24 de dezembro de 2009

O VENDEDOR DE CASTANHAS ASSADAS


A tradição mantém-se e então vemos o vendedor ancestral de castanhas assadas, geralmente no Pelourinho. Há uns anos atrás havia mais “homens das castanhas” a vender, como popularmente os designamos.
Nos velhos tempos do futebol de “Primeira Divisão”, do nosso Sporting da Covilhã, então no velhinho Estádio José Santos Pinto, mais próximo das estrelas do firmamento que o actual, havia vários vendedores de castanhas, com os seus assadores de barro e jornais para as embrulhar... Um ou dois homens, lá em cima, junto ao campo, e outro ao fundo do antigo hospital...
Nesse tempo, também jogavam no futebol de primeira, o Atlético, o Oriental, o Torriense, o Caldas, e o Olhanense, este actualmente na I Liga ou Liga Sagres (a antiga I Divisão), donde vierem vários atletas que aí jogavam, para o SCC.
Segundo Aquilino Ribeiro, num dos seus romances, “as castanhas são tão bonitas com sua oval fantasia, seu sépia de veludo, tão ternas quando espreitam juntinhas às duas, às três e até às quatro, inclusa a boneca, de ouriço arreganhado”(...). Também Miguel Torga se referia assim: “Mas o fruto dos frutos, o único que ao mesmo tempo alimenta e simboliza, cai dumas árvores altas, imensas, centenárias, que, puras como vestais, parecem encarnar a virgindade da própria paisagem. Só em Novembro as agita uma inquietação funda, dolorosa, que as faz lançar ao chão lágrimas que são ouriços. Abrindo-as, essas lágrimas eriçadas de espinhos deixam ver uma cama fofa e maravilha singular de que falo, tão desafectada que até o próprio nome é doce e modesta – a castanha.
Assada, no S. Martinho, serve de lastro à prova do vinho novo. Cozida, no Janeiro glacial, aquece as mãos e a boca de pobres e ricos. Crua engorda os porcos, com vossa licença...”
Pois bem, actualmente só conhecemos um único vendedor, que aproveita o seu tempo de ócio, e de férias, para dar continuidade à tradição, no Pelourinho, e também, assim, conhecer outro “fruto” do seu trabalho...
José Manuel Pinto é motorista de profissão, actualmente ao serviço do município covilhanense, sendo que antes exercia a mesma actividade na ACM, onde aqui conheceu o desemprego. Foi nesta altura que se agarrou a esta actividade sazonal que não mais largou.
E tem alma para o seu desempenho, numa alegria aliada a uma forma simpática de trabalhar, que lhe faz granjear amizades.
Sou testemunha deste seu entusiasmo na venda de castanhas assadas.
Os assadores são em aço inoxidável, ou barro, e já não podem ser em lata, face à ASAE; também acabaram os “cartuchos” em papel de jornal. Terminou aqui a tradição; ele as embrulha em papel branco, com ou sem saquetas.
Há um ano e meio, viajei até à capital com o motorista José Manuel Pinto, então na apresentação de um projecto que resultaria no “Criar 08”, entre a empresa que represento e a edilidade covilhanense. À saída da reunião de trabalho lá fomos de encontro ao motorista para almoçar e seguir viagem de regresso à Covilhã. Pois bem, José Pinto, aproveitando o tempo inactivo, não ficou sem fazer nada; estava na Rotunda do Marquês de Pombal a ajudar o seu colega, vendedor de castanhas...
Foram-se os magustos, restam as castanhas do amigo José Manuel Pinto, e, para o ano, se Deus quiser, haverá mais.

(in Notícias da Covilhã e Jornal do Fundão, de 24/12/2009; e Jornal Olhanense, de 15/01/2010)

18 de dezembro de 2009

PORTUGAL PANDÉMICO

Chegámos a mais um final de ano. Em plena época natalícia, os rostos de muita gente encontram-se mergulhados numa melancolia. A leda esperança a ofuscar-se – parece que as estrelas não querem brilhar!
Onde estão os homens e as mulheres de Portugal, com talento para desbravar a crise instalada?
Muitos cérebros do nosso País, lá fora têm notoriedade. Então, porque é que não se encontra o antídoto para atrair a procura de soluções?
Alguns dos contrários à corrente dominante não oferecem alternativas convincentes, e, quem se trama, duma forma ou doutra, é o povo que neles confiaram.
Os maus exemplos de enormes retribuições, oriundos lá bem do alto, sem falar já dos fastidiosos “casos”, sobejamente conhecidos, são um atentado para quem, honestamente, sempre procurou exercer as suas actividades profissionais, no espírito de bem servir, e, no horizonte, a perspectiva do reflexo do seu trabalho vir a ser espelhado numa reforma condigna.
Repercutem-se também nas pensões principescas, e demais mordomias, de muitos que falam em nome do povo, e que, com sagacidade lhe sugam parte da esperança de melhores dias.
Se a exorbitância salarial de uns não reflectisse uma abissal diferença no salário da maioria, pensamos que os défices de governação seriam bem diferentes.
Subsídios de reintegração da classe política; ajudas de custo a torto e a direito; senhas de presença nas assembleias; pagamento a autarcas para além dos que permutam a sua profissão pela de servir a tempo inteiro; exercício profissional duplo, com casos atentatórios bem visíveis, a ganharem milhões em detrimento de um leque de homens e mulheres nas filas dos Centros de Emprego, são exemplos do que seria passível de suprir algo do buraco económico em que estamos todos metidos. Depois, despesas estranhas, desmedidas, surgidas em muitos municípios.
Parece não haver interesse em resolver o problema da corrupção. Falam, falam, falam e não os vejo fazer nada, como diziam os do Gato Fedorento. Para um problema tão importante na vida dum país, só agora se prepara a comissão eventual para o combate à corrupção. Por onde andam João Cravinho, António Vitorino e Medeiros Ferreira, por exemplo?
Neste tempo em que vivemos, recrudescem as paixões e os ódios e rarefazem-se os princípios e os valores.
Muita gentinha das instituições estatais a usufruir das benesses referidas, são os mesmos que vão para as televisões, e para os jornais, a lançar ideias para a resolução dos problemas financeiros que assolam o País, como o congelamento de salários por causa da competitividade da economia portuguesa.
Governadores e ex-governadores do Banco de Portugal; ministros, ex-ministros e outros da mesma laia, dão empregos, de mão beijada, em instituições públicas ou privadas, a seus familiares, com vencimentos ambiciosos.
E, como a justiça portuguesa, conforme registou a jornalista Clara Ferreira Alves, no Expresso, “não é apenas cega, mas também surda, coxa e marreca” não vamos a lado nenhum.
A subsidiodependência prevalece e há fome em Portugal, com pobreza envergonhada.
A crise económica, com mais de meio milhão de desempregados, é outra pandemia, pois leva a doenças mentais, associada a reacções depressivas; assim como o desemprego de longa duração, em que, ao fim de algum tempo, a pessoa desmoraliza, sente-se inútil. A ociosidade forçada, segundo o médico, Pedro Afonso, in “Público” acaba por se reflectir negativamente na saúde mental.
E, como o mesmo afirma, “através do progresso tresloucado, a sociedade acaba por criar o seu próprio “vírus social” que vai sofrendo mutações em ciclos progressivamente mais rápidos, impedindo que o nosso organismo reaja, aumentando o número dos inadaptados; ou seja, os que sofrem de depressão e ansiedade”.
As coisas mudam para pior espontaneamente se não forem mudadas, para melhor, de propósito.
Na certeza de que vamos encontrar o próximo ano de grandes dificuldades, resta-nos que todos os políticos, no Governo ou na Assembleia da República, dentro ou fora, pelo menos nos transmitam aquela palavra de que todos estamos famintos como das outras necessidades básicas – a ESPERANÇA!

Votos de um Bom Natal.

(In Notícias da Covilhã, de 17/12/2009; Notícias de Gouveia, de 18/12/2009 e Diário Digital Kaminhos)

3 de dezembro de 2009

NO CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DO PADRE JOSÉ DOMINGUES CARRETO

Foi um dos grandes párocos da freguesia de S. Pedro, da Covilhã, entre o início da década de 40 e finais da de 60, do século passado.
Nasceu na freguesia de Aranhas, concelho de Penamacor, em 19 de Março de 1909, tendo a efeméride do centenário do seu nascimento acontecido já neste ano de 2009.
Viera de paroquiar na freguesia do Teixoso, em 1942, para a de S. Pedro, da Covilhã, onde permaneceu durante vinte e sete anos, até que a sua doença o afastou, em 1969, da sua paróquia, passando a exercer igual missão, na sua Terra, até 1973.
Tanto cá como lá deixou rastos de muita admiração e respeito.
No seu múnus esteve em desigualdade com os seus colegas da cidade, face à exiguidade da igreja – S. João de Malta.
Lutou pela construção de uma nova igreja, com mais frustrações que ânimos face aos poderes instituídos.
Não podendo alargar as paredes da igreja, cavou o salão por debaixo da mesma, onde conseguiu, ao longo do seu tempo, reunir muitos jovens e suas famílias, nas festas e comemorações no exercício da sua acção apostólica.
As então crianças e jovens desse tempo, recordam hoje os filmes e programas de televisão, nos seus primórdios (poucos a possuíam), a preto e branco, de um só canal. Era um pouco de distracção já que muito faltava aos jovens em casa, e uma forma de convívio para os familiares, retirando os pais das tabernas.
O desemprego não era tão acentuado nem havia o flagelo da droga, mas existiam as guerras coloniais, a falta de liberdade e os salários miseráveis.
No 1.º de Maio, em torno da festa de S. José Operário, no salão paroquial manifestavam-se cautelosamente os movimentos operários – JOC e LOC – expressando em palestras as suas ansiedades por uma forma de trabalho mais digna para as famílias.
Nas Conferências de S. Vicente de Paulo e de S. Tarcísio (Obra da Cadeia), exerceu forte presença e animou os confrades. Conseguiu reunir jovens nas mesmas.
Em tempo de iliteracia, que agradava ao Estado Novo, o padre Carreto lançou um interessante boletim paroquial – “ECOS DA PARÓQUIA” – cujo primeiro número veio a surgir em 12 de Setembro de 1956. Era mensal e focava várias secções: A Voz da Igreja, Momento de Reflexão, Noticiário do Mês, Liturgia, Lar de Protecção à Criança, Tribuna dos Novos, entre outras.
Reler agora aquele boletim, é passar por uns momentos nostálgicos, não esquecendo a célebre Festa da Catequese, no período do Natal, com a “compra” de prémios através das senhas que se conseguiam, ao longo do ano, pelas presenças nas missas e sessões de catequese; a notícia das visitas, dos estudantes e muitas curiosidades, o que nos leva a recordar muitos amigos desse tempo, com paradeiros diversos e alguns já fora do mundo dos vivos.
O Lar de Protecção à Criança, que a paróquia sustentava, iniciado em 1955, já não existe.
As festas de S. Pedro e de Santa Luzia, com o cariz desses tempos de antanho, com leilão de ofertas e a Banda da Covilhã a abrilhantarem, há muito que já não existe.
Permanece a festa e procissão de Nª.Sª de Fátima, com a adesão de muitos fiéis.
Recordemos que foi no tempo do padre Carreto que em 1947 se procedeu à coroação da Imagem de Nossa Senhora de Fátima, com uma coroa de ouro e pedras preciosas, oferecida pelas senhoras da Covilhã, com grande brilho para a cidade covilhanense.
Muito haveria a dizer do padre José Domingues Carreto, nomeadamente a sua veia de escritor, com dois livros sobre teatro – “Dois Caminhos” e “O Beijo do Menino Jesus”, sob o pseudónimo Jodocar dos Santos, tendo ainda sido autor de um filme.
A Câmara da Covilhã reconheceu os méritos deste sacerdote, há uns anos, com a atribuição de um diploma.
Penso que é chegada a altura, no ano do centenário do seu nascimento, que está a decorrer, de lhe ser dado o nome a uma rua, e, essa, seria a substituição do Largo Manuel Pais de Oliveira por Largo Padre José Domingues Carreto.




(In Gazeta do Interior, de 25/11/2009; Notícias da Covilhã e no Jornal do Fundão, de 03/12/2009 e Kaminhos).

