fisco espanhol; fraude de 667 mil euros em três farmácias; fraude milionária paga vida de luxo; seis pessoas constituídas arguidas por suspeitas de fraude ao SNS; antigo vice-reitor da Independente condenado por fraude; “rei dos tecidos” foi “mentor da fraude”.
Este tipo de exemplos são os mais visíveis, mas existem outros conduzidos duma forma sub-reptícia para alcançarem os seus objetivos: marcação de assembleias gerais em que, depois, todos os órgãos sociais combinam não comparecer, exceto dois elementos, para que não haja quórum. Depois, na seguinte, comparecem só três. É um outro exemplo.
Tipos de fraudes e crimes na Internet são variados. São realizadas em todos os cantos, desde sites de leilões até fraudes de software. Antes da era da Internet, grande parte destas formas de fraude eram realizadas diretamente ou via correios, minimizando os riscos. Hoje em dia, com gente disposta a dar a sua informação de cartão de crédito online, ficou mais fácil do que nunca acontecer uma fraude.
Já senti na pele uma fraude, por via dum habilidoso “amigo”, que depois reparou o logro. Também, ao longo da minha vida profissional, me deparei com tentativas de fraude, por vezes emergindo de pessoas consideradas de grande reputação na sua honestidade, mas que foram resolvidas sem colisão entre as partes; outras, tiveram que ser denunciadas oficialmente.
Pois é, temos que combater este tormento, pois a fraude é tentadora. E ela vai surgindo na via informática, e nas fraudes bancárias online.
Uma fraude é um esquema ilícito ou de má fé criado para obter ganhos pessoais, apesar de ter, juridicamente, outros significados legais mais específicos. Há dois ditados brasileiros interessantes que dizem: “Cada dia sai um trouxa e um esperto de casa. Se eles se encontram, sai negócio”; e “O mal do malandro é achar que todo o mundo é otário”.
O Observatório de Economia e Gestão de Fraude (OBEGEF) publicou recentemente um estudo pioneiro, a nível mundial, que se destina a aferir a perceção de fraude dos portugueses em determinadas dimensões. Esse estudo, para o ano 2016, teve por base a recolha de cerca de 1210 inquéritos, sendo que os responsáveis escolhidos representam, por si só, as principais caraterísticas da população portuguesa. O objetivo é a construção anual de um índice de perceção de fraude (IPF) em Portugal, e comparar esse valor ao longo dos anos e com as suas respetivas dimensões.

Segundo Manuel Carlos Nogueira, in Público, “não podemos afirmar que a fraude tem aumentado e que o sistema de Justiça não a combate de uma forma eficaz”. Apesar da fraude ser um fenómeno de difícil avaliação, é referida a importância de ser estudada porque, ao se procurar mensurar, nem que seja através da sua perceção e avaliar o risco da fraude, podem-se melhorar as ações de prevenção e combate. Por outro lado, serve também para alertar os possíveis interessados de que, sem se ter uma noção quantificável, tende-se a ignorar ou minorar os riscos. Assim, consequentemente, os prejuízos que podem ter que suportar. Não se trata de quantificar a fraude em Portugal, mas tão só a avaliação da perceção da fraude.
Algumas conclusões foram obtidas deste estudo, a saber: as mulheres têm uma perceção de fraude superior aos homens; as populações residentes no interior do país, no Alentejo e no Algarve, têm uma perceção de fraude superior à média nacional; os habitantes do litoral percecionam menos a fraude; de todo o interior do país, é no Alentejo que a perceção da fraude é superior; a perceção da fraude é menor na Grande Lisboa. No que diz respeito ao grau de escolaridade, os extremos tocam-se, isto é, quem possui menos escolaridade ou quem possui escolaridade de nível superior tem uma perceção de fraude menor do que quem tem o 12º como o máximo de escolaridade. No que concerne ao status social existe diferentes classes homogéneas, mas se falarmos em profissão são as donas-de-casa que têm uma perceção de fraude mais elevada. Por outro lado, os que sentem uma perceção de fraude mais baixa são os estudantes. Verificou-se que, no respeitante ao estado civil, são os viúvos que sentem a perceção de fraude mais elevada. Uma preocupação reside no facto de, globalmente, se sentir uma perceção de fraude a aumentar em Portugal.

Depois, objeto de grande reflexão, independentemente da faixa etária, da região de residência, do status social ou do nível de escolaridade, a maioria dos portugueses não acreditam no funcionamento do sistema de Justiça, no combate à fraude.

(In "fórum Covilhã", de 12/09/2017)