5 de novembro de 2009

CONFRARIA DO POLVO

1 – “A vozes loucas, orelhas moucas” talvez seja o provérbio adequado a um intelectualismo mediático que por aí grassa de quando em vez. Tal como a máquina que, não sendo cuidada, por negligência ou ignorância, pode gripar, assim a longevidade humana pode ser alvo de semelhanças, na falta duma lubrificação na sua lucidez.
Só faltou ao Sr. Saramago cuspir em cima da Bíblia, como a artista brasileira Maitê Proença o fez numa fonte dum monumento nacional, em Portugal.
Deliciou-se na expansão do seu ódio contra Deus, no seu monólogo interior, com a sua pena.
Depois, encontrou uma certa brandura, sem retaliações, de outros intelectuais e homens que têm uma visão diferente do ateísmo do Sr. Saramago.
Mas, sobre a Bíblia e, mormente, sobre a divindade que a insere, o Sr. Saramago despejou vómitos da sua estupidez mental; mas questionado sobre o Alcorão, aí, o controverso escritor, assumidamente agnóstico, rejeitou se envolver em polémica. Pudera, brincar com os islamitas é perigoso em qualquer local do mundo, seja em Lisboa ou em Lanzarote; que o digam o escritor Salman Rushdie, com a sua obra “Versículos Satânicos” ou o director do jornal dinamarquês Jyllands-Posten após a publicação das caricaturas de Maomé.
Segundo António Bagão Félix, “Uma coisa é Saramago defender o seu pensamento livre. Outra é o modo como o faz. Com acidez, arrogância, intolerância e sectarismo extremos. Pretensamente auto-dotado de uma superioridade intelectual e moral desde que foi galardoado com o Nobel, acha-se pateticamente acima dos outros”.
Também o director do Público, José Manuel Fernandes, refere que “A liberdade de expressão inclui, sem outra limitação que a vergonha própria, a liberdade de dizer disparates em público. Não é a primeira vez, nem deverá ser a última, que o escritor adopta o registo da provocação para chamar a atenção, até porque vivemos num país de muito respeitinho e o homem é uma espécie de ícone nacional. E como, por cá, ninguém reage com fatwua, Saramago pode tirar partido de uma liberdade de expressão que ele, curiosamente, não deu a quem trabalhou sob as suas ordens no Diário de Notícias no tempo da Revolução”.
2 – Cada vez mais emergem Confrarias em várias zonas do País. Dantes resumiam-se a uma meia dúzia. Hoje são à mãos-cheias. Só alguns exemplos: Confraria da Panela ao Lume (Guimarães); Confraria do Bacalhau (Ílhavo); Confraria das Tripas (Porto); Confraria do Queijo da Serra da Estrela (Oliveira do hospital); Confraria dos Nabos (Mira); Confraria dos Gastronómicos e Enófilos de Trás-os-Montes e Alto Douro (Mirandela); Confraria da Broa (Avintes); Confraria da Chanfana (Vila Nova de Poiares); Confraria da Fogaça (Feira).
Na nossa Região algumas já existem, como a Confraria do Azeite (Fundão) e, penso, que a Confraria da Cereja.
Fala-se na tentativa de implementação de novas Confrarias, como a Confraria das Feijocas (Manteigas) e outras acabaram por não ir avante, como a Confraria da Panela do Forno, na Covilhã. Também poderia surgir a ideia da Confraria do Pastel de Molho, na Covilhã, a Confraria da Cebola, no Tortosendo, a Confraria da Castanha, etc, etc.
Mas surgiu o tubérculo só conhecido na Covilhã e Região – a cherovia – que também se consome na Inglaterra, a quem Miguel Esteves Cardoso já se referiu na sua coluna do Público.
Promovida na Covilhã com dois festivais gastronómicos alusivos, pela Banda da Covilhã, e que se preparava para a criação da Confraria da Cherovia, vê-se agora oficialmente legalizada, duma forma apressada, por outros elementos estranhos à Banda da Covilhã.
Com tanta Confraria, levou-me a sugerir a criação da “Confraria do Polvo”, duma forma selectiva e desde que os confrades passem a ser chamados de “tentáculos”. Só poderão aderir todos quantos souberem saltar à Vara, em pau de Loureiro, em zonas de Penedos.
Com uma rede destes excelentes “tentáculos” (confrades), conseguiríamos formar a maior Confraria do País, e seria fácil a angariação de elementos, através convites para Lisboa, Oeiras, Gondomar, Felgueiras, Marco de Canavezes, não esquecendo o Zé Godinho, que até poderia oferecer um pão-de-ló, na altura da escritura da constituição da CONFRARIA DO POLVO.

(in “Notícias da Covilhã” de 05/11/2009, “Gazeta do Interior”, de 04/11/200,“Notícias de Gouveia”, Jornal “O Olhanense” e “Kaminhos”)

29 de outubro de 2009

O EXTINTO “C.R.P. ESTRELA DE SÃO PEDRO”


Foi uma das colectividades populares de outrora, da cidade covilhanense – ditas “de bairro” – na esfera da então FNAT – Federação Nacional para a Alegria no Trabalho, hoje sob a designação de INATEL. Teve o seu início na década de cinquenta do século XX.
Após o 25 de Abril de 1974, as colectividades sob a égide do Inatel, passaram da sigla “C.R.P”. – Centro de Recreio Popular, para “C.P.T.” – Centro Popular de Trabalhadores; e, pelo Decreto 61/89, de 23/02/1989, para “C.C.D.” – Centro de Cultura e Desporto.
Estes centros eram lenitivos das pessoas nas agruras do trabalho, nas centenas de fábricas laneiras de então. Daí que o concelho da Covilhã era e é o detentor do maior número de agentes desportivos e culturais da região e do distrito.
Mas, dentre as dificuldades culturais, por falta de acesso a estudos continuados nas regiões, à altura, pouco dinheiro para o sustento duma família, quanto mais para adquirir livros ou jornais, ir ao cinema ou ao teatro (quando ocasionalmente surgia) ou mesmo adquirir um aparelho de televisão (ela emergiu em Portugal em 1957), as iniciativas e ideias partiam destes clubes de bairro, proporcionando a criação de bibliotecas, salas de leitura, organização de eventos, para além dos aniversários comemorativos; também a organização do folclore e, eventualmente, algumas conferências.
A confraternização entre associados era bem patente nesses tempos; mais que nos dias de hoje, cujo associativismo está muito fragilizado; através de ocupação dos tempos livres por via dos chamados jogos de mesa, nos bilhares, e para além de ser ponto de encontro para amenizar conversas do dia-a-dia.
Mas também o desporto-rei mexia com estas colectividades e eram muitos os jovens que integravam as equipas das respectivas colectividades; organizavam-se torneios e chegou a haver o Campeonato Nacional de Futebol da FNAT.
Muitas são as reminiscências de quantos jogaram futebol pelo seu clube, proporcionador de rivalidades leais, mas pendentes para o companheirismo, amizade e confraternização.
As crises emergentes das guerras nas colónias, para onde ia grande parte da juventude desses clubes, a emigração em força na década de sessenta, e depois as crises após a democracia, levaram algumas colectividades a verem-se reduzidos aos reformados, com altos e baixos, na força emanada de boas vontades no difícil dirigismo.
Alguns impuseram mesmo uma vontade indómita de transformação e, pelo trabalho, surgiu o brilhantismo com obras nas sedes das suas colectividades, fruto também da forte mão benfazeja da edilidade covilhanense.
Da geração do Estrela de S. Pedro contam-se também, entre outros, o Oriental de S. Martinho, Os Leões da Floresta, Arsenal de São Francisco, Águias de Santa Maria, Rodrigo, Académico dos Penedos Altos, B.º São Vicente de Paulo, Estrela do Zêzere – Boidobra, Canhoso, Pinhos Mansos – Tortosendo.
O Estrela de S. Pedro, o Águias de Santa Maria e o Arsenal de S. Francisco, viriam a não aguentar as contingências já referidas e a sucumbir, sendo certo que o Arsenal de S. Francisco viria a ressurgir em 1996.
Da letargia em que caíram, ainda não acordaram – nem se vislumbra nenhuma luz no fundo do túnel – o Estrela de S. Pedro e o Águias de Santa Maria.
Ficaram tão só as memórias dessas colectividades e das figuras que as mesmas envolveram.
Foi no Estrela de S. Pedro que despontou para o futebol, o então jovem Francisco Manteigueiro, que viria a ser pedra basilar nas equipas do Sporting da Covilhã.
Também o Estrela de S. Pedro foi a Colectividade que organizou, ao tempo do presidente Gabriel, a primeira Corrida de S. Silvestre, na Covilhã, que depois manteve, sob a sua organização, durante vários anos.

(In Tribuna Desportiva de 20/10/2009, Notícias da Covilhã e Jornal do Fundão de 29/10/2009)

15 de outubro de 2009

A INAUGURAÇÃO DA ESTRADA DAS PEDRAS LAVRADAS

Já lá vão 136 anos, data em que foi inaugurada a abertura da estrada das Pedras Lavradas que ligou a Covilhã à cidade de Coimbra.
No local, que então era o prolongamento da Rua Marquês d’Ávila e Bolama, e se passara a chamar Palmatória, e, actualmente, Avenida da Universidade, foi aí colocado um monumento – a “Palmatória” – que ainda lá se encontra, numa zona verde. Existiu também um posto da Direcção de Viação e Trânsito, no entroncamento da referida estrada (para os Sete Capotes – Tortosendo) e a actual Avenida da Universidade.
Assim, em sessão extraordinária da Câmara Municipal da Covilhã, de 30 de Setembro de 1873, presidida pelo vereador Baptista Alves, em substituição do presidente Megre Restier, foi deliberado o seguinte:
“ (...) 2.º - Que constando, ainda que não oficialmente, mas com certeza, a vinda do Exm.º Ministro das Obras Públicas a esta cidade nos dias do próximo mês de Outubro, a fazer a inauguração da estrada das Pedras Lavradas, a Câmara deliberou que se devia fazer para a sua recepção, pois que, sendo a construção daquela estrada um dos melhoramentos mais importantes, não só para a Covilhã, mas também para as Beiras, e dignando-se o Exm.º Ministro vir solenizar aquele acto com a sua presença, entendia se devia fazer uma recepção brilhante e condigna de um Ministro que tanto se interessa pelos melhoramentos do País.
A Câmara concordando com as ideias apresentadas pelo Senhor Presidente, deliberou que se convidassem para reunirem nos Paços do Concelho, no dia 2 de Outubro, pelas 11 horas da manhã, todos os donos dos estabelecimentos fabris, bem como as principais pessoas da cidade, devendo também reunir a Câmara nesse mesmo dia, a fim de comum acordo, se determinar o que se deve fazer acerca da recepção do Exm.º Ministro”.
Após a inauguração, por via da acta da sessão extraordinária da edilidade, do dia 17 de Outubro de 1873, presidida pelo presidente da Câmara, Megre Restier, surgiu o seguinte registo: “(...) O Senhor Presidente declarou à Câmara, que devendo ter lugar, como teve a inauguração da estrada das Pedras Lavradas, no dia 16 do corrente mês, tinha convidado todas as autoridades, pessoas principais e donos de fábricas, bem como as filarmónicas, para assistir à solene festa da inauguração e tinha dado as competentes determinações para se cantar o Te-Deum, que teve lugar depois da inauguração da estrada”.
Posteriormente, por acta da sessão extraordinária da Câmara, de 6 de Novembro de 1873, presidida pelo vereador Baptista Alves, foi deliberado:
“(...) 4.º - O Senhor Presidente informou que as pedras que devem ser colocadas na rua que tem o nome Rua do Marquês d’Ávila e Bolama, custavam em Lisboa 2.500 réis cada uma, e que a coluna que deve ser levantada aonde se fez a inauguração da estrada das Pedras Lavradas, para comemorar aquele acto, custava em Lisboa, pronta e encaixotada, 60.000 réis.
A Câmara deliberou se mandasse vir a coluna e quatro pedras para a Rua Marquês d’Ávila e Bolama, devendo a coluna trazer a seguinte inscrição: Em 16 de Outubro de 1873 foi inaugurada a Estrada das Pedras Lavradas pelo Exm.º Ministro das Obras Públicas, Comércio e Industria, Cardoso Avelino – Par do Reino Vaz Preto e Deputado Pinheiro Chagas; e, do outro lado, Câmara Municipal de Covilhan de 1873.
5.º - Sob proposta do Senhor Vereador Cunha, a Câmara deliberou que se oficiasse ao Exm.º Director das Obras Públicas, para que, com a maior brevidade, mandasse abrir a servidão para a rua pública de S. João de Malta, na estrada real n.º 55, junto ao quintal de Manuel Teixeira”.
Mais tarde foi colocado ali o Posto n.º 70, da Polícia de Viação e Trânsito na Covilhã, onde esteve à frente o Chefe Constantino Pedrosa Gonçalves, durante dez anos, desde 1958 (ver foto). Já faleceu, no Porto, onde residia.


(In "Noticias da Covilhã de 15/10/2009)

8 de outubro de 2009

O ANTIGAMENTE E AS VULNERABILIDADES DE HOJE

As novas gerações recebem as memórias dos mais velhos duma forma tão de hilariante quão de estranheza, quase que deduzindo alguns que o mundo não tivera qualquer mutação de realce.
As facilidades e ofertas dos dias de hoje, não se coadunam com as dificuldades e falta de meios tecnológicos de outrora, onde a mão-de-obra era a mola impulsionadora do trabalho e a inteligência o grande computador omisso de há mais de sessenta anos.
Nascemos antes da televisão, das fotocopiadoras, ar condicionado, máquinas de lavar roupa ou secadoras. Não existiam cafeteiras automáticas, microondas, videocassetes, ou câmaras de vídeo.
Também ainda não tinham surgido o computador, os telefones sem fio e telemóveis, máquinas de escrever eléctricas e calculadoras. Nunca havíamos ouvido falar de música estereofónica, rádios FM, cassetes, CDs e DVDs. “Hardware” era uma ferramenta e “software” não existia.
Dava-se corda aos relógios todos os dias. Não existia nada digital. As fotos não eram instantâneas nem coloridas. Não existiam os radares, cartões de crédito e raios laser.
O homem ainda não tinha chegado à Lua. Ainda não havia as vacinas contra a poliomielite, as lentes de contacto e a pílula anticoncepcional.
“Gay” era uma palavra inglesa que significava uma pessoa contente, alegre e divertida, não homossexual. Das lésbicas nunca tínhamos ouvido falar e os rapazes não usavam piercings.
Ter um bom relacionamento, era dar-se bem com os primos e amigos. Tempo compartilhado, significava que a família compartilhava férias juntos.
Chamávamos cada homem de “senhor” e cada mulher de “senhora” ou “menina”. Ensinávamos a diferenciar o bem do mal e a sermos responsáveis pelos nossos actos.
Fomos da geração que acreditou que uma senhora precisava de um marido para ter um filho.
Acreditávamos que “comida rápida” era o que a gente comia quando estava com pressa. Ainda não havia comidas congeladas. Não se tinha ouvido falar de “Pizza”, “McDonald’s”, nem de café instantâneo.
Naqueles tempos, “erva” era algo que se cortava e não se fumava. Ainda não havia terapias de grupo.
Muita da juventude de hoje está perdida porque não conhece os grandes valores que orientaram os que hoje rondam os cinquenta e os sessenta.
No ensino, da antiga instrução primária, até à 4.ª classe, havia rigor e aprendia-se a conhecer todos os rios de Portugal, as serras, os relevos, as principais cidades e suas indústrias, até as estações de caminhos-de-ferro e todas as províncias de Portugal. Na história, sobre a fundação de Portugal até à República.
Os alunos não eram mimados como nos dias de hoje. Os professores davam-lhes reguadas quando não sabiam a matéria. Só no Asilo, o professor Raul dava as reguadas não nas mãos mas no rabo. Punha todos os “sacrificados” de rabo para cima e mãos no chão. E ninguém morria de medo.
Quando se chegava à 4.ª classe e quem quisesse seguir para o ensino secundário, tinha explicações adicionais, “exigidas” pelos professores, para terem êxito no exame de admissão, contra o pagamento de cem escudos por mês.
No secundário, mormente na Escola Industrial e Comercial, tiravam-se os cursos, comerciais ou industriais, com rigor, e ficava-se preparado para uma actividade profissional. Eram transmitidas matérias como, por exemplo, saber redigir cartas comerciais em português, francês e inglês, daí que os alunos estavam quase sempre preparados para exames de acesso aos Bancos, emprego invejável na altura.
Depois, veio a geração “rasca”. Nós éramos mais a geração “à rasca”; sempre à rasca de dinheiro, contrastando com os de agora que não lhes falta nada, inclusive, com todos os meios que facilitam o estudo, como a Internet.
No nosso tempo, universidades só existiam em Lisboa, Porto, Coimbra e Évora. Para obter um curso superior era preciso uma mão cheia de massa.
Hoje existem muitos meios tecnológicos, mas por mais que se queira fugir do maldito vírus, há sempre os chico-espertos que os infiltram nos computadores, nos e-mails e não sei que mais, e não conseguimos deixar de passar por otários, por mais que evitemos ficar encavacados.


(In "Noticias da Covilhã" de 8/10/2009 e a sair no jornal "O Olhanense" de 15/10/2009)

1 de outubro de 2009

UM AMIGO QUE PARTIU

Foi mais um amigo que partiu, sem o conhecer pessoalmente.
Já antes acontecera com Herculano Valente.
Agora foi Augusto Ramos Teixeira. Figura bairrista do desporto olhanense que me viria a proporcionar a ligação duma amizade com o Jornal Olhanense e gentes do Clube.
Logo na altura constatei, que, afinal, os carolas continuavam a persistir.
Já simpatizava com o Olhanense, desde a minha meninice, do tempo áureo da antiga Primeira Divisão e dos cromos de futebol de então.
Mas iria ser Augusto Ramos Teixeira a estabelecer, desde logo, um elo de ligação; na espontaneidade, entre a minha pessoa, como serrano e carola pelo meu Clube – o Sporting da Covilhã –, ele próprio, carola do Sporting Olhanense; e a vertente cultural de estórias que fazem a história dos dois clubes.
Tive a felicidade de obter a colaboração, em várias informações telefónicas de Augusto Teixeira, interessado em dar resposta a alguns pedidos de informação que eu colocara na Comunicação Social, então no ano de 1992, para a publicação da segunda obra sobre a história dos leões serranos.
Foi assim que surgiu o complemento dessa desejada informação sobre “homens do futebol”, e outros que emergiram por sua já referida colaboração, que haviam sido pedras basilares nos dois clubes.
Por terem representado dignamente as camisolas dos clubes serrano e algarvio, surgiu destes homens uma dualidade de amor aos dois clubes: Fernando Cabrita, José Rita, Eminêncio, Palmeiro, Adventino, Robério, entre outros.
Seria assim, de alguns deles, uma acha para o reforço entusiástico de manter viva a chama da amizade, que deveria ser, afinal, a verdadeira face do desporto-rei.
Nesse meu trabalho tive o prazer de registar um agradecimento a Augusto Ramos Teixeira, de Olhão, e de lhe ofereceu um exemplar.
Ao longo destes anos, e mesmo já depois da sua doença, trocávamos cumprimentos, por via de pessoas amigas que iam a Olhão ou vinham à Covilhã.
E, algo que o ano passado me sensibilizou, foi o facto de após o jogo que se disputou em Olhão, entre o SCC e o SCO, ter recebido no meu escritório, na segunda-feira imediata, um telefonema duma pessoa que me enviava um abraço do amigo Augusto Ramos Teixeira. Nesse célebre domingo de futebol, se abeirara junto de um grupo de serranos que foi ver o jogo e perguntou se eu lá estava. Logo disseram que não mas que me conheciam. Envio de um forte abraço, que agradeci!
Foram facetas da amizade que trouxeram a génese verdadeira do desporto, na aspiração nobre de “mens sana in corpore sano”, mas que já se encontra um pouco desvirtuada, nos dias de hoje. No entanto, não deixa de ser aquele espaço onde todas as classes sociais se encontram, numa linguagem entendida por multidões.
Nesta senda, eu depois viria a conhecer, pessoalmente, alguns elementos do dirigismo olhanense, como Júlio Favinha, e o entusiasta Homem da reviravolta olhanense, José Isidoro Sousa.
Espero vir a conhecer pessoalmente a actual alma deste jornal, Mário Proença, a quem aproveito para apresentar sentidas condolências pelo falecimento de sua sobrinha.
Que o Senhor tenha em paz, junto de Si, o nosso amigo Augusto Ramos Teixeira, e, à sua família, apresento também sentidas condolências.


(In "O Olhanense" de 1/10/2009)

17 de setembro de 2009

AMIZADE E CULTURA ULTRAPASSAM FRONTEIRAS

Pode-se ficar mais brando.
O que não significa passar a ser passivo, ou no consentimento de lhe terem “dado a volta”.
É tão difícil mudar de clube como de convicções.
A exemplaridade dos actos soma mais pontos que a eloquência nas palavras.
Mas é difícil agradar a gregos e a troianos; como seja servir a Deus e ao diabo.
Todos os humanos têm virtudes e defeitos, neste paradoxo envolvente da vida.
E, como exemplo; numa visão na exclusividade dum interesse empresarial, ou vista na forma de um todo, incluindo o humano; assim a medalha pode ser vista no seu verso e reverso.
Talvez os incomodados com um malfadado orador, em sala repleta, tenham perguntado ao ouvido do mais próximo, sobre o que está muito à sua frente e outros lhe tolhem a visão: “Quem é que está a falar, é fulano não é? Eu logo vi que tinha que ser sempre o mesmo gajo a “mandar bocas”...” Do outro lado da “cortina”, numa visão mais inteligente, porque desconhecia o aventureiro, que o vê tão de afoito como de determinado, pergunta: “Disse-me que era o senhor fulano tal, do Interior abandonado, mas predisposto a fazer com que um rato venha parir uma montanha; é desses que eu preciso e conto já consigo, posso?”
Todos quantos rosnavam das suas palavras, na “catedral” improvisada, e apinhada, ao ouvirem o grande Líder, sentiram correr um suor frio sobre as suas costas, de alto a baixo, e, no final, o “afoito” a dissertar, que era objecto de aversão, pela sua conduta rígida, é agora alvo da maior atenção, e querem-lhe dar a conhecer os seus colegas e chefes, numa forçada simpatia.
Da desilusão passou a um encanto. De besta passou a bestial; do “mau da fita” a bom de conveniência.
Isto passa-se com muitos de nós.
Até nos textos que reputamos de interesse geral, alguns “regionais” olham por cima dos “óculos de grande visão”, e silenciam as notícias que lhes forem endereçadas, que deveriam preencher um devido espaço, ao serviço do leitor, sem o qual não tem razão de existir o periódico. Em contraste, surge uma página inteira, a dar oportunidade a figuras que, na mesma data, festejaram Bodas de Ouro de ofício divino, omitindo a outra notícia dum companheiro. Será isto democracia?
Nesta luta truculenta, e quantas vezes obtusa de argumentos, e ao arrepio do mais elementar bom senso, o mais importante não é a nudez forte da verdade, mas sim como dizia o Eça, o manto diáfano da fantasia.
No passado sábado estivemos num almoço-convívio em Manteigas, a convite do amigo covilhanense, José Ascensão Rodrigues, que é como o vinho do Porto – quanto mais velho melhor! Dinâmica na organização, preservador de amizades, cultor de tradições, proporcionador de novas amizades. Manteigas é uma das suas segundas Terras. E ali o amigo só conhece amigos. É a Banda, são os Bombeiros, são outras instituições, em todas preserva a amizade.
Ali se juntaram naturais de Manteigas como da Covilhã, e não só. Foi um convívio em que as “feijocas” fizeram ombrear covilhanenses com naturais de Manteigas, onde não faltou o Presidente da Câmara, a convite particular. Reforçaram-se amizades e geraram-se outras. Foi esta a bênção da Serra da Estrela com o véu do ar puro da montanha. Obrigado José Ascensão Rodrigues e Manuel Lúcio.
A Covilhã esperava-nos para um acto cultural, de grande envergadura, no Museu de Arte e Cultura da Cidade e, por isso, amigo não empata amigo, e lá estivemos. Agora era outro Presidente de Câmara, oficialmente a inaugurar a exposição sobre figuras de arte sacra que a maioria da população desconhecia, e se encontravam na igreja de S. Francisco, numa excelente argumentação do seu autor, Dr. Carlos Madaleno; estudo minucioso para a sua tese de mestrado, culminando com o lançamento do seu livro “Convento de São Francisco da Covilhã – Um olhar através do tempo...”, no Salão Nobre da Câmara Municipal.
Esperemos que as figuras expostas mereçam regressar a uma nova casa – lembrando o Pároco da Conceição, Padre Fernando Brito, a necessidade de serem restauradas e de serem guardadas com alguma vigilância – a que o Presidente da Câmara informou que já havia conversado com o Bispo da Guarda no sentido de ser criado um Museu de Arte Sacra, abrangendo outras figuras distribuídas por diversas paróquias da Cidade, mas que não é fácil.

(In ''Noticias da Covilhã'', de 17/09/2009)

10 de setembro de 2009

EM GOUVEIA, COM O COUCEIRO


(Da esquerda para a direita: - João Nunes, Bento Couceiro, Eduardo Prata e Miguel Saraiva.)


O desporto nasceu com uma aspiração nobre: “mens sana in corpore sano”. No entanto, como o conhecemos, é actualmente um espectáculo encenado por profissionais, mais para ser visto ou reproduzido nas transmissões mediáticas.
A expansão dos espectadores matou o propósito inicial e deu-lhe a condição de maior espectáculo do Planeta.
É também um espaço onde todas as classes sociais se encontram e cada modalidade desportiva é uma linguagem entendida por multidões. Nele estão o aristocrata e o “intocável” em igualdade de condições, ressalvadas as qualidades individuais que a natureza dotou cada um.
Vem isto a propósito de, há já uns bons anos, nos termos envolvido na vertente cultural da área do futebol – o Desporto-Rei.
Mas o “veículo planetário” que é a Internet, veio revolucionar ainda mais toda esta envolvente.
Surgem contactos telefónicos, por e-mail ou pessoais, solicitando informações desta ou daquela figura do Sporting da Covilhã, face a não encontrarem fonte de informação no espaço que deveria existir em qualquer colectividade, com uma biblioteca devidamente organizada, bem como o seu arquivo.
Para a posteridade ficaram figuras do desporto citadino, e temos vindo a recordá-las, mas é a carolice que nos tem trazido muitas alegrias, muitas amizades, algumas desconhecidas; muitos apreços por esse País fora, do Minho ao Algarve, e não só.
Por iniciativa gerada fora dos clubes; já que a preocupação destes é mais a parte financeira, e os resultados, obviamente indissociáveis do barco a flutuar; trouxemos à Cidade figuras do nosso SCC, que deixaram marcas e, se o não fizéssemos, algumas já não vinham a tempo.
Em 28/09/1991 com homenagem às Velhas Glórias do Sporting Clube da Covilhã; depois em 6 de Junho de 1998, aquando das comemorações das Bodas de Diamante, com algumas figuras muito importantes.
Já em 2 de Junho de 2007, aquando dos 50 anos da participação do clube serrano na final da Taça de Portugal, se reuniram algumas delas.
Em 1 de Maio deste ano, um grupo apaniguado criou um blogue sobre a História do SCC que tem dado brado.
E é neste contexto que conseguimos trazer à memória figuras que deram muita alegria à cidade, em domingos de futebol.
Não conseguimos que Bento Couceiro, antigo atleta serrano, que veio do Sporting, dos tempos áureos da antiga Primeira Divisão, por razões várias, estivesse connosco nas datas assinaláveis, já referidas, pelo que a força de vontade levou-nos até Gouveia, e almoçámos com Couceiro.
Recordámos jogos, participações, golos marcados pelo Couceiro.
Proporcionaram-se abraços, pelo telemóvel, dos antigos colegas, Manteigueiro, Coureles, Palmeiro Antunes e Suarez.
Ele que foi uma excelente pedra na defesa do SCC, chegando a ajudar o clube, como treinador, mormente nos juniores.
Em Gouveia, onde se radicou, foi treinador nas épocas de1963 a 1970.
Treinou ali jogadores que haviam acabado os contratos com o SCC, nomeadamente, Maçarico, Nogueira, Batista, Lanzinha, Nicolau, Amílcar, Leite, e o célebre Matateu, do Belenenses.
Aos 77 anos, lá está Bento Couceiro, vivendo os seus dias, numa Terra que o acolheu de bom grado.
Juntou-se a nós o chefe de redacção do Notícias de Gouveia, Paulo Prata, que nos tirou a foto, a qual agradecemos.


(In “Tribuna Desportiva”, de 08/09/2009 e “Notícias da Covilhã”, de 10/09/2009)

3 de setembro de 2009

INTOLERÂNCIA À TOLERÂNCIA

Agosto quente não deu oportunidade a uma fluidez mental para uma crónica menos esforçada.
Numa breve semana de férias, estivemos no norte com o amigo Fernando Pedrosa que serviu para colocar em dia o desenferrujar da língua sobre os tempos passados na Covilhã, que não deixa de recordar. Os dois casais mostraram o rol de emoções duma amizade antiga.
A gripe A continua a ganhar terreno e não vemos grandes preocupações da população, numa passividade a que já nos vamos habituando. Se há cinquenta e dois anos a gripe asiática também nos veio bater à porta (fui um dos atingidos), deveria, previamente, não se consentir, à velocidade com que esta epidemia se desenrola, a tolerância incutida por muitos indiferentes à situação.
O mundo avança vertiginosamente nos meios tecnológicos. Já não toleramos o que chegou a ser inovação nos nossos tempos – os mais de sessenta anos. Vejamos, por exemplo, as páginas das listas telefónicas, onde cabia um país inteiro, substituídas pela Internet e telemóveis; cassetes VHS que revolucionaram o cinema em casa, substituída pela Internet e os downloads; a televisão, quando nem havia comando, surgida em Portugal no ano da gripe asiática, substituída por plasmas e LCD, com imagens de alta definição; a luta entre o papel e o digital, com a crescente digitalização do mundo, alguns suportes mais antigos a serem ameaçados de morte. Não raras vezes o livro e o jornal são dados como mortos; a máquina de escrever, dactilografando ao som das teclas, que chegou a ser a imagem emblemática de alguns escritores, a ser substituída pelo computador; o telefone, sem fio era impossível falar e as cabines telefónicas já quase desapareceram, por oposição à crescente massificação dos telemóveis; bilhete de avião, sem papel não se voava, foi substituído pelo electrónico; tanque da roupa, até se convivia na hora de lavar a roupa à mão. Acabaram os lavadouros públicos. Surgiu a máquina de lavar roupa; disquete, trouxe o primeiro vírus, substituída pelas pens, CD e DVD. Um registo inserido no Diário de Notícias.
E a modernidade, pula e avança. Já não é estranho falar de twitter, facebook, you tube, google, GPS, wikipédia, e-mail; ipphone, playstation.
Nesta silly season, à beira de eleições, continua a ser um país au ralanti. Promessas, muitas promessas. Como nas palavras de Batista Bastos, é preciso haver memória contra o esquecimento.
Conforme refere Francisco Sarsfield Cabral, depois da crise global está a nossa crise. “Começou a recuperação económica mas a recessão deixará profundas cicatrizes”. “Tudo indica que a recuperação económica mundial será difícil, lenta e irregular, e o crédito fácil não voltará tão cedo”. “A nossa crise, que nos tolhe o crescimento económico, nos endivida perante o estrangeiro e nos empobrece, tem pelo menos uma década”. “O fim da crise global, a concretizar-se, não resolver os nossos problemas estruturais”.
Quem não tolerou o record mundial, no atletismo, foi o jamaicano Usain Bolt, cujo feito ficará para a eternidade, ao atingir o patamar do inimitável nos campeonatos mundiais de atletismo.
Não aspiramos a ser assim tão bons. Depois de três décadas após o 25 de Abril, as esperanças de todos vivermos bem estão longe de serem atingidas.
Enquanto houver diferenças abissais nos desideratos de cada um de nós, independentemente do esforço individual ou colectivo, não vamos a lado nenhum.
E a vontade implícita de cada português, no seu trabalho, vai sendo esbatida pelos exemplos que vêm dos próprios governantes, independentemente das cores partidárias.
São sobejamente conhecidos os casos de corrupção, e cada vez mais nos surpreendem, pelo menos aos honestos.
Efectivamente, o País sofre, o País tem os bolsos rotos, mas há muita gentinha com bolsinhas de prata e carteiras de excelente couro para guardar os muitos cartões bancários.
Por cá também vamos ter eleições. Não vamos discuti-las, tanto mais que, pelo trabalho feito, Carlos Pinto já ganhou as eleições. Nem precisa de cartazes.
A cidade pinga de obras a inaugurar.
Mas também há tolerâncias intoleráveis. Vejamos os almoços a um euro que o Município despende, há vários meses, com os portadores do cartão social do idoso. Acreditamos que não estaria no espírito da edilidade a sua extensão global, independentemente do rendimento de cada um, mas tão só aos mais necessitados, e, se foi essa a intenção, vai o nosso apreço. Mas sabemos que não é assim, e, pior que isso, é ver todos os dias, antes das dez horas, um grupo de utilizadores, sentados no muro em frente à ADC, não retirando pé, para serem os primeiros a ser servidos.
Isto extravasa a tolerância e, de intolerância, chega antes à ganância.

(In Notícias da Covilhã de 03/09/2009)

30 de julho de 2009

A VOCAÇÃO E A CAUSA – 50 ANOS




Corria o ano da graça de mil novecentos e cinquenta e nove e eu, na minha adolescência, passava o tempo pós escolar e das férias, na antiga Biblioteca Municipal, ao Jardim, onde meu pai se encarregava dos livros e dos jornais.
Na vinda e no regresso para casa, passávamos forçosamente pelas traseiras da Igreja de S. Francisco onde, no largo passeio, se viam, por vezes, vários seminaristas e pessoas novas que frequentavam aquela Igreja.
Um dia vimos um jovem, esguio, de batina preta, cheia de botões, de alto a baixo, como era usual na altura, e pensávamos que se trataria de mais um seminarista de teologia.
Mas como o víamos rezar o breviário, viemos a saber pelo merceeiro José Soares Cruto; do outro lado da rua – a Combatentes da Grande Guerra – que era visitado por alguns sacerdotes, como o Padre Nabais, para falarem também sobre o futebol, de que muito gostavam; e outros nomes que não menciono, por traição da memória; que se tratava do novo coadjutor do pároco da Conceição, o então Padre José Andrade.
Soube-se então que o novel padre dava pelo nome de FERNANDO BRITO DOS SANTOS, natural de Loriga; estávamos no mês de Setembro, daquele ano. Havia sido ordenado padre no mês anterior, mais precisamente em 2 de Agosto, na Sé da Guarda, ele o último de onze novos sacerdotes, ordenados naquele mesmo ano, o derradeiro da década de cinquenta do século passado, e que começaria em 14 de Março, com a ordenação de um novo padre do concelho da Covilhã – Sobral de S. Miguel, e também da Torre, do Sabugal; seguir-se-iam outros, da Rapoula do Côa, Santo Estêvão, Malhada Sorda, Bendada, Aranhas, Janeiro de Cima, Aldeia do Bispo, do concelho de Penamacor (dois), e, finalmente, o Homem de Loriga.
De imediato vimo-lo um sacerdote irrequieto, persistente, quão de humilde até aos dias de hoje, duma tenacidade que nem pensava sequer no seu desgaste, ao longo dos tempos, que o viria a afectar na sua saúde.
O Centro Cultural e Social da Covilhã abria as suas portas e instalou-se também aí o jornal Notícias da Covilhã (NC), propriedade da Diocese da Guarda, e é também aí que o Padre Fernando Brito irá encontrar o seu poiso e percorrer incansavelmente aquelas ruas de calçada em pedra, subidas e estreitas, até à Rua de Santa Maria (hoje Rua do Jornal Notícias da Covilhã).
Dedica-se de alma e coração aos jovens, e não só, numa acção profícua, junto da Acção Católica, onde mais de três décadas foi Assistente Diocesano, impregnando uma forte dinâmica na JOC – Juventude Operária Católica, em tempos difíceis que incomodavam a ditadura salazarista e mesmo marcelista.
E o lema desta juventude católica –“Nós não queremos a revolução, nós somos a própria revolução” – iria ser a luz forte que iluminaria muitos rapazes e raparigas, alegres, numa vontade inquebrantável, de ajudar a mudar o mundo do trabalho, na cristandade, quais Carrolas, Chiquitas; e outros quejandos, que o digam o José Manuel Duarte e a Alexandrina, e que outros nomes, omissos por exigências do espaço deste jornal, também foram merecedores da “bênção” do Padre Fernando.
Depois, dividido entre a Redacção do NC e outras multifacetadas funções, nomeadamente a sua intensa acção paroquial, levou-o a uma sobrecarga de trabalho, que ainda mantém, mas sem um qualquer enfado, antes na envolvente da palavra “sim” que trás sempre na mente.
Sim, porque ele é o “S. Vicente de Paulo covilhanense”, como fôra, durante trinta e cinco anos, o “Cardijn covilhanense, de coração”; sim, porque está sempre nos trilhos mais difíceis onde outros não querem ir; sim, porque é o apaziguador de conflitos, sempre no anonimato; sim, porque ele é uma estrela nas peregrinações que se transformam numa festa.
Fica muito por dizer deste Covilhanense de coração, de excessiva humildade, e que, por isso, muito do que faz não chega ao domínio público.
Se alguém da Cidade merece uma sentida homenagem pública, de há muito, este Homem é credor do respeito citadino, e diocesano.


(In “DIÁRIO XXI”, “GAZETA DO INTERIOR” e “JORNAL DE SANTA MARINHA”, digital, (Quinzenário do Concelho de Seia), de 29 de Julho; “NOTÍCIAS DA COVILHÔ e “NOTÍCIAS DE GOUVEIA”, de 30 de Julho e Jornal de Seia “Porta da Estrela”, de 30 de Julho, em edição papel e electrónica)

23 de julho de 2009

O FALECIMENTO DO CÓNEGO JOSÉ GERALDES


Não posso deixar de manifestar o meu sentimento de pesar, e o sentir de algum vazio, esperando que momentâneo, face ao desaparecimento do Padre Geraldes do mundo dos vivos.

Lia, e algumas vezes relia, os seus editoriais, no Notícias da Covilhã, do qual ele era o seu Director, sempre na defesa dos valores da vida e da cidadania, e em prol da Covilhã e Região.

Também não posso deixar de me recordar das suas raízes de Casegas, onde meu pai foi ali seu professor na 4.ª classe da Escola Primária, tinha eu uns dois anos.

Depois, o convite que lhe fez, como seu antigo professor, para participar na sua primeira missa, tendo-se deslocado, para Casegas, no carro de outro amigo, também desaparecido este ano, o livreiro José Mendes dos Santos.

Muito antes de ser Director do Notícias da Covilhã, e antes do 25 de Abril, uma ou outra vez o abordei, em encontros de ocasião, sobre alguns resquícios da ditadura, que os mentores do lápis azul faziam sublinhar, num deitar de olho pela imprensa regional, numa página própria do jornal do governo de então – o “Diário da Manhã”, visando parte de alguns textos deste Semanário.

Da amizade que nos envolveu, ampliada com contactos mais frequentes aquando da minha passagem pelo dirigismo da APAE Campos Melo, passara então a enviar-nos o jornal que dirigia, em Paris – “Presença Portuguesa”.

Mais tarde, e já sob a sua liderança como Director do Notícias da Covilhã, tive algumas trocas de impressões na colaboração deste semanário.

Por isso, não posso deixar de recordar este Homem que ainda conseguiu ver o seu contributo citadino reconhecido pela edilidade, através da homenagem que lhe foi feita durante as comemorações do Dia da Cidade, em 20 de Outubro de 2008.

(In Diário XXI, de 22 de Julho, e Notícias da Covilhã, de 23 de Julho)

OS “RITAS” AINDA TRAZEM À BAILA O “SPORTING DA COVILHÔ

Li em três jornais desportivos, de 29 de Junho último, com destaque, a contratação pelo Paços de Ferreira, de Leandro Barrios, neto do antigo guarda-redes do Sporting da Covilhã (SCC), José Rita.
O “Jogo” referia: “Meio século depois, os relvados nacionais vão voltar a ser pisados por um Rita dos Mártires. O legado da família começou na década de 1950, com José Bartolomeu, e vai continuar agora com o neto Leandro Barrios, avançado.”
Sendo certo que na antiga I Divisão chegaram a jogar dois guarda-redes, de nome Rita – o João Rita, do Caldas; e o José Rita, do SCC, ambos já falecidos, foi, no entanto, este último que, de facto, se evidenciou a nível nacional.
José Bartolomeu Barrocal Rita dos Mártires, de seu nome completo, mais conhecido pelo Rita, radicou-se no Brasil, quando deixou o Benfica, onde faleceu.
Num breve telefonema, uns dois anos antes da sua morte, já doente, falou comigo, com dificuldade, encorajado pela filha; que nasceu na Covilhã – a Fátima Regina, que lhe deu três netos: a Luana, o Tiago e o Diego; que insistiu com ele para falar: “É o teu amigo de Portugal, da Covilhã, onde jogaste!” Pouco falou e quase que só pôde perguntar onde estavam os seus antigos companheiros do SCC – o Martin, o Hélder e o Cavem.
Mas, uns anos antes, ainda em forma, em 1991, ficou deslumbrado quando recebeu notícias da Covilhã. As suas palavras, escritas pelo seu próprio punho, são evidentes de uma grande alegria: “Que emoção! Nem sei como explicar-lhe tanta alegria! Como é gratificante a gente saber que não é esquecido! (…) Paizão, vá tomar banho, vista um shorts e sente-se no sofá e relax, pois vai ter uma grande alegria. Não acreditei. As lágrimas rolaram de tanta emoção. Como foi possível rever antigos companheiros. Puxa vida! Não tenho palavras para lhe agradecer. Deus lhe pague. (…) No SCC agradeço aos meus companheiros da defesa: Hélder, Couceiro, Cavem, Martin, Cabrita. Estes gajos eram fogo! Que saudades! Era amor pela camisola verde e branca (…)”.
Depois, mais tarde, o filho, José Manuel Rita dos Mártires, ao receber a história do SCC, em 1993, no Brasil, envia-me uma carta e, dizia, num extenso rol de emoções: “(…) Estou muito emocionado, e orgulhoso do meu querido pai, pois desde pequeno sempre ouvi dizer que o “Rita” foi um bom goleiro; porém, nas últimas horas, ao ler a sua obra, é que descobri que ele foi um dos melhores. É emocionante para um filho descobrir aos 28 anos que seu pai era um atleta respeitado e entender hoje os porquês da vida. Estou-me sentindo como uma criança quando vê no pai um super-herói.
Quando garoto joguei na Portuguesa dos Desportos, aqui em S. Paulo. (…) Esta obra que o Sr. nos enviou me fez saber porquê das atitudes de meu pai, pois um atleta que teve de tudo, respeito, fama, carinho, amigos, etc., etc. foi abandonado por um clube como o Benfica. (…) Ganhei um troféu e já tinha conseguido, assim, algo que eu pudesse mostrar para os meus filhos, pois tenho o mais novo (4 anos) que tenho a certeza vai ser goleiro e dos bons, mas depois deste livro não posso parar e ainda tenho muito como goleiro para dar, pois segundo meu pai, goleiro é como vinho, quanto mais velho melhor.
Torço pelo SCC, desde pequeno, influenciado por meu pai, e como estou e continuarei jogando, gostaria de lhe pedir um uniforme de guarda-redes do SCC para que eu possa jogar aqui no “Leão do Morro” com o uniforme do “Leão da Serra”.
Pois bem, o equipamento de guarda-redes foi solicitado ao SCC mas não lhe foi enviado.
Mais tarde, no meu escritório, recebo um telefonema, oriundo dum empresário de futebol, do Brasil, solicitando apresentasse ao SCC o interesse em que jogasse à experiência um neto do Rita, “um garoto de grande valor, endiabrado, grande avançado”.
Informei o empresário de que eu não era dirigente do SCC, que me enviasse um e-mail, pois o canalizaria para o Clube.
No entanto, previamente, através dum telefonema, comuniquei o interesse manifestado ao então Presidente da Direcção, João Petrucci, que nada podia fazer na altura, face às finanças do clube.
O destino de Leandro Barrios, neto do Rita, acabaria por não vingar ainda em Portugal, naquela altura, mas bateu às portas do clube onde jogou seu avô, lá isso é verdade.

(In Diário XXI, de 7 de Julho; Notícias da Covilhã e Jornal do Fundão, de 23 de Julho)

14 de julho de 2009

AQUELE GRITO DE REVOLTA

Num semanário da Região escrevi há quase quatro décadas, com repercussão a um artigo surgido na semana anterior, que se intitulava “Funcionários públicos – esperança para 1972”, e, dando título ao meu texto – “Uma sóbria profissão: o Funcionalismo Público” – defendi a situação difícil que nesse tempo vivia esta classe, sem receio do tempo do “exame prévio” que substituíra a “comissão de censura”, mas que produzia o mesmo efeito.
Embora não me chegassem a pisar os calos, senti alguns risos irónicos e um rosnar de vozes por alguns cantos do município onde então trabalhava; e, paradoxalmente, algumas vozes de apoio para que eu prosseguisse na mesma senda, por colegas da Repartição de Finanças, o que eles não desejavam fazer…
Os tempos de hoje são diferentes mas ainda há vozes que preferem silenciar-se, não divulgando, na comunicação social, os erros ou incúrias que lesam gravemente o ser humano, chegando ao ponto de partirem para a outra margem da vida.
“UM GRITO DE REVOLTA”, de Maria dos Prazeres Matos Antunes Oliveira Roque, de Caria, que li no número de 28 de Maio, do Jornal do Fundão, e cujo conteúdo já conhecia porque a autora, num desabafo de revolta, de semblante triste, mas sem desejo de vingança, lamentava profundamente a negligência de que seu marido fora vítima, pelos clínicos que não souberam diagnosticar devidamente a sua doença; e o reconhecimento àqueles que constataram, tardiamente, a ineficácia do serviço dos seus colegas, mas que a ética profissional os obrigava a não fazerem comentários, é uma atitude de coragem e, embora não reclamando justiça, apela para o alerta futuro na dignidade que o doente merece.
Conheci e fui amigo do Américo Roque, da minha idade, pessoa quão simples como do brotar de simpatia, que gostava de viver, de lidar com os animais, dos pássaros e aves de capoeira, aos cães e gatos; mas que não pôde continuar a viver porque andou por caminhos clínicos errados.
Penso que as gentes da nossa gente beirã e portuguesa devem estar atentas e denunciar vivamente, sem receios, o que entenderem sobre eventuais erros ou negligência que possam afectar até ao túmulo a vida das pessoas.
Sabemos que dentro daquele véu em que muitas vezes se escondem os médicos – o foro clínico – não é suficiente para que o doente; ou os seus familiares, que até tem o seu estatuto, com vários direitos, espalhados pelas paredes dos hospitais; não deixe de responder à conduta que lhe é lesiva.
Sabemos que é difícil, e que o livro de reclamações pouco adianta, pois ainda hoje aguardo resposta a uma reclamação feita sobre um clínico duma urgência, verificada no dia 21 de Agosto de 2008, do Hospital da Covilhã.
Também sabemos distinguir os médicos de excelência que, quantas vezes, nos trazem o ambiente balsâmico para as nossas vidas.


(In Diário Digital ''Kaminhos'' de 14/07/2009)

25 de junho de 2009

O CARRO DO “SORTEIO DOS CEGOS”

Há uns anos encontrava-me em Vilamoura, com a família, no restaurante do Paulo China e do Figo, quando entrou o então futebolista internacional Paulo Sousa.
Ao lado da minha mesa estava o cantor Fernando Tordo que comentou baixinho para o seu amigo: “Ganha este gajo mais num mês que eu num ano!...”
Se atentarmos ao que se passa com os 94 milhões, número tão extravagante que já nem se leva o pensamento para Bancos – BPNs, BPPs, e quanto baste – mas tem de imediato um destinatário – Cristiano Ronaldo –, que comparação é que faria então o nosso cantor português, do “Cavalo à Solta” e da “Tourada” perante este “menino de diamante”?
Eu que gosto de futebol, escrevi muito sobre futebol, se calhar começo a ficar com o enfado do futebol.
Passei pelo restaurante do Vítor Saraiva – o “Neca”, na Covilhã, onde possui também, nas paredes do seu estabelecimento, fotografias e mensagens de gentes ilustres do mundo do desporto, e não só, como o Paulo China exibe em Vilamoura.
Mostra-me os jornais desportivos “O Jogo”, de 24/06/2008, com uma fotografia sua, equipado à Sporting, ao lado de Liedson, num grande cartaz, que, por sua vez, está junto ao sportinguista Yannick Djaló, que saiu do C.D. Estação.
Noutro jornal – “A Bola” – de 12/6/2009, lá aparece o amigo Neca com um breve texto e foto, não faltando a chamada de atenção – ”Ganhei o 1.º prémio no concurso gastronómico da CM Covilhã com um cabrito assado na brasa”.
Mas ao lado da sua fotografia, no jornal surge uma outra com história, de Tomás Paquete, uma das maiores figuras do atletismo português das décadas de 40 e 50, velocista do Benfica, 18 vezes campeão de Portugal, e não só, falecido há dias, e que há mais de vinte anos ainda chegou a ser meu colega de profissão.
Mas o Neca sempre foi daqueles covilhanenses de bom humor.
Recordei-lhe os tempos em que andámos na catequese, em S. Pedro, ao tempo do Padre Carreto, em que chegou a integrar uma peça teatral representando “Cristo”, em “Marcelino, Pão e Vinho”.
Mas na senda das memórias ficou o ano da “1.ª Prova da Rampa Serra da Estrela”, no início da década de setenta.
Tinha o Neca a carta de condução há cerca de 15 dias. Foi para a “Rosa Negra”, pelas 2 horas da manhã, juntamente com os amigos, entre os quais o Xico Antunes, ver treinar os profissionais da Rampa, o que se fazia naquele tempo.
Entretanto, o falecido Fernando Sobral, com o seu volkswagen artilhado, veio também fazer o trajecto da prova, que era do “Conde da Covilhã ao Sanatório”, com o cronometrista Xico Antunes. Surge à “Rosa Negra” a desafiar com o pouco tempo que gastara no percurso.
O Neca, há pouco tempo encartado, propõe-se fazer a prova em menos tempo. Fernando Sobral aceitou o desafio e confiou o seu carro ao amigo Neca, acompanhado pelo Xico Antunes. Fraca experiência do Neca e começa a acelerar; ao aproximar-se da “Rosa Negra”, depara-se com um carro em sentido contrário. Ao ver os faróis, desvia-se demasiado para a direita, subindo a rampa, e capotando duas vezes para o lado esquerdo, onde se encontrava a plateia de mirones.
Apesar de ter capotado, os dois ocupantes saíram ilesos; e o Neca recebeu forte ovação dos mirones, eram uma 3 horas da manhã.
Após o susto surgiu o Tó Coelho que resolveu o problema do reboque, levando o carro na camioneta de caixa aberta de seu pai.
No percurso, ao entrar no Pelourinho, com o espectáculo do carro do Sobral, amolgado, em cima da camioneta, o Neca ainda teve fôlego para deitar o desabafo: “Eh! Pá! Até parece o carro do Sorteio dos Cegos!...”
Finalmente, para “alívio” do Neca, no dia seguinte – o da prova – o terceiro concorrente fez exactamente a mesma coisa e não teve direito a palmas…

(In Notícias da Covilhã e Diário XXI de 25/06/2009 e no jornal ''O Olhanense''

18 de junho de 2009

O adeus a José Pereira


Inesperadamente desaparece do mundo dos vivos mais um antigo atleta do Sporting da Covilhã.
Depois de dois antigos dirigentes que ajudaram a cimentar o clube serrano para o galarim da história nacional do futebol português, e da imagem da cidade e região que acolhe de bom grado o “Leão da Serra”, terem partido – refiro-me claramente aos saudosos José de Sousa Gaspar e Carlos Xistra – coube também a vez dos homens das “chuteiras” terem visto cedo o destino certo dos humanos: foram eles os cunhados Rui Leite e Guilherme Moreira, depois de outros anteriores também já terem desaparecido.
Outras grandes glórias do SCC, já octogenárias, nomeadamente Suarez, Cabrita e Tomé, vão atravessando dificuldades nas suas doenças, mas de quando em vez, vão enviando saudações para o clube serrano cujas camisolas briosamente envergaram.
O antigo guarda-redes do Sporting Clube da Covilhã, José Pereira Moreno, covilhanense de gema, brioso desportista, amável nas palavras quão de simplicidade nas suas atitudes, vem aumentar o número dos que já passaram para a outra margem da vida, cedo para os tempos de hoje.
Foi incontestável titular nos juniores do SCC, na década de 60, ao lado de nomes de destaque como os irmãos Prata, Victor Campos, Berrincha, Ferrinho, Cipriano, Humberto e outros.
Depois, titular várias vezes, nas 2.ª e 3.ª Divisões Nacionais – nesta última chegou a ser Campeão Nacional na época de 1974/75 – sendo geralmente o 2.º guarda-redes nos seniores.
Depois de ter deixado de representar o SCC, envergou as camisolas da Associação Desportiva da Guarda, Benfica de Castelo Branco, Pinhelenses e Sport Clube do Barco, tendo, neste último, como treinador-jogador, levado a colectividade a ganhar o distrital da época 1981/82, no surgimento de César Brito.
No dia do seu falecimento, em conversa com Miguel Saraiva, Filipe Pinto e seus antigos companheiros, Fazenda e Eduardo Prata, comentámos as qualidades deste homem simples que continuava a vibrar com as cores serranas e a acompanhar alguns jogos fora.
No passado dia 1 de Maio esteve presente no jantar das velhas glórias do Sporting da Covilhã, onde confraternizou com antigos colegas, que agora lamentam a sua perda.
Paz à sua alma.

(In Diário XXI, de 17 de Junho e Jornal Notícias da Covilhã, de 18 de Junho)

1 de junho de 2009

A LONGEVIDADE DA ESCOLA INDUSTRIAL

Soe dizer-se Rua Direita, em vez de Rua Comendador Campos Melo; Praça, em vez de Mercado; Liceu, em vez de Escola Frei Heitor Pinto; Igreja de S. Martinho, em vez de Igreja de Nª. Sª de Fátima; e também a actual designação de Escola Secundária Campos Melo é mais conhecida, como sempre, por Escola Industrial.
Nesta instituição de excelência passou um formigueiro de gente, não só covilhanenses, como fundanenses, belmontenses, e de outras paragens da região, e não só.
Por todo o País, e vários cantos do Mundo, há homens e mulheres que passaram pela Escola Industrial e Comercial Campos Melo.
Fui também um dos seus alunos, inicialmente diurno, e, nos últimos anos, nocturno, sendo nesta fase que concluí o Curso Geral do Comércio.
Foram momentos bons, outros menos agradáveis, mas no somatório resultou num saldo francamente positivo.
No contacto com muitos Professores e Colegas, surgiram, na sua generalidade, amizades, algumas mais fortes que outras, hoje numa evidente nostalgia.
Ainda tenho memórias vivas de momentos bons e orgulho-me de ter participado nas Comemorações do Centenário, já lá vão 25 anos, e na fundação da APAE. Pena é que alguns Colegas, que também estiveram presentes e foram participativos em muitas reuniões de trabalho, cedo tenham desaparecido do mundo dos vivos.
Mas no privilégio de ainda poder memorizar, recordo também, ainda que vagamente, as Bodas de Diamante da Escola, sem a pompa do Centenário. Andava no 1.º ano do Ciclo Preparatório (os dois anos preliminares do Ensino Secundário exerciam-se na mesma instituição, não sendo em escola independente, como agora) e lembro o Director da Escola Industrial, Eng.º Ernesto de Melo e Castro, alegremente dizer que ouvira a notícia na Emissora Nacional (a televisão, de um único canal, a preto e branco, estava nos primórdios) do aniversário da Escola, e, logo referiu energicamente, como era de seu timbre: “A Rádio informou que a Escola Industrial comemora as Bodas de Ouro, mas não são Bodas de Ouro, são Bodas de Diamante. Vamos ver nos jornais de hoje se lá vem a notícia com o aniversário correcto”.
Quando a Escola Industrial foi criada, presidia à Câmara Municipal o Dr. António Pedroso dos Santos, que tem o seu nome numa das ruas da cidade. Na acta da sessão extraordinária do dia 5 de Janeiro de 1884, dois dias antes da criação da Escola, registou-se naquele livro documental: “Presidência do Senhor Doutor Pedroso dos Santos, estando presentes os Senhores Vereadores efectivos, Doutor Neves, Tavares Barreto e Fernandes d’Amaral, faltando com causa justificada os demais Senhores Vereadores.
Prestou juramento e entrou no exercício das suas funções o Senhor Vereador, substituto, Bernardino Morais d’Oliveira.
Também esteve presente o Senhor Administrador do Concelho.
Aberta a sessão à uma hora da tarde.
O Senhor Presidente declarou: que convocara a Câmara para esta sessão extraordinária pelo motivo que passa a expor, e cuja importância e urgência a mesma Câmara avaliará.
Que o Exm.º Sr. José Maria Veiga da Silva Campos Melo, Procurador à Junta Geral deste Distrito, e um dos mais importantes industriais deste Concelho, o informara de que estando recentemente com Sua Ex.ª o Ministro das Obras Públicas, este lhe manifestou o desejo do Governo abrir, quanto antes, escolas profissionais nos centros industriais, e o encarregou de solicitar desta Câmara que aplanasse as dificuldades que podem resultar da falta dum edifício com a capacidade e cómodos para a instalação das escolas de desenho, de mecânica e de tinturaria aplicadas, auxiliando, assim, o empenho do Governo, no sentido de instruir a população operária.
Que ele Presidente, compreendendo a vantagem intuitiva de criações de tais escolas não tinha dúvida, por sua parte, de votar uma despesa compatível com os recursos do município, a fim de se obter a realização de tão assinalado serviço, como o que o Governo projecta em favor dos industriais deste centro fabril.
Falaram sobre o assunto os Senhores Vereadores Doutor Neves e Fernandes d’Amaral, e não havendo outros vereadores inscritos, procedeu-se à votação, e, por unanimidade, se deliberou que a Câmara, congratulando-se, por ver atendida uma das mais imperiosas necessidades deste município, qual a da instrução profissional, secundará o empenho do Governo, pondo à sua disposição um edifício com a capacidade precisa para as escolas cuja fundação se projecta.
Deliberou-se mais: que uma cópia desta acta fosse enviada ao Exm.º Ministro das Obras Públicas, pedindo-se a Sua Ex.ª que mande um empregado, seu subordinado, inspeccionar o edifício que a Câmara destina para as escolas em projecto, para estando na casa, se fazerem nela as obras complementares necessárias.
E, finalmente, deliberou que se o edifício escolhido for particular se contrate a sua compra, ficando o Senhor Presidente para tanto já com poderes, fazendo-se logo o orçamento para a aquisição do mesmo edifício, e pedindo-se a necessária autorização e aprovação superior.
O Senhor Administrador do Concelho declarou: que se associava do melhor grado à deliberação da Câmara, e a felicitava por ter secundado o grandioso pensamento do Exm.º Ministro, vista a importância da instituição.
Não havendo mais a tratar, encerrou-se a sessão sendo duas e meia horas da tarde.
E eu António Carlos de Sousa Pimentel, Primeiro-Oficial da Secretaria Municipal, servindo d’Escrivão no impedimento legal do próprio, a escrevi, tendo prestado o competente juramento, nas mãos do Senhor Presidente.
Seguiram-se as assinaturas de: António Pedroso dos Santos
João das Neves
José Tavares Barreto
Bernardino Moraes d’Oliveira
Joaquim José Fernandes d’Amaral”

E, na acta da sessão de Câmara seguinte, datada de 16 de Janeiro de 1884, consta:
“Presidência do Senhor Doutor Pedroso dos Santos, Vereadores presentes os Senhores Artur Alves, Doutor João Dias Mateus e Morais de Oliveira, este substituto, faltando com causa justificada os demais Senhores Vereadores.
À uma hora da tarde declarou o Senhor Presidente aberta a sessão.
Lida a acta da sessão precedente foi aprovada.
O Senhor Doutor João Dias Mateus, Vereador efectivo, prestou o juramento da lei e entrou no exercício das suas funções.
O Senhor Presidente apresentou à Câmara os seguintes documentos e correspondência: Portaria do Ministro das Obras Públicas, Comércio e Indústria, de 14 do corrente mês, em que Sua Majestade, El-Rei, manda por aquele Ministério, acusar ao Senhor Presidente da Câmara Municipal deste Concelho da Covilhã a recepção da cópia da acta da sessão extraordinária da Câmara de cinco deste mês corrente, em que a mesma Câmara resolveu por unanimidade de votos, dos Senhores presentes à dita sessão, pôr à disposição do governo um edifício com a capacidade precisa para o estabelecimento da escola industrial criada por decreto de três de Janeiro do corrente ano; e Determinando O Mesmo Augusto Senhor, que em Sua Real Norma, se faça constar ao Senhor Presidente desta Câmara Municipal, para os devidos efeitos, que foi muito agradável de Sua Majestade, tornando-se digno de especial louvor, o modo, por que a Câmara Municipal do Concelho da Covilhã secundou a criação e organização da mesma escola industrial.
A Câmara ficou inteirada, congratulando-se pelo louvor contido na Portaria de Sua Majestade. (...)”
As Bodas de Prata da fundação da Escola Industrial, verificadas em Janeiro de 1909, tiveram na Câmara Municipal a Presidência de João das Neves, sendo Vice-Presidente o Padre José da Costa e Oliveira e dez Vereadores.
Foi Director da Escola, e seu Professor, desde a sua fundação, José da Fonseca Teixeira.
As Bodas de Ouro, verificadas em Janeiro de 1934, tiveram na Câmara Municipal, então em Comissão Administrativa, a presidência do Dr. Alexandre de Quental Calheiros Veloso, se bem que várias vezes também presidiu o Dr. Francisco Almeida Garrett. Como Vice-Presidente constava o Dr. José Victor Tavares Batista, um secretário, quatro vogais, e seis substitutos, o primeiro dos quais foi o Engº. Ernesto de Campos Melo e Castro, que, entretanto, era já, nessa altura, o Director da Escola Industrial e Comercial Campos Melo.
Aquando das Bodas de Diamante, em Janeiro de 1959, liderava a Câmara Municipal o Dr. José Ranito Baltazar, sendo Vice-Presidente o Dr. Gabriel Boavida Castelo Branco, e mais seis Vereadores.
Como Director da Escola mantinha-se o Eng.º Ernesto Melo e Castro.
No Centenário, em 1884, cujas comemorações se prolongaram por todo o ano, e se deu início aos trabalhos da constituição da pró-associação de antigos professores, alunos e empregados, que iria dar lugar à APAE Campos Melo, tinha na presidência da Câmara, Augusto Lopes Teixeira, com mais seis vereadores.
A Presidente do Conselho Directivo da Escola, designação de então, em substituição de Director, foi a Dr.ª Maria Ascensão Albuquerque Amaral Figueiredo Simões.
Conforme referi inicialmente, vários alunos que passaram por esta Escola, não eram da Covilhã. Um deles, por razões de ordem profissional de seu pai, que foi durante anos o responsável pelo extinto Posto da Polícia de Viação e Trânsito da Covilhã, sediado que foi à Palmatória, hoje Avenida da Universidade, veio do norte do País, donde é natural, para a Covilhã. Aqui passou parte da sua vida de estudante, tendo sido meu Colega na década de sessenta, na Escola Industrial, e, depois, algum tempo, também Colega de profissão na edilidade covilhanense, até que, após o serviço militar se mudaram os rumos das nossas vidas.
O Fernando Dias Pedrosa Gonçalves vivia para as bandas do Refúgio, e, aí, emparceirou com outro amigo, também do nosso tempo da Escola Industrial, o António José Lopes Gil Chorão, a residir em Lisboa.
Somos “três mosqueteiros”, e ambos sócios fundadores da APAE.
De vez em quando, do encontro de amigos, surgem as recordações do passado, agora que todos contamos já com netos.
Vai daí, um e-mail do Fernando Pedrosa de há dias, na memorização de estórias que fizeram e continuam a fazer a história da nossa Escola Industrial, assim:
“No sábado de manhã e no regresso a casa, findas as aulas, eu e o Chorão combinámos de tarde ir dar um passeio à Covilhã.
Se bem combinámos melhor o fizemos, pois passamos a tarde entre o Pelourinho e o Jardim e, saturados de calcorrear a cidade, decidimos regressar ao Refúgio.
Tinha estado uma tarde magnífica e, por isso mesmo, vínhamos calmamente. Já perto do Refúgio vemos ao longe aproximar-se um carro que nos era familiar – era o velho Austin do Eng.º Ernesto Melo e Castro. Ao passar por nós reconheceu-nos e fez um gesto de simpatia para connosco.
Ainda não tínhamos caminhado meia dúzia de metros e ouvimos a buzina de um automóvel a tocar freneticamente. Era o engenheiro que parara o carro, e, buzinando e gesticulando dentro do mesmo, requeria a nossa presença. Voltámos para trás e aproximámo-nos do carro.
- Há algum problema, Sr. Engenheiro? – Perguntámos.
- Nada de grave. Estou a regressar de Lisboa e como tenho o carro muito carregado e ainda tenho de ir para Orjais, lembrei-me de vos pedir para irmos à Escola descarregar, só que não tenho a chave. Vocês não me podem ajudar a resolver o problema?
Eu e o Chorão ficámos a pensar e propusemos deixar o material em caso do Zé Rodrigues, que morava mesmo ao lado da Escola, caso estivesse alguém em casa.
O engenheiro não encarou bem com a ideia e salientou que o ideal era ficar tudo na Escola.
- Então só se assaltarmos a Escola!
O homem olhou-me e exclamou:
- Assaltar a Escola!?
Eu, com a anuência do Chorão, expliquei:
- Por vezes há janelas que ficam mal fechadas ou por esquecimento entreabertas e se isso acontecer nós entramos sem problemas, desde que o Sr. Eng.º esteja de acordo e nos der licença para o fazermos.
O Sr. Director ficou pensativo, o Chorão ajudou à decisão, dizendo:
- Não há nada como tentar!
- Então vamos lá, entrem e acomodem-se da melhor maneira.
A viagem até à Escola foi rápida. Em determinado momento apercebi-me que o homem estava em pulgas e arrependi-me de ter feito a proposta. Tinha, sem querer, caído numa armadilha. Chegados à Escola, eu e o Chorão saímos do carro e caminhámos para as traseiras onde havia um muro fácil de saltar.
Já dentro do recinto da Escola dei conta ao Chorão da minha ideia: o homem, quando segunda-feira chegasse à Escola, iria fazer um pé-de-vento que ninguém o iria aturar:
- Não, pá, ele não vai fazer nada; nós estamos a ajudar.
Estivemos para bater em retirada e dizer que afinal estava tudo fechado a sete chaves, mas decidimos ir em frente. Começámos a empurrar todas as janelas daquele correr até que chegámos a uma que facilmente cedeu e abriu-se. Era uma das janelas das casas de banho. O contínuo era o Ti Zé Tesão, como a malta o apelidava e tinha o hábito deixar as janelas com uma abertura pequeníssima para haver circulação de ar e assim atenuar o mau perfume...
Entrámos, fechámos a janela e subimos ao piso onde se situava a entrada principal da Escola; procurámos a chave no chaveiro situado na sala dos contínuos e abrimos a porta.
Descarregámos o carro e ficou tudo depositado junto ao gabinete do engenheiro.
Na despedida, o Chorão ainda pediu:
- Sr. Eng.º, não vai ralhar com ninguém por causa disto!?
- Não. Só tenho a agradecer-vos pela ajuda.
Aí entrei eu e disse:
- É que se isso acontecer nós vamos ficar com o pessoal todo a olhar de lado para nós!
Abriu a porta do carro e, antes de entrar, ainda disse:
- Bom Domingo! Não se preocupem, está tudo bem.
Na segunda-feira os berros do engenheiro ecoaram por toda a Escola e ouviram-se na aula de francês onde o saudoso Dr. Oliveira Dias se virou para mim:
- Não é nada contigo, Pedrosa!?
- Acho que não, Sr. Doutor!
Tocou para a saída, desci a escada e logo encontrei o Pereira Nina que era o chefe dos contínuos:
- Tinhas que ser tu, Pedrosa!
O Eng.º Melo e Castro não era homem para deixar passar em branco falhas graves nem pactuava com meias palavras. O que tinha a dizer, disse.
Um abraço.
Pedrosa”.


(In Revista ''Ecos da APAE'', nº.17, de Junho 2009)

14 de maio de 2009

CINQUENTA ANOS DO MONUMENTO A CRISTO-REI

Recordo-me como se fosse hoje o dia da inauguração do Monumento a Cristo-Rei, em Almada.
Também assisti às cerimónias, pela televisão, a preto e branco.
Por azar, com muitas interrupções do receptor no Salão Paroquial de S. Pedro; aquele espaço arrancado a ferros duma cave da pequena Igreja, naquela vontade indómita do Padre Carreto, de lutar, com as suas próprias forças, pelo alargamento da Igreja, que, em tempos, e com desgosto seu, sentia os ditos e os mexericos de uma possível demolição.
Era o tempo em que, no final da missa e da catequese, os meninos e as meninas presentes, sob olhar atento das catequistas, recebiam uma senha para no mês do Natal poderem trocar por roupas novas, numa exposição de bom gosto no salão paroquial.
A televisão tinha emergido em Portugal há cerca de um ano; as pessoas ainda a não tinham nas suas casas, por falta de poder económico. O aparelho ainda era caro para as bolsas dos operários e funcionários públicos de então.
Onde os televisores, com o único canal da RTP, a preto e branco, se encontravam, era então nos cafés, clubes desportivos e salões paroquiais.
Era um aparelho de luxo. Quando alguém, com algumas posses, o tinha em casa, surgia a voz crítica: “Fulano já comprou uma televisão!...”
Eu andava no Ciclo Preparatório, na Escola Industrial e Comercial Campos Melo, e na catequese da paróquia de S. Pedro, em S. João de Malta.
O salão já servira para festas paroquiais, reuniões, e o que fosse possível, inclusive a Festa de S. José Operário, no 1.º de Maio, de que a Pide não gostava.
Também ali o clube da FNAT de então – Estrela de S. Pedro – apresentava no seu aniversário alguns números teatrais, salientando-se na representação alguns dos seus sócios, como o Pavillon, que era funcionário da Caixa Geral de Depósitos; o Henriques, o Carrilho, entre outros.
O dia 17 de Maio de 1959 também fôra a um domingo, como agora no dia do seu cinquentenário.
O Padre José Domingues Carreto anunciara previamente, nas homilias das 9 e das 11 horas, de que no Salão Paroquial podiam ver a festa da inauguração do Monumento a Cristo-Rei.
Muito antes da hora ficara repleto. Imenso calor por falta de conveniente ventilação, naquela cave que, apesar de tudo, era acolhedora, para aqueles tempos.
Muito embora existisse a trilogia do “Fado, Futebol e Fátima” uma coisa fica dum tempo nostálgico: não tinha surgido aquilo que futuramente viria a ser o flagelo da humanidade – a “droga”.
Mas, voltando àquele domingo, 17 de Maio de 1959, quero recordar que foi verdadeiramente notável, com um mar de gente em Almada, incluindo as figuras do Estado Novo.
Ouvia-se o locutor da RTP a explicar os passos e a história da construção daquele monumento, com as interrupções, com intervalos de espera, sob o nervosismo do Padre Carreto que não conseguia resolver o problema do aparelho ainda novo; e, depois, interferências e mais interferências, até que, vai daí, o velho Mariano, marido da D. Barburinha, impaciente, sai, de chapéu na mão, exclamando: “Não sei o que é que aconteceu; basta ir ali, a um qualquer café, e não é nada disto com a televisão!...”
Com 113 metros acima do nível do Tejo, constituído por um pórtico com 75 metros de altura, encimado pela estátua do Redentor, de braços abertos voltado para a cidade de Lisboa, com 28 metros de altura, assim se descreveu o Monumento a Cristo-Rei.
A sua construção foi inspirada na visita do Patriarca de Lisboa, Cardeal Cerejeira, ao Rio de Janeiro, no Brasil; e também edificado em cumprimento de um voto formulado pelo Episcopado Português reunido em Fátima em 20 de Abril de 1940, pedindo a Deus que livrasse Portugal da Segunda Guerra Mundial.
A inauguração do monumento teve a presença dos Cardeais do Rio de Janeiro e de Lourenço Marques e cerca de 300 mil pessoas.
O Papa João XXIII, antigo Cardeal Angelo Giuseppe Roncalli, que havia sido eleito, por morte de Pio XII, ainda não havia um ano, enviou uma mensagem de rádio que foi transmitida na altura; e o Cardeal Cerejeira afirmou que o monumento seria sempre um sinal de gratidão pelo dom da paz.


(In Notícias da Covilhã e Diário XXI de 14/05/2009)

7 de maio de 2009

ESTRELAS DO SP. COVILHÃ NUMA CONSTELAÇÃO DE VELHAS GLÓRIAS


Foi no passado sábado, conforme fora anunciado.
Depois dum excelente trabalho dos organizadores, ficou a marca de um grande dia para a história da colectividade serrana.
Centena e meia de pessoas reuniram-se num hotel da cidade, num jantar convívio, onde começaram a surgir as “Velhas Glórias” dos Leões da Serra.
“Quem é aquele?” – foi a expressão mais utilizada de início.
Alguns vinham já “desfocados” na sua fisionomia mas ao surgirem os seus nomes, foi a alegria, e os muitos abraços.
Outros não puderam comparecer, uns tantos enviaram mensagens, e um deles, que não pode vir, até chorou.
A presença de quase sete dezenas de antigos jogadores (alguns que mais tarde estiveram como treinadores) e dois antigos treinadores (Vieira Nunes e António Jesus), sem contar com os muitos antigos dirigentes e massagistas, foi o encontro da amizade, deixando entre os participantes a vontade de que se venha a realizar novo convívio.
Dos mais antigos ex-atletas (Lanzinha e Manteigueiro), aos da década de 60 (Nartanga, Maçarico, José Pereira, Fazenda, Pinto Dias, Eduardo Prata, Rui Morais), passando para a década seguinte (Serra Pires, Girão, Cremildo, Coimbra, Alemão, Velho, Luciano Reis, Luís Paiva, Babalito, Jordão, Ulisses Morais), surgiram antigos jogadores da década de 80, alguns actualmente treinadores (Martins, Madaleno, Victor Urbano, Luís Mesquita, António Real, César Brito, Germano, João Cavaleiro, Jorge Tavares, João José Pereira, Balseiro, Margaça, Bábá, Joanito, João Salcedas, Jorge Coutinho, Jacques, Nelinho, Biri, José Luís Craveiro, Manaca, José Carlos, Toninho), para, nas décadas seguintes saltarem nomes como João Miguel, Rui Morais, Nazaré, Nuno Neto, Artur, Trindade, Piguita, Luciano, Luciano Victor, Capelas, Seixas, Ferreira, João Peixe, Victor Cunha, entre outros.
De salientar o mais velho massagista que esteve ao serviço do clube serrano (quase meio século) – José Gil Barreiros, bem como o mais antigo dirigente dos Leões da Serra, Domingues Pires, e os antigos presidentes do SCC, Marques Malaca, Álvaro Ramos, Dias Rocha, João Petrucci, entre muitos antigos dirigentes.
Carlos Miguel Saraiva, coordenador da organização, deu início às breves palestras; João Serra Duarte, vice-presidente do Sp. Covilhã, representou a Direcção leonina, e João Esgalhado, a Câmara Municipal.
Presença agradável do covilhanense, árbitro internacional – Carlos Xistra, e das esposas de muitos antigos atletas, assim como de vários carolas serranos.
À mesa contaram-se várias peripécias dos serranos, como esta, com que termino estas linhas, de Álvaro Ramos: na falta de autocarro do clube, de então, disponibilizavam-se as viaturas dos directores, e não só. A ele, então presidente da colectividade serrana, calharam-lhe na sua viatura os atletas negros, Escurinho, Nelinho, Penteado e Alberto Delgado. Só ele era branco. A determinada altura da viagem, um deles, a rir-se diz ao condutor: “Sr. Presidente, não se importa de abrir a luz porque vai aqui uma escuridão?...”
Também o bom humor faz parte da vida.


(In Tribuna Desportiva, de 05/5/2009, Notícias da Covilhã, de 07/5/2009, Diário XXI, de 07/05/2009, vai sair no Jornal “Sporting”, de 12/05/2009)

30 de abril de 2009

AMIGOS DO SP. COVILHÃ REÚNEM VELHAS GLÓRIAS


“Velhas Glórias” do SCC, no intervalo do jogo Covilhã – Mealhada, no final do almoço e da homenagem que lhes foi prestada pela APAE Campos Melo, em 28/09/1991 (sábado).

A história repete-se. Independentemente do gráfico de altos e baixos, ou de uma certa estabilidade, por que passou e passa a colectividade serrana, as memórias perduram e ultrapassam as várias gerações, com uma ou outra pedra a salientar-se como que do rochedo da nostalgia.
E até o País se envolve, de quando em vez, trazendo à baila figuras e factos da colectividade.
Isto é normal no associativismo. E noutras colectividades. Ainda há pouco tempo o Sporting Olhanense lançou uma caderneta de cromos dos seus atletas, de várias gerações, com grande sucesso.
Na Internet há um blog – www.cromodoscromos.blogspot.com - onde se podem ver cromos saídos, em tempos, de antigos atletas, geralmente da I Divisão e I Liga, entre os quais vários do SCC, diariamente actualizado.
Nem sempre as colectividades – como o Sporting da Covilhã – podem abarcar com a responsabilidade e trabalho na celebração de todos os seus eventos.
Salientam-se assim indómitas vontades na envolvente de acontecimentos que se revestem de algum ineditismo, do agrado dos participantes, e que, se não fosse esse entusiasmo, não se criavam mais páginas da história.
Assim aconteceu há quase duas décadas, com a satisfação de ter tido empenho na sua concretização.
Foi o início de passar das ideias germinadas no horizonte mental, para o papel, a história escrita dos obreiros dos Leões da Serra, nas suas várias vertentes, com tudo aquilo que foi ledo como também de alguma tristeza; enfim, um mundo que desconhecia na sua globalidade.
Hoje é objecto das maiores alegrias e num ponto de encontro de boas vontades para o maior e continuado conhecimento do maior clube, e mais representativo da Região; portanto, não exclusivo da Covilhã.
No célebre sábado, chuvoso, de 28/09/1991, na CMC e num restaurante da cidade, apinhado, responderam ao convite da APAE Campos Melo, onde então era dirigente, e pela via dos jornais desportivos regionais e nacionais (estes últimos ainda não eram diários), mais de trinta “Velhas Glórias do SCC”, entre antigos atletas e dirigentes, em exclusivo da antiga I Divisão.
Nessa altura, não puderam comparecer e enviaram mensagens de saudade: Simony, Cabrita, Suarez, Ramalhoso, Diamantino, Coureles e Sarrazola.
Volvido este tempo, já só o Cabrita, Suarez e Coureles pertencem ao mundo dos vivos, e os dois primeiros doentes.
Dos presentes na homenagem de então, já faleceram o António José, Domiciano Cavém, Carlos Ferreira, Franklim, Hélder, Rita (que esteve representado pela irmã), Leite (o único que não havia jogado da I Divisão), Martin, Picareta, Roqui, Simões; e também os dirigentes José Santos Pinto, Luís Filipe Mesquita Nunes, Carlos Xistra e José de Sousa Gaspar, num grupo de cerca de 130 pessoas. E outro, o Tomé, acaba de ser acometida de doença súbita.
Pois bem, dando continuidade aos sentimentos de aderência à causa serrana, as suas figuras e os seus factos, na envolvente entusiástica pelo nosso Clube, de muito carinho, há que enaltecer os grandes obreiros por esse entusiasmo, coordenados por Carlos Miguel Saraiva, conseguindo, com o grupo de entusiastas, ligados à comunicação social e fotografia, dar continuidade à história do SCC, renovada, dia a dia, agora pela imagem, recordando muitas das suas equipas, e biografia dos seus atletas, não pela via do papel, mas pela grande revolução da Internet, onde podem consultar no blog www.historiascc.blogspot.com.
Por último, no próximo dia 1 de Maio (6.ª Feira), num restaurante da cidade, vão-se reunir, num jantar, cerca de centena e meia de entusiastas, em redor de cerca de setenta antigos atletas do Sporting Clube da Covilhã, já confirmados.
É um evento muito interessante para as memórias, na tranquilidade duns momentos de convívio, do maior Clube da Beira Interior.

(In Tribuna Desportiva, de 28/04/2009, Diário XXI, de 29/04/2009, Notícias da Covilhã, de 30/04/2009, Breve referência, no Semanário “O Interior”, de 30/04/2009)

24 de abril de 2009

ENTRE A CRISE E A CANONIZAÇÃO – O 25 DE ABRIL




Muito antes da Revolução dos Cravos já se começava a vislumbrar uma comichão de inconformismo. Nem a Primavera marcelista conseguia disfarçar os choros e os abraços de despedida, nas estações de caminhos-de-ferro, daqueles que já eram detentores de bilhete para a “guerra subversiva nas Províncias Ultramarinas”.
O modesto salário dos obreiros na indústria, comércio e serviços públicos de então, não passava de chapa ganha, chapa gasta, para quem tinha que satisfazer as necessidades normais duma casa; dissolvia-se na assunção dos regulares compromissos do lar.
Actualmente o País vive numa situação de grandes dificuldades – e alguns desânimos – de muitas famílias, com outros contornos – falta o emprego. Há muito que isto não é novidade para ninguém.
Mesmo sem a censura salazarista ou o exame prévio marcelista, de quando em vez surgem subtilezas de as querer implantar na comunicação social.
E não obstante uma abertura cultural antes do 25 de Abril, pela mão do Prof. Veiga Simão, com a extensão do ensino superior no País, os principais homens do pensamento mantinham-se lá fora, longe da Terra-Mãe.
Existiam os jornais do poder; os do contra não se poderiam atrever a muito; o lápis azul ainda estava afiado.
E surgia o ardina revoltado quão astuto, a compor o seu pregão, verdadeiramente revolucionário, com os quatro títulos dos vespertinos, já desaparecidos – Diário de Lisboa, A Capital, República e Diário Popular – desta forma: “Lisboa, Capital, República, Popular!”
Algumas vozes já faziam dissipar alguns receios e transbordavam para a aventura que lhes ia na alma.
Já depois de Marcelo Caetano ter recebido os Oficiais-Generais na reunião da “Brigada do Reumático”, no dia seguinte – 15 de Março – li, no Diário de Notícias (encontrava-me em Lisboa), a notícia da demissão dos Generais Costa Gomes e António Spínola pelas suas recusas em participar naquela reunião. Era uma 6.ª Feira.
No dia seguinte, de manhã, vinha de Lisboa com o Andrade quando nos cruzámos, algures, com vários tanques do Exército, com militares armados e de pose séria. Só depois soube das notícias divulgadas na comunicação social, de que, afinal, era uma tentativa de golpe militar contra o regime – a Revolta das Caldas.
Regressava de Lisboa, noutra altura, viajando comigo o Cravino. Numa breve paragem em Ponte de Sor, o proprietário do café exibia galhardamente o livro “Portugal e o Futuro”, do General Spínola, que abalou o regime, então recentemente publicado, e manifestava a sua insatisfação pela situação política no País.
A madrugada da 5.ª feira de 25 de Abril de 1974 colheu a todos de surpresa com a Revolução dos Cravos.
Muitos floresceram, mas também outros murcharam, bem depressa.
Passou a deixar de se ouvir, secretamente, a “Rádio Portugal Livre” ou “Rádio Liberdade”, de Argel.
Entusiasmos pelas conquistas alcançadas; alguns se aproveitaram para fazer o retrocesso, outros fugiram ou se assustaram. Algumas tentativas de golpes de Estado falharam, como o 11 de Março e o 25 de Novembro de 1975.
Durante o “Processo Revolucionário em Curso” (PREC), houve muitos abusos e faltas de dignidade, e um abandalhamento de várias franjas das Forças Armadas e Militarizadas.
Um exemplo: Vindo duma viagem profissional e após o dia intenso de trabalho (ainda não havia telemóveis), no antigo entroncamento da Sr.ª do Carmo é-me feito stop, pelas 2 horas da madrugada, pela GNR, acompanhada de civis de fralda de fora e espingarda na mão, e de militares de cabelo comprido. Depois de me identificar e vistoriarem o carro segui viagem. No dia seguinte, os meus colegas deram-me a notícia: ontem o Lelo, do Banco, levou um tiro na Sr.ª do Carmo, de madrugada, e foi evacuado de helicóptero. Tive sorte: passei antes dele no abandalhado stop.
Houve também crises. Portugal aderiu e foi integrado na UE. Foram concedidos fundos. Houve chico-espertos; muito do dinheiro não foi para os destinos devidos do País, mas para algibeiras de muitos engravatados.
Mais crises, algumas debeladas, outras mais intensas. Muitos governantes, de gabarito, de “excelência”, não conseguem fazer sair o País de lanterna vermelha em relação à Europa. Os países vindouros na integração, começam, como tartarugas, a ganhar a corrida à lebre. E continuamos a marcar passo.
A casa portuguesa começa a ficar cheia de ratos, que vão saindo de todos os lados. Arma-se a ratoeira, mas os ratos conseguem fugir; ainda não foram apanhados.
E, espanto dos espantos! Muitas dezenas de grandes ratos comeram o grande queijo de todos nós.
Um novo queijo é colocado sobre a mesa; ele vai sendo comido por outros ratos – e o dono a ver – e a não se incomodar, porque os que o deveriam consumir vão contentar-se com os restos do pão que o diabo amassou. Pior ainda, alguns já nem os restos do pão vão comer mas tão só as migalhas.
E, como a canção “E depois do Adeus”, de Paulo de Carvalho, surgiu para a arrancada do 25 de Abril, agora a “Sem eira nem beira”, dos Xutos & Pontapés, a ser apresentada no dia 24 de Abril, será a esperança?
De permeio, entre crises financeiras e de valores, vai surgir o dia seguinte – 26 de Abril; a canonização dum novo santo português – D. Nuno Álvares Pereira, o Condestável, que há muito é já Beato Nuno de Santa Maria.
Muito há a extrair deste Grande Homem: exemplo para os actuais governantes, e os que os antecederam, e mais não souberam; para ensinar, mesmo após a sua morte, como se ganharam crises no século XIV: as vitórias, com inteligência e oração, nas batalhas de Aljubarrota e Valverde; e, depois, não encheu as algibeiras, como poderia ter feito, antes pelo contrário, distribuiu pelos pobres. Compreenderam, Senhores Governantes, Homens de Estado, Banqueiros, Governadores do Banco de Portugal, Presidentes de Câmara, e quejandos?

(In Notícias da Covilhã de 23/04/2009, Diário XXI de 24/04/2009 e Kaminhos)
(A publicar no Jornal “O Olhanense”, de 15/05/2009)